Categoria:História

História, Memória e Narrativas


A reflexão sobre a escrita da História nos permite compreender que a preservação da memória é realizada a partir de diferentes Registros Históricos. Nesse sentido, quando refletimos sobre a História, é importante compreender que ela se constitui de diferentes narrativas, o que a torna um campo do conhecimento em constante disputa.

As questões que permeiam a escrita da história podem ser problematizadas por meio dos critérios de cientificidade que a construção da história reivindica. Quando refletimos sobre essas questões, notamos a existência, em muitos momentos de construção da história, de uma disputa entre a história oficial e a história oral. A história oral representa a presença da oralidade e da escrita, assim como a resistência das tradições e culturas. Nesse sentido, torna-se importante compreender o papel do historiador como aquele que interfere na História, que reúne relatos, seleciona-os, conecta-os de forma compreensível, o que aponta para questões acerca da isenção e imparcialidade impossíveis à História e ao historiador. A educação, como ferramenta de emancipação, não deve conceber a história como algo acabado, e sim, estar sempre disposta a questionar acerca das várias narrativas que compõe a história, pois existem várias histórias, fantasias, acontecimentos, que estão presentes apenas nas narrativas de um grupo/povo. Cada um que conta uma história, se identifica com ela, personaliza os atores, vivencia os acontecimentos, e as histórias sobre um mesmo fato podem variar de acordo com o narrador, com a sua experiência, com os seus instrumentos culturais. Desse modo, a história pode ser pensada como uma pluralidade de narrativas, onde encontramos a disputa entre a história oficial e a história daqueles excluídos dessa história, assim como, entre a oralidade e a escrita.

Walter Benjamin, um importante filósofo alemão do fim do século XIX e início do século XX, trouxe importantes reflexões acerca da escrita da história na modernidade, pensando como o progresso da modernidade interfere diretamente nas narrativas e memórias históricas. O pensador considera que, na modernidade, a história é construída através da destruição irremediável do passado pelo futuro, ou seja, pelo progresso(BENJAMIM, 1985, p.220). A cientificidade que deve permear a escrita da história moderna estabelece um impasse acerca da história oficial e a contada através das memórias dos povos. A história designa tanto o processo de desenvolvimento da realidade no tempo como o estudo deste processo, quer através de um processo crítico como por um simples relato. Mas a história moderna é linear, cronológica (os acontecimentos são distribuídos no tempo), e os acontecimentos devem ser comprovados, verificados, através de fontes, documentos, etc. Para Benjamin(BENJAMIM, 1985, p.226), a história deve ser compreendida como uma narrativa. A noção de história não deve ser uma noção dos historiadores, não deve ser necessariamente cronológica, linear (como se ela saísse de um ponto e obrigatoriamente se desenvolvesse para outro mais a frente). Neste sentido, a história deve ser compreendida como um processo unilateral, pois se a história não é linear, o passado não passou, não está distante, inalcançável por nós, e o futuro, pode se realizar de diferentes formas.


Referências bibliográficas:


BENJAMIN. Walter, “O narrador. Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov” in Obras Escolhidas, volume I. São Paulo: Brasiliense, 1986.

BENJAMIN. Walter, Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura – obras escolhidas, volume I. Trad. Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1987.