Jornalismo Básico 2: reportagens especiais/Reportagens do JOB/Laura Pacheco e Thais May

Laura Pacheco e Thais May - 2º JOB

Biblioteca Mário de Andrade: Ao alcance das Mãos?

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Para um passante ocasional, a calçada da Biblioteca Mário de Andrade, localizada no centro histórico de São Paulo, pode parecer um tanto estranha. Nela, pequenas placas de porcelanato pretas e brancas formam desenhos desconhecidos e de curvas estranhas que seguem a frente da biblioteca. O mosaico, inaugurado em 2015, é a palavra “biblioteca” escrita em mais de 12 idiomas diferentes. Ainda na calçada, o que se ouve são os automóveis, os passáros e as máquinas das obras, mas dando três passos em direção ao interior da Mário de Andrade, tudo o que há é silêncio. As grandes janelas presentes na fachada do prédio permitem a entrada da luz do sol, que reflete no chão e nas paredes brancas, e cria uma ótima iluminação para leitura.

Ao andar pela biblioteca, algumas máquinas chamam a atenção. Suas telas grandes e luminosas indicam que é possível fazer por ali o empréstimo, 24 horas por dia, dos 53 mil livros da Coleção Circulante, que vão desde zoologia, passando por direito e esportes, até chegar em literatura italiana. Outra tecnologia presente são os computadores. Por meio deles é possível procurar os mais de 150 mil títulos catalogados nas coleções Circulante, de Arte, de Obras Raras e Especiais e na Mapoteca. Mas o que muitos não sabem é que quase metade dos mais de 205 mil livros, periódicos, cartas, mapas e outros diversos materiais da Coleção Geral não está no sistema da biblioteca. Como se fosse uma volta ao passado, uma funcionária precisa procurá-los nas centenas de gavetas que contém as fichas dos mesmos. E então, ela vai buscá-los em um dos 22 andares repletos de livros extremamente bem organizados, cujo a população não tem acesso.

O público que frequenta o local também não foge da lógica tecnológica. Praticamente todos que ali estão tem um tablet, um celular ou um laptop em mãos. É uma tarefa dificil encontrar uma tomada disponível na sala de estudos externa. Já nas mesas ao lado das grandes estantes, é possível ver pessoas com um livro aberto e o celular mostrando uma vídeo-aula no Youtube.

A biblioteca possui um acervo ricamente diversificado. Sua sessão infantil possui de gibis do super-homem a livros de Graciliano Ramos. Em uma mesma estante é possível encontrar títulos sobre folclore, etiqueta e literatura de cordel. Em meio a classificação metódica do acervo, é curioso achar quatro prateleiras sob os seguintes nomes: “Russinhos”, com autores como Tolstoi, Dostoievski e Nabokov ; “The Best of Fossa” e “O Livro É Melhor”, com obras que foram adaptadas para o cinema.

Hoje, a Mário de Andrade conta com 80 funcionários, mas no passado já teve mais de 200. São poucos os que permanecem por lá durante muito tempo, como é o caso de Valmíria, que trabalha lá há 28 anos. Antes de conseguir esse emprego, jamais tinha entrado na biblioteca, que é a segunda maior do Brasil. Prestes a se aposentar, ela fala que ficou absolutamente encantada pelo ambiente, e repete que lá é “um lugar muito bom de se trabalhar”, pois é muito tranquilo. Em um espaço onde o conhecimento é estimulado, é surpreendente descobrir que muitos funcionários não leem os materiais ali disponiveis. Na verdade, eles são, de certo modo, desencorajados, já que não podem ler nenhum dos livros durante o trabalho, e se estiverem com um que for requisitado, precisam retorná-lo. Isso mostra que mesmo um dos lugares mais brilhantes de São Paulo tem um lado um tanto obscuro.