Organizações em rede

1. A Sociedade em Rede

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Na década de 1960, o sociólogo Stanley Milgram realizou um estudo para identificar o nível de separação e, por conseguinte, a conectividade entre as pessoas. O experimento era relativamente simples, escolheu um número aleatório de pessoas e solicitou que elas destinassem a correspondência a uma pessoa alvo. Caso não conhecessem o alvo, deveriam enviar para algum conhecido com as mesmas orientações. Como resultado, descobriu que as cartas chegaram ao alvo passando por um número pequeno de outras pessoas. O que indicava que vivemos num “mundo pequeno”. (GAMEIRO, 2011) Dez anos mais tarde, da década de 1970, outra experiência, realizada pelo também sociólogo Mark Granovetter, apontou que as redes sociais eram mantidas basicamente pelos seus laços fracos, ou seja, aqueles que possuíam laços fortes já compartilhavam de um ambiente comum e as pessoas com laços fracos possuíam o papel fundamental de conectar grupos de ambientes distantes. Sem esse tipo de relações fracas alguns agrupamentos viveriam totalmente isolados do restante da rede social. (GAMEIRO, 2011)
Após a consolidação da internet, no início dos anos 2000, com base nos dois experimentos anteriores, Ducan Watts identificou que as redes sociais apresentam padrões de grande conexão entre os indivíduos. Sendo que, em larga escala, as conexões entre os indivíduos eram compostas por poucos níveis de separação. Isso o levou a escrever o livro denominado Six Degrees, onde apresentou a conhecida hipótese que todos (ou a grande maioria) no planeta estão conectados com uma separação de no máximo seis graus, ou seja, qualquer pessoa no planeta pode conectar outra passando por até seis intermediários. (GAMEIRO, 2011)
Em complemento, verificamos ainda que a sociedade contemporânea é caracterizada pelos fluxos constantes de trocas quase que instantâneas de informação, capital e comunicação. Tais fluxos adquirem padrões próprios que se interrelacionam e atuam com base em regras próprias. Isso resulta numa sociedade globalizada permeada por uma universalidade que carrega consigo as singularidades positivas e negativas de cada localidade. Embora haja prós e contras, é inegável que as últimas décadas foram tempos de mudança e, ainda, que o desenvolvimento das tecnologias, sobretudo a informática e a telemática, fizeram parte da propulsão destas alterações.
“A tecnologia é a sociedade e uma sociedade não pode ser entendida ou representada sem suas ferramentas tecnológicas.” (CASTELLS, 1999) É com essa frase que o sociólogo catalão Manuel Castells justificou a adoção do seu ponto de vista metodológico na obra “A Sociedade em Rede”, o primeiro volume da tríade “A Era da Informação”. O autor parte da revolução da tecnologia da informação para analisar a complexidade da nova economia, da sociedade e da cultura que está em formação.
Nesse sentido, segundo o autor, a sociedade não é capaz de prever o curso das transformações tecnológicas, pois muitos fatores - como criatividade, empreendedorismo -, interferem no processo das descobertas científicas, inovações tecnológicas e aplicações sociais dessas descobertas e inovações. Tudo isso ocorre de tal forma que o resultado final depende de um complexo padrão interativo que torna infundado o problema do determinismo tecnológico. (CASTELLS, 1999)
Em outras palavras, cultura e tecnologia caminham juntas num ciclo contínuo de influências mútuas, sem que um fator possa determinar o outro. Os experimentos das décadas de 1960 e 1970 apenas anteciparam algumas características que foram potencializadas com a disseminação da internet. Com efeito, é possível identificar o final do século XX como um dos raros momentos da história onde houve uma instabilidade na cultura da sociedade que ocorreu simultaneamente com muitos eventos importantes e que provocam mudanças rápidas nas formas das relações materiais. É bem possível que todas essas mudanças que ocorreram ajudem a estabelecer uma próxima era estável. Mais quais mudanças foram essas?
Basicamente, foram mudanças da cultura material impulsionadas pela tecnologia da informação, em especial, pelo desenvolvimento da microengenharia, da eletrônica e do processamento da informação, em consonância com o desenvolvimento de uma estrutura de telecomunicações e Internet. (CASTELLS, 1999) Todas essas mudanças culminaram, portanto, no que é denominada de Sociedade em Rede e que detalharemos nas páginas seguintes. Imediatamente na sequência, analisaremos como ocorreu o processo histórico de mudanças na tecnologia e na sociedade, observando quais são as suas características e as suas principais lógicas.

2. A revolução da tecnologia da informação

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Há inúmeros profetas e ideólogos que inflam a importância do discurso sobre a revolução da tecnologia da informação, porém isso não pode acarretar num descrédito da importância deste evento e que subestime a sua importância fundamental. Dada a descontinuidade e as mudanças nas bases econômicas, sociais e culturais, é possível tratar o fato como algo tão ou mais importante que a revolução industrial. (CASTELLS, 1999)
O ciclo de revoluções na tecnologia começou com a imprensa de Gutenberg, proporcionando enormes avanços à civilização fizeram extrapolar o valor tangível do produto gerado pela invenção. A segunda revolução da tecnologia ocorre no mesmo tempo da segunda revolução industrial, no final do século XIX, foi marcada pelo uso das novas fontes de energia (eletricidade e petróleo) e pelas mudanças que tal tecnologia impôs aos homens. Segundo Silveira (2001), "o domínio e a disseminação da nova tecnologia redesenharam de tal forma o mundo que atualmente não saberíamos como viver em agrupamentos urbanos sem a energia elétrica. A crise energética brasileira, anunciada desde 1999 e assumida em 2001, deixa claro quão profundamente uma tecnologia se alastra e penetra no cotidiano. Com racionamento econômico não podemos ampliar os empreendimentos econômicos em um modo de produção capitalista cuja acumulação se agigantou a partir da aplicação dos frutos da Segunda Revolução Tecnológica.” (SILVEIRA, 2001, p.7)
Já a terceira revolução tecnológica - também chamada de revolução da tecnologia da informação – se caracteriza pelo uso da informática e da telemática, em destaque os computadores, como ferramentas essenciais para atividades econômicas, comunicacionais e para as relações de poder. Silveira, ao ponderar essa cadeia evolutiva, indica que “o importante é perceber que a apropriação e os usos dessas tecnologias, bem como o controle dos fluxos de informação, são novas questões políticas e sociais.” (SILVEIRA, 2001, p.10)
Porém, o que caracteriza essa revolução tecnológica não é o fato de haver muito conhecimento ou informação, mas principalmente como esses conhecimentos e informações são aplicados para a geração de novos conhecimentos e novas informações num ciclo de realimentação virtuoso entre a inovação e o seu uso. (CASTELLS, 1999)
A história da revolução da tecnologia da informação já foi amplamente divulgada e, dada sua característica de realimentação positiva e permanência atual, pode ser alterada a qualquer momento. Entretanto, é possível estabelecermos alguns pontos relevantes para esse percurso recente da sociedade.
Apesar dos antecedentes, pode-se indicar que foi logo após a segunda guerra mundial que se deram as principais descobertas de maior relevância: o primeiro computador programável e o transistor. Todavia, estas novas tecnologias da informação só foram se difundir na década de 1970, especificamente, no Vale do Silício, com a invenção do circuito integrado, seguido do microprocessador e, em conjunto, o desenvolvimento dos computadores. Já a capacidade de criação de redes só foi possível com o incremento das telecomunicações que, por sua vez, dependeram da evolução dos dispositivos eletrônicos e do aumento da capacidade de computação. Isso demonstra a relação de sinergia que ocorre na revolução das tecnologias da informação. (CASTELLS, 1999)
Com efeito, no meio desse ciclo de sinérgico, surge em 1969 a ARPANET, a primeira rede de computadores que ligava a Universidade da Califórnia de Los Angeles, ao Stanford Reserarch Institute, à Universidade da Califórnia em Santa Bárbara e à Universidade de Utah. Iniciou-se como ferramenta de colaboração científica ligada ao departamento de defesa dos Estados Unidos e aos poucos passou a ser também utilizada entre os cientistas como meio para comunicação. Na década de 1980 a ARPANET foi dividida entre MILNET para fins exclusivamente militares e a ARPA-INTERNET para a comunicação acadêmica, esta segunda que mais tarde se tornou privada e passou a ser chamada somente de INTERNET, nome que persiste atualmente. (CASTELLS, 1999)
A história contada nos parágrafos anteriores possui ainda outras peculiaridades. A primeira delas se remete ao papel dos investimentos militares norte-americanos para o financiamento e o desenvolvimento de grande parcela das inovações, pois de certa forma, havia um mercado garantido que fomentava as novidades e o aperfeiçoamento destas. Em especial, do final da segunda guerra até a década de 1970, em decorrência da guerra fria. “Portanto, foi o Estado, e não o empreendedor de garagens, que iniciou a revolução da tecnologia da informação tanto nos Estados Unidos como em todo o mundo.” (CASTELLS, 1999, p. 107)
Outro elemento que não pode deixar de ser considerado é a conjunção de fatores positivos que ocorreu no Vale do Silício. Estavam no mesmo local: novos conhecimentos tecnológicos, engenheiros e cientistas talentosos, fundos de investimento estatais e num segundo momento uma rede de empresas de capital de risco para o investimento nas inovações. (CASTELLS, 1999)
Paralelamente, não pode ser deixada de lado a imagem da utilização das tecnologias da informação como forma de aumentar a velocidade de circulação do capital, por meio do sistema financeiro globalizado. Um sistema financeiro global que não possui barreiras de espaço ou de tempo, tal como ocorre atualmente, necessitava de uma complexa rede de comunicação e processamento que abrangesse todo o globo terrestre.
Portanto, o desenvolvimento das inovações em tecnologia fomentava outros meios de inovação onde as descobertas e as aplicações interagiam, sendo testadas num processo contínuo de tentativa e erro, a revolução ocorria na prática. (CASTELLS, 1999)
Tais fatores nos levam ao produto de possivelmente maior relevância entre todas as transformações nesse período de revolução tecnológica, a emergência de uma nova economia.

3. A nova economia

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Toda a conjuntura apresentada anteriormente propiciou o surgimento de uma nova economia que se apresenta com três características fundamentais: é informacional, é global e é em rede.
Para Castells (1999), a atual economia é informacional porque a produtividade e a competitividade de indivíduos ou das organizações dependem principalmente de sua capacidade de gerar, processar e aplicar de forma eficiente a informação baseada em conhecimentos.
Porém, para alavancar todo o potencial desse informacionalismo seria necessário, por parte das empresas, um grande dispêndio com tecnologia que inviabilizaria a competitividade e o fomento das relações de trocas no intuito de fazer o produto chegarem ao consumidor, mas o surpreendente é que de fato isso não ocorre. Esse processo acarretaria uma série de incertezas oriundas do aumento dos custos de transações, mas também possibilitaria a sua difusão e compartilhamento por toda a economia.
Ainda de acordo com o autor, “o aumento dos custos de transações devido ao acréscimo de complexidade tecnológica não resulta na “internalização” das transações na empresa, mas na “externalização” das transações e em custos compartilhados por toda a rede.” (CASTELLS, 1999, p. 253). Isso implica em dizer que, de certa maneira, os custos necessários para a utilização de todo o potencial informacional da nova economia não incidiram sobre as empresas, mas de maneira geral foram incorporados pelo mercado consumidor. Um exemplo claro disso é o internet banking onde o cliente assume parte dos custos necessários para realizar as transações bancárias, o que antes incidia nas empresas.
Com efeito, aponta Castells, “ou a explicação tradicional de organização empresarial com base na teoria neoclássica de mercado está errada, ou então as informações disponíveis sobre o surgimento das redes de empresas contêm falhas.” (CASTELLS, 1999, p. 253) O autor se diz propenso a concordar com a segunda hipótese. Arbage e Balestrin (2007) também apontam que “as evidências empíricas apontam que uma das importantes motivações para a formação de redes interorganizacionais é o fato de terem demonstrado uma eficiente forma de governança das relações econômicas”.
É a partir dos estudos de Coase (1937) que foram definidos o “mercado” e a “hierarquia” (ou a “firma/empresa”) como os dois modos alternativos de organização das atividades econômicas. Ou seja, “caso existam algumas firmas dentro do mercado produzindo o mesmo bem, a priori, a mais eficiente forma de organizar a produção consistirá de uma firma especializada na produção de cada um dos componentes do produto.” (ARBAGE e BALESTRIN, 2007) Todavia, caso haja confiança entre os atores, é possível haver a redução de custos de transação, tornando assim as redes economicamente viáveis. Ainda, a nova economia é global em face das principais atividades produtivas, o consumo e a circulação de mercadorias, bem como de seus componentes se apresentarem organizados de maneira global de forma direta ou por meio de uma rede de conexões interorganizacionais. (CASTELLS, 1999) Novamente, é possível verificar que a economia informacional se relaciona diretamente com a existência de um aparato global de comunicação cujos custos não incidiram sobre as “hierarquias”.
Finalmente, a nova economia é em rede porque a produtividade é gerada e a concorrência é feita em uma rede global de interações entre redes empresariais. Sob essa ótica, Olivares (2002) aponta que se por um lado o desenho da estrutura tradicional compreende uma única organização, na estrutura em rede esse desenho se amplia para a análise de mais de uma organização atuando com relações simultâneas, interativas e interdependentes. Essas relações podem ser constituídas por fornecedores, clientes e até mesmo concorrentes.
Castells (1999), também infere que em função da nova economia deverá haver (houve) um surto no crescimento da produtividade da produção de bens informacionais, impulsionados pela capacidade de usar as novas tecnologias para alimentar a produção do conhecimento. Sendo que tal processo ocorre com a utilização da tecnologia para a geração do valor e, sobretudo, com a crença no valor que é gerado, uma vez que se trata de bens imateriais. Com efeito, torna-se necessário garantir e difundir novas formas de administração que saibam lidar com a economia informacional, global e, especialmente, em rede. Isso nos leva às características das organizações em rede, as propriedades específicas desse arranjo, bem como as diferenciações existentes dentro das próprias redes de empresas.

4. Organizações em rede

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As organizações em rede são aquelas que melhor podem usufruir dos benefícios da nova economia. Entretanto, o modelo organizacional em rede não segue um padrão único, surge de diversas formas em variados contextos, porém possuem algumas características comuns, tais como:

  • Divisão na forma de organizar a produção e o mercado;
  • Mudanças interagindo com a tecnologia digital;
  • Necessidade de lidar com as incertezas e as mudanças na economia e no mercado;
  • Aumento da flexibilidade;
  • Redefinição nos processos de trabalho e nas práticas de emprego;
  • Produção enxuta, redução na mão de obra e automação;
  • Necessidade de administrar o conhecimento e o processamento da informação.

Tais características implicam na presença de um grau elevado de compatibilidade e complementaridade técnica entre os membros e as atividades por eles realizadas, na existência de um grau elevado de integração de atividades produtivas ao nível da rede e na geração de ganhos em face do compartilhamento do desenvolvimento tecnológico oriundos da complementaridade dos conhecimentos existentes entre as empresas da rede. Além disso, consolida-se uma estrutura de compartilhamento que implicará em custos para aquele membro que desejar se desligar da rede. (BRITTO, 2002)
Portanto, a existência de uma rede de empresas será necessária para a obtenção de resultados que não são atingíveis de maneira isolada, mas, ao longo da construção da rede, ocorre uma soma de recursos, divisão de riscos e investimentos que tende a tornar a rede um elemento simbiótico. Quando um membro deixa a rede ela tende a se reorganizar para encontrar um elemento que substitua os papéis exercidos. Por outro lado, há um custo de saída que deve ser levado em consideração. Em outras palavras, “A rede é um arranjo organizacional formado por um grupo de atores, que se articulam – ou são articulados por uma autoridade - com a finalidade de realizar objetivos complexos, e inalcançáveis de forma isolada. A rede é caracterizada pela condição de autonomia das organizações e pelas relações de interdependência que estabelecem entre si. É um espaço no qual se produz uma visão compartilhada da realidade, se articulam diferentes tipos de recursos e se conduzem ações de forma cooperada. O poder é fragmentado e o conflito é inexorável, por isso se necessita de uma coordenação orientada ao fortalecimento dos vínculos de confiança e ao impedimento da dominação.” (MIGUELETTO, 2001)
A divisão na forma de organizar a produção e o mercado pode ser entendida como uma das características mais relevantes das grandes redes de empresas, pois também se relaciona com as práticas produtivas, de emprego e de políticas e barreiras globais para a circulação da força de trabalho. A Figura 1 – “A empresa em rede” ilustra a abordagem da empresa em rede de abrangência global.
Figura 1 – A empresa em rede

Fonte: Adaptado de ANTUNES e BRAGA, 2009. A figura apresentada poderia ser nomeada com o modelo das grandes fabricantes de material esportivo ou de produtos eletrônicos. No primeiro momento, há a participação do mercado financeiro estimulando os investimentos e a disseminação da rede. É em virtude da taxa de retorno exigida do capital que a rede se formará globalmente. As empresas inovadoras que fazem parte da rede, em geral, costumam existir onde há capital intelectual suficiente para gerar essas inovações, baseiam-se em análises de informações e tendências do mercado consumidor. Não é por acaso que os grandes designers de marcas de veículos ou moda são italianos ou franceses por exemplo. O próximo nível das redes são as empresas de montagens, em virtude dos custos de transação, elas costumam se localizar próximas aos mercados consumidores. São responsáveis pela montagem e distribuição dos bens e serviços. Oferecem alguma forma mais moderna de remuneração e flexibilização das tarefas, porém possuem pouca participação nas definições da rede como um todo. Finalmente, há as empresas de produção em massa que costumam se dividir em dois modelos principais as empresas de fabricação em massa e as de teleserviço. Ambos modelos ainda atuam sobre a forma do taylorismo com métricas baseadas em produtividade e quase nenhuma participação nas decisões tomadas pela rede. (ANTUNES e BRAGA, 2009) Essa configuração interfere diretamente no processo de organização do trabalho, uma vez que embora as redes sejam globais o mercado de trabalho continua sendo regional para a grande maioria da população. Com efeito, Castells (1999) irá descrever três tipos de trabalhadores da sociedade em rede: a) trabalhadores ativos na rede são aqueles que conseguem estabelecer conexões por iniciativa própria e podem navegar pelas empresas em rede; b) trabalhadores passivos na rede representam aqueles que estão online (partilham das informações), mas não possuem poder para decidir as condições e os motivos das atividades que vão desempenhar na rede; c) trabalhadores desconectados ficam presos nas suas tarefas definidas por instruções unilaterais. Entretanto, a utilização do conceito de rede como mecanismo analítico para a compreensão dos fenômenos interorganizacionais pode ocorrer também em níveis menos amplos que o modelo apresentado anteriormente e desenvolvido por Antunes e Braga (2009). Nesse caso, conforme aponta Britto (2002), é preciso identificar os elementos morfológicos das redes: os nós que são os agentes da rede e representam as empresas ou as atividades desempenhadas; as posições que representam a estrutura de divisão de trabalho entre os agentes da rede; as ligações que indicam os relacionamentos entre as empresas; e os fluxos de bens e de informações entre as empresas. O próximo passo, segundo o autor, é observar as três dimensões relevantes de operação e as propriedades internas das redes, são elas: Cooperação técnico-produtiva: esta dimensão relaciona-se com a noção de divisão do trabalho e de especialização de funções produtivas entre os diversos agentes na rede, é a análise da associação dos sistemas produtivos com características específicas e dos ganhos proporcionados em eficiência para os participantes da rede. Tal dimensão deverá oferecer eficiência operacional e flexibilidade produtiva aos agentes. (BRITTO, 2002) Cooperação interorganizacional: este aspecto analisa a estrutura de poder e ao modelo de hierarquia que existe dentro da rede, é possível observar o fortalecimento da eficácia do processo de coordenação interorganizacional e a realização de ajustes na estrutura da rede em função de estímulos ambientais, resultado de uma maior flexibilidade. (BRITTO, 2002) Cooperação tecnológica: este último aspecto refere-se aos possíveis ganhos com a criação e circulação de conhecimentos e informações na rede que possibilite um processo de inovação e aprendizado coletivo. De acordo com Britto (2002), “esse aprendizado coletivo é resultante de um intercâmbio de informações e competências, envolvendo a incorporação do aprendizado individual de cada agente a um pool social de conhecimentos gerados a partir da rede.” A Figura 2 – “Elementos e dimensões das redes” apresenta os principais fatores que devem ser considerados na análise de uma rede de organizações. Figura 2 – Elementos e dimensões das redes

Fonte: BRITTO, 2002. Olivares (2002) adotou uma tipologia de redes um pouco mais genérica, que é constituída de dois tipos de rede: rede horizontal e rede vertical.
A rede horizontal é um tipo de rede formada por organizações que concorrem na oferta de determinado bem, serviço ou operação. Deste modo, geram um modelo horizontal de rede que para obter ganhos em áreas comuns, por exemplo, pesquisa, distribuição, marketing setorial.
Já a rede vertical se caracteriza por ser formada por organizações que oferecem bens, serviços ou operações complementares.
Fornecedores e distribuidores se organizam para atender um determinado agente da rede (tal como ocorre com as montadoras de veículos). Tal agente possui poder de coordenação sobre a rede vertical, que se baseia, portanto, na ideia de que as especializações de cada membro da rede gerarão ganhos de valor para toda a rede.

		Portanto, observa-se que as redes horizontais irão se relacionar com cooperação entre agentes de uma mesma área de atuação e as redes verticais se basearão em hierarquias de cadeia. 	

Paralelamente, torna-se relevante observar o grau de formalização entre as relações existentes nas redes, sendo que pode variar de uma simples informalidade até a existência de contratos jurídicos. (BALESTRIN e VARGAS, 2004) Nesse contexto, Balestrin e Vargas (2004) irão apontar que as redes poderão se organizar dentro de dois eixos conforme ilustra a Figura 3 – “Mapa de orientação conceitual”.
Figura 3 – Mapa de orientação conceitual

Fonte: Marcon e Moinet (2000) apud Balestrin e Vargas (2004). Os autores observam que dificilmente existirão duas redes estruturadas da mesma maneira. Portanto, o esforço de abranger todas as formas de organizações em rede não deixa de ser uma simplificação forçada da ampla diversidade de tipologias de redes. O importante é utilizar-se das tipificações para apreender as características mais relevantes e iniciar uma análise mais elaborada conforme for possível identificar os limites da rede de empresas, pois, no extremo, todas fazem parte de uma mesma rede global.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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