Análise de Filme - Memórias do Cárcere
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
CÂMPUS DE MARÍLIA
Faculdade de Filosofia e Ciências
CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
editar(Fundado em 1963)
editarROTEIRO PARA ANÁLISE DE FILME
editarDisciplina: História do Brasil II
Prof. Paulo Eduardo Teixeira
Nome do/a Aluno/a: Walmir Idalêncio dos Santos Cruz
Turma 2024 ( ) Manhã ( X ) Noite
FICHA TÉCNICA
editarTítulo do Filme: Memórias do Cárcere
Ano: 1984
País: Brasil
Gênero: História / Drama autobiográfico
Duração: 185 min
Direção: Nelson Pereira dos Santos
Roteiro: Graciliano Ramos
Fotografia: José Medeiros, Lauro Escorel e Antônio Luis Soares
Trilha sonora: Louis Moreau Gottschalk (“Marcha Solene Brasileira” – música tema), Samuel Alder (regente), Noel Rosa, André Filho e João do Vale
Elenco original: Carlos Vereza (Graciliano Ramos), Glória Pires (Heloísa Ramos), Nildo Parente (Emanuel), Gaúcho (Wilson Grey), Siqueira Campos (Fábio Barreto), José Dumont (Mário Pinto), Jofre Soares (Soares), Tonico Pereira (Desidério), Jorge Cherques (Dr. Goldberg), Stênio Garcia, Ivan Cândido, Rubens de Falco, Wilson Grey e Léa Garcia
Produção: Nelson Pereira dos Santos (Produtor), Luís Carlos Barreto (Produtor), Lucy Barreto (Produtora Executiva)
Idioma original: Português
Sinopse: Memórias do Cárcere (1984) é uma adaptação do livro homônimo de Garciliano Ramos, que narra a experiência do escritor durante o período em que foi preso pelo governo de Getúlio Vargas, em 1936, acusado de atividades subversivas. No filme, Graciliano (interpretado pelo ator Carlos Vereza) é levado à prisão sem julgamento formal, passando por diferentes penitenciárias do Brasil da época (como Maceió (AL) e Recife (PE)), culminando em Ilha Grande (RJ). Durante o tempo de encarceramento, Graciliano observa e reflete sobre as condições desumanas do sistema prisional e as injustiças sofridas pelos presos políticos e comuns, assim como a repressão brutal exercida pelo Estado. Em meio ao sofrimento e à incerteza, Graciliano encontra nas palavras uma forma de resistência, documentando a dureza da vida no cárcere e os relatos dos prisioneiros que o cercam. Tais reflexões se assemelham ao filme Carandiru (2003), porém em um contexto histórico diferente. Também há similitude entre as críticas ao sistema prisional contidas na obra de Graciliano Ramos e as ideias veiculadas no livro Vigiar e Punir (1975), de Michel Foucault. Memórias do Cárcere é um relato profundo da perseguição política e do autoritarismo do Estado Novo, além de um estudo sobre a dignidade e a luta pela liberdade de expressão. A narrativa é marcada pela introspecção e pelo realismo, abordando temas como a solidariedade entre os presos, a esperança em tempos difíceis e o impacto da repressão sobre o espírito humano.
DINÂMICA DA NARRATIVA
editarA) Ideia Inicial – História
1- O filme conta uma história. Sobre quem?
O filme contra a trajetória de Graciliano Ramos no cárcere, durante a época da ditadura varguista que caracterizou o Estado Novo (1937-1945).
2- Quais são as personagens principais?
Graciliano Ramos, Heloísa Ramos, Mário Pinto, Emanuel, Gaúcho, Soares, Desidério e Dr. Goldberg.
3- Qual delas mereceu a sua atenção?
O próprio protagonista (Graciliano Ramos), autor de obras que marcaram a literatura brasileira (Caetés (1938), Vidas Secas (1938), São Bernardo (1934), dentre outras), preso por suas convicções políticas e submetido a intenso sofrimento marcado pelo autoritarismo estatal que caracterizou a ditadura varguista do Estado Novo.
4- Como termina o filme? O que você achou sobre ele e por quê?
Graciliano Ramos é finalmente libertado, mas sua soltura não apaga as marcas emocionais deixadas pela prisão. O diretor da prisão recebe um telegrama do Palácio do Catete e pede desculpas ao escritor, dizendo não saber que este era uma “pessoa tão importante”. O filme termina com Graciliano refletindo sobre o impacto das experiências que viveu e a cena final enfatiza um sentimento de melancolia, o que sugere que, apesar de livre, as cicatrizes psicológicas permanecem.
Particularmente, gostei do final pelo fato de convidar o espectador a uma visão crítica não apenas sobre o próprio sistema penitenciário, como também sobre as questões sociais e políticas vividas durante o período do Estado Novo (1937-1945). A acentuada desigualdade social e a opressão de segmentos marginalizados da sociedade, infelizmente, seguem sendo uma marca do Estado Brasileiro até os dias atuais.
B) Tema de Fundo – Tese
1- Quais são os temas tratados no filme?
Os temas tratados são liberdade e opressão, injustiça social, solidão, isolamento, resistência, esperança, violência, memória e identidade.
2- Em que cena compreendeu o tema de fundo do filme?
A sequência em que Graciliano Ramos e os outros prisioneiros enfrentam a brutalidade dos guardas e a desumanização dentro da prisão. A sequência retrata a aparente impotência dos prisioneiros diante do sistema opressor e a resistência que tentam exercer, mesmo em meio às adversidades. Os prisioneiros tentam preservar a dignidade em meio a condições desumanas, lutando por liberdade e por um sentido de identidade.
3- Qual o problema ou questão que foi tratada mais demoradamente?
A opressão e injustiça social a que estão submetidos os presos.
4- Os realizadores descreveram bem os protagonistas?
Sim, o protagonista é bem descrito, até por se tratar de uma obra autobiográfica.
C) Ritmo e Montagem – Edição
1- Qual a cena ou seqüência que mais chamou sua atenção ou lhe impactou? Por quê?
As agressões dos guardas e carcereiros, sofridas pelos prisioneiros, me impactaram de maneira especial. Infelizmente, sabemos que, ainda hoje, as crueldades sofridas por pessoas privadas de liberdade nas diversas unidades prisionais do Brasil constituem a rotina de violações de direitos, apesar do longo tempo de vigência da Lei de Execuções Penais, que data, coincidentemente, de 1984 (mesmo ano do filme) e estabelece uma série de garantias legais que, há décadas, são sistematicamente violadas pelo Estado Brasileiro.
2- Houve algo no filme que te aborreceu? Em que parte do filme? Eram cenas de diálogo ou de ação?
O que mais me aborreceu foi a libertação de Graciliano Ramos ao final do filme, com um pedido de desculpas por parte do diretor da prisão, por não saber que o escritor era uma “pessoa importante”. O tratamento penal diferenciado, estabelecido com base na classe social e condição econômica do suposto infrator, e não na natureza da infração propriamente dita, segue caracterizando o sistema de Justiça Penal no Brasil, 4 (quatro) décadas após o lançamento de Memórias do Cárcere. O filme escancara a desigualdade socioeconômica enraizada profundamente no espírito coletivo do povo brasileiro e, por perdurar ainda hoje e por tanto tempo, esse estado de coisas me provoca incômodo.
3- Qual a cena/seqüência que não foi bem compreendida por você? Por quê?
Creio que consegui compreender bem as cenas e sequências do filme.
D) Mensagem
1- O que é proposto pelo filme é aceitável ou não? Por quê?
Sim, por estimular a reflexão e a crítica não apenas sobre a História do Brasil, mas sobre a própria estrutura de desigualdade e opressão que caracterizam a sociedade brasileira.
2- A quem se dirige, em sua opinião, o filme?
O filme se dirige ao público em geral, mas é de particular interesse para estudantes do período histórico tratado na obra (Estado Novo), bem como aos que se propõem a analisar as características intrínsecas da própria sociedade brasileira daquela época, como também a sociedade brasileira atual.
E) Relação com a disciplina de História do Brasil
1- Qual a contribuição do filme para sua compreensão da disciplina e do período estudado?
O filme abrange desde o insucesso do tenentismo e da intentona comunista, o surgimento da ALN (Aliança Nacional Libertadora) e o surgimento do nazifascismo, que surgido na Europa, influenciou a eclosão de movimentos nacionalistas e autoritários no Brasil, sendo o integralismo fundado por Plínio Salgado o mais importante deles. Nesse contexto de supressão de direitos e fortalecimento do poder central do Executivo nacional, surge o Estado Novo de Getúlio Vargas.
2- Relacione as contribuições desse trabalho para sua formação.
O trabalho é importante para compreender a história e a formação social do Brasil.