Latim/Índice/Lição 2/Apêndice
Acusativo de direção
editarNa correção dos exercícios, você viu que muitas vezes não é necessário utilizar a preposição AD para indicar a direção de um movimento. O caso acusativo, sozinho, já indica direção, sentido, como havíamos apontado na lição 1. Por isso, uma frase como "Eo Romam" está completa, perfeita, com significado.
Faz parte do estilo dos escritores latinos tentarem ser concisos; assim, quando a preposição é dispensável, eles não a usam. Isso ocasionalmente gera dúvidas na tradução; por exemplo, quando o acusativo de direção é um neutro, ou quando há na frase palavras cujo nominativo e acusativo são iguais. Guie-se pelo princípio de que o sujeito e o verbo sempre vão concordar em número. E também pela lógica; apesar do ditado, não é fácil que a montanha vá a Maomé.
Declinação
editarJá vimos que o acusativo singular tem como marca a terminação M. Com as palavras que vimos nesta lição, podemos descobrir duas outras marcas de casos.
Certas palavras, especificamente as da primeira e da segunda declinações, têm como marca de plural um I. Ele é visível na segunda: Romanus, Romani. Na primeira, em tempos clássicos, esta terminação, que formava um hiato com a vogal temática A, se fundiu com ela num ditongo. Em outras palavras: antes se diria puellai, algo como "pu-e-lá-i". No tempo de Cícero e César, já se mudara para puellae, com uma pronúncia como "pu-é-lai". Em textos mais antigos, ou em autores que deliberadamente escrevem como os antigos, ainda se encontram as formas com AI.
A outra marca, visível em todas as declinações, é a do acusativo plural. É o S, colocado junto à vogal temática - que na segunda era, originalmente, O - ou ao E que serve de vogal de ligação na terceira. Em tempos arcaicos, e com alguma frequência nos clássicos, esse acusativo plural de terceira aparece como IS (Romanos militis em vez de Romanos milites).
Na tabela a seguir, as formas que vimos nesta lição vêm em negrito.
Caso e número | Primeira | Segunda | Terceira | Quarta | Quinta |
Nominativo singular | littera | liber | urbs | ||
plural | litterae | libri | urbes | ||
Acusativo singular | litteram | librum | urbem | ||
plural | litteras | libros | urbem |
Como littera se declinam incola, puella e Roma:
- incola, incolae, incolam, incolas
- puella, puellae, puellam, puellas
- Roma, acusativo Romam (sem plural, claro)
Além disto, todos os adjetivos vistos até aqui seguem a primeira declinação se acompanham um nome feminino. Nesta classe de adjetivos, a primeira, se incluem todos os terminados em -VS (como Romanus) e alguns dos que terminam em -ER (como taeter).
Em outros casos, bellum, templum e a palavra sempre plural arma se declinarão como liber. Inclusive, haverá muitos substantivos da segunda terminados em -VS (por exemplo, agnus, cordeiro). Por ora, lembre-se das formas dos neutros, no nominativo e no acusativo, idênticos:
- singular bellum, plural bella
- singular templum, plural templa
- (sem singular). Plural: arma
Nomes que crescem
editarComo urbs vimos, nesta lição, apenas um nome:
- ciuis, ciues, ciuem, ciues.
Na lição 1, víramos homo, hominem e miles, militem. Estes dois nomes apresentam uma característica muito comum em palavras da terceira: eles "crescem" do nominativo singular para outros casos. O "crescimento" inclui uma consoante, que varia conforme cada palavra, e uma vogal entre a raiz da palavra e esta consoante. A vogal pode mudar (homo -> hominem) ou não (Cicero -> Ciceronem). Um guia para deduzir a forma mais longa dos demais casos a partir da mais curta do nominativo é tentar encontrar uma palavra derivada em português:
- Nós, da espécie Homo sapiens, somos seres hominídeos. A partir de "homin-" em "hominídeos", deduzimos que o acusativo de homo é hominem.
- O que é relacionado a um soldado é algo militar, certo? De "militar" tiramos "milit-", raiz do acusativo militem.
Conjugação
editarAlgo essencial na conjugação latina, que vale repetir, são as terminações de cada pessoa:
Pessoa | Terminação |
1a. sing. | Ō (M) |
2a. sing. | S |
3a. sing. | T |
1a. pl. | MVS |
2a. pl. | TIS |
3a. pl. | NT |
Como disséramos, a primeira conjugação tem como vogal temática ā, a segunda ē, a terceira ĕ e a quarta, que ainda não vimos, ī. Entretanto, nesta lição aparecem verbos da chamada "conjugação mista". Em tempos como o presente do indicativo, verbos como capio e facio se conjugam como os da quarta (por exemplo, audio). Vejamos como fica nossa tabela:
Primeira | Segunda | Terceira | Mista (3a./4a.) | Quarta | |
1a. sing. | amo | uideo | lego | capio | |
2a. sing | amas | uides | legis | capis | |
3a. sing | amat | uidet | legit | capit | |
1a. pl. | amamus | uidemus | legimus | capimus | |
2a. pl. | amatis | uidetis | legitis | capitis | |
3a. pl. | amant | uident | legunt | capiunt |
Ademais, temos nesta lição mais um verbo irregular, eo. Eis sua conjugação no presente do indicativo:
ser | ir | |
1a. sing. | sum | EO |
2a. sing. | es | IS |
3a. sing. | est | IT |
1a. pl. | sumus | IMVS |
2a. pl. | estis | ITIS |
3a. pl. | sunt | EVNT |
Nomes romanos
editarOs nomes dos antigos romanos podiam se encaixar em qualquer uma das declinações que vimos até aqui.
- Sulla, Sullam; Catilina, Catilinam -> Nomes de homem; normalmente, tratava-se de sobrenomes. Os prenomes da primeira eram femininos: Iulia, Claudia.
- Caius, Caium; Lucius, Lucium -> Aqui, são prenomes, da segunda. Normalmente têm a terminação, ainda não vista para substantivos da segunda, -VS. Porém, podem ter a terminação -ER, como no caso do comediógrafo Publius Terentius Afer, conhecido como Terêncio.
- Cato, Catonem; Cicero, Ciceronem -> Alguns nomes latinos seguem a terceira. Além disso, é aqui que se incluem a maior parte dos nomes estrangeiros latinizados. Por exemplo, ao falar da divindade egípcia Ísis, os romanos a chamaram Isis, Isidem.
Raríssimos nomes, estrangeiros, um deles importantíssimo na história da língua latina após o período clássico, seguem a quarta declinação (que ainda será vista).
A partir do acusativo
editarComo você viu, o acusativo plural tem formas como poetas, libros, mulieres. São parecidas com o português, não? Isso porque as palavras portuguesas, especialmente no plural, provêm do acusativo latino. Isto acontece com boa parte das línguas românicas (isto é, derivadas do latim). Já o italiano e o romeno, assim como muitos dialetos relacionados com essas línguas, formam o plural a partir do nominativo: una romana, due romane.