Reportagens do JOA/Giullia Gusman e Laís Fernandes
A corrida continua
editarQuando se trata de táxis, o centro de São Paulo é o lugar perfeito para encontrá-los. São inúmeros carros brancos estacionados, ávidos por um passageiro: “Só aqui na região, para 1km tem uns 20 pontos”. Alguns motoristas têm uma rotina estabelecida e trabalham apenas em horário comercial, outros têm hora para chegar mas não tem hora para ir embora, apesar de acharem as redondezas da República um lugar complicado para trabalhar à noite. “Vai dando umas seis horas e vai ficando complicado por aqui. Sinistro. Tem que tomar cuidado, mas também não podemos perder corridas”, conta Luiz Felipe de Andrade, que chega às 7 horas, todos os dias, no ponto 1.449, bem ao lado da Praça Dom José Gaspar, mas não tem hora para ir embora. “Tudo depende de como está o dia. Em dia bom, a gente fica até a hora que precisar, até quando tiver passageiro. Nos dias mais fracos, vou embora mais cedo.”. O número dos pontos, inclusive, também guarda uma curiosidade. Em São Paulo, o número já chega próximo aos 6 mil pontos de táxi, segundo os motoristas, o que mostra o quão antigos e tradicionais são os pontos da região.
Pela lei, as vagas deles não podem ser vendidas. Elas têm que ser transferidas do taxista para um outro alguém, na maiorias das vezes para familiares ou pessoas próximas. Nem todos admitem, mas, muitas vezes, essa transferência é paga por fora, como uma venda mesmo. O valor gira em torno de 70 a 80 mil reais e tudo depende da localização da vaga e de quem está negociando. Quando não é transferida ou vendida, fica disponível para sorteio por parte prefeitura. “O que mais tem por aqui é ponto de táxi”, conta um taxista, “quando você vê um ponto totalmente vazio, pode ter certeza que tem muitos motoristas dando umas voltas por aí, pra não ficar só esperando. A frota daqui tem 15 carros, mas é difícil ficarem mais de dois ou três.”.
Os taxistas não consideram os colegas de profissão que não têm um ponto fixo como concorrentes - alguns até acham essa forma mais difícil de conseguir um passageiro, já que as pessoas não sabem onde procurar pelo taxista. Depois da criação do Uber, serviço muito similar de transporte pela cidade e muito mais barato, a média de corridas diárias caiu por quase metade. Antes, eram de 30 a 40 corridas por dia. Agora, segundo eles, a média fica em torno de 15 a 20 saídas, consequentemente ficando menor ainda de madrugada. “Não sei se podemos chamar o Uber de concorrente, porque concorrente é quando existe lealdade e preço justo. O Uber é uma doença. É desleal. Os caras cobram muito diferente do nosso preço e os mais prejudicados somos nós. Acho que nós, os taxistas, somos até muito pacíficos em relação aos carros da Uber.”
Apesar das dificuldades e do baque ao ganhar uma concorrência tão forte, rapidamente e sem aviso prévio, os motoristas afirmam que não podem parar de trabalhar e, ainda assim, os lucros ainda são suficiente para lidar com as despesas do carro, por mais que as contas fiquem justas. A corrida continua.