Análise II- Izabella Ragassi

Filme- documentário: Getúlio Vargas (1974) editar

Nome da Aluna: Izabella Cabral Ragassi

Turma 2023- Período: Noturno

FICHA TÉCNICA: editar

Título do Filme: Getúlio Vargas (1974).

Ano: 1974.

País: Brasil.

Gênero: Filme-documentário.

Duração: 1h 20min.

Direção: Ana Carolina Teixeira Soares.

Roteiro:  Ana Carolina Teixeira Soares; Manoel Maurício De Albuquerque.

Fotografia (arte): Vera Roitman.

Trilha sonora: Jards Macalé.

Elenco original (narrador): Paulo Cesar Pereio.

Produção executiva: Glaucia Camargos.

Idioma original: Português (Brasil).

Sinopse: A produção retrata a história do ex-presidente do Brasil, Getúlio Vargas, durante o período de 1930 a 1954, perpassando seus principais feitos e desafios, a comunicação com a população e influências externas durante seu governo, através da narração feita por Paulo Cesar Pereio, imagens, documentos e músicas da época.

ANÁLISE FÍLMICA: editar

O filme-documentário “Getúlio Vargas”, como o título indica, retrata a história de Getúlio Vargas durante o período de 1930 a 1954, com foco em sua atuação como presidente da república nos períodos de 1930 a 1945 e posteriormente de 1950 a 1953. Tal tema pode ser compreendido nos cinco minutos iniciais do filme, anterior a apresentação dos créditos do filme, com a narração de Paulo Cesar Pereio da carta testamento de Vargas somado às imagens da cerimônia de posse de Café Filho, que assumiu a presidência após a morte de Vargas, seguido de imagens que retratam a grande mobilização popular impactada pela morte do líder aclamado.

Após a apresentação, o filme tem continuidade com a contextualização do momento que antecede a posse de Vargas: a grande depressão econômica mundial e a política do café com leite. E inicia a narração, com fundo de uma melodia alegre em ritmo acelerado, dos principais eventos históricos do período de 1930 a 1937, descritos pelo narrador como: “A revolução” de 1930, a revolução constitucionalista e o lançamento das bases do integralismo em 1932, a Constituição Brasileira de 1934 que inaugura uma nova fase do governo de Vargas.

O período de 1934 a 1937 é descrito como um período de conflitos, destaca-se o surgimento da Aliança Nacional Libertadora (ANL) e a intentona comunista em 1935, onde o narrador relata que este movimento “foi esmagado”, isto é, sofreu fortes repressões e posteriormente foi utilizado como argumento para o golpe de estado inaugurando a 3° fase de Vargas com a promulgação da constituição de 1937 que conferia a imposição de uma série de medidas sob a justificativa de defesa dos interesses nacionais.

Dentre elas, estiveram a supressão dos partidos políticos e a realização do evento de cremação das bandeiras municipais e estaduais para substituição por uma única: a bandeira nacional, visto a tentativa de construção do ideário de nação brasileira, a consolidação da unidade política e social justificados pela necessidade da comunhão nacional em torno de objetivos comuns.

A produção inteira, através da combinação dos elementos: narração, imagens e canções, corrobora  para a construção da imagem de Getúlio Vargas como um grande líder populisa. Diante disso, destaco uma das músicas reproduzidas que exemplificam tal afirmação:

Getúlio em pouco tempo. No Palácio do Catete. A lei era executada. Sem precisar de cacete. Respondia a qualquer carta. Atendia até bilhete. Governou esse país com saber de Salomão. Foi quando viu o Brasil. Maior civilização. Ato de patriotismo, respeito e religião. Foram criados sindicatos. Ministério do Trabalho. Foi onde a classe operária. Teve melhor agasalho. Defendendo oito horas. Pra gente bater o malho. Criou mais o Ministério da Educação e Saúde. Onde se aprende o ABC. Pra não ser gente tão rude. E também matar o verme. Que na barriga se agrude. Getúlio foi reeleito. Quem ia dizer o contrário. Bate agora no peito. Em altas vozes dizia Getúlio não tem defeito. Porém já em 37. A política se arrumava. Escolhendo cidadãos. Que sempre candidatava. Getúlio que andava cheio. Sua rasteira passava. E a 10 de novembro. Houve o Golpe de Estado. Caiu por terra a política, Senador e deputado. E naquele Estado Novo. Foi o chefe enraizado.”

Além disso, a produção perpassa influências externas ocorridas no período, como a 2° guerra mundial que impactou internamente no aumento das exportações e valorização da cooperação econômica e estratégica do brasil que culminou no desenvolvimento da indústria siderúrgica; na construção de usinas em volta redonda e na bacia do rio Paraíba; na geração de empregos; na nacionalização das indústrias de refino; do conselho nacional de petróleo; Além disso, há menção à participação do país na  guerra com o apoio aos aliados e o envio dos pracinhas.

Poucos meses após Getúlio Vargas anunciar oficialmente ao país, este fora derrubado e a versão sobre a sua deposição é retratada no filme com o longo depoimento de Alzira Vargas do Amaral Peixoto, filha de Vargas, onde aponta que ocorria uma luta entre seu pai, “expressão da vontade do povo” e as “forças reacionárias”, oposição que optou por derrubá-lo através de um “golpe militar” que não foi concretizado. Mas, relata que na época, Vargas já teria indicado sua disposição a sacrificar sua própria vida pelo povo no combate às forças reacionárias e que o mesmo concordou em apoiar a candidatura do general Eurico Gaspar Dutra.

Mesmo no período do governo Dutra, o filme se mantém focado no protagonista Getúlio Vargas, com uma sequência de imagens sem relação direta com o mesmo e a reprodução de seus discursos e as marchinhas eleitorais ao fundo, posteriormente, anunciando sua volta ao poder: imagens de um comício em um estágio de futebol lotado. Em seu discurso, destaca-se o convívio e apoio aos trabalhadores, nos dias de alegria e sofrimento. Em seguida, o narrador destaca que o “Brasil que Vargas agora governa é diferente”, tendo em vista que não conta com os poderes ditatoriais, fazendo menção às críticas da imprensa e de setores da oposição.

Os discursos de Vargas lidos pelo narrador demonstram alguns de se seus feitos e as crises que se instauraram no governo, em sequência, o filme se encerra com imagens da primeira página de jornais, como O globo, noticiando o atentado contra Carlos Lacerda e o Suícidio de Getúlio Vargas, ao fundo as melodias que se seguem, em ritmo tristonho, exaltam um líder que se sacrificou em benefício do povo.

Com isso, considero importante ressaltar que o filme, produzido na ditadura militar, não tece críticas ao governo Vargas e contribui para a construção de um imaginário coletivo marcado pelo populismo e trabalhismo, corroborando para o apagamento das reivindicações feitas por movimentos sociais e a forte repressão policial e militar durante seu governo.

As imagens do filme via youtube estavam com baixa qualidade, o que dificultou fortemente uma melhor interpretação, visto que a produção é audiovisual. Para além disso, aponto como aborrecimento, além do destaque feito anteriormente a respeito do viés em que vargas é apresentado, acredito que as datas e informações apontadas poderiam ser mais detalhadas para abranger maior parcela da população. Devido a isso, entendo que a produção se destina a toda sociedade brasileira por se tratar da história do brasil, contudo, da forma como se apresenta, entendo como necessário o conhecimento prévio do contexto histórico e político da época.

Por fim, considero a proposta do filme é aceitável, tendo em vista a possibilidade de tecer críticas e entender o funcionamento da ideologização do discurso, do apagamento e silenciamento dos movimentos sociais, temas estudados na disciplina de história do Brasil II, contudo, acredito que a disseminação deste para as massas corrobora para a perpetuação do imagético incompleto de Getúlio Vargas, reforçando os padrões de apagamento histórico.