Introdução ao Jornalismo Científico/Metodologia e Filosofia da Ciência/Atividade/Marina Tomaz
Nome da atividade
editarEsta seção apresenta a tarefa principal do Módulo 1 do curso de "Introdução ao Jornalismo Científico". A realização da tarefa é indispensável para o reconhecimento de participação no curso. Seu trabalho estará acessível, publicado no ambiente wiki, e será anexado ao certificado de realização do curso, quando finalizar todas as atividades. Tome cuidado de estar logado na Wikiversidade. Se não estiver logado, não será possível verificar o trabalho.
Descrição da atividade
editarAtuar no jornalismo científico é às vezes comparado ao de ser um tradutor, no jargão da área da comunicação um 'tradutor intersemiótico', que passa a linguagem de um campo para o de outro campo. Nesta atividade, vamos observar e analisar como isso foi feito em uma das principais publicações acadêmicas brasileiras, a Pesquisa FAPESP.
Você deverá selecionar um artigo na revista Pesquisa FAPESP. Estão acessíveis na página principal da publicação. Escolha um artigo sobre um tema de pesquisa - ou seja, que seja baseado em uma ou mais de uma publicação científica - e leia-o com cuidado. Responda às perguntas que seguem.
As respostas deverão ser publicadas nesta página individual. Apenas altere os campos indicados.
Nome de usuário(a)
editarMarina Tomaz
Link para a matéria selecionada
editarNesta seção, você deverá colocar os links da matéria selecionada. Esteja logado.
- Título de matéria: Uma Potencial Vacina Contra Cocaína
- Autoria de matéria: Suzel Tunes
- Link de matéria: https://revistapesquisa.fapesp.br/uma-potencial-vacina-contra-a-cocaina/
Resumo da matéria
editarPara esta etapa, resuma a matéria em até 300 caracteres. Esteja logado.
A dependência química é um grave problema de saúde pública e um de seus maiores desafios encontra-se na escassez de recursos terapêuticos. Em busca da possibilidade de uma nova terapia farmacológica para este problema, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) desenvolveu uma vacina contra os efeitos da cocaína. O grupo de pesquisa, liderado pelo professor Frederico Duarte Garcia, criou uma molécula sintética capaz de gerar uma reação imune à droga. Uma vez que o indivíduo for vacinado, ao consumir novamente a droga, essa reação imunológica diminuiria a quantidade de cocaína que chegaria ao cérebro, o que minimizaria seus efeitos e reduziria a compulsão, contribuindo para cessar o ciclo de recaídas. Atualmente, a taxa de recaída do tratamento da dependência química gira em torno de 75%, portanto, esta vacina promete ser um grande avanço no combate à doença. Entretanto, apesar de ser um projeto altamente promissor, pesquisadores especialistas em dependência química se mostram céticos devido a outras vacinas contra drogas terem se mostrado ineficientes no passado e também pela própria complexidade do tratamento da doença, que vai muito além da farmacologia. A maior parte destas questões só serão respondidas uma vez que a vacina entrar em fase de ensaios clínicos. O mecanismo molecular já foi estudado in vitro e a eficiência farmacológica já foi testada em animais, mas para que os efeitos clínicos sejam confirmados e para que a segurança da vacina seja atestada, o próximo passo é o início dos ensaios clínicos envolvendo seres humanos. O projeto da vacina contra cocaína já rendeu diversas publicações em revistas científicas de alto impacto, mas agora busca o desafio do financiamento para a nova fase da pesquisa.
Análise da matéria
editarPara esta etapa, identifique e analise com base na matéria: o objeto e a metodologia (observação, hipótese, experimentação, análise e publicação) da pesquisa. Esteja logado.
Observação:
A observação, no caso da elaboração de uma vacina contra cocaína, é feita através da revisão de dados e publicações anteriormente publicadas. Por exemplo, observar que a dependência química é um problema grave de saúde pública e que a recaída é um fator crítico na sua recuperação. Revisar tentativas anteriores de desenvolvimento de vacinas anti-drogas. Essas observações levam a elaboração do hipótese de um mecanismo que impeça a droga de agir sobre o corpo, no caso, uma vacina.
Hipótese:
O grupo citou o objetivo de testar as seguintes hipóteses nos ensaios clínicos: A vacina é capaz de diminuir o mecanismo de recompensa causado pelo uso da droga? A vacina é segura?
Algumas hipóteses já foram confirmadas nos estudos pré-clínicos, como por exemplo, que a vacina não causa efeitos colaterais em primatas não humanos.
Experimentação:
Ensaios clínicos envolvendo seres humanos, com grupos controle, placebo, duplo cego, etc. A coleta de dados desta experimentação precisa ser realizada por uma equipe de saúde multidisciplinar treinada. Além dos dados diretamente relacionados à vacina, como a frequência e efeito do uso da droga, outros muitos parâmetros clínicos precisarão ser coletados.
Análise:
Os dados gerados dos ensaios clínicos serão organizados e serão realizadas análises estatísticas comparativas, como por exemplo, o grupo que recebeu a vacina apresentou menor taxa de recaída que o grupo que recebeu o placebo? Com relação a segurança da vacina, pode ser comparado valores clínicos, como por exemplo, indivíduos que receberam a vacina apresentaram maior frequência de eventos tromboembólicos que indivíduos que não receberam?
Publicação:
Ao fim de cada fase dos ensaios clínicos da vacina, será produzida uma publicação científica para que a comunidade possa acessar e discutir os resultados. A notícia cita vários trabalhos que já foram publicados, referentes a estudos pré-clínicos. Um exemplo é o resultado de que a vacina reduz a passagem da droga pela barreira hematoencefálica em roedores, publicado no Journal of Advanced Research.
Análise da pesquisa
editarPara esta etapa, acesse a(s) pesquisa(s) de origem, de base para o artigo na Pesquisa FAPESP, identifique e analise a seção metodológica. Em especial, explique em que medida o processo de pesquisa foi bem documentado no artigo que você selecionou. Esteja logado.
A metodologia descreve detalhadamente o processo de síntese química do hapteno derivado da cocaína conjugado ao calixareno, a preparação do composto vacinal, o manuseio dos animais, as formas de coleta de dados dos animais (ELISA e radioimunoensaio) e a metodologia estatística para análise dos dados.
Metáfora científica
editarPara esta etapa, reveja o conteúdo da aula sobre "A metáfora científica". No artigo da Pesquisa FAPESP selecionado, identifique quais foram as metáforas científicas ou cientificamente inspiradas utilizadas e justifique esse uso a partir das indicações da aula. Analise em que medida contribuem ou dificultam o entendimento da ciência. Esteja logado.
"O nome Calixcoca, diz o pesquisador, é inspirado na estrutura química que compõe o imunizante, do tipo calixareno, que tem formato semelhante a um cálice."
Essa metáfora foi criada através da percepção de uma semelhança visual ou estrutural entre a forma do composto químico (calixareno) e um cálice, como uma analogia visual. O termo "cálice" é usado para transmitir uma imagem visual que ajuda a compreender a estrutura ou forma do composto químico em questão.
"os anticorpos liguem-se às moléculas da droga na corrente sanguínea, impedindo, ou ao menos reduzindo, sua passagem pela barreira hematoencefálica.Essa estrutura reveste os vasos sanguíneos que irrigam o sistema nervoso central e funciona como uma espécie de filtro, controlando o transporte de substâncias que chegam ao cérebro."
A metáfora do "filtro" ajuda a ilustrar a função reguladora da barreira hematoencefálica de maneira mais acessível e compreensível. Neste caso, a analogia para criação da metáfora não foi visual, mas sim funcional. Houve a atribuição de uma função específica a algo que pode não ter a mesma função em sua forma literal, com o objetivo de facilitar a compreensão ou a comunicação de um conceito complexo ao associá-lo a algo mais familiar.
“explica que existe uma memória associativa relacionada à droga, que pode ser disparada por diferentes gatilhos, como situações de estresse ou exposição do indivíduo a ambientes e contextos associados ao consumo.”
“Disparar um gatilho” é uma metáfora frequentemente usada para ilustrar memórias, emoções ou comportamentos previamente adquiridos podem ser acionados de volta à consciência ou à ação por meio de um estímulo externo, como neste caso, a cocaína. A associação com um "gatilho" sugere uma conexão direta entre o estímulo (o gatilho) e a reação (a memória associada ou o comportamento desencadeado). Assim como puxar o gatilho de uma arma provoca a liberação de uma bala, "disparar um gatilho" neste contexto implica que o estímulo desencadeante leva à ativação ou "liberação" de uma memória ou resposta específica.
Filosofia da ciência
editarPara esta etapa, reveja o conteúdo da aula sobre "Ciência e Filosofia". Discorra sobre em que medida o artigo da Pesquisa FAPESP que você selecionou coloca questões filosóficas e apresente exemplos extraídos do texto. Esteja logado.
“A nova abordagem terapêutica é vista com contida esperança por especialistas em dependência química.”
A ciência é uma linguagem socialmente negociada porque envolve a interação de cientistas, a revisão por pares, debates, influências culturais e processos de comunicação que moldam como o conhecimento científico é produzido, compartilhado e aceito. A reportagem da revista FAPESP demonstra a importância da divulgação científica no papel da construção do conhecimento científico não apenas por utilizar uma linguagem acessível para comunicá-lo, mas também por trazer outros cientistas da área para para traçar contrapontos e reconhecer dinâmicas históricas e sociais subjacentes à questão. Entre outras críticas, os pesquisadores entrevistados enfatizaram as possíveis limitações de um tratamento como a vacina diante da complexidade da doença.
“Em geral as vacinas são eficientes em modelo animal. Mas quando vão para a fase de ensaios clínicos não têm bons resultados”... Outra possível explicação pode estar no próprio comportamento do voluntário submetido à vacina. “Em alguns testes que falharam, o dependente usou doses maiores da droga até conseguir obter o efeito desejado”, diz a pesquisadora.
A ação farmacológica da vacina contra cocaína visa inibir a passagem da droga para o cérebro, proporcionando uma solução mecanística. Portanto, mesmo se a vacina funcionar com sua máxima eficiência e sem efeitos colaterais, essa ainda não será uma solução para a dependência química. Inclusive, a ação da vacina na sua forma mais segura e eficiente pode paradoxalmente piorar a saúde do indivíduo, uma vez que ele use doses muito mais altas da droga para tentar alcançar o seu efeito. Essa questão, abordada na reportagem pelo Prof. Fábio Cardoso Cruz, demonstra a visão mais cartesiana que o grupo da UFMG adota sobre o problema. A dependência química é uma doença extremamente complexa, onde há fatores fisiológicos e farmacológicos importantes que se condensam fortemente a questões psicossociais.
“As vacinas podem ser utilizadas como parte de uma abordagem integrada de tratamento, combinando terapia comportamental, suporte psicossocial e outras intervenções, a fim de auxiliar as pessoas a superar a dependência”
Portanto, a interdisciplinaridade é uma abordagem necessária para a doença, e a vacina talvez tenha apenas um papel de suporte no universo do seu tratamento. Certamente, o consenso do papel de uma eventual vacina ainda deverá ser muito discutido e negociado dentro da comunidade científica.