Introdução ao Jornalismo Científico/Ética da Ciência/Atividade/Clari reche
Nome da atividade
editarEsta tarefa é realizada para cumprimento do módulo 3 do curso de Introdução ao Jornalismo Científico. Tome cuidado de estar logado na Wikiversidade. Se não estiver logado, não será possível verificar o trabalho.
Atividade
editarUm dos principais desafios da prática do jornalismo científico é entrevistar cientistas sobre seu trabalho, isto porque é ao mesmo tempo necessário introduzir e aprofundar os temas abordados. Nesta tarefa, você deverá entrevistar um pesquisador ou uma pesquisadora sobre Ética da Ciência e sobre questões éticas específicas relacionadas a seu trabalho.
Para a entrevista, é preciso pesquisar de antemão a produção da/do cientista selecionada/a. Procure seu trabalhos em bases de dados de publicações científicas, como o Google Acadêmico, e leia-os antes da conversa.
Prepare então um roteiro de perguntas, pensando-o com base na pauta sobre ética proposta nesta tarefa. Há vários manuais sobre como fazer boas entrevistas, um material que pode ser é útil é Um guia para aprimorar a arte da entrevista, de Natália Mazotte.
É indispensável que o/a entrevistado/a assine e lhe envie um termo de cessão de direitos, tal qual o deste modelo.
A entrevista, em formato de vídeo ou áudio, deve ter no máximo 7 minutos. Uma vez a entrevista realizada, edite o material, por exemplo melhorando o som, inserindo uma vinheta com o título e o nome da pessoa entrevista e cortando trechos desnecessários.
Considere os aspectos técnicos, como iluminação e som, na momento de produção e informe sua fonte que o material será disponibilizado em licença livre. Também é necessário publicar a entrevista transcrita.
A entrevista será disponibilizada no repositório Wikimedia Commons.
Nome de usuário(a)
editarClari reche
Transcrição
editarNesta seção, você deverá publicar a transcrição da entrevista realizada. Esteja logado. Também dê acesso ao termo de cessão de direitos assinado, numa pasta de acesso restrito, mas liberada para o email comunicacao@numec.prp.usp.br
[CLARISSA]
Olá, eu sou a Clarissa Reche, sou cientista social e antropóloga da Ciência Tecnologia. Em outubro de 2024, eu entrevistei o bioinformata Tiago Lubiana, a gente conversou sobre os desafios éticos de trabalhar com dados biológicos. Mas antes da gente ouvir sobre esse assunto vamos conhecer um pouquinho da trajetória do Tiago.
[TIAGO]
Eu sou formado em ciências biomédicas pela USP, me formei em 2017 e depois fiz mestrado e doutorado na mesma instituição, mas agora na área de bioinformática. Fiquei bastante tempo pesquisando na bancada, então trabalhei com neurociência como biotecnologia, com microalgas, com xanthomonas, que é uma bactéria também. Fiz várias coisas, mas no mestrado migrei para essa área de bioinformática, né? Comecei a programar na linguagem R, analisar dados, principalmente dados de sequenciamento de RNA, de transcriptoma de expressão gênica. E aí comecei a desenvolver o algoritmo, desenvolver pacote para analisar esses dados.
Então comecei a ingressar numa área aí, numa interface matemática, de análise de dados… e nesse processo, né? Eu engage com o tipo de dados chamado sequenciamento de RNA de células únicas, que mede a expressão gênica em células individuais e percebi que existia um… um problema de como anotar esses dados, né de como identificar o tipo de cada uma dessas células. Então comecei a pesquisar o que é um tipo de célula, quais são as definições que existem, numa interação meio filosófica, mas numa área chamada “biocuradoria”, que é para usar esses conceitos, essas ferramentas que temos multidisciplinares para organizar o conhecimento de forma apoiar a atividade de pesquisa, né? Apoiar anotação de dados, apoiar sistemas de informação inteligente, né, no campo das células. Especificamente eu estudo não só esse domínio já de nicho, mas um nicho ainda menor que é a formação dessas, desses conteúdos de conhecimento numa base que é irmã da Wikipédia que é a Wikidata.
[CLARISSA]
Para começar a nossa conversa, eu perguntei para o Tiago quais são os desafios éticos que bioinformatas encontram no dia a dia das suas pesquisas.
[TIAGO]
A bioinformática no Brasil, se fundamenta muitas vezes em reanálise de dados ou análise de dados de terceiros. Dessa forma, é raro o bioinformata, ao menos no Brasil, e eu acho que no geral mundial, é raro o bioinformata se inscrever no comitê de ética, então por exemplo, mandar um pedido, fazer um pensamento ético mais elaborado sobre a próxima atividade. Então, dessa forma, eu acredito que o bioinformata pensa menos em questões éticas do que a média dos cientistas, ainda assim os desafios éticos são enormes. Quando trabalha com análise de dados você tem várias variáveis envolvidas que você pode ou não estudar. Você tem coisas que você pode extrair desses dados. Um tema, um desafio, que é um desafio ético no geral, é se o dado deve ser livre ou não. Você gera um dado isso é… tem dados que são sigilosos, esses dados sigilosos bem… você pode estar ferindo a privacidade de alguém quando se libera um dado, ou então tem desafios éticos sobre publicação de informações e onde que você coloca, você deve colocar esses dados públicos ou não?
[CLARISSA]
Depois a gente conversou sobre a relação das pesquisas em bioinformática com os comitês de ética.
[TIAGO]
Os estudos que eu conheço que trabalham por exemplo com desenvolvimento de algoritmos, que foi o que eu fiz no meu mestrado, desenvolvimento de base de conhecimento, que eu fiz no meu doutorado, atividade de reanálise, dados públicos.. a gente faz o tempo inteiro, todas as atividades não passam por comitê de ética porque é entendido, presumido, que a gente não tá trabalhando nem com sujeitos humanos, nem com sujeitos animais. Geralmente bioinformatas atuam em colaboração com equipes de laboratório molhado, com equipes médicas que vão coletar os dados ou vão validar o que o biofarma encontrou ali nesse contexto experimental analítico, né? Então, nesse caso a pesquisa em si, quando têm sujeitos humanos, quando são dados novos, ou quando tem sujeitos animais e são dados novos também, naturalmente passam por comitê de ética. Mas a parte bioinformática em si, ela é ausentada. Mas eu acho que deveria ser discutido, discutido eticamente, devia ser trazido à tona né? E talvez em alguns casos, talvez em alguns casos específicos, ah… reuso de dados humanos, talvez aí deveria passar por um comitê de ética, ou então trabalhar com certas variáveis protegidas, né? Raça, gênero e tudo mais… orientação sexual, identidade de gênero, sabe? Talvez pesquisas que abordem isso, mesmo em dados reutilizados, deveriam de certa forma passar por um grupo de pessoas que entende melhor as implicações éticas dos experimentos
[CLARISSA]
Por último, eu perguntei qual o maior desafio ético que o Tiago enfrenta pessoalmente na pesquisa dele, e como ele lida com isso.
[TIAGO]
Tem um desafio ético que é mais palpável, que é no contexto de todo mundo nessa área que é o desafio ético do “publish or perish”, né? Ah, será que…. o conflito de interesse entre ter que publicar para conseguir ter um prato de comida acadêmico, e… mais ao mesmo tempo não querer pagar 3000 dólares de dinheiro público brasileiro para uma revista gringa. Acho que isso é um desafio da ciência industrial que a gente tem hoje, desse sistema que bem… que você tem trabalhadores funcionários, tem pessoas que estão ingressando na academia, assalariados que não estão com a vida ganha, né? Não são Charles Darwin que o papai era milionário, então ele tem que sobreviver. Então você tem desafios éticos que estão associados a essa luta pela sobrevivência dos cientistas, atrelada com uma vontade de fazer uma ciência boa e de ter alcance, e de conseguir impactar o mundo melhor. E essas coisas todas pesam. Junta muita coisa de política, acaba sendo a arte do possível, né? Que será que preciso fazer para continuar o jogo? Será que eu publico um artigo que eu não acredito muito, com pessoas que eu não gosto muito, em uma revista gringa ou será que eu tento fazer uma coisa que eu acho que é mais correta tecnicamente, seriamente, e não consigo tantos créditos acadêmicos. É um balanço. Eu não sei, eu não sei, eu não tenho uma resposta, eu lido com isso tentando, pensando o tempo inteiro e ficando em crise. Todos os cientistas, todo mundo enfrenta isso hoje né? Ninguém tá com a vida ganha ali.. e o bebê chora e tem que fazer coisa e é isso.
[CLARISSA]
Agradeço ao Thiago pela entrevista. A música que você ouviu no começo e agora no final da entrevista é do Flávio Concini e está disponível no site freesound. Até a próxima.
- Link para o termo de cessão: https://drive.google.com/drive/folders/1RlFKLiwfU1MwB73jiMeAujcB50fyzQCe?usp=sharing
Carregamento de entrevista
editarPara esta etapa, você precisará carregar o áudio ou o vídeo no Wikimedia Commons e publicá-lo aqui na Wikiversidade. Necessariamente o arquivo de vocês deverá estar num formato livre. Os vídeos abaixo servem de instrução para carregar conteúdos no Wikimedia Commons. Esteja logado.
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Como carregar no Wikimedia Commons.
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Como usar mídias do Wikimedia Commons.
Próximos passos
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