LECCA-ProjetoExtensão2020


Título do Projeto: Laboratórios Escolares de Comunicação e Ciência Aberta - LECCAs

Autor: Bráulio de Britto Neves

Resumo: Escolas e universidades em todo o mundo se encontram numa encruzilhada, diante da rápida ampliação da relevância de mídias massivas e distribuídas nos processos de socialização, capacitação profissional e formação cultural e política das populações. Ao mesmo tempo, a fragmentação da experiência pública, trazida com sua translação para ambientes de interação pós-massivos coloca em cheque a hegemonia do pensamento científico moderno na formação de opinião, tomadas de decisão insititucionais e práticas culturais. O presente projeto busca estabelecer práticas de relação dialógica entre comunicação e educação, através da criação de uma rede de ambientes compartilhados de pesquisa, buscando a reversão no fluxo no processo de produção de conhecimento, com a horizontalização das relações entre estudantes e professores, escolas e universidades. A proposta de criação de laboratórios escolares de pesquisa e comunicação foca na produção de conhecimento original pelos estudantes e professores da rede básica, assim como na sua promoção à condição de protagonistas no estabelecimento das agendas de pesquisa pública. Além da confluência entre práticas de educação midiática, comunicação comunitária, ciência aberta, cidadã e participativa, já presentes na versão inicial do projeto, a ela se acrescentam a busca por soluções de educação não-presencial, impostas pelo distanciamento social – único meio eficaz de combate à pandemia do Covid-19.

Projeto desenvolvido como atividade prática das disciplinas lecionadas pelo professor Bráulio B. Neves, pertinentes ao Projeto de Ensino Estruturante em Comunicação Estratégica - “Comunicação estratégica como prática social: dinâmicas colaborativas” (Departamento de Comunicação Social da UFMG):

  • Artefatos de Mobilização Coletiva - Crítica e Desenvolvimento
  • Métodos de Aprendizagem de Expressões Mediáticas (Educomunicação)
  • Comunicação Comunitária

Esta é a reapresentação do projeto de extensão universitária, anteriormente encaminhado ao Departamento de Comunicação Social em outubro de 2018. Nesta versão, busca-se a sua adaptação para práticas educacionais não-presenciais, e visa-se o público formado pelos participantes no Seminário Intersindical Desafios Educacionais em Tempos de Pandemia (SIDETP), realizado por uma coalizão de sindicatos e associações estudantis, entre 10 e 15 de agosto de 2020. Como mencionado na versão anterior, este projeto busca a instituição de um programa permanente de ensino e extensão, a ser desenvolvido através de convênios da UFMG com as redes municipal e estadual de ensino (níveis Fundamental II e Médio). Seu propósito final é tornar as atividades de pesquisa científica e artística práticas populares de larga escala, ao criar uma de rede laboratórios comunitário-escolares de ciência aberta e comunicação comunitária nas redes públicas do ensino básico (sem exclusão de possíveis parcerias com organizações do ensino privado).

Do apagão do ensino público ao Seminário Intersindical

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É mister relatar as vicissitudes que determinaram a modificação das ações do projeto original, em função da longa paralisação e adaptação improvisada de toda a docência pública para o ensino remoto emergencial. As atividades de ensino nas unidades da rede municipal e estadual de ensino, que haviam sido inicialmente incluídas como ambientes institucionais piloto para a ação de extensão, inexistiram, devido à adoção de medidas de distanciamento social. Além desse dado objetivo, é necessário considerar as condições de cansaço, desânimo e insatisfação dos docentes dessas redes, em especial da rede estadual, em relação à gestão estadual atual, que logo antes da suspensão das atividades presenciais, havia colocado os profissionais da educação na iminência de paralisação. Na rede municipal, os professores igualmente estavam paralisados por um movimento grevista, no momento da suspensão das aulas (entre 10 e 18 de março de 2020).

Dada a suspensão das atividades de ensino presencial, foram realizados contatos com os professores originalmente incluídos como interlocutores do projeto, assim como aos diretores das escolas. Apesar de demonstrarem boa vontade nesses contatos, relataram completo desânimo em relação às perspectivas de trabalho durante a pandemia, principalmente diante da sobrecarga de trabalho imposta pelo ensino remoto e pelo cuidados redobrados no ambiente doméstico dos professores. Outro motivo relatado para a postergação das atividades previstas neste projeto foi a priorização, por parte dos professores, no engajamento na luta pelas garantias previdenciárias e de carreira, diante do que eles consideravam inaceitável nas propostas de reforma da constituição do Estado de Minas Gerais, pelo executivo estadual.

Diante da perspectiva de indefinição do funcionamento das referidas instituições de ensino, e dos relatos das experiências por colegas das redes particulares de ensino (que precipitadamente puseram o corpo docente para lecionar através de plataformas online), julguei que meu esforço como extensionista, seria melhor aproveitado na criação de um ambiente, ainda que episódico, para a confluência entre os questionamentos e as perspectivas de ação do conjunto das comunidades escolares e universitárias: discentes, famílias, docentes e demais profissionais da educação.

Através dos contatos com os professores das escolas inicialmente incluidas no projeto, além conversas com professores de minhas relações pessoais e conhecidos de contatos políticos anteriores, emergiram, inicialmente, os seguintes temas:

  • garantias de liberdade de cátedra, dos direitos autorais dos professores e de condições de trabalho dignas;
  • Acesso universal à internet (ou a outros meios de educação não presencial, como rádio e tv) dos discentes e docentes, com distribuição de equipamentos para estudantes e professores economicamente vulneráveis;
  • defesas contra a desintermediação precarizante (“uberização”) das instituições educacionais
  • investimento na aculturação digital e audiovisual dos professores das redes e das universidades, para o desenvolvimento de recursos e processos educacionais não presenciais
  • Custeio dos gastos e danos advindos do trabalho remoto (financeiros, sociais, de saúde)
  • Acesso a serviços de saúde mental para as famílias, comunidades escolares e universitárias (i.e. estudantes, professores, funcionários técnicos e administrativos, trabalhadores tercerizados, suas famílias e vizinhanças)
  • Programação de percursos formativos para os familiares que acompanham os estudos de crianças e adolescentes.
  • Construção de redes de apoio mútuo para prevenção de violência doméstica
  • criação de ambientes físicos epidemiologicamente seguros para estudantes e professores cujos ambientes domésticos são inadequados para estudo e trabalho
  • planejamento participativo e execução dialógica de um processo de re-aculturação do corpo docente e dos trabalhadores da educação para uso de ferramentas de comunicação e informação para a educação não-presencial;
  • uso de ferramentas livres e garantias de segurança de dados das comunidades escolares e universitárias, soberania pública dos dados;
  • remuneração e carga horária justas e legais, inclusive para tutores e monitores;
  • participação nas definições de políticas de desenvolvimento de ferramentas e ambientes.

Diante desse conjunto de desafios, percebemos como uma ação de busca coletiva de soluções: a criação de laboratórios com as comunidades escolares e universitárias, já que estes favoreceriam a pesquisa e inovação metodológica, com a produção sustentada de material didático e paradidático para estudantes, professores e famílias de estudantes. Depois de nove meses de suspensão de atividades educacionais presenciais, é seguro dizer que as respostas concretas, dadas pelas instituições brasileiras de educação puderam no máximo mitigar a maior parte desses desafios. Diante do que, como se verá adiante, propomos nessa segunda versão do projeto a incorporação deles como focos prioritários do trabalho dos laboratórios escolares e nas disciplinas acadêmicas a eles vinculadas.

A partir da aprovação de uma proposta feita na Assembléia Geral da APUBH, contactamos (este proponente e os colegas professores Sebastião Pádua e Maria Rosario Barbatto, ambos da então diretoria sindical) e os sindicatos de professores mais imediatamente acessíveis: Sinpro-MG, dos professores do ensino privado; Sind-UTE, dos docentes da rede pública estadual; Sind-REDE, dos da municipal) e associações estudantis (DCE-UFMG). A proposta era criar um processo em que pudéssemos consolidar os relatos dos danos sofridos eou iminentes, identificar os consensos e dissensos nos diagnósticos e perspectivas de ação. Ao longo desse primeiro ciclo de diagnóstico, passaram a participar dessa coalizão outras entidades representativas: ADUnimontes, ADUEMG, ADUFLA, ADUFOP, SINDCEFET, e a Associação dos Pós-Graduandos. Formou-se uma coalizão em torno da proposta, surgida nas deliberações intersindicais, de realizar um evento em que as comunidades escolares e universitárias tivessem acesso aos pareceres de especialistas, assim como pudessem interagir diretamente uns com os outros e com os especialistas.

A partir da percepção intuitiva do conjunto de desafios e demandas coletivas, foram estabelecidos cinco campos temáticos ou “dimensões”, para que o acesso à informação e os debates pudessem ser feitos de maneira focada e ágil: (1) jurídico-legal; (2) pedagógico-educacional; (3) psicológica, médica e sanitária; (4) tecnopolítica; e (5) sindical, intersindical e política.

Cada uma dessas dimensões seria explorada em dias diferentes, e todas tiveram a participação de representantes das organizações mobilizadas. Buscou-se paridade de gênero nas mesas. A necessidade de presteza para realizar o SIDETP se explica pela percepção generalizada da urgência em formular propostas práticas para a educação na situação de distanciamento que viessem dos públicos diretamente concernidos – estudantes e trabalhadores da educação. Essa urgência foi dada não apenas pela própria pandemia, mas em grande medida pela descomunal pressão feita pelos administradores governamentais, gestores privados e corporações transnacionais da telemática, para impor a aceitação precipitada e acrítica de pacotes de soluções fechadas, das quais trabalhadores e estudantes não tiveram qualquer participação.

Cogitou-se realizar uma pesquisa quali-quantitativa para acompanhar e fornecer insumos para as reflexões, mas além das limitações de recursos e de agilidade das organizações, tomamos conhecimento de outra pesquisa, de caráter nacional porém quantitativa e limitada aos professores do ensino público básico, as pesquisas “Trabalho Docente em Tempos de Pandemia na Educação Básica Pública” e “Trabalho Docente em Tempos de Pandemia na Educação Básica Privada”, realizadas por um convênio entre o Grupo de Estudos sobre Política Educacional e Trabalho Docente da Universidade Federal de Minas Gerais (GESTRADO), e pela CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação).1 Embora fosse desejável realizar semelhante empreitada para o ensino superior, essa possibilidade foi considerada excessivamente demorada, diante da urgência da realização das atividades de informação e mobilização coletiva do spúblicos representados pelos sindicatos de docentes e associações discentes.

Coletivamente, as organizações concordaram em um desenho de evento de vários dias de duração, com sessões iniciadas com comunicações de especialistas, seguidas de salas de conversa para esclarecimento, especificação e debates com os mesmos. Em cada dia, quatro subtemas foram definidos para cada sala, de modo a otimizar o uso do tempo. As organizações parceiras fizeram uma seleção dos pesquisadores, militantes e representantes cada organização que a coalizão considerou qualificados, politicamente engajados em suas causas específicas e que tivessem interesse e disponibilidade.

Deste modo, espero que a ausência das atividades propostas no projeto original possa ter sido compensada – dado o caráter extraordinário dos eventos deste ano letivo – pela produção de insumos mais consistentes para as atividades futuras dos laboratórios escolares.

Propósitos

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1 - Produção e compartilhamento continuados de “conhecimentos comuns” a partir de base local (comunidades escolares e universitárias) para ampliação da capacidade de ação de organizações cívicas junto a múltiplas instâncias da esfera pública, tais como:

  • públicos pré-estruturados por mídias massivas e distribuídas;
  • redes públicas de ensino e instâncias definidoras das políticas de ensino e fomento à cultura
  • Espaços públicos urbanos;
  • Sistemas parlamentares;
  • Administrações públicas;
  • Organizações cívicas e sociais;
  • Mercados (desenvolvimento de arranjos produtivos locais)
  • Empresas e corporações (realização de contrapartidas sociais efetivamente redistributivas);
  • Ministério público;
  • Sistema judiciário.

2 - Criação de ambientes de experimentação em poéticas mediáticas, de aprendizagem expressiva em mídias e de mobilização coletiva, promovendo hábitos de compartilhamento e propiciando inovações metodológicas, para públicos híbridos (universitários, comunitários e escolares). Especificamente, o projeto busca instaurar, integrar e tornar politica e economicamente eficazes os laços entre

  • Acadêmicos (docentes, discentes e funcionários técnicos e administrativos da UFMG),
  • professores, estudantes e demais trabalhadores de ensino das redes públicas (especialmente do Ensino Fundamental II e Ensino Médio).
  • membros das comunidades escolares - familiares, vizinhança, agentes cívicos e empresariais locais

3 – Desenvolver interfaces institucionais para o acesso recíproco da sociedade civil metropolitana à produção de conhecimento acadêmico da UFMG; e de orientação dessa produção de conhecimento, a partir de demandas identificadas através práticas de auto-diagnóstico de necessidades, pelas comunidades escolares.

4 – Propiciar aos participantes acesso à experiência prática de investigação, como estratégia didática de democratização da ciência. O ensino da teoria é expandido para a experiência de teorização, a partir da reconstrução de percursos de investigação a partir de dados locais originais. O acesso público amplo (extra-comunitário-escolar) ao saber científico e a accountability deste programa é garantido pela conexão dos experimentos de produção de conhecimentos nas escolas com práticas de comunicação comunitária estratégica.

5 – Realizar pesquisas e desenvolver metodologias de aprendizagem dos temas dos programas escolares através de práticas de reconstrução do processo de construção das teorias (previstas nos programas de ensino), de modo convergente com as atividades de pesquisa e formação dos docentes das redes estadual e municipal, e da universidade: propõe-se uma inversão da direção do fluxo de produção de conhecimento, criando-se ambientes comunitário-escolares e ações de catálise da produção de investigações, sobre de temas de interesse comum e desafios identificados colaborativamente.

6 – Desenvolver métodos de auto-mobilização coletiva, apoiados na não-exteriorização do lugar do mobilizador de públicos, na integração horizontal de agentes acadêmicos (universitários) ao cotidiano das redes públicas de ensino e na busca por autonomia organizacional dos públicos mobilizados.

Tais propósitos, acima, já estipulados na versão anterior do projeto, visarão, nesta segunda versão, atender a demandas das condições educacionais em tempos de pandemia que foram especificadas durante o SIDETP:

7 – Acolher e integrar organicamente todos participantes (palestrantes, representantes sindicais e e discentes, e público inscrito para participar das mesas) do Seminário Intersindical Desafios Educacionais, usando ferramentas de comunicação distribuída (grupos de mensagens, wikis, aplicativos de deliberação coletiva2) para dar contintuidade à produção colaborativa de ferramentas de promoção de aprendizagem, autodesenvolvimento comunitário, pesquisa aberta cidadã e comunicação estratégica para grupos sociais pouco ou não institucionalizados.

8 – Priorizar dar consequência às deliberações do SIDETP, através do desenvolvimento de práticas educacionais, comunicativas e de extensão universitária capazes de dar respostas aos desafios educacionais na situação de distanciamento social, em confluência com os consensos, e em busca de evidências capazes de elucidar os dissensos, emersos nos debates.

Estratégia e métodos

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Os conceitos estratégicos fundamentais dos LECCAs são a reversão do fluxo de produção de conhecimento com a horizontalização das relações nas práticas de ensino, aprendizagem, pesquisa e difusão de conhecimento.

Concretamente isso, se traduz nas seguintes mudanças de praxes:

  • as escolas deixam de ser o ponto de chegada de conhecimentos científicos e passam a ser o ponto de partida, de modo a afastar a prática científica e artística de mitificações usuais (da ciência como acervo de verdades, e não de hipóteses em desenvolvimento; e das poéticas como produto de talento e estilos individuais);
  • as comunidades escolares passam a programar a pesquisa científica e poética, tornando-se também o destinatário coletivo primário da produção dos laboratórios;
  • os praticantes, participantes dos laboratórios atuam de modo responsivo com suas comunidades, minorando o poder de atração da sua formação individualista (para inserção no mercado de trabalho imaterial e em carreiras artísticas, que o afastam de seus vínculos comunitários);
  • as universidades passam a receber de modo mais direto os inputs da sociedade civil quanto às prioridades de pesquisa e ensino, enquanto também passam a integrar de modo não autoritário a ação de pesquisadores cidadãos a seus esforços de investigação.

Tais mudanças são arrimadas em um conjuntos de conceitos de ação estratégica comunicativo-educativas:

  1. Reinterpretar as metodologias de mobilização social como poéticas de mobilização coletiva: Uso da prática experimental de criação de públicos como matéria poética. Uso de práticas lúdicas de improvisação com séries de problemas, paralelamente à invenção de problemas de improvisação pelos participantes.
  2. Reconceber as práticas de planejamento de comunicação integrada a partir da perspectiva da translação de uma sociedade de vigilância para uma sociedade de controle, no qual os contrastes políticos se deslocam das definição de conteúdos para o das situações e das relações, que conduzem à enfase na ação sobre o desenho de protocolos e a interpretação de affordances dos ambientes de interação. O termo proposto é o do enxameamento: adoção de estratégia de distribuição da agência, através do desenho de protocolos de ação de pesquisa e de sua difusão pública por iniciativas locais interdependentes e interconectadas como rede distribuída.
  3. Como já explorado em artigos do proponente3, a emergência de textualidades não lineares abre oportunidades singulares para a produção colaborativa e política prefigurativa de instauração de contrapúblicos. A cibertexutalização participativa traduz uma apropriação das textualidades não-lineares – ciberaudiovisuais interativas, imersivas, georreferenciadas – e de práticas de intervenção coletiva do espaço público urbano como recursos retóricos especialmente apropriados para a inovação democrática, a produção colaborativa de conhecimento, a prefiguração de públicos e sua auto-mobilização.
  4. Derivada desse horizonte de instauração de novas agências pela catálise de novas textualidades a participação na produção de geonarrativas aponta para outro projeto (em desenvolvimento), o da plataforma GeoNarrar RMBH - arranjo inter-institucional de pesquisa, desenvolvimento, produção, difusão e controle democrático de argumentos narrativos geo-referenciado, compreendendo o desenvolvimento de tecnologias libres e abertas de comunicação e informação, e também uma organização social de interesse pública que integre diversas funções de suporte ao acesso público à produção de narrativas georrerferenciadas.4
  5. Finalmente, nas circunstâncias de depressão econômica que acompanham e provavelmente sucederão à situação de pandemia, dirigirmo-nos à questão da geração de trabalho e renda é imprescindível para a sustentabilidade institucional e econômica do projeto e de outras ações dele derivadas. O projeto assume sua preferência por estratégias de autodesenvolvimento comunitário através de arranjos de economia solidária, principalmente em suas formas distribuídas: moedas sociais e bancos de tempo. Serão propostas e catalisadas, nos laboratórios, ações pertinentes à estratégia de autodesenvolvimento econômico: criação de ações e organizações cooperativas para garantir segurança habitacional, alimentar, hídrica e energética às comunidades locais; uso de autonomercados (bancos de tempo) e corrências complementares (“horas solidárias”) para o planejamento e investimento comunitário em ações solidárias, e também para a catálise das trocas de serviços e produtos, aproveitando a grande disponibilidade de tempo de trabalho especializado devido ao desemprego muito acentuado que presenciamos. A proposta de médio prazo do projeto é integrar a produção de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias locais à geração e circulação valores sociais dinamizadores de um campo de relações econômicas solidárias. Especificamente, nossa hipótese é que o uso de artefatos não monetários de troca econômica como meios circulantes nas atividades de comunidades escolares com seus laboratórios propiciem a emergência de uma rede expansiva e inclusiva de serviços de ensino, lazer, saúde e cultura.

Cronograma e percurso

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(Em sublinhado, as etapas cuja execução é prevista para novembro e dezembro de 2020, e janeiro e fevereiro de 2021 – ou seja, o segundo semestre letivo da UFMG)5

1 Encontros de diagnóstico participativo - programação de atividades de aprendizagem de uso de ferramentas de comunicação mediática, retóricas mediáticas, conhecimentos de história e crítica das mídias, fundamentos de comunicação estratégica (semanas 1-3);

2 Pilotos de atividades de aprendizagem com participantes da comunidade escolar e propositores acadêmicos (semanas 3-9);

3 Desenvolvimento de projetos com participação de comunidades escolares e consultoria de acadêmicos (semanas 9-12);

4 - Seleção de pesquisadores iniciantes (graduandos) voluntários para a composição de um corpo de consultoria, assessoria e suporte técnico a projetos de poéticas de pesquisa e mobilização coletiva a serem propostos pelas comunidades escolares (semanas12-15);


5 – Uso experimental de arranjos de economia solidária e corrências complementares (horas solidárias) na viabilização das práticas de produção mediática, pesquisa aberta e atividades de aprendizagem para-escolares (meses 6-10);

6 - Elaboração de projetos e captação de parcerias para custeio das atividades, com, entre outras: organizações sociais, classistas, mandatos parlamentares, empreendimentos particulares locais, convênios com poderes públicos estaduais e municipais (meses 6-10);


7 - Formação de uma rede de laboratórios de base local, com as redes públicas de educação, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (ano 1-2);

8 - Construção de programas de educação mediática para ciência aberta em nível de extensão universitária (anos 2-4);

9 - Construção de programas de educação mediática para ciência aberta em nível pós-graduação (anos 4-6)

10 - Consolidação do programa como política permanente da universidade e das redes escolares de ensino (a partir do ano 5).


1Os resultados dessas pesquisas podem ser encontrados no site do GESTRADO-FAE/UFMG (<https://gestrado.net.br/pesquisas/trabalho-docente-em-tempos-de-pandemia-cnte-contee-2020/>) e no da CNTE (<https://www.cnte.org.br/index.php/menu/comunicacao/posts/noticias/73316-gestrado-ufmg-e-cnte-publicam-relatorio-tecnico-sobre-as-condicoes-de-trabalho-dos-professores-das-escolas-publicas-durante-a-pandemia>). (Acessos em 23nov2020)

2Até o presente momento, os seguintes gabaritos de deliberação participativa foram destacados como pertinentes ao trabalho: ConsulProject <https://consulproject.org/en/>, Loomio <https://www.loomio.org/>, e Decidim <https://decidim.org/>. (acessos em 23nov2020. Agradecemos aos membros dos grupos de telegram Tropixel Café pelas indicações)

3Neves, B B (2013) Questões para o documentário-interface; (2014) Documentários com Ginga.

4São necessários: serviços de comunicação integrada e de planejamento de comunicação estratégica cívico-comunitária; elaboração de um corpo de protocolos e contratos e gabaritos de contratos de termos de uso, políticas de privacidade, direitos autorais e de imagem; colegiado de autogestão democrático sobre agregações de dados georreferenciados.

5Estão mantidas as durações das ações, tendo sido ajustados as suas datas.