Wikinativa/Camaiurá: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Sem resumo de edição
Linha 78:
 
A admissão do jovem indígena na atmosfera adulta exige um período de clausura assistida, que, geralmente, inicia-se em virtude dos primeiros caracteres da puberdade. Durante o ciclo, os adolescentes são isolados numa estrutura habitacional específica, onde têm o contato social restrito à presença do pais e avós. Os que guardam tal parentesco, responsabilizam-se pela instrução produtiva do indígena, dando ênfase especial às atividades referentes ao sexo do adolescente e o modo de realizá-las. À ocasião, os garotos são educados sobre a prática do huka-huka, uma arte marcial ritualística frequentemente associada às festividades cosmológicas do povo.
 
Embora, para as adolescentes, o início da reclusão esteja rigidamente relacionado à menstruação, para os entes masculinos requer o consenso mútuo entre seus pais. O processo de instrução prolonga-se por tempo indeterminado, e, não obstante a permanência feminina raramente se estenda por muito mais de um ano, os garotos podem espaçarem-se enclausurados por períodos até cinco vezes maiores, intercalados por breves acessos de liberdade. Durante a ocasião, as garotas têm seus joelhos amarrados por cordas fibrosas, de forma que a panturrilha se torne mais robusta pelo acúmulo de líquidos. De igual modo, são privadas de cortar o cabelo, fazendo com que, ao fim do rito, as longas madeixas da franja encubram parte de suas faces. Assim que a extensão capilar das adolescentes atinge a altura do queixo, estas são liberadas da clausura.
 
A duração média do rito se relaciona ao status hereditário que acompanha o jovem, de forma que um maior espaço recluso implica, proporcionalmente, um maior poder e importância entre os indígenas da aldeia. Ao fim da clausura, é dado um nome definitivo ao jovem, que vem a substituir o nome que recebeu em virtude do seu nascimento. O período marca, de mesmo modo, a aptidão aos ritos matrimoniais.
Preenchendo um espaço cultural notável, o infanticídio é, frequentemente, associado ao sistema cultural do povo, embora não possuam exclusividade na realização da prática. Os filhos de mãe solteira, possuidores de malformação congênita e gêmeos, são os principais alvos deste ritual, que, embora seja bastante enraizado no contexto de tradições do povo, gera divergências entre os próprios membros da aldeia. Os indígenas recém-nascidos, ao enquadrarem-se em qualquer dos motivos supracitados, são, geralmente, soterrados ainda vivos, embora também possam serem executados por afogamento. Atualmente, algo em torno de trinta crianças indígenas são mortas pelos camaiurás todos os anos, não obstante a FUNAI ofereça serviços de adoção das crianças rejeitadas.