Corpos Dóceis - "Vigiar e Punir - Michel Foucault" editar

Introdução editar

No dia 07/05, a Profª Doutora convidada Marina Souza Lobo Guzzo inciou a aula contando um pouco da sua trajetória acadêmica. Graduada em Educação Física pela Unicamp e Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica, falava sobre o seu apreço pelas ciências qualitativas e pelo dissenso.

Após a apresentação pessoal, iniciou-se algumas discussões sobre ética e moral.

A aula foi baseada no capítulo Corpos Dóceis do livro Vigiar e Punir, de Michel Foucault.

Dinâmica editar

Antes do início, fizemos uma entrevista com nossos colegas de classe, visando observar suas reações frente a seguinte pergunta: "O que você tem a me dizer se eu afirmar que você é um corpo dócil?" afim de despertar interesse e curiosidade sobre o tema abordado no texto.

https://www.youtube.com/watch?v=8FLEwIp0MfQ&feature=youtu.be

Resumo do capítulo editar

Foucault apresenta a sua perspectiva quanto às regras comportamentais que estão presentes em nossa sociedade.

Através da arqueologia do saber, o autor não procura a origem dos fatos, mas sim, o que há abaixo deles, o que os estrutura.

Entre o século XVII E XVIII, o homem começou a ser esquadrinhado, descobriu-se que ele poderia ser facilmente dominado, subjugado, dócil. A partir disso, o poder disciplinar impõe regras comportamentais para que se crie ordem, para que tudo seja padronizado, para que não haja desvios, e com isso o homem passa a ser algo que se fabrica.

O corpo humano então, entra em uma maquinária de poder, uma anatomia política. Que define como se pode ter poder sobre o corpo dos outros, não simplesmente para que façam o que se quer, mas para que operem como se quer, com as técnicas, a rapidez e a eficácia que se determina.

A disciplina fabrica assim os corpos dóceis, aumentando as forças do corpo (em termos de utilidade) e diminui essas mesmas forças (em termos de obediência).

E para o controle e a utilização dos homens, levando consigo todo o conjunto de técnicas, nasceu desses detalhes o homem do humanismo moderno.

As técnicas de dominação

A arte das distribuições

A disciplina procede à distribuição dos indivíduos no espaça físico .Para tal, ela se utiliza de técnicas e regras como a das localizações funcionais, que nas instituições disciplinares, visa além de vigiar, também romper comunicações perigosas entre os indivíduos e criar ali um ambiente de utilidade produtiva e com organização.

Claramente, este processo, aparece como bom exemplo, nos hospitais, destacando-se ai os militares marítimos. Como modelo, Rochefort, na França, retira e apropria toda a formigação humana, cruzamentos perigosos dos indivíduos, decompondo a confusão da ilegalidade e do mal, com formas rigorosas de divisão e distribuição do espaço. Sobressaindo medidas que tornam as coisas mais importantes que homens, as mercadorias mais que os doentes.

Um outro destaque, é nas fabricas, que aparece no fim do século XVIII, no qual os indivíduos são distribuídos no espaço físico das fabricas onde permite isola-los e facilmente localiza-los articulando-os com os aparelhos de produção. Cita-se a manufatura de Oberkampf, onde as oficinas consistiam em duas grandes fileiras, ao meio o corredor central que permitia a vigilância geral e também individual, analisando cada variável da força de trabalho, como vigor, agilidade e habilidade.

A posição em fila, é uma disciplina que individualiza os corpos por uma localização que faz os distribuir e os faz circular numa rede de relações. Na ordem escolar, no século XVIII, tem-se iniciada a ordenação por fileiras. Filas na sala, nos corredores, criando espaços bem complexos, que recortam segmentos individuais, visando garantir sempre a obediência dos indivíduos, transformando multidões confusas, inúteis ou perigosas em multiplicidades organizadas. Visa obter um instrumento para percorre-lo e domina-lo através de imposição de ordem.

O controle sistemático do horário consiste em estabelecer as censuras, obrigar a ocupações determinadas e regulamentar os ciclos de repetição, ou seja, esquadrinhar o tempo de maneira intensa, estabelecer atividades específicas para todos os períodos e fazer com que tudo aquilo se repita para que se torne um hábito.

No século XVIII, a entidade que mais utilizava-se desse controle intenso dos horários, eram os conventos. A religião foi muito utilizada a favor do capitalismo que explodia na época das revoluções industriais. O trabalho era tido como algo divino, que fazia os trabalhadores se aproximarem de Deus. Então, orações eram feitas antes que o trabalho se iniciasse.

As fábricas partiam, portanto, desse pressuposto, objetivando que as pessoas aceitassem os longos períodos de trabalho, visto que aquilo era engrandecedor, divino.

O principal objetivo dessa sistematização do tempo era garantir a qualidade do tempo empregado. Trata-se de constituir um tempo integralmente útil, sem interrupções para brincadeiras ou conversas. O corpo deve ficar aplicado ao seu exercício a todo momento.

A elaboração temporal do ato, consiste em colocar atributos temporais aos gestos. O soldado passa a marchar na cadência do tambor. "O tempo penetra o corpo, e com ele todos os controles minuciosos do poder."

O controle disciplinar, entretanto não consiste em simplesmente impor uma série de gestos definidos, mas em colocar o corpo e o gesto em correlação.

A boa caligrafia, supõe ginástica. Nas escolas, o professor passa então a ensinar as posturas corretas aos alunos. Corpo disciplinado, induz gesto eficiente.

Os exercícios também, devem ser exaustivos, para que se diminua a perda de tempo, para que tudo seja otimizado.

A disciplina procede também na distribuição dos indivíduos, assim exige:

A cerca- um encarceramento de vagabundos e miseráveis. Local para ficar as pessoas que vão contra o padrão imposto.

Colégios: modelo que impõe o convento. O internato aparece como regem ser educação, o mais próximo do perfeito.

Quartéis: cercado por muralhas e distante da cidade, fixar o exército para impedir violências e evitar conflitos.

Indústrias: aparece depois dos quartéis como uma mudança de escala, um novo tipo de controle. Uma cidade fechada, com sinal para entrar e sair.

A clausura não é constante, mas torna a disciplina mais flexível com o quadriculamento (cada indivíduo no seu lugar), evitando aglomeração e distribuição, para assim conseguir vigiar o comportamento de cada indivíduo. É um procedimento para conhecer, dominar e utilizar.

Visando demonstrar na prática como essas regras comportamentais incidem sobre nós, a professora nos convidou a sentar de uma maneira que jamais tivéssemos o feito, além de desorganizar as carteiras. Aquilo não foi agradável, pois estávamos acostumados ao modo tradicional. Sentar de maneira "correta" já faz parte da nossa cultura há anos, as carteiras enfileiradas e o professor transitando como alguém superior é algo habitual.

Uma visão da Educação Física a partir de Foucault editar

Como a análise de Michel, contrasta com a Educação Física?

Segundo ele, os métodos são escolhas políticas. Hoje, a saúde atua como um eixo articulador entre a população e o estado.

Observa-se crescente ênfase discursiva a favor do envolvimento com autodisciplina e normas de comportamento na busca de se promover uma "boa saúde", entretanto, o número de discursos a cerca das consequências geradas por essa imposição de estilo de vida, são pouquíssimas.

Isso nos incita então a refletir sobre algumas questões. Como por exemplo a alarmante "epidemia da obesidade". Será mesmo que ela existe? Ou isso tudo está atrelado a interesses corporativos e mercantilistas?

Hoje, o maior mecanismo de controle do poder disciplinar moderno, são os meios de comunicação. Corpos padronizados, ditos saudáveis e perfeitos são mostrados a todo momento, enquanto àqueles que se desviam desse, são tidos como preguiçosos, relaxados, sem responsabilidade. E a partir disso, produtos alimentícios, fármacos e cosméticos são apresentados como a fórmula mágica, aliados ao exercício para a saúde. É nítido, portanto, como o poder disciplinar impõe um estilo de vida às pessoas através desses mecanismos de controle.

Cabe a nós, enfim, refletir sobre a genuinidade da ciência e dos meios de comunicação, não aceitando-os como algo incontestável.

Referências editar

Foucault, M. Corpos Dóceis. Pg 131-146.

Apresentação do Prezi editar

https://prezi.com/ypozh-rnkzlc/corpos-doceis-vigiar-e-punir-foucault/