História Oral - Anna Beatriz da Silva Viotto
PARTE UM
editarO ESQUECIMENTO DE UM IMORTAL LENÇOENSE: A MEMÓRIA DO ESCRITOR ORÍGENES LESSA AINDA VIVE NO IMAGINÁRIO COLETIVO DA CIDADE DO LIVRO?
editarAnna Beatriz da Silva Viotto
RESUMO
editarO presente trabalho, apresentado como exigência da disciplina História do Brasil II, ministrada pelo Prof. Dr. Paulo Eduardo Teixeira, vem contar a história de um Imortal da Academia Brasileira de Letras: Orígenes Temudo Lessa. Busca, portanto, investigar qual a memória dos habitantes de seu munícipio de nascimento, Lençóis Paulista, acerca de sua vida e obra. À vista disso, tenta traçar um panorama do município no passado e no presente, para entender a construção de uma identidade envolvendo um de seus mais célebres filhos e o recebimento do título de cidade do livro. A pesquisa envolveu pessoas residentes na cidade de Lençóis Paulista, município brasileiro do estado de São Paulo, localizado na região centro-oeste do Estado.
PARTE DOIS
editar1. INTRODUÇÃO
editarO município de Lençóis Paulista é localizado no interior de São Paulo, vizinho de Macatuba, Borebi, Areiópolis, Agudos e Bauru, é posicionado na região centro-oeste do estado. O local carrega consigo o título de “Cidade do Livro”, por ser berço de um ilustre escritor: Orígenes Lessa.
Em 12 de julho de 1903, nascia, na cidade de Lençóis Paulista, Orígenes Temudo Lessa: a criança que, posteriormente, se tornaria um grandessíssimo jornalista, contista, novelista e ensaísta. Em 1906, mudou-se com a família para São Luís do Maranhão, onde viveu até seus nove anos; e foi dessa experiência que surgiu o romance Rua do Sol. Apesar de ter vivido apenas três anos no município do interior paulista, virou um símbolo no que viria a ser chamada “cidade do livro”, com seu nome sendo utilizado no local que comporta esse título: a Biblioteca Municipal Orígenes Lessa.
Em 1924, foi para o Rio de Janeiro, local onde dedicou-se ao magistério e formou-se em Educação Física. Logo após, ingressou em outra faculdade, agora no curso de Jornalismo, período no qual publicou seus primeiros artigos em um jornal da época intitulado O Imparcial, na repartição Tribuna Social-Operária. Retornou para São Paulo em 1929, e no ano de 1932 tornou-se participante na Revolução Constitucionalista, na qual foi preso e obrigado a regressar ao Rio de Janeiro, para o presídio da Ilha Grande. Após sua saída rumou à Nova Iorque, onde se estabeleceu por alguns anos, onde, entretanto, nunca deixou de produzir obras, e se dedicou, exclusivamente ao gênero infanto-juvenil.
Em 9 de julho de 1981, foi eleito o quarto ocupante da cadeira 10 da Academia Brasileira de Letras, uma das mais antigas, sendo sucessor de Osvaldo Orico e recebido, em sua posse, por Francisco de Assis Barbosa na data de 20 de novembro de 1981. Além disso, em sua trajetória literária, recebeu inúmeros prêmios, dentre eles: Prêmio Antônio de Alcântara Machado (1939), Prêmio Carmem Dolores Barbosa (1955), Prêmio Fernando Chinaglia (1968) e Prêmio Luísa Cláudio de Sousa (1972).
No Rio de Janeiro, em 13 de julho de 1986, veio a óbito.
2. A MEMÓRIA PARA MAURICE HALWBACH
editarNo livro denominado ‘’Memória Coletiva’’, de 1990, Maurice Halbwachs usa tal termo para determinar um fenômeno de memória de um grupo de pessoas. A princípio, o autor determina que nossas noções de mundo não podem ser pautadas apenas em nós mesmos, em nossas lembranças pessoais, mas sim num conjunto que além de nos envolver, abrace também as lembranças das outras pessoas. Entretanto, por mais que vivamos certos momentos sozinhos, as lembranças continuam coletivas, pois, de certo modo, nunca estamos a sós, temos conosco pessoas que, em certo momento da vida, nos compartilham a perspectiva de mundo delas. Uma lembrança, para ele, se dá pela reconstrução de dados comuns que pertencem a nós e ao outro indivíduo e, muitas vezes, ela só nos vem à cabeça porque alguém nos lembrou dela. Além disso, a memória individual seria um ângulo da memória coletiva, os quais mudariam em detrimento de fatores como lugar e relações estabelecidas com o meio. Entretanto, é visto que a memória coletiva não define todas nossas recordações.
Logo em seguida, em seu segundo capítulo, Halbwachs, trata sobre a memória coletiva e memória histórica. O autor começa ressaltando a existência de duas memórias – coletiva e individual – e que o indivíduo participa de ambas, na qual a memória coletiva, também chamada de exterior, engloba a individual, também conhecida como interior. Uma memória histórica, que além de escrita é viva, é ampla em seus aspectos e resume o passado, já uma memória autobiográfica é apoiada na dita anteriormente. Segundo ele, nossa memória não é pautada no que aprendemos ao longo de nossos anos, mas sim no que vivemos nesses anos. É necessário, também, que nossas recordações individuais sejam feitas primeiro para que, assim, as coletivas sejam aplicadas nelas, ou não haveria motivo e causa do funcionamento da nossa memória. Há, na sociedade, grupos que por tempo definido carregam o poder de estabelecer pontos de vista, que logo serão estabelecidos por outros grupos e assim por diante. A história vivida se distingue da escrita pois ela tem tudo o que é preciso para construir um quadro vivo e natural em que um pensamento pode se apoiar, para conservar e reencontrar a imagem de seu passado. A recordação, para Halbwachs, nada mais seria que reorganizar o passado com base no presente. Quando pegamos um acontecimento do passado para analisar, podemos pensar que não há nada a ser acrescentado, ou que a ordem dos ocorrido está correta, mas basta uma opinião de terceiros para que nossa certeza sobre os fatos seja balançada, sendo assim, impossível de duas pessoas reproduzirem uma circunstância de maneira idêntica. Maurice, diz, perto do final do capítulo, que fazer uso do termo memória histórica é incorreto, pois são conceitos opostos, pois a memória guarda do passado aquilo que tem possibilidade de continuar enérgico na consciência.
No terceiro capítulo, Halbwachs, traz uma reflexão sobre a memória coletiva e o tempo. O tempo é necessário para a ordem na natureza, para o andamento natural das coisas. Para ele, o indivíduo teria um tipo de duração, e ele isolado teria capacidade de ter noção de um tempo possível de calcular. O tempo seria uma espécie de tradição, e o único fator que é capaz de reconstituir lembranças, ao passo que nunca muda, é contínuo, todos os dias tem a mesma duração, assim como todos os anos.
Já no quarto, e último, capítulo, trata sobre a memória coletiva e o espaço. Começa esta parte citando Auguste Comte e sua teoria sobre o equilíbrio mental vir, especialmente, do fato que as coisas que temos contato no dia a dia mudarem pouco, o que nos traz sensação de segurança, equilíbrio. As coisas que estão nos espaços nos trazem recordações. Um lugar que é ocupado por uma sociedade não pode ser apenas ignorado, onde todas os atos tidos pelas pessoas se tornam um local. Pode haver circunstâncias que alterem esse quadro citado anteriormente, como um casamento, exemplificado pelo autor. Para Halbwachs, permanecer em um espaço cria um vínculo social entre as pessoas que ali estão e isso torna-os conectados ao lugar. Traz o conceito de propriedade, do estar ligado à terra e como a memória coletiva é fundamentada nesse contexto, logo após trata da economia e como ela afeta a memória coletiva, e por fim, a questão religiosa.
3. POR UMA MEMÓRIA DO POVO LENÇOENSE
editarPara o desenvolvimento sobre a percepção do povo lençoense quanto à memória de Origenes Lessa, levando em consideração as proposições de Halbwachs, foi possível tecer, a partir de entrevistas, algumas respostas à principal questão levantada por este trabalho: a memória de um imortal lençoense ainda vive no imaginário coletivo do município?
a) Você conhece o escritor lençoense Orígenes Lessa? Se sim, quem foi ele para você?
editar“Orígenes foi para mim uma figura de grande admiração e que influenciou, inclusive, na minha escolha profissional. Foi pelos livros, pela Biblioteca Municipal – que existe graças ao seu legado – que escolhi cursar Letras por amor à literatura e à matéria de que é feita, (ou seja, a língua) e poder futuramente pisar em sala de aula e transmitir meus conhecimentos aos alunos.”
“Sim! Orígenes foi o maior escritor de Lençóis Paulista e um grande fomentador da cultura local.”
“Só por nome, um grande escritor.”
“Não conheço o escritor, porém conheço a biblioteca da cidade que carrega seu nome.”
“Não o conheço muito, apenas por nome, embora ele esteve em Lençóis Paulista várias vezes. Atualmente é onde está sepultado seus restos mortais.”
b) Você já leu algum livro do Orígenes Lessa? Se sim, qual/quais? Qual seu preferido?
editar“Já li bastante Orígenes durante a infância. Alguns títulos de que me recordo são O feijão e o sonho, Memórias de um cabo de vassoura, Confissões de um vira-lata e Aventuras em São Saruê (este último, meu favorito). Também já li alguns contos do Orígenes, que estão em livros cujos títulos não me recordo, mas que ficaram guardados em mim. Esses contos eu costumava ler quando ia à biblioteca em dias comuns, e aleatoriamente abria as páginas dos livros apenas em busca despretensiosa de prazer pela leitura.”
“Durante a minha infância lembro de ter lido Memórias de um cabo de vassoura, O rei o profeta e o canário, e algumas crônicas. Mais tarde vim a ler João Simões continua, que se tornou meu preferido.”
“Não li nenhum.”
“Nunca li nenhum livro do autor.”
“O feijão e o sonho.”
c) Como você acha que o fato de Orígenes Lessa ser lençoense impactou no título de “Cidade do Livro”, recebido por Lençóis Paulista?
editar“Orígenes ganhava muitos livros de seus amigos escritores. Reza a lenda que a casa do escritor ficou tão cheia, que ele resolveu fundar a biblioteca. Portanto, Lençóis ficou conhecida como a cidade do livro não apenas pelo grande nome de Orígenes, mas porque contribuiu para a criação de uma biblioteca.”
“Acho que Lençóis só tem esse título por Orígenes Lessa, ele sempre fez questão de valorizar as suas raízes e ajudou muito com o acervo que a biblioteca tem hoje, sem ele e a sua história, Lençóis Paulista não sustentaria esse título.”
“Porque ele é um escritor da cidade, que é pequena e não tem muita gente relativamente conhecida.”
“O apoio de Orígenes Lessa para a cidade foi essencial, que juntamente com seus amigos escritores da Academia Brasileira de Letras, tornou a nossa biblioteca uma das maiores em acervo do interior Paulista.”
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
editarPor meio das entrevistas foi possível analisar que as gerações mais novas não conhecem o autor, que vem sido esquecido. Porém as gerações mais velhas e as pessoas entrevistas que estão ligadas à cultura local, conhecem-no e, por mais que não leiam com frequência, ainda tem-no em seu imaginário pessoal e lutam para tê-lo no imaginário coletivo da Cidade do Livro.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
editarACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Orígenes Lessa. 2016. Disponível em: https://www.academia.org.br/academicos/origenes-lessa/biografia. Acesso em: 27 set. 2022.
HALWBACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo: Editora Vértice, 1990.
PARTE TRÊS
editarEsse tema foi escolhido por mim a partir da minha vivência na minha cidade natal, Lençóis Paulista. Por meio das aulas de teatro que eu participava, na Casa da Cultura, tive meus primeiros contatos com o autor Orígenes Lessa e, por isso, é um tema especial para mim.
Não encontrei problemas para a realização deste trabalho, principalmente pelo fato de eu ter escolhido fazer sozinha. As entrevistas foram feitas de maneira remota, o que facilitou na produção e na construção desta atividade e, a construção da história de Orígenes foi retirada do site da Academia Brasileira de Letras e a parte da história coletiva, do livro “Memória Coletiva”, do Halbwachs, que eu já havia lido quando cursei o primeiro ano de Arquivologia, em 2020, para a disciplina de Memória e Patrimônio.