Análise I - Margot-Ann Bachi dos Santos
O filme narra a história de Mauro, uma criança que, deixado na porta da casa de seu avô recém falecido, enquanto seus pais ‘saem de férias’, aprende a viver sozinho, tutelado pelo seu vizinho, um judeu chamado Shlomo. A história tem como pano de fundo o Brasil de 1970, período da Ditadura Militar, e os pais de Mauro, na verdade, são exilados e presos políticos. A dinâmica do início do filme ajuda a nos introduzir à vida quotidiana de Mauro enquanto longe de seus pais, como uma criança em São Paulo.
A cena que define o filme, ao meu ver, é a cena em que Mauro chega na casa de seus avô, logo após a sua morte, e se despede de seus pais, por refletir, ao mesmo tempo, a inocência de Mauro e a melancolia do drama vivido no pais na época; também é esta cena que, ao assistir o filme, nos marca, lembrando das nossas vivências ou, no meu caso, as histórias contadas por meus pais. Essa dualidade entre inocência e melancolia nos acompanha durante o filme todo, sempre nos colocando como espectadores passivos da situação, incapazes de não nos relacionarmos com o protagonista.
Quanto aos relacionamentos desenvolvidos durante o filme, a relação com Shlomo poderia ser melhor desenvolvida, assim como a relação com Italo, que, por escolha do diretor de focar na inocência infantil, acaba por deixar de lado os aprofundamentos dessas relações de Mauro.
O filme é bem acessível, tornando de fácil acesso o relacionamento com a infância da época da ditadura. Isso faz do filme ótimo para exibição em salas de aula, criando uma interface entre os alunos hoje e a infância na época, além de apresentar, mesmo que de forma sutil, as violências da ditadura; até por isso o filme parece ter como público-alvo não apenas aqueles que tiveram a sua infância e juventude nessa época, mas também aqueles que estão nessas fases do crescimento hoje.
Reassistir esse filme fora uma experiência incrível, não apenas pelo prazer estético, trilha sonora de qualidade e fotografia que cria em nós uma sensação constante de desalento, mas também por colocar no centro da discussão um grupo por vezes esquecido, e que, indiretamente, sofreu muito com o período. Isso só me faz me indagar: como estão as crianças da ditadura?