Wikinativa/Macuna: diferenças entre revisões

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==Religião==
 
Os Makuna têm muitos dos mesmos ritos e mitos dos Yakuna (nos Rio Miriti-Paraná e Caquetá-Japurá na Colômbia, população 1.800 em 2001, SIL), porém as línguas são diferentes. As danças são realizadas para a iniciação dos jovens, as estações do ano, a migração do peixe e outras ocasiões decididas pelos pajés. Nas cerimônias usam uma língua ritual que não é inteligível, mesmo para os que a aprenderam. Consomem muito de chucho, uma bebida fermentada feita da cana. O pajé os acompanha durante a caça, cantando canções encantadoras para atrair os animais.
Os Makuna creem que o alimento é o meio usado por doenças para atacar o corpo e pode ser perigoso. Todo alimento, seja carne ou da roça, deve ser abençoado pelo chefe (übü) antes de comer, para expulsar os espíritos que causam doenças. Acreditam também que os espíritos dos animais e das plantas podem os punir se caçarem ou colherem demais, ou seja, além da necessidade da comunidade. Os Makuna não usam ervas medicinais como os outros povos Tuc(k)ano, os pajés yaia (onças) praticam curas usando “água benta” ou chupando no membro do corpo afligido (Arnhem 1981).
A festa da Pupunheira (hota basa): A pupunheira (Bactris gasipaes) providencia fruto e palmito, é explorada comercialmente e precisa de medidas de conservação. A data da festa é marcada pelos espíritos, é durante a colheita e um clã é escolhido como anfitrião. Os homens colhem o fruto da palmeira, pescam e caçam mais provisões. O pajé oferece coca e tabaco para os espíritos não invadirem a festa. As mulheres preparam mais farinha e fazem um purê do fruto, que é servido como uma bebida. Os convidados preparam máscaras e costumes, que representam diversos espíritos; os mais importantes representam diversas espécies de peixe. Homens entram na maloca com as máscaras representando os espíritos de macacos, sexo, abelhas, aves, onças etc. A dança dos espíritos continua durante a noite, renovando a conexão com as “casas de acordar”, a origem dos clãs e com os espíritos dos mortos. A festa dura dois dias.
Os Makuna creem que a pessoa consiste do espírito dado pelo pai e do corpo dado pela mãe. Eles acreditam na reencarnação, em que os espíritos dos avôs falecidos entram nas crianças com seus nomes. Logo que a morte acontece, as mulheres levantam um lamento barulhento para propiciar os espíritos e não somente da morte. Na cerimônia há homens mascarados como o povo peixe, representando os mortos que estão esperando se reencarnar na aldeia. Se a cerimônia não é realizada da maneira certa, os mortos podem causar desastres.
Os mortos são enterrados com algumas coisas deles embaixo da casa, na posição fetal, para representar a reencarnação da alma e, depois, o pajé queima cera de abelha na casa para limpá-la. Entretanto, eles creem que os mortos vagam como espíritos pelo céu ou no mundo subterrâneo para depois terminar em Manaitara, a “casa de acordar”. O corpo desce para um rio subterrâneo e é perdido. Se o cadáver é tratado bem, depois um tempo na casa dos mortos, o espírito se reencarna em uma pessoa, animal ou planta. Se a família não cuida do cadáver, o espírito vai para o mundo subterrâneo e pode assombrar a família, causando desastres e a morte dos familiares. Manaitara é considerado o portão entre os dois mundos, o dos vivos e o dos espíritos, que esperam reencarnar em um corpo novo. Esses mundos correspondem às fratrias, Povo d’água (Ide masa) e o Povo da terra (Yiba Masa) e os casamentos unem pessoas reencarnadas de espírito e corpo.
Os Pajés (cumu ou yai) ensinam que as doenças têm diversas causas, como por exemplo, comer alimento sem a bênção, comer algo sujeito a um tabu, sofrer um feitiço ou ataque de um espírito durante um rito entre outros. Se o pajé não tratar a pessoa doente, ela vai morrer. O cantador (yuam) canta os mitos da criação na festas. Os pajés curandeiros (yaia = onças) fazem curas recitando silenciosamente canções e soprando fumaça de tabaco sobre o doente. São mediadores para manter a reciprocidade entre a natureza e o consumo do povo. No mundo invisível, os animais têm sociedades organizadas semelhantes aos homens.
 
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===Cosmovisão===
 
No princípio não havia nada, nem terra, nem céu, apenas um caos. O espírito He era xamã, onça e anaconda; ele era todos os três de uma vez, eles se multiplicaram e devoraram uns aos outros. Uma mulher pajé, A Mãe Ancestral (romi cumu), representada hoje pela constelação “os Plêiades”, destruiu esse mundo primordial, que se tornou o mundo subterrâneo, o céu velho se tornou o mundo atual. Essa Mãe é parte da visão dos Barasana (Goldman 2004.302). O mundo Makuna consiste em duas dimensões, o mundo de experiência normal, da vida, rios, animais e da floresta, e o mundo duplo que contém as cópias de espíritos de todas as coisas deste mundo. Todos os animais são um tipo de gente com organização social. É importante ter relacionamentos baseados na reciprocidade, tanto com os animais quanto com outros homens. O mundo está em processo de acabar e renovar.
Esse mundo foi criado pela união sexual de Romi Cumu, com quatro heróis que são representados por trovões. Dois trovões, Adyawa e Adya, na forma de papagaios, ficaram no leste com pouco ar e protetores nos ouvidos. Adyawa disse que os protetores eram para criar o mundo. Ele começou a zunir e um dos seus protetores começou a flutuar e girar no ar e o ar se estendeu criando o primeiro espaço. Depois, os dois trovões roubaram as flautas e trombetas sacras Yurupari da Mãe Ancestral e estabeleceram o predomínio masculino. As flautas e trombetas, feitas do estipe da paxuíba, são vistas como os ossos dos ancestrais e são escondidas das mulheres.
Os ancestrais Makuna eram anacondas, vieram à “porta d'água” no leste, onde os rios saem desse mundo, e, como anacondas gigantes, subiram os rios até chegaram à terra dos Rios Apaporis e Pirá-Paraná. Ali, as anacondas saíram do rio e se transformam em seres humanos; os lugares em que elas desembarcaram são “as casas de acordar” de cada clã, onde os clãs nasceram. As anacondas deram dois tipos de flautas de Yurupari: um para a iniciação (yurupari) e outro para a festa da colheita (hota basa). Hoje, considera-se que o espírito de He está dentro das flautas; cada clã possui suas próprias flautas. Os pajés consideram que existam lugares embaixo d’água que sejam malocas para onde vão os espíritos dos mortos para se transformar em pessoas espirituais.
 
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