Discussão:Especialização em Sóciopedagogia

Referencial Teórico editar

À proposta do curso de Especialização, esperamos que nos ajude a construí-lo:

Formação de Professores editar

Extrato de entrevista à Veja "Desafios brasileiros
'Quem precisa de escola em tempo integral no Brasil é professor, não aluno'
Para melhorar o ensino público, país precisa formar mestres, diz a educadora Guiomar Namo de Mello
Nathalia Goulart

O que fazer para formar um bom professor?
É preciso enfrentar os cursos de pedagogia, mas não vejo nenhum político se referindo a isso. Também temos que formar o professor em tempo integral, porque eles estão saindo do ensino médio analfabetos e chegam ao ensino superior para reproduzir a sua ignorância. Depois, vão para a escola pública e repetem o círculo vicioso da ignorância. Então, quem precisa de escola em tempo integral no Brasil é professor, não aluno. Nosso professor sai da escola pública: depois de uma formação deficitária no ensino superior particular, onde ele pode dar aula? No ensino público, de onde saiu. E ainda tem quem diga que é ele o culpado pela má qualidade do ensino. Ele não é culpado, mas apenas uma peça dessa engrenagem. Para enfrentar esse problema é preciso vontade política e recursos financeiros para investir na formação do professor. Se estivéssemos dispostos a fazer isso, poderíamos ter um ensino de qualidade.

No Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) de 2008, apenas 2,7% dos cursos de pedagogia alcançaram a nota máxima, igual a 5. O que precisa mudar no currículo dessas instituições?
Precisamos de um currículo onde o futuro professor não estude só a teoria. Ele precisa conhecer a prática desde o primeiro dia, como os médicos. O modelo de formação clínica é o melhor modelo para o professor. Ele não precisa estudar os recônditos da pedagogia. Ele precisa aprender como se ensina e como o aluno aprende. O professor é um artesão, ele não é um grande criador. Da mesma forma que o médico não é um criador. Ele tem que ser um excelente aplicador de conhecimento. A sala de aula é o foco e a referência do trabalho dele.

O currículo escolar praticado hoje é outra questão estruturante?
Sim. Hoje temos um ensino enciclopédico e precisamos acabar com essa crença. Precisamos saber para que finalidade queremos educar os jovens. Temos que educá-los para sobreviver em um mundo cada vez mais complicado, em que a informação está disponível para todos. Para isso, você precisa desenvolver competências que são básicas: saber falar, pensar, usar a linguagem, aplicar o conhecimento adquirido para entender o mundo ao seu redor. É preciso um ensino mais relevante. Ou a gente atende a esses desafios ou não melhoramos o ensino."

À Várias Mãos editar

Em "A pergunta a várias mãos: a experiência da pesquisa no trabalho do educador", da coleção 'Saber com o outro', Carlos Rodrigues Brandão, cientista social e educador, registra o trilhar de uma experiência na rede municipal de ensino público no sul do Brasil, que pretendia aliar melhoria no trabalho didático enlaçado com a prática de investigação. Ele dirige o livro "...mais a educadores que pesquisam do que a pesquisadores que, eventualmente, educam" (p.10). Não se reduzindo a discutir, orientar ou descrever filosofias e métodos de pesquisa, procura instituir a prática de pesquisa como um trabalho cooperativo e solidário,discutindo questões relacionadas com o campo teórico da Pedagogia,a prática educativa como seu objeto, a relação com as demais ciências da educação, a identidade profissional do pedagogo e seu papel diante das realidades contemporâneas.
"Em um momento de um de seus escritos, Jean Piaget disse: 'não acredito na pesquisa solitária. Acredito na pesquisa solidária'. Este livro envolve um conjunto de escritos em que a ideia essencial é repensada, revisitada e proposta de diferentes maneiras. O livro não se preocupa em descrever e mesmo propor métodos específicos do 'como fazer uma boa pesquisa'. Suas perguntas fundadoras são outras: Como tornar a prática de pesquisa na educação um trabalho cooperativo e solidário? Como tornar tanto estilos de pesquisa, quanto os seus praticantes, o mais participante possível? De que maneira viver a investigação científica como uma experiência séria e confiável, ao mesmo tempo que plural, criativa e sempre aberta ao diálogo?"
"A Pergunta a Várias Mãos é o primeiro livro da série Saber com o Outro, que trará ainda mais três títulos: O Meio Grito e Outros escritos sobre a Pesquisa Participante; Não Saber, Pesquisar; Ir, Conviver, Pesquisar, Escrever - A pesquisa de Campo.
Esta obra procura ir um pouco além do simples problematizar a teoria de modelos consagrados de investigação científica. Procura pensar as diferenças e escolhas dos estilos de pesquisa. Estilos de pesquisa qualitativa colocados diante do desafio da superação da solidão e de uma objetividade ociosa, em favor da pesquisa solidária, partilhada e vivida entre sujeitos postos em lados não opostos, mas subjetiva e socialmente convergentes. Seu cenário é o de experiência de trabalhos de investigação associados a práticas docentes em escolas de ensino fundamental e ensino médio.
Durante os últimos anos, as escolas da rede municipal de educação de várias cidades do Rio Grande do Sul, a começar por Porto Alegre, experimentaram inovações bastantes oportunas e criativas no enlace entre o trabalho didático, dentro e fora da sala de aula, e a prática da pesquisa. Boa parte do que está escrito em A Pergunta a Várias Mãos vem de tais experiências, tal como elas foram vividas, pensadas e dialogadas pelo seu autor."
Entre o que se proclama que se irá investigar e a existência feita e registrada da pesquisa, vai uma larga diferença, do olhar com o outro e pelo outro. Como uma espécie de memória do acontecido, é uma coletânia de textos, tendo em comum as problemáticas que envolvem educadores investigativos, e relatam "as convivências e entre as convivências" (p.11).
"Há mais a preocupação de pensar a dimensão social da pesquisa enquanto um dos instrumentos de criação solidária do conhecimento e de possíveis ações de teor político pedagógico, do que a intenção de propor teórias pós-modernas e métodos inovadores e confiáveis de pesquisa científica. Quando isso acontecer, entre uma página e outra, é porque antes a questão refletida foi vivida em um momento de diálogo entre pessoas que descobriram a pesquisa sobre educação como uma dimensão e um dilema da própria experiência de ser educador. Existem já muitos livros sobre epistemologias, metodologias e técnicas de pesquisa científicas no trabalho da pessoa que educa. Em algumas passagens faço referência a alguns destes livros e os recomendo."(p.12)
Brandão assevera que a pesquisa não se faz só nas universidades por cientistas profissionais das "províncias" duras do conhecimento (p.13). "Que aquilo que damos o nome de "senso comum" ou mesmo de "pensamento selvagem", configura outras alternativas de fazer perguntas e criar sistemas de buscar respostas" (p.13). Ele parte de uma perspectiva indutiva ao iniciar uma pesquisa. Ao invés de buscar os fundamentos teóricos para enquadrar o problema, como uma etnometodologia, ele tenta extrair uma teorética da situação que se apresenta, do problema com que se deparam. E quanto ao método: "...prefere interrogar: 'Que diferente estilos de trabalho de pesquisa a que seus praticantes dão o nome de 'participante' estão sendo exercidos aqui e agora, entre nós e outras pessoas" (p.14). "A escolha de métodos é evidente, e as opções de sentido social ao destino do trabalho de criar o saber através da prática da pesquisa, mais ainda" (p.17).

Questionamento Reconstrutivo editar

Pedro Demo em "Educar pela Pesquisa", trata da pesquisa educacional como atividade curricular como princípio formativo dos futuros profissionais que as universidades e escolas superiores querem educar."O que melhor distingue a educação escolar e universitária é sua instrumentação pela pesquisa (e formulação própria). Por outro lado, se não aparecer esta instrumentação, ficará sem distintivo próprio, não se diferenciado de outros lugares educativos na sociedade. Este é o meio, educação é o fim. Significa também não separar os dois componentes do mesmo todo hierárquico, ou seja, a pesquisa não se basta em ser o princípio científico, pois precisa também ser princípio educativo. Não se faz antes pesquisa, depois educação, ou vice-versa, mas, no mesmo processo, educação através da pesquisa". "O critério diferencial da pesquisa é o questionamento reconstrutivo (pelos sujeitos participativos), que engloba teoria e prática, qualidade formal e política, inovação e ética" (p.01)."Do ponto de vista da inovação, trata-se do conhecimento crítico e criativo. Educar pela pesquisa tem como condição essencial primeira que o profissional da educação seja pesquisador, ou seja, maneje a pesquisa como princípio científico e educativo e a tenha como atitude cotidiana (...) como instrumento principal do processo educativo(...)um profissional da educação pela pesquisa. Decorre, pois, a necessidade de mudar a definição do professor como perito em aula, já que a aula que apenas ensina a copiar é absoluta imperícia" (p.02).
Assim, o aluno de deixa de ser objeto para ser 'parceiro de trabalho' (SILVA, T. M. N. 1990. A construção do currículo na sala de aula: o professor como pesquisador. EPU. São Paulo).
Ver:

Pesquisa Participante: O Saber da Partilha editar

Sinopse: "A pesquisa participante é um importante instrumento de trabalho na construção do conhecimento que tem como objetivo compreender, intervir e transformar a realidade. O pressuposto é simples - todo ser humano é em si mesmo e por si mesmo uma fonte original e insubstituível de saber. Neste sentido, ela oferece um repertório de experiências destinadas a superar a oposição sujeito/objeto, pesquisador/pesquisado, conhecedor/conhecido no interior dos processos de produção coletiva do saber, visando, a seguir ações transformadoras. O livro resgata um instrumento de trabalho no âmbito dos diferentes campos da ação social. Uma coletânea de textos que junta autores que vivenciaram os momentos inicias da pesquisa participante a outros que exploram novos caminhos, mostrando a atualidade e o refazer-se dessa metodologia de trabalho nos caminhos da história e da sociedade."
"A pesquisa participante pode ser compreendida como um repertório múltiplo e diferenciado de experiências de criação coletiva de conhecimentos destinadas a superar a oposição sujeito/objeto no interior de processos que geram saberes e na sequência das ações que aspiram gerar transformações a patir, também, desses conhecimentos. São experiências que sonham substituir o antigo monótono eixo: pesquisador/pesquisado, conhecedor/conhecido, cientista/cientificado, pela aventura perigosa, mas historicamente urgente e inevitável, da criação de redes, teias e tramas formadas por diferentes categorias entre iguais/diferentes sabedores solidários do que de fato importa saber. Uma múltipla teia de e entre pessoas, que ao invés de estabelecer hierarquias de acordo com padrões consagrados de idéias pré-concebidas sobre o conhecimento e seu valor,as envolva em um mesmo amplo exercício de construir saberes a partir da idéia tão simples e tão esquecida de que qualquer ser humano é, em si mesmo e por si mesmo, uma fonte original e insubstituível de saber.
Os praticantes podem estar num grupo de educadores do MST, em um grupo de mães, em uma periferia da cidade ou no interior de um setor do poder de Estado, desejoso de encontrar outra base para a gestão da coisa pública.
Com este trabalho esperamos contribuir para a proximação entre inúmeras práticas de pesquisa que se encontram e desencontram em diferentes campos de ação social. A autores que vivenciaram os momentos fundacionais da pesquisa participante juntam-se outros que exploram novos caminhos, como a indicar que a pesquisa não pode ser aprisionada em esquemas fechados. É da natureza da pesquisa participante refazer-se nos movimentos da história e da sociedade.
'É que as ideias têm uma dinâmica própria: alguém as semeia, mas aí está o limite. É o que estou vendo nestes momentos com a IAP (Investigação-Ação Participante), porque semeou-se com a ideia de que fosse radical, para mudanças radicais na sociedade, transformação a fundo das coisas.' (Orlando Fals Borda). Ver tb (http://es.wikipedia.org/wiki/Orlando_Fals_Borda)
'Reconhecemos que a pesquisa participante existiu no passado e existe dentro de diferentes tradições. Reconhecemos a gestação de uma 'tradição latino-americana', a partir das experiências pioneiras de Orlando Fals Borda e de Paulo Freire. Esta tradição da pesquisa participante somente pode ser compreendida em suas origens e em sua atualidade, quando referenciada aos contextos sociais e políticos dos tempos de sua instauração na América Latina, entre os anos 70 e 80.' (Carlos Rodrigues Brandão).
'O pesquisador e os demais envolvidos com essa realidade passam a construir um sujeito, uma unidade em ação, que busca desvendar aspecto ou aspectos da realidade, apropriando-se criticamente desta.' (Maria Ozanira da Silva e Silva).
'Pesquisar e ensinar-aprender são parte do mesmo processo de conhecer, isto é, de compreender, intervir e transformar a realidade. A produção de conhecimento situa-se em vários lugares, cada um destes com características próprias, de acordo com os papéis que cabem aos respectivos atores. A pesquisa faz parte, assim, de um maplo movimento do saber.' (Danilo R. Streck)".
"Enquanto pela forma hegemônica do conhecimento, conhecemos criando ordem, a epistemologia da visão levanta a questão sobre se é possível conhecer criando solidariedade. A solidariedade como forma de conhecimento é o reconhecimento do outro como igual, sempre que a diferença lhe acarrete inferioridade, e como diferente, sempre que a igualdade lhe ponha em risco a identidade." Boaventura de Souza Santos. In: A crítica da razão indolente: contra o desperdício da experiência, p. 246.
No livro é feito um convite a ousar 'mudar de lugar', 'mudar de olhar', 'mudar de pensar'. "É um convite feito a várias vozes e segundo vários estilos, para que aprendamos também a não apenas pensar o outro através de nós mesmos - nossas práticas, nossas ideias, nossas posturas e teorias -, mas a nos pensarmos a nós mesmos através do outro. Talvez por isso mesmo, sendo tão pessoalmente biográfica. Alguns de seus praticantes recentes confessam que às vezes não sabem se estão praticando uma 'pesquisa participante' ou uma 'participação pesquisante'. (p.08). "...Os textos do livro (têm) o pressuposto de que o processo de conhecer o mundo anda de mãos dadas com sua transformação (p.09)."Permanecia sempre presente, mesmo quando eram melhores as intenções, uma persistente divisão entre sujeitos da pesquisa e o objetos de pesquisa. Entre quem pesquisa e quem é pesquisado; entre quem gera conhecimento e quem dá ao outro mais conhecimento, ao outorgar a ele o saber de si mesmo (como vida e representação tradicional da vida) para ser transformado em conhecimento científico sobre um outro (p.12). 'A trama permite um maior espaço para a historicidade do ser e do fazer humano. Ela não é autotramada (...). Além disso, a trama faz com que se valorize a individualidade e a subjetividade, mas ao mesmo tempo faz lembrar que o indivíduo não existe por si e nem para si. Ele é sempre o resultado de outras tramas; da relação com outras subjetividades; da complexa inter-relação entre o passado, o futuro e o presente; da confluência de conhecimentos, sonhos e condições históricas. Mas ele é também um fio único e importante nesta imensa trama que é a sociedade, a história, o saber, enfim, a vida (p.13).
(STRECK, Danilo Romeu. Pedagogia no encontro de tempos, p.28-29.)
"Uma pesquisa que é também uma pedogogia que entrelaça atores-autores e que é um aprendizado no qual, mesmo quando haja diferenças essenciais de sabares, todos aprendem uns com os outros e uns através dos outros. Uma pedagogia de criação solidária de saberes sociais em que a palavra-chave não é o próprio "conhecimento", mas é, antes dele, o "diálogo". O diálogo de e entre ideias e experiência de pesquisas participantes que se estende a um diálogo entre grupos e povos, para quem a busca do conhecimento de si e de sua realidade é parte do desafio de sonhar a possibilidade de virmos a transformar aos poucos o mundo do mercado em que vivemos, em direção ao mundo da vida. Um mundo de vida social onde caibam todos e todas: todo o meu eu, todo nós e e todo os outros. - http://www.anped.org.br/reunioes/32ra/arquivos/trabalhos/GT06-5171--Int.pdf

Ambiente de Formação pela pesquisa editar

O conhecimento produzido precisa problematizar e enriquecer o conhecimento coletivo. O livro aborda a possibilidade do educar pela pesquisa (DEMO, 1997) na transformação dos cursos de formação de professores. Os argumentos apontam para uma sala de aula como ambiente de emergência de limites, desafios e possibilidades por meio da fundamentação das teorias curriculares dos envolvidos e de construção de conhecimento profissional competente. Outro argumento é a possibilidade do educar pela pesquisa impulsionar o movimento de transformações curriculares dos próprios cursos de formação pela pesquisa. São apresentados argumentos em favor da transformação e avanços nos cursos de formação de professores a partir de três componentes da formação inicial: os cursos de licenciatura e seus desafios, os professores e suas teorias curriculares e os alunos e suas teorias curriculares. Considerando o primeiro aspecto, a autora apresenta o educar pela pesquisa como possibilidade de integração do currículo pela pesquisa, contribuindo para minimizar um dos problemas das licenciaturas que é a separação entre o conteúdo específico e o conteúdo pedagógico. A pesquisa inserida no contexto da sala de aula da formação inicial implementa também a articulação entre ensino e pesquisa, uma lacuna presente nos cursos de graduação em geral. Como princípio didático ainda pode ser a possibilidade de aproximação da realidade escolar das discussões fundamentais ocorridas durante a formação, exigência presente e atual nesses cursos. Assumir o educar pela pesquisa como princípio didático, entretanto, é um desafio pois convivem em sala de aula limites e possibilidades, o que a torna um ambiente propício de enriquecimento e superação sobre entendimentos, muitas vezes simples e implícitos, do que significa ser professor.

WernerBR 21h59min de 4 de Junho de 2011 (UTC)


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