Introdução à Prática Artística

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Disciplina de Introdução à Prática Artística do Instituto de Artes Plásticas da Wikiversidade.


Apresentação:

Esta disciplina pretente tratar as questões mais básicas da prática artística no contexto das artes plásticas, mais precisamente arte contemporânea. Um curso de pintura, ou mesmo um bacharelado muito abrangente em artes plásticas, não forma um artista, e sim o ato da primeira exposição. Uma obra de arte só estará completa quando apresentada publicamente, assim uma pessoa que somente pinta quadros, para seu próprio desfrute, e não expôe, dificilmente poderá ser considerado um artista, na medida em que não está sujeito às responsabilidades típicas de um artista, e sua obra em nada contribui para a humanidade. A prática artística portanto exige coragem, além de criatividade.


Justificativa:

Arte é uma palavra vulgarizada, usada em qualquer situação, e a designação artista é usada como adjetivo a qualquer pessoa que realize bem qualquer trabalho. Exemplo: "aquele mecânico é um artista". Frequentemente a palavra arte é associada também a "coisa errada", no Brasil dizem: "O menino fez arte" (fez coisa errada). Em Portugal da mesma forma, a palavra artista é frequentemente associada a uma pessoa disparatada: "tu insultaste o polícia... és um artista, pá...".

Num ambiente profissional de arte, ou acadêmico, é necessário preservar o rigor no significado das palavras. Vivemos num mundo saturado de desumanidade, violência e burocracia, as profissões mais solidamente ligadas ao capital, como a engenharia, o direito e a medicina desfrutam a solidez de um confortável aparato material, e elevada cotação sócio-económica. São profissões de poder, muito organizadas, e com ordem própria. Ninguém diz "você bateu o carro, é um engenheiro!". De forma inversa as profissões ligadas à cultura vivem muito de improvisos, serviços não remunerados, instabilidade institucional e políticas governamentais feitas por pessoas que do assunto pouco entendem, principalmente em países subdesenvolvidos.

A precariedade da área artística (para não dizer cultural) costuma ser ainda pior do que a precariedade da área educacional, na maioria dos países. Neste contexto a prática artística, objeto deste curso, frequentemente é uma atividade mal compreendida, desvalorizada e tida como supérflua.

A prática artística está muito ligada ao exercício da atividade do artista num mercado de trabalho, assunto raramente tratado com objetividade em faculdades de arte.


Como funciona a disciplina:

O aluno deste curso deverá ler as lições e realizar as tarefas propostas. Algumas tarefas incluem visitar ateliês e exposições. Mesmo que você julgue que ja visitou muitos ateliês deverá cumprir as tarefas prescritas para ser considerado um aluno com aproveitamento, mesmo que implique em percorrer novamente espaços antes ja percorridos no passado. É preciso ter uma visão renovada e atualizada da prática artística.

A disciplina conta com um serviço de tutoria para tirar dúvidas de alunos através do email: wikidude90@gmal.com


Pre-requisitos:

Não há pré-requitos. Este curso é destinado a todos os interessados numa visão introdutória da prática artística, seja para iniciar atividades artísticas, ou mesmo lidar com artistas.


Objectivos:

O curso de Introdução a Prática Artística da Wikiversidade pretende que cada aluno experimente a prática artística, a visitar exposições, desenvolver um trabalho, um discurso e uma exposição.


Atuação profissional:

Uma pessoa capaz de levar a cabo uma prática artística, sob a ótica deste curso, é certamente um artista, e estará apto a desenvolver uma carreira neste ramo profissional com objectividade. Também poderá trabalhar no ramo da educação artística com uma visão mais alargada do fazer artístico, e consequentemente exigir mais de seus alunos. Outras importantes saídas profissionais são: organização de exposições, comércio de obras de arte e o trabalho com coleções de arte, sejam elas públicas ou privadas.



Plano curricular:




Lição 1: Ateliê


Um artista precisa ter um ateliê, um local para organizar seu material, receber visitas e manter uma rotina de trabalho. Um ateliê mal estruturado dificulta enormemente a produtividade de um artista. Artistas profissionais tem bons ateliês, alguns são enormes e tem vários colaboradores, como secretárias e assistentes. A partir do seu ateliê um artista pode gerenciar toda uma produção, pode contratar outros serviços, manter seus arquivos. Um ateliê de um artista de fotografia, por exemplo, costuma ser muito organizado, e em alguns casos parece mais um escritório convencional. Neste caso o artista manda ampliar negativos, ou fazer impressões digitais em empresas especializadas, que depois são emolduradas em outra empresa, e posteriormente são entregues na exposição, assim o artista pode produzir muitas obras sem que elas de fato passem pelo ateliê. Com o advento da arte conceitual e minimalista, é frequente que todo o serviço de produção seja feito fora do ateliê do artista.


Tarefa desta lição: monte um ateliê e visite quatro ateliês de outros artistas. Se você não for um artista, ajude a montar, ou organizar o ateliê de um artista, e ainda visite outros quatro ateliês.



Lição 2: A Arte Contemporânea


É um assunto longo e polêmico, entretanto será muito resumido e sintetizado neste curso, tendo em vista nossa preocupação prioritária com a prática artística.

Arte Contemporânea é um termo que ja entrou para o vocabulário da história da arte, como a arte que vem depois da Arte Moderna. Ou seja, Arte Contemporânea não é exatamente a "arte de hoje", mas é um tipo de arte, ou uma espécie de movimento, como era a Arte Moderna. Assim, usando o vocabulário do sistema de arte (próxima lição) um artista hoje, em 2009, não pode dizer: "Faço pintura moderna". Isto porque será entendido imediatamanete como um leigo, visto que pintura moderna é antiga, trata-se de um movimento artístico localizado aproximadamente no ínicio do século XX, e encerrado por volta nos anos 60. Picasso, Duchamp, Miró, eram modernistas, assim um artista que se diz moderno hoje não será levado a sério no ambiente profissional de arte. Deve dizer neste exemplo "faço pintura contempoerânea".

A grosso modo podemos considerar mesmo que o adjetivo moderno ja está queimado pela história da arte, devemos usa-lo com muito cuidado, assim como o termo contemporâneo também está a ser queimado, sem a menor sombra de dúvida. Fala-se hoje no esgotamento da arte contemporânea, em círculos de discussão avançada. Há quem diga entretanto que a arte moderna não acabou, e que a arte contemporânea é uma continuidade...

Debates à parte, é importante o aluno usar um vocabulário ja estabelecido como ponto de partida, para não ficar deslocado, ou evitar não ser levado à serio. Este curso refere-se a prática de artistas contemporâneos.


Tarefa desta lição: leia o verbete acerca de Arte Contemporânea da Wikipedia [[[w:Arte_contempor%C3%A2nea]]]e pesquise sobre 5 artistas contemporâneos.



Lição 3: Sistema de Arte


O sistema de arte é uma teia de instituições, profissionais, entidades e pessoas que giram em torno da arte, por exemplo museus, galerias, espaços culturais, artistas, curadores, colecionadores, críticos.

A prática artística em geral está voltada para o sistema de arte, reporta-se a ele. Os artistas que evitam relacionar-se com o sistema são marginalizados. Existem muitos graus de marginalidade, ou semi-marginalidade.

O sistema de arte é muito baseado na rotina do mercado de arte. Um museu, normalmente, só incorpora em seu acervo artistas ja com bons resultados no mercado, isso acontece muito porque a direção dos museus, seus quadros de conselheiros e consultores artísticos são muitas vêzes eles próprios colecionadores de arte, e tendem a valorizar e promover o perfil de artistas que lhes são mais familiares, o de interesse. Em outros casos os dirigentes de museus percebem muito pouco de arte contemporânea, de modo que apenas poderão ter a certeza de que um artista deve ser imortalizado quando ele ja é imortal.


Tarefa desta lição: visite no mínimo um museu e uma inauguração de exposição, duas vêzes por mês, pelos próximos 3 meses. (visitar 6 inaugurações numa semana não vai liberta-lo de visitar inagurações pelos próximos 3 meses, seja um interessado permanente).



Lição 4: Iniciativa Artística


Como diz o ator e diretor de teatro Miguel Falabella "as pessoas não precisam de arte, arte é que precisa das pessoas". Esta frase, questionável, é muito interessante porque salienta que toda a responsabilidade do fazer artístico recaí sobre o artista, cabe a ele a iniciativa de propor e apresentar a sua arte. O ambiente artístico é ainda muito competitivo, ou seja, se um artista não fizer sua parte e ocupar seu espaço, outro certamente o fará. Frequentemente um artista adquire grande projeção num ano, e no ano seguinte ja é eclipsado por outros tantos. A solidez da carreira de um artista depende muito de sua constância, qualidade e repercussão de seu trabalho.

Naturalmente que um mundo sem arte seria insuportável para o ser humano, (e ja vivemos uma condição de grande desestruturação social, muito provocada pela crise cultural e moral de nosso tempo): as pessoas precisam de alguma arte, seja ela popular, ou erudita.

As artes plásticas exercitam a poética através de uma intervenção física sobre a matéria. A criação artística está ligada a poética. "A poética é um estado crítico" (Martin Grossmann, pesquisador e diretor do Centro Cultural SP). A criação artística é uma proposição de percepções que permite múltiplas interpretações e associações, de acordo com o repertório de cada indivíduo.


Tarefa desta lição: iniciativa artística é um conceito amplo que vai desde a concepção de uma obra, sua realização e exposição. Para abarcar todas estas etapas de uma forma rápida, realize um trabalho de performance, num espaço público. (evite "passar o chapéu" depois da performance porque dará a entender que tudo aquilo tem como único objectivo ganhar dinheiro, e vai poluir a reflexão, o eco, que sua peça ira proporcionar).



Lição 5: Discurso do Artista


No ambiente da arte contemporânea o artista costuma desenvolver um discurso sobre o seu trabalho. Em alguns casos o artista não tem discurso, e o curador, ou crítico, ocupa este lugar e atribui um discurso ao trabalho do artista.

O discurso do artista mafifesta-se no trabalho dele, e também oralmente, e por texto. Frequentemente o artista precisa defender sua obra, numa inauguração por exemplo, ou num debate. O discurso ainda é útil para dar uma forma ao coneito do trabalho do artista. Num contexto de experimentação e aprofundamento de uma pesquisa, o artista adota um padrão estético comum às suas peças, de forma a poder desenvolver uma linha de composição coerente. A coerência da obra de um artista é algo muito subjetivo e tem também a ver com a necessidade de êxito comercial.


Tarefa desta lição: elabore obras em série, que podem ser desenhos, pinturas, esculturas, ou instalações. As peças deverão ter alguma relação umas com as outras, um fio condutor, e ao mesmo tempo alguma diferenciação. Visite exposições individuais de artistas em galerias para perceber melhor a idéia da seriação. Desenvolva uma conceito por escrito, que depois será o seu discurso sobre a série, que conceito deve ser curto e conciso. Evite textos poéticos sobre sua criação artística, a poesia deve estar mais nas artes plásticas, e menos no texto do artista.



Lição 6: O Portfólio


O portfólio reúne as práticas artísticas realizadas e requer muita organização e atualização constante. No ambiente competitivo de iniciativas artísticas quem tiver o melhor portfólio terá certamente mais chances, mesmo que seu trabalho na prática não tenha a mesma relevância. O portfólio facilita a relação do artista com o sistema de arte.


Tarefa desta lição: Elabore o seu portfólio com seus trabalhos, inclua fotografias de boa qualidade, seu currículo de exposições e eventuais artigos, textos e catálogos publicados a seu respeito. Evite colocar textos poéticos em seu portfólio, a menos que eles tenham sido publicados sobre sua pessoa. Se você não é um artista, ajude a elaborar o portfólio de um artista próximo, ou de uma coleção de arte.



Lição 7: A Exposição


A primeira exposição marca o início de uma carreira artística. Com uma exposição em vista o artista tem enorme responsabilidade. O público exercita sua capacidade de observação e questionamento numa exposição. O artista pode colher impressões sobre seu trabalho, de modo a poder desenvolver novas criações que atendam os interesses ou necessidades das pessoas: há que haver um diálogo entre as questões do artista e as questões do público. Uma exposição é sempre um evento cultural que reúne pessoas em volta da arte, e confere visibilidade ao artista. A publicação de artigos de jornal e catálogos, que dão projeção a carreira artística, em geral só acontecem na ocasião de exposições.


Tarefa desta lição: monte uma exposição, sua, ou de terceiros.


Curso concluído. Parabéns!