Análise de Filme: Eternamente Pagu. Fernanda Bomfim da Silva
CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
(Fundado em 1963)
ROTEIRO PARA ANÁLISE DE FILME
Disciplina: História do Brasil I
Prof. Paulo Eduardo Teixeira
Nome do/a Aluno/a: (Fernanda) Odì Bomfim da Silva
Turma 2024 ( ) Manhã ( X ) Noite
FICHA TÉCNICA
Título do Filme: Eternamente Pagú
Ano: 1987
País: Brasil
Gênero: Drama/Nacional
Duração: 100 minutos
Direção: Walter Goulart
Roteiro: Norma Bengell, Geraldo Carneiro, Márcia de Almeida
Fotografia: Antônio Luís Mendes
Trilha sonora: Turíbio Santos
Elenco original: Antônio Fagundes, Nina de Pádua, Carla Camurati, Ester Goes, Produção: Embrafilme/Riofilme
Idioma original: Português (Brasil)
Sinopse: Retrata a trajetória de Patrícia H. Galvão, uma mulher que luta contra a realidade opressora de sua época na ditadura de Vargas.
DINÂMICA DA NARRATIVA
A) Idéia Inicial – História
1- O filme conta uma história. Sobre quem?
O filme retrata um recorte da trajetória de Patricia Hehder Galvão ou, mais popularmente conhecida como Pagú; como ela mesmo diz ser seu nome de guerra. Foi uma artista do movimento modernista que teve uma breve carreira política no partido comunista, prisioneira política, não obstante, uma mulher no Brasil.
2- Quais são as personagens principais?
A artista e militante Pagú, Tarsila do Amaral, Sidéria, Oswaldo de Andrade, Elsie Houston, seus pais.
3- Qual delas mereceu a sua atenção?
Os homens de fato, são as figuras primordiais do filme, pois, são eles que revelam as relações de poder estruturais da sociedade da época. Sendo assim, como a experiência existencial de Pagú foi afetada pelas relações patriarcais que destituíam seu poder baseado em seu sexo/gênero.
4- Como termina o filme? O que você achou sobre ele e porquê?
O filme se finda com Pagú recitando uma de suas poesias. A poesia sugere a relação de sua vida aprisionada, dado as circunstâncias dos valores e costumes do fundamentos que estruturavam a teoria social de sua época. E seu anseio por ainda ser livre, mesmo após as sequelas das violências que passaram por sua vida, a violação de seu corpo pelo Estado que deveria garantir sua segurança. Uma inimiga do Estado, violentada pelo próprio partido no qual participou, uma inimiga do partido, uma inimiga do patriarcado, uma inimiga da violação da liberdade. O filme termina com esperança, a busca pela sua liberdade, esta que buscou a vida toda.
B) Tema de Fundo – Tese
1- Quais são os temas tratados no filme?
O filme retrata um recorte da trajetória de Pagú, uma artista do movimento modernista que passa a ser perseguida pela repressão estatal da era Vargas. Se envolve com o partido comunista, este que a expulsa por suas “agitações” dentro do partido. O filme revela a misoginia, o sexismo e a binaridade estrutural, fundamentada por uma sociedade que se constitui de forma patriarcal. A limitação dos espaços que a mulher pode ocupar, isso sendo ela, uma mulher que ainda possui privilégios étnicos e de classe. No entanto, os papeis de gênero, e por ela negado, a silenciou a vida toda por sua postura de recusa de os performar de bom grado.
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2- Em que cena compreendeu o tema de fundo do filme?
O tema central do filme pode ser resumido com a seguinte frase:
“Tarsila, eu queria lhe dizer que sua composição propõe uma nova ontologia da arte brasileira.
- Valdemar, você me desculpe, eu não sei o que é ontologia – sorrindo, responde Tarsila.
- Nesses tempos antropofágicos, o que interessa é outra ontologia – responde Oswaldo de Andrade, ironizando."
Essa cena aborda explicitamente a relação estrutural das mulheres na sociedade da época da ditadura. O diálogo assume uma posição de afirmativa quanto a ontologia feminina ser um recorte muito específico. Nesse sentido, a mulher assume um papel social de ferramenta, que só se realiza, caso cumprir as normas de comportamento fixadas na sua identidade de gênero. Portanto, ser artista e mulher na política na Era Vargas, era estar a mercê do partido comunista fundamentado em uma estrutura patriarcal, no qual, as mulheres do partido deveriam reportar-se aos homens. Um nítido aspecto para revelar as relações de poder que se constroem em um movimento político, que visa um equilíbrio das relações econômicas de classes social, mas esquece-se da interseccionalidade das opressões, no qual o sujeito que possui um pênis, é considerado como superior à pessoas que não o tem, demonstrando a figura da mulher subordinada ao homem.
3- Qual o problema ou questão que foi tratada mais demoradamente?
As perseguições e prisões, mais especificamente, a violência e a censura, mas também, sua capacidade de reivindicar a sua liberdade, mesmo que toda a perseguição a desamparasse.
4- Os realizadores descreveram bem os protagonistas?
Sim, é possível ter uma boa localização da vida dos personagens. A construção do cenário e dos diálogos possibilitam vislumbrar os contextos que estão inseridos.
C) Ritmo e Montagem – Edição
1- Qual a cena ou seqüência que mais chamou sua atenção ou lhe impactou? Por quê?
O final do filme. Pois é uma síntese da perspectiva da personagem protagonista.
2- Houve algo no filme que te aborreceu? Em que parte do filme? Eram cenas de diálogo ou de ação?
A apresentação de Pagú, no teatro. A distância do acesso ao lazer e conhecimento em decorrência do status quo, a disparidade do acesso cultural elitizado, para grupos bem delimitados socialmente. Quem pode ocupar qual espaço?
3- Qual a cena/seqüência que não foi bem compreendida por você? Porquê?
A mulher que auxilia Pagú em seus momentos encarcerada. Não consegui identificar quem é especificamente ela na vida de Pagú.
D) Mensagem
1- O que é proposto pelo filme é aceitável ou não? Porquê?
Sim, pois abre múltiplos debates tanto da época retratada, quanto a atual, como o acesso ao lazer e ao conhecimento. As identidades de gênero que limitam ou constroem privilégios nas relações sociais. As contradições teóricas nos acontecimentos políticos.
2- A quem se dirige, em sua opinião, o filme?
Para as mulheres, sumariamente. Para que elas nunca permitam que o passado que se faz presente, as silencie no futuro.
E) Relação com a disciplina de História do Brasil
1- Qual a contribuição do filme para sua compreensão da disciplina e do período estudado?
As imbricações da construção subjetiva/objetiva das relações sociais que não flutuam, mas se interpenetram – subjetivo/objetivo - construindo a realidade que se dá. Fazendo um paralelo com o artigo de Cynthia Andersen Sarti: “O feminismo brasileiro desde os anos 1970: revisitando uma trajetória”, existe a abertura de um diálogo neste artigo acerca das relações de poder entre homem e mulher dentro do partido comunista oriundo da estrutura social que esses sujeitos estão inseridos. Cynthia aponta para a organização das mulheres no movimento feminista, contra a censura da ditadura e a censura dos homens para com as mulheres, e como os movimentos feministas questionam a identidade de gênero. Não obstante, além de buscar um caminho para sanar as opressões das mulheres, não se incorra no erro de universalizar a realidade destas.
2- Relacione as contribuições desse trabalho para sua formação.
É este seu mal, teve problemas no pulmão. Antes fosse apenas ter colocado tanta fumaça no peito. A fumaça era a lembrança de suas fantasias, pois a realidade que a cercava tirava-lhe os moinhos de vento. Seus delírios, eram o diabo que os outros colocaram sobre ela. E que outros colocaram sobre esses outros em outros, outros. Nascida de bom berço, mas nasceu mulher. Aprisionada, foi ela, antes mesmo de nascer. Nascer livre, é nascer sentenciado, recusado, ou seja, censurado pela história de um passado herdado e aperfeiçoado, reeditado, pouco notado já que é tão “naturalizado”.
Diálogo:
- Tarsila, eu queria-lhe dizer que sua composição propõe uma nova ontologia da arte brasileira.
- Valdemar, você me desculpe, eu não sei o que é ontologia – sorrindo, responde Tarsila.
- Nesses tempos antropofágicos, o que interessa é outra ontologia – responde Oswaldo de Andrade, ironizando.
Antropofagia, o Eu lírico quis dizer que a mulher não tem ontologia, quer dizer, até tem, mas é com a navalha, esta que corta seu corpo, que o resume em uma genitália. Embora não seja nem isso. São as heranças, as heranças históricas que se aparentam vitalícias por já estarem assim quando viemos a ser. Fixadas, trepadas em ícones que nos narram um pretérito que se faz presente. No caso de Pagú, nascer fêmea. Nascer com narrativas fixadas a sua genitália ensanguentada pelo recorte da navalha. Esta que também corta o cordão umbilical do parto de mais um vir a ser que não veio, pois está no passado que se faz presente. Estar na política e ser mulher, parecem categorias contraditórias. O partido comunista lhe virou as costas, eles disseram que ela era agitadora, traidora. Depois de violada, do partido para fora foi jogada. Mas o Getúlio não se importa, uma vez comunista, já se tornou inimiga.
Perseguida.
Seu problema, não foi fumar demais, mesmo com todo o estrago que no pulmão a fumaça fez, o seu problema foi nascer no passado do passado, localizado no presente. O problema foi vir a ser numa época em que olhar para trás é olhar para a frente. Seu problema foi nascer livre, sua sentença é a censura.
Morte a ditadura!