História Oral - Maria Eduarda Diniz e Vitória Massolin
O presente trabalho faz parte de um conjunto de atividades propostas pelo Professor Paulo Teixeira dentro da disciplina História do Brasil II oferecida no 2º semestre do 2º ano do curso de Ciências Sociais e foi realizado por Maria Eduarda Diniz e Vitória Massolin do período matutino.
editar"O Impacto da ditadura no interior paulista e os resquícios deixados na memória dos interioranos"
editarA memória sobre qualquer evento histórico é alvo de disputa, afinal quem detém a memória do povo tem o poder, não podemos esquecer que a história é contada pelos vencedores enquanto ao fundo é ecoado o grito dos derrotados. No que se refere ao período da ditadura militar brasileira, optaram pela memória do esquecimento, mais precisamente a do silêncio. Com isso em mente, qual será a memória do povo interiorano paulista sobre a ditadura militar brasileira? Quais são os seus resquícios deixados até hoje em dia?
Com o processo da redemocratização no Brasil, houve uma grande dúvida do que fazer com esse legado deixado pela ditadura, onde essa incerteza e silêncio prevaleceu até meados do ano de 2011, onde se institui a comissão da verdade, nos mostrando a amnésia política e social que pairava sobre as nossas cabeças, afinal violações de direitos humanos ocorreram durante o período ditatorial.
Entretanto o Brasil ainda continua sendo um dos países com as maiores pendências com sua própria memória, como por exemplo a concessão da anistia para militares que cometeram crimes no período da ditadura e a falta de debate com a população dos acontecimentos, transformando essa época em um fantasma que fica à espreita de nossa sociedade pronto para atacar a qualquer momento.
Essa falta de diálogo com a população dos eventos durante o regime que vigorou entre os anos de 1964 a 1985, faz com que parte dos cidadãos tenha uma falsa visão de saudosismo dessa época, seja por um negacionismo das torturas, assassinatos e terrorismo de estado ou por uma falta de informação e vivencia da época. O que neste último caso, se enquadra uma parcela da população interiorana paulista.
No que se refere à memória da ditadura no interior, temos algo que o torna particular, afinal, os confrontos mais diretos ocorreram nas capitais do país, além de que a dinâmica de relações interioranas é diferente. A maneira como as informações eram transmitidas dava-se por jornais que por sua maioria eram controlados pelo governo, por pessoas influentes da cidade, que em prevalência eram ricas, patrões e a favor do golpe e pela escola que perpassava os ideias do governo.
Outro aspecto que podemos ressaltar, é a estratégia política que o regime autoritário engenhou para bloquear a população a respeito do que se passava no país naquela época. O discurso de que não havia corrupção ou de que havia mais segurança era resultado de uma estratégia de censuras que brindava a sociedade de ficar sabendo dos crimes de estado cometidos. Portanto, a referência que o interiorano tem é justamente essa, de que durante o período ditatorial não existia corrupção, era mais seguro andar na rua, pautas morais revestidas por preconceitos, havia liberdade de expressão (mesmo que limitada de acordo com a tradição/moral), etc.
A partir disso, a gente observa que a memória daqueles que viveram de fato os males da ditadura e os relatos, sejam aqueles gravado na memória e transmitido por falas ou aqueles registrados em fotos e textos, são de suma importância para que se possa comprovar o que de fato ocorreu tanto no interior quanto nos grandes centro e esses registros abstratos ou memoriais devem ser expostos com clareza e firmeza para ativar a memória daquelas que viveram a ditadura mas se esqueceram e para mostrar para aqueles que não viveram, o que não se deve permitir a sociedade viver novamente. ‘’A memória dos fatos, dos sentimentos e das vivências pessoais é o fermento de nossa identidade e o alicerce para a construção de nossos sonhos pessoais e coletivos.’’ - Ecos da ditadura na sociedade brasileira (1964-2014) Rosângela de Lima Vieira.
É possível observar a partir do que foi discorrido e de obras, artigos, que como no interior das grandes cidades a ditadura não se deu de forma tão intensa quanto nos grandes centros, um certo desdém da ditadura, pois não foi ‘’vivido na pele’’ como se foi vivido na capital. Isso faz com que a memória desses que viveram no interior, seja um simples ‘’raspão’’ de determinados acontecimentos, fazendo com que o passar do tempo a memória seja seletiva, levando a esquecer do que foi ou poderia ter sido a ditadura, por isso novamente, a importância de lembrar o que foi pra população independe de quanto tempo passe após o ocorrido. Principalmente porque viu no ano de 2020 que mesmo após anos de facismo, ditadura e negacionismo, ele pode voltar com tudo
A história, a memória precisa ser ativada, relembrada para que não se repita, então é necessário diálogo entre as memórias da ditadura com a população principalmente pelo fato de que no Brasil, houve uma aniquilação dos crimes cometidos, não temos muitas memórias construídas e amplamente compartilhadas com a população brasileira desse período, não sabemos de fato o que foi a ditadura civil-militar, quem foram seus agentes estatais, quais crimes cometeram, o que eram os Atos Institucionais, como agiam as Forças Armadas e as polícias, qual era o grau de liberdade da população, como atuava a imprensa, quais direitos o povo tinha de exercer, quem financiou o regime militar, como o poder tratava a oposição política, em que medida as pessoas podiam se manifestar, a quem se poderia recorrer caso não se rezasse a cartilha do regime, como estavam as igrejas e a sociedade civil, a escola e as famílias, entre outras inúmeras indagações.
Isso porque não convém, não é interessante para a burguesia nacional desmistificar e mostrar a real memória e história desse período, pois pode se tornar muito perigoso que essas pessoas, a população interiorana, tenha as reais referências desse tempo, referências de luta e de resistência, por isso essas histórias são constantemente inviabilizadas, escondidas para debaixo do tapete, para justamente não criar um vínculo de pertencimento.
Afinal, a burguesia, se beneficia dessa ignorância, dessa falta de conhecimento e desse saudosismo que uma parcela da população ainda persiste em ter, por isso ainda sim, ouve-se discursos que exaltam a ditadura sem a menor timidez.