Wikinativa/Paiter: diferenças entre revisões

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Um dos aspectos interessantes acerca da mitologia Paiter é o tratamento do incesto, que é algo repudiado e pode ser visualizado nesta narrativa que conta o surgimento da lua<ref>{{citar web|url=http://pib.socioambiental.org/pt/povo/surui-paiter/854|título=Povos Indígenas no Brasil|obra=Mitos|último= Instituto Socioambiental|língua3=pt|acessodata=9 de junho de 2013}}</ref>:
 
:"Foi assim como vai ser contado, que a lua surgiu.
<pre>
:Havia uma família, da metade ritual dos íwai, os da comida, que se ocupava em preparar a bebida para a festa, indo colher cará
"Foi assim como vai ser contado, que a lua surgiu.
:na roça para cozinhar. Nessa família havia dois irmãos e duas irmãs. Uma das meninas, muito bonita, estava akapeab, em reclusão
:por estar na primeira menstruação. Devia se casar, como deve ser, com seu tio materno, quando acabasse o período de resguardo.
Havia uma família, da metade ritual dos íwai, os da comida, que se ocupava em preparar a bebida para a festa, indo colher cará
:O tio materno, sendo da outra metade da aldeia, a do metareda, ou do mato - pois por ser da outra metade é que podia casar com
 
:ela - estava longe, na clareira no mato, preparando flechas e outros presentes que essa metade tinha que dar para a da comida,
na roça para cozinhar. Nessa família havia dois irmãos e duas irmãs. Uma das meninas, muito bonita, estava akapeab, em reclusão
:na festa.
 
:Uma noite, um homem veio à maloquinha da menina, deitou-se na sua rede e namoraram. Bem baixinho, para ninguém ouvir, ela
por estar na primeira menstruação. Devia se casar, como deve ser, com seu tio materno, quando acabasse o período de resguardo.
:perguntou:
:- É você, meu tio, que está fazendo isso comigo?
O tio materno, sendo da outra metade da aldeia, a do metareda, ou do mato - pois por ser da outra metade é que podia casar com
:- Sou eu, sim, seu tio materno...
 
:Muitas e muitas noites ele voltou. Quando escurecia, ele vinha sempre, e costumava deitar-se com ela. A menina perguntava:
ela - estava longe, na clareira no mato, preparando flechas e outros presentes que essa metade tinha que dar para a da comida,
:- É você tio?
 
:- Sou, sim...mas não conte para ninguém, só quando você puder sair da maloquinha para casar.
na festa.
:A menina ficou desconfiada, depois de um tempo - seria mesmo o seu tio, o visitante noturno? Resolveu que ia passar jenipapo no
:rosto dele.
Uma noite, um homem veio à maloquinha da menina, deitou-se na sua rede e namoraram. Bem baixinho, para ninguém ouvir, ela
:À noite, como de costume, deixou encostada a portinhola de palha, o labedog, na parte de trás da maloca, para ele entrar com
 
:facilidade. Já tarde, ele veio, e se deitou com ela na rede.
perguntou:
:- Oi, tio, é você?
:- Sou eu, sim!
- É você, meu tio, que está fazendo isso comigo?
:Ela pegou o jenipapo, e passou-lhe no rosto. Ele estranhou, mas ela disse que era água, para diminuir o calor.
:No dia seguinte, ela contou para a mãe o que vinha acontecendo.
- Sou eu, sim, seu tio materno...
:- Mãe, será meu tio, mesmo, que me namora toda noite? Não pode ser, não, minha filha, tio não faz isso com a sobrinha, só
:quando acaba a reclusão. Se fosse outro, aí poderia ser...
Muitas e muitas noites ele voltou. Quando escurecia, ele vinha sempre, e costumava deitar-se com ela. A menina perguntava:
:- Você já perguntou mesmo se ele é seu tio?
:- Perguntei! E ele disse para eu não contar a ninguém!
- É você tio?
:- Por que há de querer segredo? Se ele é seu tio, você é mulher dele, não dos outros, pode esperar você sair do resguardo!
:- Hoje eu passei jenipapo no rosto dele, mamãe! Você pode ir ver, lá no metareda, no mato, se é ele mesmo! A mãe achava que não
- Sou, sim...mas não conte para ninguém, só quando você puder sair da maloquinha para casar.
:era o tio pois este não entraria às escondidas na maloquinha. Se fosse outro pretendente, por exemplo um primo, então sim,
:tentaria namorar a mocinha à revelia do marido mais legítimo, o tio.
A menina ficou desconfiada, depois de um tempo - seria mesmo o seu tio, o visitante noturno? Resolveu que ia passar jenipapo no
:Foi à clareira onde ficava a metade do mato, durante a seca, e voltou assustadíssima:
 
:- Minha filha, o rosto do seu tio não tem nenhum jenipapo, nenhuma pintura.
rosto dele.
:É o rosto do seu irmão, aqui na nossa metade, que está pintado! A menina pôs-se a chorar, no maior desespero:
:-Então é meu próprio irmão que vem me namorar, todas as noites!
À noite, como de costume, deixou encostada a portinhola de palha, o labedog, na parte de trás da maloca, para ele entrar com
:A mãe também chorava, e disse que eles tinham que ir embora para o céu.
 
:O irmão, advinhando ter sido descoberto, veio chegando, já com todas as suas coisas, seus cestos, seus pertences.
facilidade. Já tarde, ele veio, e se deitou com ela na rede.
:A irmã saiu da maloquinha, pondo fim à reclusão, mas sem se pintar de jenipapo, nem se enfeitar como uma noiva,
:como seria se fosse casar com o tio.-Mãe! Enfie a ponta da flecha no meu corpo para eu morrer! -Pedia para a mãe.
- Oi, tio, é você?
:Queria morrer mesmo. -Não, vocês não vão morrer, não! - respondeu a mãe. -Vocês vão para o céu.
:E os dois irmãos subiram para o céu por um cipó. Desde então apareceu a lua, que antes não existia.
- Sou eu, sim!
:O lado escuro da lua é o rosto do irmão , pintado de jenipapo."
Ela pegou o jenipapo, e passou-lhe no rosto. Ele estranhou, mas ela disse que era água, para diminuir o calor.
No dia seguinte, ela contou para a mãe o que vinha acontecendo.
- Mãe, será meu tio, mesmo, que me namora toda noite? Não pode ser, não, minha filha, tio não faz isso com a sobrinha, só
 
quando acaba a reclusão. Se fosse outro, aí poderia ser...
- Você já perguntou mesmo se ele é seu tio?
- Perguntei! E ele disse para eu não contar a ninguém!
- Por que há de querer segredo? Se ele é seu tio, você é mulher dele, não dos outros, pode esperar você sair do resguardo!
- Hoje eu passei jenipapo no rosto dele, mamãe! Você pode ir ver, lá no metareda, no mato, se é ele mesmo! A mãe achava que não
 
era o tio pois este não entraria às escondidas na maloquinha. Se fosse outro pretendente, por exemplo um primo, então sim,
 
tentaria namorar a mocinha à revelia do marido mais legítimo, o tio.
 
Foi à clareira onde ficava a metade do mato, durante a seca, e voltou assustadíssima:
- Minha filha, o rosto do seu tio não tem nenhum jenipapo, nenhuma pintura.
 
É o rosto do seu irmão, aqui na nossa metade, que está pintado! A menina pôs-se a chorar, no maior desespero:
 
-Então é meu próprio irmão que vem me namorar, todas as noites!
 
A mãe também chorava, e disse que eles tinham que ir embora para o céu.
 
O irmão, advinhando ter sido descoberto, veio chegando, já com todas as suas coisas, seus cestos, seus pertences.
 
A irmã saiu da maloquinha, pondo fim à reclusão, mas sem se pintar de jenipapo, nem se enfeitar como uma noiva,
 
como seria se fosse casar com o tio.-Mãe! Enfie a ponta da flecha no meu corpo para eu morrer! -Pedia para a mãe.
 
Queria morrer mesmo. -Não, vocês não vão morrer, não! - respondeu a mãe. -Vocês vão para o céu.
 
E os dois irmãos subiram para o céu por um cipó. Desde então apareceu a lua, que antes não existia.
 
O lado escuro da lua é o rosto do irmão , pintado de jenipapo."
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Como visto na narrativa transcrita acima, são comuns histórias que relatam períodos importantes para a vida dos indivíduos, como a reclusão da menina, que coneta a vida infantil à vida adulta. Sendo um povo guerreiro, até após a morte os Paiter devem lutar contra as adversidades para chegar ao paraíso.