Introdução à Audiologia Básica/Logoaudiometria/Conceitos Iniciais/script

A logoaudiometria, foi definida como “a técnica na qual amostras de fala padronizadas, de uma determinada língua, são apresentadas por meio de um sistema calibrado, para medir algum aspecto da habilidade auditiva”[1]

A audibilidade para tons puros não fornece informações suficientes que permitam estimar de forma válida a audição, quando o objetivo é determinar as dificuldades comunicativas em situações sociais[2]. Assim sendo, diferentes materiais e procedimentos vêm sendo desenvolvidos e utilizados, pois inúmeras informações sobre o sistema auditivo podem ser obtidas com a utilização de testes com estímulos de fala. Dessa forma, os objetivos do avaliador devem estar bem definidos previamente, assim como os cuidados durante a aplicação de tais testes, para as medidas obtidas serem confiáveis e adequadas para investigar de forma bem específica a queixa do paciente, mas sem deixar de considerar diferentes aspectos envolvidos no universo de cada paciente.

Equipamentos para a realização

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Audiometro e cabina acústica

A logoaudiometria é realizada por meio de um audiômetro, o mesmo utilizado para pesquisa dos limiares para tons puros, mas que deve possuir fontes de sinal e de ruído para a realização das medidas com estímulos de fala (tanto na ausência como na presença de ruído competitivo), entrada para sinais de áudio externos que permita a realização dos testes usando microfone para realização de teste à viva-voz,  assim como  estímulos gravados em Compact Disc (CD),  ou via computador (que é uma realidade cada vez mais frequente), além de um  sistema de resposta do paciente, com microfone de retorno para os fones do examinador.

Existem inúmeros modelos de audiômetros disponíveis comercialmente, mesmo dentro de uma mesma marca, que são classificados de acordo com as funcionalidades disponíveis em cada equipamento[3], para realizar os diversos testes que são aplicados na avaliação audiológica. Assim sendo, na fase de aquisição do audiômetro é importante ter claro quais os testes que serão aplicados em um determinado serviço, pois se a ideia do profissional for realizar apenas avaliação audiológica básica, não compensa investir em um equipamento completo, cujo custo é mais elevado. Porém, se deseja ter uma atuação mais abrangente no que se refere a testes de fala, incluindo testes de processamento auditivo, a escolha de um equipamento com mais recursos disponíveis, é o mais indicado.  É importante considerar que com o avanço da tecnologia, existem muitas opções de equipamentos  computadorizados e assim, por meio de softwares, podem ser inseridas e habilitadas novas  funções, sem ter que trocar de equipamento, permitindo ampliar gradualmente a área de atuação do profissional. Portanto, sugere-se muita atenção e pesquisa antes da aquisição dos equipamentos audiológicos.       

Calibração

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Considerando a relevância dos resultados com testes de fala e as inúmeras variáveis envolvidas, para um diagnóstico e prognóstico precisos,  a calibração deve ser realizada considerando todas as vias pelas quais o estímulo sonoro poderá ser transmitido. Essas vias podem ser por condução aérea,  por meio de fones supra-aurais e circum-aurais, que é a maneira mais usual de aplicação dos testes, mas também por fones de inserção, quando o equipamento oferecer esta opção, ou por meio de caixas acústicas, para medidas em  campo sonoro, que pode ser necessário em casos especiais, principalmente para auxiliar na avaliação de crianças;  ou ainda por condução óssea, usando como transdutor o vibrador ósseo. As medidas com estímulos de fala por condução óssea raramente são  realizadas[4],[5], mas podem estar disponíveis e serem utilizadas nos casos de pré e pós operatório  de otosclerose ou na avaliação de crianças quando não for possível de outra forma.

   A calibração é importante para se certificar se os equipamentos estão em condições. Ela aponta a necessidade ou não de ajuste, e quando houver, o técnico poderá fazer os ajustes necessários, e só assim, o equipamento estará em condições ideais de utilização[6].

Ambiente acústico

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O examinador deve estar atento aos níveis de ruído em torno do mesmo, e  dentro da cabina, onde o paciente estiver posicionado, durante a realização do exame, e em hipótese alguma, a avaliação com estímulos de fala deve ser realizada se houver outras pessoas conversando ao mesmo tempo na sala de exame, mesmo quando os estímulos forem apresentados de forma gravada, e mais cuidado ainda se deve ter, quando forem apresentados à viva-voz

Aplicação dos testes

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        Considerando que os estímulos de fala são sinais complexos e dinâmicos, são necessários também alguns cuidados para garantir a precisão e a reprodutibilidade das medidas. Se tem referência[7] que em uma conversação normal, com um nível de fala médio de 65 dB NPS, a amplitude dos níveis de apresentação  dos estímulos de fala podem  ser de  aproximadamente  30 dBNPS, com os  picos negativos e positivos  podendo oscilar entre 12 dB acima e 18 dB abaixo da média, o que corresponde a uma faixa de 47 a 77 dB NPS.  

           Dessa forma, considerando esta variação inerente aos estímulos de fala, para calibração do equipamento, ao  realizar as medidas com tais estímulos, é utilizado um tom puro de 1000 Hz, que  geralmente é gravado em um nível equivalente aos picos de maior amplitude e  mais frequentes do sinal de fala a ser apresentado[8],  com duração de no mínimo 60 segundos[9], devendo estar disponível na primeira faixa do CD ou do meio digital  utilizado, no mesmo canal da fala,  para auxiliar a controlar e garantir a reprodutibilidade das medidas[10].

           Por sua vez os audiômetros dispõem de um medidor de unidades de volume ou VU meter (volume unit meter), que permitirá o monitoramento dos níveis de apresentação da fala quando as medidas forem realizadas à  viva voz, ou o ajuste do tom puro de calibração no nível 0 dB NA, permitindo assim determinar e manter fixos os níveis de apresentação dos estímulos de fala, quando estes forem apresentados de forma gravada. Isso garante a obtenção das medidas sempre nas mesmas condições de teste.

Considerando os avanços da tecnologia, uma questão importante está relacionada com as diferentes formas de apresentação dos testes de fala. Conforme já citado, existem diferentes possibilidades de apresentação dos estímulos de fala:  à viva-voz, usando um microfone (apesar de bastante utilizado, não recomendado); por meio de material gravado em Compact Disc (CD), que é apresentado usando um CD player (quase em desuso), acoplado ao audiômetro; por meio de um computador ou pen-drive  acoplado ao audiômetro, no qual o material de fala é gravado; ou ainda, por meio de uma plataforma que dá acesso aos testes usando a internet,  assim como,  inseridos no software de audiômetros computadorizados, que é uma realidade bastante recente, mas que sua utilização vem crescendo.

               Neste último caso¸ é importante que no momento da calibração seja estabelecido o volume do computador, e então ajustado o VU meter do audiômetro, usando este valor fixo como base tomando o cuidado de usar uma medida intermediária, para não gerar distorção dependendo do nível de estímulo a ser usado em determinado teste. Sempre que for realizar as medidas, se certificar se não houve mudanças no volume do computador, principalmente se o equipamento for utilizado por pessoas diferentes. Por sua vez, quando usar o material de teste inserido no equipamento, este pode ser ajustado via set up e criado um protocolo com cada material a ser usado e assim, sempre que selecionado, vai reproduzir as mesmas condições de teste pré-estabelecidas.

 
Fone-supra-aural

Ao utilizar diferentes mídias, como Computador, MP3 (Que estão entre os mais utilizados para a gravação dos arquivos de áudio), é muito importante que haja uma calibração correta, pois existe uma modificação nas características do som

 
Fones de inserção

    Na maioria das situações, os testes de fala são realizados por meio de fones auriculares ou de inserção, porém algumas vezes torna-se necessária a avaliação em campo sonoro, no caso de testes com o AASI (Aparelho de Amplificação Sonora Individual) ou na avaliação em crianças.

 

Referências

  1. Carhart, Raymond (janeiro de 1951). «Basic Principles of Speech Audiometry». Acta Oto-Laryngologica (em inglês) (1-2): 62–71. ISSN 0001-6489. doi:10.3109/00016485109138908. Consultado em 12 de fevereiro de 2023 
  2. Silverman, S. Richard; Hirsh, Ira J. (dezembro de 1955). «CX Problems Related to the Use of Speech in Clinical Audiometry». Annals of Otology, Rhinology & Laryngology (em inglês) (4): 1234–1244. ISSN 0003-4894. doi:10.1177/000348945506400424. Consultado em 12 de fevereiro de 2023 
  3. Lawson GD, Peterson ME. Preparation for testing. In: Lawson GD, Peterson ME. Speech Audiometry. San Diego, CA: Plural Publishing; 2011. P.13-26.  
  4. Barry SJ, Gaddis S. Physical and physiological constraints on the use of bone-conduction speech audiometry. J Speech Hear Disord. 1978; 43(2):220-6.
  5. Henry P, Letowski T. Bone conduction: anatomy, physiology, and communication. Aberdeen Proving Ground (MD): Army Research Laboratory (US);
  6. Soares, ZMD,   Couto, CM,   Cordioli J.A. Metrologia e Padrões de Medição em Audiologia.In:Tratado de Audiologia. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan; 2015; p. 42-9
  7. https://www.fonoaudiologia.org.br/resolucoes/resolucoes_html/CFFa_N_554_19.htm.
  8. https://www.fonoaudiologia.org.br/resolucoes/resolucoes_html/CFFa_N_594_20.htm.
  9. ISO - International Standards Organization. Acoustics -  Audiometric test methods – Part 3 , Speech audiometry. ISO 8253-3:2012(E)
  10. Lawson GD, Peterson ME. Preparation for testing. In: Lawson GD, Peterson ME. Speech Audiometry. San Diego, CA: Plural Publishing; 2011. P.13-26.