Introdução ao Jornalismo Científico/Temas Centrais da Ciência Contemporânea/Atividade/Rogério Bordini


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Esta tarefa é realizada para cumprimento do módulo 4 do curso de Introdução ao Jornalismo Científico. Tome cuidado de estar logado na Wikiversidade. Se não estiver logado, não será possível verificar o trabalho.

Atividade editar

O jornalismo científico envolve finalmente um processo de tradução. Passamos dos signos próprios ao meio científico, que tem seus próprios e jargões, para um outro sistema de signos, mais próximo ao público amplo. A tradução torna-se ainda mais complexa quando há também uma adaptação a novos meios, por exemplo do texto científico para o produto audiovisual na comunicação científica.

Entender como a tradução intersemiótica é realizada no campo da divulgação científica é um esforço central na pesquisa sobre a comunicação da ciência. Neste exemplo, são apresentadas as estratégias de construção de duas matérias sobre ciências agrárias.

O exercício proposto aqui envolve justamente uma comparação sobre como foi realizada a comunicação sobre uma mesma produção científica. Para isso, você deverá selecionar uma notícia sobre um tema científico e verificar de que forma ela foi abordada por dois veículos jornalísticos diferentes. Analise tópicos como: o título, o abre, a descrição do método, a realização de entrevistas, o contexto que a notícia oferece. O roteiro abaixo explica como deve ser feito.

Nome de usuário(a) editar

Rogério Bordini

Material selecionado editar

Nesta seção, você deve listar o material selecionado para o exercício:

  • dois produtos jornalísticos, de qualquer meio e de veículos distintos, sobre um mesma tema científico, preferencialmente sobre uma mesma notícia científica; e
  • a publicação científica que deu origem à divulgação científica realizada nos dois produtos jornalísticos selecionados.

Produção científica editar

Para esta etapa, você precisará ler e descrever a produção científica selecionada. Responda às questões abaixo.

  • Qual a contribuição científica pretendida?
    • Responda aqui: identificar características universais em preferências musicais (gêneros ou propriedades musicais, como timbre, volume, altura, etc) a partir do cruzamento das preferência musicais relatadas no trabalho com os traços de personalidade dos participantes convidados. O estudo traz contribuições que referem-se ao nosso interesse por determinadas propriedades musicais conforme nossa idade (ex: quanto mais velhos tendemos a preferir músicas mais calmas) e ao estilo musical que costuma ser ditado pelas tendências culturais e fonográficas das sociedades (por meio do rádio, internet, discos, etc).
  • Qual o método científico adotado?
    • Responda aqui: abordagem metodológica centrada em teorias de personalidade, cultura e psicologia musical para mapear o terreno das preferências pela música ocidental, usando dados de 356.649 pessoas em seis continentes. O estudo foi organizado em duas etapas, sendo no estudo 1 (N = 284.935) em que os participantes de 53 países completaram uma medida de preferência de gênero, e no estudo 2 (N = 71.714) participantes de 36 países completaram uma medida psicométrica baseada em áudio de reações preferenciais à música. Ambos os estudos incluíram testes de personalidade baseados no Big Five, metodologia que permite compreender o modo como pessoas pensam, sentem e reagem em diferentes situações, considerando cinco dimensões de personalidade: abertura à experiência, consciosidade, extroversão, agradabilidade e neuroticismo.
  • Quais são as limitações do método, tais quais apresentadas no artigo?
    • Responda aqui: embora o artigo traga um estudo realizado em ampla escala e que procura identificar padrões nos traços de personalidades dos participantes relacionados às propriedades da música, a pesquisa parece não considerar fatores da indústria cultural musical dos diferentes continentes analisados, que são igualmente determinantes na formação de preferências musicais dos indivíduos. Por exemplo, muitas de nossas preferências e gostos são moldados de acordo com o que nos é disponibilizado pelos veículos de comunicação. Ademais, embora o estudo tenha incluído indivíduos de diversos continentes, a investigação adota um viés fortemente eurocêntrico e ocidental. A escala para análise de preferência musical elaborada pelos autores (chamada MUSIC) também é limitadora tanto no sentido de não abranger subgêneros musicais quanto generalizar estilos que apresentam diferentes especificidades musicais (ex: pop e hip-hop encontram-se classificados na mesma categoria "Contemporânea"). Outro ponto limitador do estudo refere-se à coletada de dados. No questionário utilizado para os participantes atribuírem pontuações de preferência (de 1 a 7) a diferentes gêneros musicais (ex: rock, pop, jazz, contemporâneo), os indivíduos não tiveram acesso a nenhum exemplo de áudio dos estilos musicais considerados. Ou seja, isso pode ter dificultado o procedimento de identificação de padrões, uma vez que um mesmo gênero musical pode ser interpretado de forma diferente para pessoas em diferentes países (ex: o gênero "rock" pode ser interpretado de maneiras diferentes entre pessoas de países distintos).
  • Qual o resultado realizado?
    • Responda aqui: os principais resultados encontrados referem-se à identificação de traços de personalidade relacionados a preferências musicais. Por exemplo, pessoas com maior tendência à abertura de novas experiências, de acordo com as dimensões de personalidade da metodologia Big Five, tendem a gostar mais de músicas maduras (ex: soft rock), sofisticadas (ex: jazz, erudito) e intensas (ex: heavy metal, sinfônicas). Pessoas com maior conscisiosidade, cujos traços aproximam-se de indivíduos que preferem manter a ordem e tendem a rejeitar mudanças, apresentaram preferência por músicas mais despretensiosas (ex: country) e menos intensas. Indivíduos extrovertidos tendem a preferir músicas contemporâneas, ou seja, gêneros de outras culturas que geralmente não são acolhidas pelo mainstream (indústria musical primordialmente estadunidense e inglesa). Portanto, as correlações identificadas no estudo também indicam baixa relação entre preferência musical e personalidade, o que permite deduzir que as pessoas não são expostas a diferentes tipos de música, mas somente àquelas que são disponibilizadas massivamente pelos veículos midiáticos/fonográficos de uma determinada sociedade
  • Qual o impacto deste resultado?
    • Responda aqui: o estudo apresenta indícios de que a universalidade do padrão de escolha por gêneros musicais não ocorre a partir do individuo ao ambiente, mas sim de modo oposto. Ou seja, a sociedade, os veículos midiáticos e a indústria musical tende a moldar as preferências musicais das pessoas, tratando-se assim de um fenômeno mais cultural do que biológico. O artigo também infere indiretamente que as escolhas musicais das pessoas estão enraizadas a aspectos históricos ligados à dominação política, econômica, social e cultural dos países desenvolvidos sobre várias nações do mundo (ex: Imperialismo), cujas práticas expansionistas até hoje refletem na formação cultural dos países dominados, como é o caso das preferências musicais.

Produção jornalística editar

Para esta etapa, você precisará ler e descrever cada uma das notícias de comunicação científica selecionadas. Responda às questões abaixo.

  • Por que no título (ou abre, no caso de um produto audiovisual) é destacada esta informação?
    • Responda aqui para a comunicação 1: Além do título no referido podcast chamar a atenção da audiência ao trazer um fato curioso e pouco usual relacionado a uma famosa banda de rock, ele também procura repetir os títulos de outras matérias que trouxeram este mesmo estudo em destaque, porém as coloca em cheque ao empregar um questionamento.
    • Responda aqui para a comunicação 2: no título utilizado na notícia do site "Tenho Mais Discos Que Amigos" é evidente a tentativa do autor em chamar a atenção de leitores ao associar uma característica comportamental à fama da referida banda norte-americana, embora o título utilizado não reflita o conteúdo proposto no artigo original.
  • Em que medida o método da pesquisa é descrito?
    • Responda aqui para a comunicação 1: no podcast o apresentador além de mencionar a forma como o estudo foi conduzido, a necessidade do número grande de participantes e os instrumentos utilizados, também traz um panorama acerca do histórico dos pesquisadores, o que ajuda a contextualizar e compreender alguns vieses do estudo em questão em relação ao método considerado.
    • Responda aqui para a comunicação 2: a matéria apenas menciona uma estimativa da quantidade de participantes e número de países, mas não aprofunda nos procedimentos de coleta de dados e nem em seus instrumentos para tal processo.
  • Qual a função das entrevistas, se ocorreram?
    • Responda aqui para a comunicação 1: não há condução de entrevistas.
    • Responda aqui para a comunicação 2: não há condução de entrevistas.
  • Em que medida alguns resultados são destacados e outros, não?
    • Responda aqui para a comunicação 1: o podcast em questão, embora não se aprofunde nos resultados alcançados no artigo científico por conta de sua limitação de tempo, se propõe em apresentar os principais resultados da forma como são divulgados na pesquisa original.
    • Responda aqui para a comunicação 2: o ocultamento dos resultados originais ou distorção destes costuma ser uma prática que alguns veículos jornalísticos tende a utilizar como estratégia para despertar a atenção do grande público. Tal procedimento foi claramente adotado pela matéria no website brasileiro.
  • Em que medida a notícia oferece um contexto suficiente para a compreensão da produção científica?
    • Responda aqui para a comunicação 1: o apresentador, além de trazer um breve panorama acerca do local em que a pesquisa foi conduzida (University of Cambridge), ele também cita alguns dos trabalhos anteriores dos autores, o que contribui para compreender melhor as escolhas metodológicas adotadas pelos pesquisadores e os vieses e limitações do estudo.
    • Responda aqui para a comunicação 2: embora o autor cite o nome do pesquisador do estudo, ele se limita a falar parcialmente dos resultados encontrados (pessoas com traços de personalidade semelhantes tendem a gostar dos mesmos gêneros musicais), mas não aprofunda em questões culturais e nem leva em consideração o local de fala dos pesquisadores, o que dificulta a compreensão global do referido trabalho.

Análise editar

Para esta etapa, você precisará fazer um texto de até 2.000 caracteres comparando as estratégias de tradução intersemiótica realizadas pelas duas notícias. O que queremos saber finalmente é em que medida conseguiram comunicar adequadamente o resultado e o processo da ciência. Você pode também indicar exemplos positivos e negativos da prática de comunicação realizada.

Ambas as comunicação analisadas se propõem em divulgar os resultados trazidos no artigo produzidos pelos autores da University of Cambridge, sendo que o primeiro (Podcast brasileiro "Naruhodo") se utilizou do áudio enquanto que o segundo (Website brasileiro "Tenho Mais Discos Que Amigos") se apropriou de textos e exemplos em vídeo para tal procedimento. Ademais, o formato em áudio do podcast Naruhodo permitiu que músicas fossem facilmente ouvidas para exemplificar gêneros tratados no artigo científico.

Ademais, é importante ressaltar que a matéria publicada no site brasileiro se apropria erroneamente de uma matéria do site Loud Wire, cujo título é "Conscientious People Unlikely to Enjoy Rage Against the Machine, Study Says" (https://loudwire.com/rage-against-the-machine-conscientious-people-unlikely-enjoy-musical-preferences-study/). O autor do site brasileiro claramente traduziu a palavra "Conscientious" (relativo à *consciosidade*, referente ao traço de personalidade de pessoas cuidadosas, obedientes ou diligentes) diretamente para "Consciente", o que gerou distorção aos resultados propostos pela pesquisa. A matéria publicada no Loud Wire, por sua vez, também se apropriou de uma notícia da referida pesquisa publicada no site inglês Study Finds com o título "Musical preferences unite personalities worldwide, study reveals" (https://studyfinds.org/musical-preferences-unite-world/), cujo conteúdo faz direta referência ao artigo original realizado pela University of Cambridge e publicado no site da instituição (https://www.cam.ac.uk/stories/musical-preferences-unite-personalities-worldwide). Tanto no artigo original quanto na matéria publicada no site Study Finds não há menção direta relacionada ao grupo Rage Against The Machine. Este caso traz um claro exemplo de como veículos jornalísticos podem promover a distorção deliberada de resultados científicos unicamente com um intuito mercadológico, podendo assim gerar desinformação em massa e promoção de notícias falsas.

Referências

NARUHODO #344 – Pessoas mais conscientes gostam menos de Rage Against the Machine? Disponível em: <https://www.b9.com.br/shows/naruhodo/naruhodo-344-pessoas-mais-conscientes-gostam-menos-de-rage-against-the-machine/>. Acesso em: 10 jan. 2023.

GREENBERG, D. M. et al. Universals and variations in musical preferences: A study of preferential reactions to Western music in 53 countries. Journal of Personality and Social Psychology, v. 122, n. 2, p. 286–309, fev. 2022.

TEIXEIRA, R. Estudo mostra que pessoas mais conscientes têm menos tendência a gostar de Rage Against the Machine. Disponível em: <https://www.tenhomaisdiscosqueamigos.com/2022/07/06/estudo-consciencia-rage-against-the-machine/>. Acesso em: 10 jan. 2023.