Reportagens do JOA/Ana Maria Barros e Bianca Gomes
38 anos de histórias de paixão pela música.
editar“We go uptown downtown looking for Luiz Calanca”, canta o britânico Eric Burdon na música Black and White World. O vocalista da extinta banda The Animals não é o único admirador do trabalho do produtor musical: desde o final dos anos 70 muitos outros músicos e apaixonados desbravaram o centro da cidade de São Paulo em busca de Luiz Calanca, um amante da música e colecionador de discos por natureza. Em 1978, ele deixou de lado um emprego estável para abrir a Baratos Afins, loja de discos que mudou o cenário da música independente no Brasil.
Localizada no segundo andar da Galeria do Rock a loja do ex-farmacêutico, somou-se a um número já considerável de comércios musicais voltados para o rock. No que sua esposa, Victoria Calanca, define como uma espécie de “surto”, ele decidiu quase que da noite para o dia investir na música. Com muitos discos em casa, pouco dinheiro na carteira e uma filha que estava para nascer, Luiz aproveitou o baixo aluguel da época e abriu o espaço que já logo de cara ganhou destaque.
Se a loja chamou atenção de músicos e do público em geral, é claro que a concorrência não gostou nada disso. Para diferenciar-se dos vizinhos, Luiz lançou a produtora Baratos Afins, em 1982. Fundador do primeiro selo independente do país, hoje a produtora conta 56 publicações, além de reedições exclusivas. Ainda que algumas delas tenham feito sucesso de fato – como Arnaldo Baptista, Golpe de Estado e Ratos de Porão – a produtora nunca bancou a loja, e sim o contrário. “Ele [Luiz] lançou artistas em uma época em que existia dificuldade de se lançar artistas, mas por sorte acabou pegando um segmento que marcou esse período do rock dos anos 80 em São Paulo. A verdade é que a gente faz mais por prazer e para manter o selo. E quem compra é só quem realmente gosta”, conta Carolina Calanca, filha e sócia do negócio ao lado dos pais.
Ao longo dos seus 38 anos de existência, a loja é uma das poucas que resistiu às mudanças no cenário musical ao longo dos anos: seja com a chegada dos CDs nos anos 90, a internet dos anos 2000 e até mesmo com a “invasão emo” que tomou conta dos corredores da Galeria há poucos anos. Aliás, foi durante a década de 90 que Calanca conseguiu angariar grande parte do seu acervo de discos de vinil. A proposta era: me dê um disco que te devolvo um CD. Parecia um ótimo acordo para aqueles que abraçaram a nova tecnologia, já que ele mesmo nunca botou muita fé na vida útil do CD. E ele estava certo. Hoje, são os LP’s que ocupam boa parte da loja de cerca de 25 m², sem contar com o estoque que fica no andar de cima (um tamanho considerado grande se comparado com as outras lojas da galeria).
Seja em 1986 ou em 2016, fato é que o espaço sempre reuniu os mais diversos tipos de gente, de diferentes idades e gostos musicais. Mas se existe algo que é inerente a Baratos Afins é a paixão pela música. E a certeza de que muito, muito provavelmente você vai encontrar o que precisa por lá. E mesmo que não encontre, vai continuar voltando para procurar. É o caso de Leandro, colecionador de discos que mora no interior de São Paulo e não dispensa a oportunidade de visitar a loja quando vem à capital para procurar um disco. Para ele (e provavelmente para outras centenas de clientes), a Baratos Afins é a Disneylândia da música.