História Oral- Fernanda Rocha Macedo

Trabalho de Memória editar

Essa trabalho de Memória foi realizada no ano de 2023 pela estudante Fernanda Rocha Macedo, matutino, para a avalição da disciplina de História do Brasil II do Professor Paulo Eduardo Teixeira.

Introdução: editar

Os fatores climáticos do Nordeste brasileiro sempre foram marcados pelos fatores climáticos, sofrendo diversos episódios de fome, escassez e carestia de alimentos, movimentos migratórios, e isso se tornou um desafio para os moradores do sertão que vivem na região. Os longos períodos de seca não favoreciam o cultivo da agricultura, nem muito menos a criação de gado. Esses problemas interferem na qualidade de vida, viviam distante das cidades (SILVA, 2019,p.2).Do outro lado do país, empresas multinacionais começavam a se instalar no sul e sudeste, iniciando o que chamamos de metropolização (FILHO, 2019), processo que caminhava quase que ao mesmo tempo ao processo de urbanização e ampliou os investimentos nas principais capitais brasileiras da época, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e São Paulo.Neste contexto, teve um forte crescimento da construção civil e de obras de infraestrutura, tornou-se esperança para milhares de nordestinos que migraram, principalmente para São Paulo, em busca de uma oportunidade de transformarem suas vidas nas terras que prometiam prosperidade.

Atraídas por esse poderoso mercado, as populações rurais migraram para as cidades. Como não poderia deixar de ser, o êxodo rural ganhou velocidade e se acelerou no Sudeste, em decorrência da industrialização do referido estado (ALVES, MARRA e SOUZA, p.82).

Aqui no Brasil, tivemos o cantor e compositor Luiz Gonzaga que tratará sobre a temática da seca no Nordeste, com a sua música Asa Branca( 1947), se tornou um hino de resistência e esperança para os nordestinos que sofriam com a seca. São nesses diversos meios que a prática da migração é representada.

Para este trabalho se parte através musica analisada e memórias contidas nesta nota são referentes a Jornando Ribeiro Macedo que viveu no campo da zona rural e passou pelo processo o processo de Êxodo Rural (movimento migratório em que as pessoas deixam o campo em direção às cidade), do nordeste para o sudeste do Brasil, mais especificamente diretamente do povoado de João do Tanque na Bahia para a capital paulistana, passando por diversas experiências que nunca imaginou que seria possível passar.

Objetivo: editar

Resgatar e registrar as memórias de um homem que vivenciou o processo de êxodo rural entre o estado da Bahia para a capital de São Paulo durante o período da década de 80 no Brasil.

Objetivos Específicos: editar

  1. Analisar e comparar a memória individual registrada, articulando-as em torno de uma memória coletiva do trabalhador agricultor para serventes de pedreiro que saiu de sua casa jovem para a cidade de São Paulo em busca de melhores condições para sua vida e oportunidade de trabalho.
  2. Problematizar as situações de moradia que os trabalhadores moravam em estado de vulnerabilidade.

Metodologia: editar

A pesquisa formalmente apresentada mostra como foi a orientação teórica, foi a partir da perspectiva da música Asa Branca (1947) . A música retrata a vida de muitos nordestinos, ela mostra a miséria e o sofrimento que eles enfrentam para conseguir sobreviver em uma terra seca e esquecida por aqueles que lhe deviam lhes fornecer uma chance de melhorar de vida. Nela diz que muitos dos moradores viviam sem escolaridade, pois tinham que escolher entre trabalhar na agricultura e na pecuária para conseguir um prato de comida para a família ou ficar com fome, entretanto a seca no nordeste é muito intensa e dessa forma as plantações secam e o gado morre. Como diz na estrofe da música:

Que braseiro, que fornalha

Nem um pé de plantação

Por falta d’água perdi meu gado

Morreu de sede meu alazão

Por farta d’água perdi meu gado

Morreu de sede meu alazão

(GONZAGA,1947).

O morador nordestino não percebe outra saída a não ser uma migração forçada para as grandes cidades, mas mesmo dessa forma sua situação não melhora, pois ele não possui escolaridade e dessa forma não consegue um emprego para se manter na cidade. Então ao primeiro sinal de chuva ele volta para sua terra, terra essa que ele ama e nunca quis deixar. O nordeste não é um polo da economia brasileira essa região é basicamente abandonada pelos políticos que se focam em regiões como o sudoeste, esses políticos não investem em educação para que a população carente do nordeste possa se desenvolver, e eles acabam passando por situações como essa de extrema miséria e grande sofrimento. Em busca de uma melhoria para a suas vidas, muitos nordestinos tiveram como o seu destino a cidade paulistana, e assim a se adaptar a sua nova realidade. É válido ressaltar que muitos dos nordestinos que estavam vindo nem imaginavam o que a cidade poderia trazer de verdade, ao menos um emprego, morando até em um estado vulnerável na cidade de São Paulo.

Muitos moradores da Moóca repetem a mesma história sobre o bairro: entre a metade dos anos 70 e o início da década de 80, velhas casas começaram a ser transformadas em cortiços e uma imensa população nova chegou. Os novos moradores, tidos como mais pobres, são identificados como criminosos pela maioria das pessoas que entrevistei . Sua chegada é comparada a uma infestação( CALDEIRA, 2006,p. 37).

Nesse momento, todo processo migratório, da viagem à moradia tinha o migrante. Esclarece-se que quase sempre apenas as redes de parentesco e amizade e instituições religiosas ligadas à igreja católica eram pontos de apoio no processo de deslocamento e estada. Desta forma, a urbanização da cidade de São Paulo, inserida na dinâmica indireta de atração de mão de obra para o chão da fábrica, reservou aos trabalhadores migrantes os cortiços, hotéis e pensões do centro da cidade, e fundamentalmente os terrenos mais longínquos sem infraestrutura e equipamentos urbanos. Ressalta-se que essa estrutura perversa de acolhimento ao trabalhador migrante e suas famílias fortaleceu a formação do mercado imobiliário da cidade de São Paulo, como bem ressaltou o sociólogo Lúcio Kowarick na obra "A espoliação urbana" de 1979.

A cidade de São Paulo estava passando por muitas mudanças na qualidade do espaço público e no significado da noção de público que caracterizou a emergência da vida moderna. Ao mesmo tempo, a antropóloga Teresa Caldeira procura esclarecer como o incremento desmesurado das atividades criminosas, o crescente temor à violência, a ele correlato, e as transformações acentuadas por que passa a cidade nas últimas duas décadas têm ajudado a produzir um novo padrão de segregação em São Paulo. Essa alteração apóia-se na atribuição de ameaça a alguns grupos que compõem a população, aliada à descrença e à desconfiança na capacidade de os poderes públicos garantirem a segurança dos cidadãos, o que tem levado a uma progressiva transferência dessa responsabilidade para as empresas privadas de segurança. Além disso, o medo da violência ­ que atinge patamares inéditos ­ faz com que grupos sociais que se julgam possíveis alvos de atentados criminosos busquem ou tenham a ilusão de ocupar uma situação segura. Assim, afastam-se das possibilidades de encontro com aqueles que consideram diferentes e, por conta disso, perigosos.

Tendo, portanto, definido o meu objeto de estudo enquanto a memória de um homem que vivenciou o processo do êxodo rural, trabalhei  essas fonte orais a partir de entrevistas informais- objetivando um estudo inicial de caráter exploratório , uma visão aproximativa do problema (GIL, 2008), e a partir de entrevistas não estruturadas, através desse método o entrevistador não fica preso a uma ordem de perguntas, assim ocorrendo de maneira livre, de acordo com o decorrer do bate papo.

Perguntas/ Orientações: editar

  • Apresente
  • Localização de onde a morava na Bahia
  • Diferença entre a zona rural da Bahia com a capital da cidade de São Paulo?
  • Qual foi a sua experiência estando em uma cidade como São Paulo?
  • Como você veio para a cidade de São Paulo?
  • Qual foi o processo de moradia aqui em São Paulo?
  • Os alojamentos eram construídos por empresas da construção civil?

Entrevista- São Paulo: uma grande esperança para o nordestino editar

Seu Jornando, 51 anos

Durante a minha vida até os 17 anos de idade, eu vivia com a minha mãe, meu pai, meus cinco irmãos e uma irmã, tendo em uma casa oito pessoas na zona rural, do sertão João do Tanque, no município de Vitória da Conquista, Bahia. Lá, eu trabalhava com vários tipos de roças. Ainda na idade de 17 anos, sem completar os 18 anos , eu vim para a capital São Paulo no mês de julho de 1987. Eu tomei essa decisão de vir para São Paulo, porque a Bahia estava passando por um momento de muita seca, fome e muitos conhecidos do povoado, comentava que na capital era um lugar bom, rápido e condições melhores para conseguir um emprego e como na Bahia, quase não tinha emprego e o que tinha era trabalho de roça, aí resolvi vir para São Paulo. Então, eu vim para a capital paulista de ônibus com um dinheirinho que eu tinha juntado, demorando dois dias para chegar.

Quando eu cheguei na cidade de São Paulo, eu não estava com todos os meus documentos em dia para trabalhar, assim eu comecei a trabalhar em um serviço que não era registrado. Quando eu consegui tirar os documentos que precisava, aí sim, que eu consegui um trabalho de forma registrada na área da construção civil, de ínicio eu comecei como ajudante de pedreiro quando eu aprendi as técnicas de como trabalhar de pedreiro, aí fui trabalhando até os dias de hoje como pedreiro na construção civil, trabalhando bem e sempre nas camaradagens do trabalho. Foi assim, que eu conseguia mandar dinheiro para os meus pais e viajar a passeio para a Bahia, e assim voltava e continuava trabalhando. Porque eu demorava cerca de uns 2 a 3 anos sem ir pra Bahia para poder juntar um dinheiro e ir e mandar algum trocado para a minha família, sempre que eu podia eu mandava alguma coisa para eles através de algum conhecido que ia.

Aos 28 anos, em 1998, eu casei na Bahia e trouxe a minha esposa para São Paulo.

Minha adaptação em São Paulo foi muito difícil, a saudade da Bahia era muita, mesmo tendo o apoio dos meus colegas de trabalho indo nas casas de conhecidos do nordeste. Aqui na cidade grande tinha um ritmo de fazer as coisas mais acelerado comparado ao norte da Bahia, um ritmo que eu tive que me acostumar, fazendo com que eu aprendesse na marra. Na década de 80, era uma época muito mais difícil do que se é hoje. Porque naquele tempo era difícil ter um parente que tinha uma moradia definitiva na cidade, sempre os conhecia via para São Paulo a trabalho e depois voltava para a Bahia, ou até mesmo para visitar esses conhecidos muitas das vezes tinha que visitar diretamente do trabalho. Diferente de hoje, que tem às vezes um tio, irmão, primo, etc; que mora aqui.

Quando eu viajei para São Paulo, eu não vim sozinho, viajei com vizinhos do povoado onde eu morava e mais um primo que sempre voltava para cidade a trabalho, onde ele morava no alojamento que a empresa havia construído pela empresa da construção civil, o proprietário criou os alojamentos para os trabalhadores ficarem no espaço até terminar a construção. Quando a obra era terminada, cada funcionário tinha que sair do alojamento para conseguir um outro trabalho e alojamento ou mesmo aqueles que estavam disponíveis e tinha um dinheiro sobrando, viajava e voltava para a Bahia, lá ficava um tempo até conseguir um outro trabalho e voltar para a cidade trabalhar novamente.

O alojamento que eu morava ficava próximo do estádio Morumbi do São Paulo, foi o primeiro alojamento que morei. O alojamento funcionava da seguinte maneira: a construção da obra ficava em um local e do lado da obra ficava um terreno que era o alojamento que os funcionários que precisavam moravam. Era um espaço muito bacana, pois eu e os colegas íamos no mercadinho próximo e comprava e fazia as compras do mês de mercado e ficava no “barraco”, como os funcionários chamavam. Porque o alojamento era uma casa de uns 6m por 6 fechada de maderite, colocada porta, telha, colocada umas beliches no salão, tendo apenas um banheiro. Ali, cada um fazia a janta para ter o almoço na marmita no dia.

No ano de 88, eu tive a experiência de ir pela primeira vez assistir um jogo de futebol em um estádio de futebol, era um jogo do São Paulo com algum outro time. Eu estava tão admirado em estar dentro do estádio, que quando um dos colegas que estava me acompanhando me perguntou “quem tinha ganhado?”, eu simplesmente não sabia responder. Essa foi a minha primeira e última vez em um estádio de futebol. Eu gostava mesmo, era jogar bingo pra ganhar prêmio.

Durante o governo Collor, o estado de São Paulo ficou em uma situação de muito desemprego, corrupção e mal planejamento que estava acontecendo em seu governo. Para mim, eu e meus colegas ficamos bastante tempo sem emprego, foi o pior presidente que eu já vi na minha vida. Porque naquela época, se você tivesse precisando de 100 cruzeiros, a pessoa só podia sacar 50 cruzeiros no banco, teve esse problema político que afetou. Esse tempo, eu fiquei muito tempo desempregado uns 3 a 4 meses procurando emprego, quando eu e meus colegas conseguimos, o patrão prometeu que ia pagar o salário dos funcionários. Quando o trabalho havia sido terminado, o patrão não pagou ninguém e fugiu de mala e cuia. Durante esse tempo, os colegas que eu morava não tinha dinheiro pra fazer nenhuma compra, o que eu fazia era eu indo comprar e quando os colegas recebessem, eles iriam acertar comigo, guardando sempre as notas. Com a troca de presidente, tudo melhorou.

Quando eu estava noivo, eu saí do alojamento para procurar casas para ser alugadas, porque logo mais eu ia casar, para ter um lugar certo para morar. Quando eu aluguei, eu já tinha deixado a casa toda mobiliada nas condições que eu tinha, tendo, 4 cômodos: cozinha, quarto, sala e banheiro. Até que em 1998, eu fui para a Bahia casar. Até que eu consegui comprar uma casa.

Hoje, eu vou pra Bahia apenas para visitar, antes até era um sonho voltar pra morar e tudo mais, só que muitos da minha família: pai e mãe e conhecidos já faleceram. Além disso, aqui em São Paulo é onde eu crio as minhas duas filhas junto com a minha esposa, e elas não gostariam de ir para morar definitivamente e eu não ia sozinho.

Conclusão: editar

A migração nordestina é claramente orientada para o trabalho, com maior importância, pode ser percebida que a história dos nordestinos com São Paulo não é um romance. Pois durante muitas transformações que estava acontecendo na cidade paulista, levou a uma segregação soco espacial, na a qual concentração dos nordestinos nas regiões periféricas se deu pelo fato de que, nestes locais, os preços dos aluguéis eram menores e eles não dispunham de muito dinheiro para alugar uma moradia em áreas mais centrais da cidade.

Além disso, a capital paulista foi construída por muitas mãos de migrantes nordestinos, pois surgiram muita mão de obra na cidade durante os ́períodos de 30 até década de 80, e mesmo isso, apesar desse fato histórico, a importância do nordestino na construção da cidade vai além dos tijolos na parede, mas contempla também a política, literatura, música, comida, dentre outros aspectos cotidianos firmam a identidade nordestina no sudeste brasileiro. Mesmo assim, têm essa imagem de que o nordestino atrapalha os outros, é pobre, passa fome. Até hoje tem uma imagem muito negativa.

Consideração sobre a elaboração: editar

No primeiro momento da fase inicial de decidir tema, assunto, metodologia e quem seria a princípio foi difícil decidir a metodologia para esse trabalho de estabelecer um recorte histórico da história do Brasil entre 1889 até 2022 que tenha suporte e fundamento teórico. Existiu uma preocupação em que todo o processo fosse mantido na conexão com os acontecimentos do tempo presente.

A escolha que tive como proposta foi justamente escolher o meu pai que vivenciou diversas experiências que até então o momento só foram momento passageiros, a princípio ele se sentiu como se não tivesse nada para falar sobre esse processo de êxodo rural entre a Bahia e a cidade de São Paulo, mas quando acontecia a entrevista ele lembrou de diversas informações e acontecimentos que aconteceram com ele que ao terminar a entrevista disse foi muito bom lembrar as memórias fundas que já havia sido esquecido durante com o tempo passando.

A realização desse trabalho foi bastante interessante, pois foi deixado um tema bastante livre do que poderia ser trabalhado. É válido ressaltar que desde da sua construção como colônia, país e até mesmo antes de colônia muita coisa foi apagada o que torna a lembrança e a memória algo de grande contribuição para aqueles que visam entender como são as coisas e como tudo funciona.

Bibliografias: editar

ALVES, Eliseu; MARRA, Geraldo da Silva; MARRA, Renner. Êxodo e sua Contribuição à Urbanização de 1950 a 2010. Revista  de Política Pública, 2011. CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. Cidade de Muros. Crimes, Segregação e Cidadania em São Paulo. EDUSP, São Paulo, 2006. FILHO, José Maria Marques De Melo. O Processo de Metropolização e a Metrópole: Apontamentos para a Compreensão da Realidade Brasileira. Revista Eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Pelotas, 2018. GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas das Ciências Sociais. São Paulo Atlas, 2008. GONZAGA, Luiz. Asa Branca, 1947. Disponível em:<https://open.spotify.com/album/3EH3tdgJhf4M6FZr0SDHZY?si=TPsE7V2oR4a_zkcOfuRhCw> Acesso: 21/01/2023.

GONZAGA, Luiz. Asa Branca, 1947. Disponível em:<https://open.spotify.com/album/3EH3tdgJhf4M6FZr0SDHZY?si=TPsE7V2oR4a_zkcOfuRhCw> Acesso: 21/01/2023.

SÃO PAULO, Governo Estadual. Museu do Imigrante. Brasileiros na Hospedaria: "O migrante quer morar" - a presença nordestina na luta por moradia na cidade de São Paulo. São Paulo, 2020. SILVA, Glauber Paiva. A Seca do Nordeste, Práticas Migratórias e suas Representação Musicografia Jackson do Pandeiro. Revista Rural e Urbano. Recife, 2019.