Avá Guarani ou Ñandeva ou Chiripá

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Os Avá Guarani ou Ñandeva ou Chiripá, são um povo indígena cuja língua é composta de dialetos do Tupi-Guarani, com uma população aproximada de entre 8.000 a 10.000 indivíduos no Brasil e 7.000 indivíduos no Paraguai. Fazem parte do grupo Guarani que é composto de subgrupos - Ñandeva, Kaiowa e Mbya. Porém existem diferenças entre estes subgrupos vivendo no Brazil, diferenças linguísticas, culturais, costumes, práticas rituais, sociais e organizações políticas, orientação religiosa, assim como meios específicos de interpretar a realidade que experienciam e por interagir de acordo com situações no seu passado histórico e suas ciscunstâncias presentes.



Localização editar

As Tribos Guaranis Ñandeva podem ser encontradas na Argentina, Paraguai e no Brasil em MS, PR, RS, SC e SP.

Coordenadas Veja no mapa

Mapa Interativo editar

23.482377° ' S 46.501358º ' W

História editar

Os Guaranis originam-se nas florestas tropicais no Alto Paraná, do alto do Uruguai e extremidades do planalto meridional brasileiro. Em 400 d.C, essa cultura já havia se diferenciado da tupi, e sua gestação seria cerca de um milênio. Na época da chegada dos europeus, os Guaranis ocupavam extensa região litorânea que ia de Cananéia (SP) até o Rio Grande do Sul, infiltrando-se nas bacias do Paraná, Paraguai e Uruguai Este povo teve seu primeiro contato com o homem europeu no sérculo XVI. A presença missionária de jesuítas que queriam os catequizar os índios, e as "encomiendas" que era de fato escravização dos ídios pelos colonizadores com o disfarce da proteção.

Língua editar

Os Ñandeva falam dialetos da língua Tupi-guarani, assim como os outros subgrupos do Guarani, existindo diferenças na língua, porém, levando em conta a distância entre os diferentes subgrupos guarani, são poucas diferenças. A palavra para os Ñandeva tem relevância cosmológica e religiosa, justificando o porque de independentemente dos casos de alta escolarização e relações inter-étnicas, perdura o desejo de manter sua língua viva, representando um importante elemento na elaboração de identidade étnica.

Cosmologia e Religiosidade editar

Para os Guaranis, o mundo foi criado por uma divindade que eles chamam de "Nosso grande avô eterno", ou na língua guarani Ñane Ramõi Jusu Papa, que foi criado de Jasuka uma substância originária, vital e com qualidades criadoras, este que também criou sua esposa chamada de "Nossa avó" ou em sua língua Ñande Jari, esta que criou a Terra e o céu e as matas. Ñane Ramõi Jusu Papa viveu sobre a terra por pouco tempo, antes que fosse ocupada pelos homens, deixando-a, sem morrer, por um desentendimento com a mulher. Tomado de profunda raiva causada por ciúmes, quase chegou a destruir sua própria criação que foi a terra, sendo impedido, contudo, por Ñande Jari. O filho de Ñane Ramõi, isto é, Ñande Ru Paven (“Nosso Pai de Todos”) e sua esposa Ñande Sy (“Nossa Mãe”), ficaram responsáveis pela divisão política da terra e o assentamento dos diferentes povos em seus respectivos territórios, criando montanhas para delimitar o território guarani. Da mesma forma que seu pai, decidiu abandonar a terra em função de um desentendimento com sua esposa que estava grávida de gêmeos. O mito dos gêmeos é um dos mais contados e difundidos pela América do Sul. Pa’i Kuara é neto de Ñane Ramõi. A ele, depois de muitas aventuras na terra, foi atribuída a responsabilidade de cuidar do Sol, assim como de seu irmão, Jacy, a quem caberia o cuidado da Lua. Além da mitologia clássica, os guaranis tem uma infinidade de contos onde os heróis são os animais. Criaram também uma mitologia que narra os acontecimentos nos últimos 200 anos. As atividades dos guaranis variam de cânticos, rezas e danças que dependendo da tribo são cotidianas. Estas atividades começam ao cair da noite e se estendem por várias horas, estes rituais são conduzidos pelos ñanderu, que são os líderes religiosos. Outras cerimonias, também dirigida por um líder religioso, tem início ao cair do sol e acaba na aurora do dia seguinte. Este líder religioso deve conhecer o “canto comprido”,na língua guarani mborahéi puku, cujos versos, que não se repetem, não podem ser interrompidos depois de iniciada a cerimônia. Além desses rituais, há ainda as cerimônias do mitãmongarai, ocasião em que sacerdotes reúnem crianças para o batismo, quando recebem o tera ka’aguy (nome de mato) ou nome guarani.

Aspectos Culturais editar

Três aspectos da vida Ñandeva expressa uma identidade que dá a eles uma especifidade entre outros povos indígenas, estruturando de criando o "modo de ser Guarani". O ava ñe'ë (ava: homem Guarani; ñe'ë: "alma") ou fala, língua, que define identidade em comunicação verbal; O tamõi (avô) ou acestrais comuns místicos; O ava reko (teko: "ser/essência, estado de vida, condição, costume, lei, hábito") ou comportamento na sociedade, que é sustentado através do mitológico e ideológico quadro de trabalho. Esses aspectos informam o ava (homem Guarani) como entender situações experienciadas e o mundo à sua volta, provendo linhas de guia e pontos de referência para sua conduta social. Os homens casam-se entre 16 e 18 anos, enquanto as mulheres podem casar-se a partir da segunda ou terceira menstruação, em geral entre 14 e 17 anos. Na primeira menstruação as meninas têm seu cabelo cortado e mantêm resguardo dentro de suas casas, onde recebem alimentos e de onde raramente saem por algumas semanas. Não há ritual específico nos casamentos, cabendo aos pais do rapaz, na pauta tradicional guarani, a iniciativa de falar com os pais da moça sobre o matrimônio. Espera-se, contudo, que os noivos estejam aptos a construir e manter casa e filhos. Há nítida divisão sexual dos trabalhos e das funções econômicas na dinâmica cotidiana dos Guarani, sendo efetivamente muito raro encontrar homem ou mulher incapaci­tados de desempenhar funções produtivas nesse dia-a-dia.

Família editar

Os Ñandeva têm como base da sociedade a família extensa, que é composta pelo casal, filhos, genros, netos, irmãos e isto constitui uma unidade de produção e consumo. Em cada família existe uma liderançã, que geralmente é um homem, chamada Tamõi (avô), embora existam também lideres mulheres.A função do líder é a organização política e religiosa.Uma tradição índigena é que os novos casais venham contituir moradia que seguem um padrão de residência que passam a viver na localidade do pai da mulher, cabendo ao esposo apoio político e econômico de seu sobro, absorvido pelo grupo macro familiar. Os casais devem fazer parte de diferentes famílias extensas, uma vez que há leis que proibem o casamento de pessoas no mesmo grupo macro-familiar. Um incesto não é aceito pois tem implicações no campo mítico, pois dizem que causa mau agouro. Em questão de poligamia os Ñandeva diferente dos Kaiowa a aceita. Mesmo separações físicas não provocam perda de vínculo dos que estão longe, pois são sempre lembrados nas conversas do cotidiano.

Política editar

Cada organização territorial tem um chefe político que é escolhido pelo líder chamado “tamõi" na língua guarani. Não há um poder centralizado, pois seu poder é relativo frente à autonomia de famílias extensas, como há uma grande autonomia dos grupos macro familiares, apenas em momentos de dificuldade exige-se a atuação do líder como "capitão". A organização política pode varias dependendo da situação local e regional, ou mesmo no subgrupo, portanto a organização política que são próprias de cada localidade, se formam na medida que ocorrem inter-relações com forças políticas locais.

Medicina tradicional editar

Na Mata Atlântica, os Guarani coletam inúmeras espécies vegetais, utilizadas na preparação de chás e infusão de uso medicinal e ritual. Além dessas plantas, algumas famílias mantêm pequenos canteiros, junto às casas, com outras espécies para preparação de remédios. Tais mudas são trazidas de outras aldeias ou trocadas com parentes. Os produtos farmacêuticos a partir dos conhecimentos tradicionais sobre o uso de plantas, insetos, óleos vegetais, preocupam os índios, que portanto, exigem uma legislação que proteja a medicina natural, preservando seus conhecimentos.

Situação territorial editar

Os guaranis sofrem desde meados da década de 1920 uma contínua desapropriação de terras. Nas décadas seguintes e até poucos anos atrás a existência dos Guarani se materializa com a derrubada de matas para implantação de empresas agropecuárias. Quando descobertos, ou eram expulsos imediatamente ou após a utilização de sua força de trabalho na formação da fazenda. No Mato Grosso do Sul, não obstante a prática de constrição em espaços estabelecidos pelo Estado, inúmeros grupos macro familiares envidaram esforços para permanecerem nas áreas de florestas – não raro nos fundos de fazendas que toleram sua presença. Assim de 1977 até hoje ocorrem reivindicações de terras Ñandeva do MS em garantir suas terras, não só relutando em sair dos lugares tradicionais onde estão, como mobilizando-se, a partir de onde estão, para recuperar terras compulsoriamente abandonadas no passado. A SPI (Serviço de Proteção aos índios), criado em 1910, depois transformado, em 1967, na Fundação Nacional do Índio (Funai), com a intenção de executar sua política com relação às populações indígenas do país,tomou uma medida para "integrar" as populações indígenas: criou oito reservas Ñandeva no Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná.

Ligações externas editar

[1] http://pib.socioambiental.org/pt

http://funaipontapora.wordpress.com/2012/08/06/rezador-fala-sobre-estrutura-religiosa-guarani-kaiowa/

Referências editar

1.http://www.funai.gov.br/

2.http://pib.socioambiental.org/en/povo/guarani-nandeva/1727

3.Do desenvolvimento comunitário a mobilização política : o Projeto Kaiowa-Ñandeva como experiência antropológica. Rio de Janeiro : Contra Capa, 2001. 240 p.

4.VILLALBA, Daniel Rojas. La religion en la cultura Guaraní. In: BOTTASSO, Juan (Coord.). Religiones amerindias : 500 años después. Quito : Abya-Yala ; Roma : Mlal, 1992. p. 127-40. (Colección 500 Años, 56)

5.SORENSEN, Dorthe Nyland. Paradisloftet : Jesuitter hos tupiguarani. Tidsskriftet Antropologi, Copenhagen : s.ed., v. 23, p. 89-98, 1991.

6.Organização socio-política Guarani : aportes para a investigação arqueológica. Porto Alegre : PUC-RS, 1996. (Dissertação de Mestrado)

7.MUGRABI, Edivanda (Org.). Os Tupinikim e Guarani na luta pela terra. Brasília : MEC, 2001. 104 p.

8.(Org.). As cidades e os povos indígenas : mitologias e visões. Maringá : Eduem, 2000. 47 p.

9.CIMI; CPI-SP; PROCURADORIA REGIONAL DA REPÚBLICA DA 3a. REGIÃO (Orgs.). Conflitos de direitos sobre as terras Guarani Kaiowá no estado do Mato Grosso do Sul. São Paulo : Palas Athena, 2001. 487 p.