Aula: Introdução à Sociologia

Introdução parte 2 Lidiane Domingues


Tópicos da aula:

  • O que é Sociologia?
  • O nascimento da Sociologia junto da modernidade industrial e urbana (A Era dos extremos)

O que é Sociologia?

Definição do dicionário: substantivo feminino estudo científico da organização e do funcionamento das sociedades humanas e das leis fundamentais que regem as relações sociais, as instituições etc. descrição sistemática e análise de determinados comportamentos sociais.

Sociologia é a ciência que produz conhecimento sobre e nas sociedades, já vimos que o segundo ponto da definição do dicionário (leis fundamentais que regem as relações sociais) pouco nos serve uma vez que “leis” são propriedades da observação sobre objetos que demoram muito tempo para se transformar, não é este o caso das sociedades. Essa pergunta (O que é Sociologia?) não é, de todo modo, tão fácil de responder. Isso porque há duas condições para a produção do conhecimento sobre as sociedades, que vimos na primeira aula, que levam à Sociologia a produzir múltiplas explicações para um mesmo fenômeno. Isso é mais raro nas ciências exatas e naturais, porque como vimos, seus objetos são, por assim dizer, mais bem comportados que os nossos. Então as duas condições que levam à Sociologia à multiplicidade de teorias são: I) ela é uma produção de conhecimento que precisa se reconhecer como interna ao seu objeto (a Sociologia está inserida nas sociedades); II) as sociedades humanas transformam-se ao longo do tempo e essa transformação acelera-se justamente no momento histórico do surgimento da Sociologia (e seus objetos): a modernidade. Sociologia é a ciência que compreende as sociedades, como toda ciência ela busca a verdade, mas é importante lembrar que o que mais interessa não são as verdades (descobertas ou produzidas) mas as perguntas e os métodos para respondê-las. Através do exercício de vários pontos de vista fenômenos importantes começam a tomar uma forma mais nítida, o capitalismo, por exemplo, não é o mesmo para Marx e Weber, mas na teoria de ambos aparecem traços do que é (em realidade) o capitalismo. Isso acontece, como já vimos, porque não é possível pegar o capitalismo, levá-lo ao laboratório ou descrevê-lo em um gráfico. Também não é possível descrevê-lo literariamente em detalhes, primeiramente porque não iria interessar a ninguém e depois porque quem o fizesse morreria fazendo e não teria terminado. Então, tanto Marx quanto Weber (e inúmeros outros) observaram o capitalismo da melhor forma que puderam, a partir dos seus próprios contextos (histórico e particular) e teceram, cada qual. uma teoria sobre este fenômeno selecionando aspectos da realidade que lhes pareceu relevantes. O quê nós vamos estudar em Sociologia é uma multiplicidade de teorias acerca de fenômenos sociais, faremos isso de forma crítica de modo a checar a consistência dessas teorias e observar as formas que elas poderiam aplicar-se às nossas realidades. De antemão, e porque estamos nos concentrando no pré-vestibular, faremos nossa própria seleção de objetos e pontos de vista (que no nosso caso são autores e correntes de pensamento) levando em consideração os conteúdos do ENEM. Neste sentido os principais temas do curso serão: Sociedade global/Sociedade brasileira; Identidade cultural e movimentos sociais; Estado e Democracia; Trabalho, economia e sociedade.

O surgimento da Sociologia e seus objetos

Quem veio primeiro o ovo ou a galinha? Essa pergunta deve perseguir todo aquele que decide observar um fenômeno à fundo, ou ainda, à todo aquele que se pergunta sobre a origem das coisas. Dois dos nossos clássicos (ou três porquinhos) não eram sociólogos e o terceiro fundou a Sociologia. Isto quer dizer que teorias sociais existiam antes de sociólogos, mais precisamente, ela é um desenvolvimento que envolve a sociedade moderna ocidental e as disciplinas de Filosofia, Psicologia e Economia, estas duas também muito jovens. Vamos, primeiramente, nos concentrar no contexto histórico no qual surgiu a Sociologia: a modernidade.

Não há um acordo entre sociólogos e historiadores sobre quando exatamente emergiu o que chamamos modernidade, alguns a datam na expansão marítima, no século XVI, portanto, outros a atribuem à Revolução Francesa e suas consequências políticas, e outros ainda acreditam que modernidade é uma propriedade mesmo do século XX. Então, como todo fenômeno social complexo, nós vamos selecionar aspectos do que chamam modernidade de modo a compreender como, dentro dela, surgiu, entre o fim do século XIX e início do XX, a Sociologia. Os três pontos na História que já mencionei são importantes para nossos propósitos: a expansão marítima, a Revolução Francesa e a Revolução Industrial que cumina no século XX (o historiador Eric Hobsbawm, não à toa, chamou a este século de "Era dos extremos" ([1])).

A expansão marítima é relevante porque cria a necessidade para emergência ou perpetuação dos pensamentos iluministas. Trata-se aqui do momento em que a Filosofia se radicaliza e começa o produzir intelectuais como Isaac Newton e Galileu Galilei, estes que procuraram observar a realidade das coisas de forma mais física e menos metafísica, isto é, começaram a observar o mundo concreto mais do que o mundo das ideias, embora em ambos, a matemática (que é uma forma de conhecimento abstrata) seja extremamente cara. É mais ou menos nessa época que a Ciência começa a dar contorno aos seus principais parâmetros: realista, objetivista e crítica. No entanto, neste primeiro momento, a observação voltava-se quase exclusivamente para o mundo externos aos humanos e sociedades (veto-europeias), constituindo aquela já mencionada cisão entre humano e natureza na qual o primeiro conhece para dominar a segunda. Claro que muitos pensadores observavam suas sociedades e faziam conjecturas e teorias sobre elas, mas a produção do conhecimento neste sentido ainda não estava exatamente amparada pelos parâmetros científicos e demorou ainda dois ou três séculos para que o estudo das sociedades se separasse da metafísica, ou ainda, da Filosofia. Neste período já se faz, no entanto, necessária a criação de teorias sobre o Estado, o poder e determinadas relações sociais. Os pensadores mais importantes, para nossos propósitos, deste período são Nicolau Maquiavel (1469-1527) (muito conhecido e pouco compreendido), Thomas Hobbes (1588-1679) ("o homem é lobo do homem"), John Locke (1632-1704) (pai do liberalismo) e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) (meu preferido porque foi o primeiro a questionar a propriedade privada).

Esses autores devem aparecer quando formos estudar o eixo de Democracia e Estado, basta adiantar que suas teorias (para não dizer projeções sobre como organizar Estados e sociedades) sustentaram as condições históricas e ideais necessárias para a explosão da Revolução Francesa (1789). Como não estamos em uma aula de História, nos basta compreender os princípios básicos que essa Revolução instituiu e nós o faremos através de "Declaração dos direitos da mulher e da cidadã: a mulher nasce livre e permanece igual ao homem em direitos" de Olympe de Gouge (1791), para dar o duplo salto de compreender que as revoluções não são feitas só por homens e também que os valores emergentes da Revolução Francesa nortearam o desenvolvimento político posterior no mundo ocidental.

PREÂMBULO

Mães, filhas, irmãs, mulheres representantes da nação reivindicam constituir-se em uma assembléia nacional. Considerando que a ignorância, o menosprezo e a ofensa aos direitos da mulher são as únicas causas das desgraças públicas e da corrupção no governo, resolvem expor em uma declaração solene, os direitos naturais, inalienáveis e sagrados da mulher. Assim, que esta declaração possa lembrar sempre, a todos os membros do corpo social seus direitos e seus deveres; que, para gozar de confiança, ao ser comparado com o fim de toda e qualquer instituição política, os atos de poder de homens e de mulheres devem ser inteiramente respeitados; e, que, para serem fundamentadas, doravante, em princípios simples e incontestáveis, as reivindicações das cidadãs devem sempre respeitar a constituição, os bons costumes e o bem estar geral.

Em conseqüência, o sexo que é superior em beleza, como em coragem, em meio aos sofrimentos maternais, reconhece e declara, em presença, e sob os auspícios do Ser Supremo, os seguintes direitos da mulher e da cidadã:

Artigo 1º

A mulher nasce livre e tem os mesmos direitos do homem. As distinções sociais só podem ser baseadas no interesse comum.

Artigo 2º

O objeto de toda associação política é a conservação dos direitos imprescritíveis da mulher e do homem Esses direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e, sobretudo, a resistência à opressão.

Artigo 3º

O princípio de toda soberania reside essencialmente na nação, que é a união da mulher e do homem nenhum organismo, nenhum indivíduo, pode exercer autoridade que não provenha expressamente deles.

Artigo 4º

A liberdade e a justiça consistem em restituir tudo aquilo que pertence a outros, assim, o único limite ao exercício dos direitos naturais da mulher, isto é, a perpétua tirania do homem, deve ser reformado pelas leis da natureza e da razão.

Artigo 5º

As leis da natureza e da razão proíbem todas as ações nocivas à sociedade. Tudo aquilo que não é proibido pelas leis sábias e divinas não pode ser impedido e ninguém pode ser constrangido a fazer aquilo que elas não ordenam.

Artigo 6º

A lei deve ser a expressão da vontade geral. Todas as cidadãs e cidadãos devem concorrer pessoalmente ou com seus representantes para sua formação; ela deve ser igual para todos.

Todas as cidadãs e cidadãos, sendo iguais aos olhos da lei devem ser igualmente admitidos a todas as dignidades, postos e empregos públicos, segundo as suas capacidades e sem outra distinção a não ser suas virtudes e seus talentos.

Artigo 7º

Dela não se exclui nenhuma mulher. Esta é acusada., presa e detida nos casos estabelecidos pela lei. As mulheres obedecem, como os homens, a esta lei rigorosa.

Artigo 8º

A lei só deve estabelecer penas estritamente e evidentemente necessárias e ninguém pode ser punido senão em virtude de uma lei estabelecida e promulgada anteriormente ao delito e legalmente aplicada às mulheres.

Artigo 9º

Sobre qualquer mulher declarada culpada a lei exerce todo o seu rigor.

Artigo 10

Ninguém deve ser molestado por suas opiniões, mesmo de princípio. A mulher tem o direito de subir ao patíbulo, deve ter também o de subir ao pódio desde que as suas manifestações não perturbem a ordem pública estabelecida pela lei.

Artigo 11

A livre comunicação de pensamentos e de opiniões é um dos direitos mais preciosos da mulher, já que essa liberdade assegura a legitimidade dos pais em relação aos filhos. Toda cidadã pode então dizer livremente: "Sou a mãe de um filho seu", sem que um preconceito bárbaro a force a esconder a verdade; sob pena de responder pelo abuso dessa liberdade nos casos estabelecidos pela lei.

Artigo 12

É necessário garantir principalmente os direitos da mulher e da cidadã; essa garantia deve ser instituída em favor de todos e não só daqueles às quais é assegurada.

Artigo 13

Para a manutenção da força pública e para as despesas de administração, as contribuições da mulher e do homem serão iguais; ela participa de todos os trabalhos ingratos, de todas as fadigas, deve então participar também da distribuição dos postos, dos empregos, dos cargos, das dignidades e da indústria.

Artigo 14

As cidadãs e os cidadãos têm o direito de constatar por si próprios ou por seus representantes a necessidade da contribuição pública. As cidadãs só podem aderir a ela com a aceitação de uma divisão igual, não só nos bens, mas também na administração pública, e determinar a quantia, o tributável, a cobrança e a duração do imposto.

Artigo 15

O conjunto de mulheres igualadas aos homens para a taxação tem o mesmo direito de pedir contas da sua administração a todo agente público.

Artigo 16

Toda sociedade em que a garantia dos direitos não é assegurada, nem a separação dos poderes determinada, não tem Constituição. A Constituição é nula se a maioria dos indivíduos que compõem a nação não cooperou na sua redação.

Artigo 17

As propriedades são de todos os sexos juntos ou separados; para cada um deles elas têm direito inviolável e sagrado. Ninguém pode ser privado delas como verdadeiro patrimônio da natureza, a não ser quando a necessidade  pública, legalmente constatada o exija de modo evidente e com a condição de uma justa e preliminar indenização.

CONCLUSÃO

Mulher, desperta. A força da razão se faz escutar em todo o Universo. Reconhece teus direitos. O poderoso império da natureza não está mais envolto de preconceitos, de fanatismos, de superstições e de mentiras. A bandeira da verdade dissipou todas as nuvens da ignorância e da usurpação. O homem escravo multiplicou suas forças e teve necessidade de recorrer às tuas, para romper os seus ferros. Tornando-se livre, tornou-se injusto em relação à sua companheira

(FONTE: [2])

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2. A Sociologia é a ciência que estuda o homem em O que é Sociologia? sociedade, investigando seu comportamento, associações, grupos e instituições.O Surgimento desta ciência é associado ao processo das revoluções ocorridas entre os séculos XVIII e XIX. Revolução Francesa 1789 Revolução Industrial 1760• Fim do Feudalismo • Migração/crescimento das cidades• Queda 1º e 2º estado (feudal) • Mudanças de hábitos• Ascensão da Burguesia • Surgimento de novas classes sociais 3. Fundador do Positivismo: Em linhas, COMTE E A FILOSOFIA SOCIAL gerais, defende que o conhecimento científico é a única forma de conhecimento verdadeiro. Negando o conhecimento teológico e o racional hipotético; Supervaloriza o empirismo e as ciências experimentais (modelos positivos). A Lei dos Três Estados • Teológico Auguste Comte (1798-1857) • Metafísico • Positivo Admirador de Charles Darwin, aplicou a teoria da“Seleção das espécies” buscando justificar a Herbert Spencer superioridade européia Darwinismo Social (1820-1903) Neocolonialismo. 4. Delimitou o objeto de estudo da Sociologia em sua obra As Regras do Método Sociológico (1895). A Sociologia Passou a ser reconhecida como uma ciência. Émile Durkheim (1858-1917) OS TIPOS DE CORRENTES SOCIOLÓGICAS Positivista / Funcionalista: Tem como fundador Auguste Comte Parte. Porém,Durkheim é o propagador da ideia de que a sociedade é organizada fora da mente dos indivíduos.Sociologia Compreensiva: Identificada nas obras de Max Weber (1864-1920),considerou a ação individual como principal agente das relações sociais.Materialista histórico-dialética: Elaborada por Karl Marx (1818-1883), apontou a luta de classes como força motriz que rege a sociedade. O que é Sociologia? Embora o termo seja de August Comte (1798-1857), a Sociologia só toma corpo de ciência com Émile Durkheim (1858-1917) ao distinguir-se da Psicologia, da Filosofia e da História. Enquanto produto social de sua época ela reflete as necessidades sociais de uma compreensão específica da sociedade industrial, uma compreensão bem particular voltada para o mundo social material, por assim dizer, livre da metafísica (da filosofia) e da individualidade dos sujeitos (da psicologia). Nascida com pretensões de ciência, a Sociologia parte dos parâmetros realista, objetivista-crítico, o tripé da ciência moderna. A título de introdução vale a pena nos determos na questão sobre “o que é ciência?” e sobre “como se faz ciência?” uma vez que essas questões podem elucidar a principal função e o modo de funcionamento da Sociologia.