Da progressão inferencial normal: prolegômenos para uma metodologia semiótica para análise reconstrutiva nas ciências sociais editar

Bráulio de Britto Neves
Juliana Rocha Franco
Priscila Monteiro Borges


               “não bloqueie o caminho da investigação” (CP 1.135, 1899).

Apresentação:

Este trabalho busca propor um modelo semiótico de interpretação de processos inferenciais característicos das ciências -- pelo menos das sociais e humanas. e das práticas de inovação e desenvolvimento tecnológico -- pelo menos das envolvendo artefatos retóricos (i.e. aproximadamente, “tecnologias do intelecto” cf. Goody 1977)1. Tal busca, tem o objetivo de compreender a dinâmica que ocorre por trás dos raciocínios que levam à descoberta, à inovação, à criação, à invenção e produzem criações artísticas e literárias, representações políticas, contatos transculturais, surgimento e consolidação de arranjos de artefatos e outras produções criativas humanas. O estudo apoia-se nas investigações semiótico pragmaticistas de Charles S. Peirce que se desdobram da Gramática Especulativa em direção à lógica crítica (que distingue e interrelaciona classes de inferências) até a retórica especulativa, distinguindo-se, por isso das abordagens exclusivamente gramaticais, que buscam identificar fenômenos a tipos de signos. Considerando a própria lógica do pensamento cientírico, um modelo que considera a lógica e a retórica especulativa não poderia ignorar a gramática especulativa, o primeiro ramo da semiótica. Infelizmente, em parte pela história da disponibilização dos textos, por muito tempo, os estudos peirceanos tenderam a compreender a retórica especulativa a partir das minuciosas discussões sobre os tipos de funções sígnicas (gramática especulativa) e de suas possíveis combinações (lógica). Nossa abordagem pretende experimentar compreender essas a partir da retórica especulativa, ou seja, das mudanças de conduta prática; ou ainda: compreender os signos a partir das semioses em que emergem interpretantes últimos. No entanto, para alcançar questões da lógica e da retórica que envolve uma série de interpretantes inter-relacionados, utilizamos os conceitos desenvolvidos tardiamente na semiótica de Peirce, conhecidos por formarem seu sistema de 66 classes de signos.

Este trabalho busca delinear, para ulterior desenvolvimento, um modelo semiótico de reinterpretação das classes de signos da gramática especulativa como classes de inferências. Perspectivadas em termos da sua uberdade retórica, como tipos de pretensões de saber, poderiam ser utilizadas para investigar as recorrências nos percursos inferenciais de toda variedade de atividade intelectual. Por motivos práticos -- os pertencimentos dos autores a determinadas “ciências especiais”: estudos sobre cinema, comunicação estratégica, design e midiologia -- buscaremos mapear um possível “percurso normal” (KUHN,1970) que possa ser utilizado como mapa metodológico de raciocínios cotidianos e práticas de pesquisa pelo menos em ciências sociais, humanas e artes -- campos de atividade docente e profissional dos autores. Não se descarta a possibilidade de que a aplicabilidade do modelo possa abranger processos de investigação em geral em outros campos, uma vez que o objetivo do “modelo normal de progressão inferencial “ é esclarecer os processos necessários das semiogêneses, em geral.

Kuhn no seu famoso livro sobre a estrutura das revoluções científicas, prevê um paradigma científico como uma espécie de programa de pesquisa do tipo que ele descreve como 'ciência normal'. A normalidade dessa ciência consiste no fato de que a maioria dos cientistas está envolvida em pesquisas baseadas em paradigmas preexistentes, ao longo de suas carreiras. Alguns, poucos, em circunstâncias extraordinárias, são conduzidos até a percepção do limite externo dos fenômenos elucidáveis pelos paradigmas preexistentes, por darem-se conta de que há fenômenos correlatos que não são, e que deveriam ser por alguma outra matriz explicativa. Exemplos históricos de rompimento e proposição de paradigmas inovadores, citados por Kuhn, podem ser encontrados por exemplo no trabalho de Galileu, Newton, Lavoisier, Darwin. De acordo com Kuhn, com cada um desses paradigmas emerge uma comunidade científica correspondente, que desenvolve problematizações derivadas específicas, baseadas em princípios, teorias, conceitos fundacionais. Consoante com estes, são elaboradas metodologias próprias, algoritmos que orientam toda a investigação e toda a prática científica. O conjunto de todos esses princípios e percursos de pensamento típicos constituem o que Kuhn chama "paradigma" (KUHN, 1970, p. 218)2. A ciência normal seria então a ciência praticada em períodos nos quais um paradigma é quase unanimemente aceito, em que qualquer tipo de contestação é considerada, pela comunidade científica, marginal e idiossincrática. O paradigma indica a uma comunidade de investigadores o que é pertinente, relevante e exequível investigar e como levar a cabo essa investigação. Em certa medida, o paradigma atua de modo infra-reflexivo, submetendo a investigação experimental a princípios apriorísticos, em que os percursos de hipotetização são inercialmente repetidos por tenacidade (tradição) e autoridade (poder instituído). Em um grau, em geral crescente (já que a economia política da investigação não se separa da economia política das sociedades), o sentido do trabalho realizado pelos investigadores é dado de antemão, e os os aspectos considerados relevantes da investigação científica são antecipadamente demarcados. Assim, compreende-se (principalmente se retomarmos a etnografia da ciência de autores como Latour, Law, Akrich, Callon et al.)3 ocorrência de “revoluções científicas”, ou seja, a disseminação de paradigmas disruptivos nas comunidades científicas (ou ainda: o rearranjo das comunidades de investigadores desencadeada por nova concepções, propósitos e métodos) se corporifica como um rompimento economico, político, social e cultural.

Além da oposição entre ciência normal e revolucionária, recebemos também do mainstream da metologia científica um modelo de percurso -- ensinado nas aulas de metologia de pesquisa -- que pressupõe três diferentes momentos da prática de investigação: primeiro, uma contextualização do campo fenomênico e teórico, no qual emerge uma hipótese; segundo, o desenvolvimento, de perguntas e métodos de obtenção de respostas a partir das hipóteses (o que significa, um desdobramento das teorias preexistentes tais como desafiadas pela maneira como transformam em objetos de conhecimento os fenômenos); o terceiro, empírico, envolvendo sondagem, coleta, consolidação e interpretação dos fenômenos tais como reconstruídos teoricamente como objetos de conhecimento. Em síntese, as semiogêneses científicas percorrem um caminho necessário de abdução, dedução, indução. Mas, e depois? Em nossa concepção, desse ponto em diante, haveria duas bifurcações de percurso: uma delas certa, a da vindicação (quase sempre parcial) da hipótese, conduzindo em uma “via” à ampliação do repertório teórico “normal” e em outra, à produção de novas questões científicas “normais”; mas a segunda bifurcação é eventual: há, por um lado, a percepção do esgotamento da teoria normal de onde derivaram-se as hipóteses, e por outro, o esboço (mais uma vez abdutivo) de uma argumentação teórica mais abrangente, com maior poder explicativo eou previsivo, um “paradigma revolucionário”. (Kuhn, 1970; Musgrave, Lakatos, 1979)

À maneira do modelo narrativo de Propp, o mapa que sugerimos construir como objeto de investigação permitiria identificar a multiplicidade de métodos e modelos teóricos como variações de um mesmo percurso, explicando-os por diferenças de ênfase, repetições e/ou elipses de determinadas inferências de uma mesma sequência básica. Essa manobra teria as vantagens de: lançar nova luz à arquitetura epistemológica peirceana, desde as "ciências especiais", a fenomenologia, estética, lógica e retórica; permitir reinterpretar distinções entre ciências humanas e exatas, entre artes e ciências e a suposta na "grande divisão" (entre "civilizados" e "selvagens"). Além disso, acreditamos que a construção da teoria da "progressão inferencial normal" permitiria compreender como as diferenças lógicas as distinções entre os "modelos normativos de democracia" (Habermas). Podemos também esperar a sua correlação necessária com o percurso segundo o qual tipos de representações políticas (Pitkin, Mansbridge) são acionadas na dinâmica mobilizadora da representação política, se concordarmos que ela seja movida por séries de pretensões de representação e suas vindicações (Rehfeld, Saward, Disch, Montanaro). Eventualmente, este modelo seria consistente com uma perspectiva instituinte de história e política (Castoriadis, 1981; 1982), dentre outros campos. É possível também que, ao fornecer a base lógica universal, possamos compreender as homologias entre os contatos transculturais e o surgimento e consolidação de "tecnologias do intelecto" (Goody, 1977; Levy, 1985), os circuitos dos “móveis imutáveis” (Latour, 2015) e as derivas das paisagens de “máquinas do tempo inortodoxas” (Tomas, 2004).

  1. Ponto de partida: os três ramos da semiótica e as classes de signo

Partimos das dez classes de signos, definidas na gramática especulativa de Peirce a partir dos três aspectos observados na relação sígnica, o modo de ser do signo em si, o modo da relação entre signo e objeto e o modo de ser da relação entre signo e interpretante. Tais classes serão consideradas como classes de inferências, reperspectivando a classificação de tipos de funções sígnicas a partir do seu rendimento retórico em semioses empiricamente disponíveis, isto é, pela avaliação de como cada uma delas pode atender às expectativas definidas na Máxima Pragmática: na consolidação de semioses passadas, na interpretação de distinções com semioses co-existentes e na antecipação de semioses futuras. Ou, por uma “análise semiosica reversa”, a partir dos interpretantes últimos, qual é a mediação que cada uma das dez classes pode realizar e por que. Pelo exposto acima, os leitores já devem desconfiar que a discussão de “rendimento retórico” necessita partir da capacidade das diferentes funções signicas para alcançar a maneira como estas capacidades são ativadas nas condições economico-políticas concretas da investigação.

O estudo partirá da Lógica Crítica que classifica argumentos e determina sua validade e sua força (EP 2:260 [1903]). A proposta deste trabalho para um modelo de progressão inferencial normal implica em compreender os três tipos de argumentos apresentados por Peirce como inseparáveis e como fundamento do processo semiósico.

A semiose, é aqui apreendida como um processo inferencial que, embora contínuo, é composta por estágios delimitados e logicamente distintos (FRANCO e BORGES 2019; Shank e Cunningham, 1996; Santaella, 2004). Tomá-la como encadeamento de raciocínios distintos é suposto na afirmação de Peirce de que não há cognição que não seja determinada por uma cognição anterior (EP 1:25-27, 1868).

Ao apontar que qualquer cognição é consequente a outras cognições que a determinam, Peirce mostra que há um processo inferencial constituído por associações mentais (EP 1:39, 1868). O processo inferencial normal se desencadeia a partir de processos de pensamento que produzem conjecturas vagas, singulares, particulares e originais que são combinadas, selecionadas e aperfeiçoadas até que se produzam evidências que tornam inevitável uma mudança na conduta coletiva. Peirce denomina os processos abdutivos como “processos de pensamento incapazes de produzir conclusões mais consistentes do que apenas conjecturas” (Prolegomena for an Apology to Pragmatism MS293 (NEM 4:319))

  1. Progressão inferencial e ciência normal: um diálogo:

Explicar pragmaticisticamente o Kuhn

Explicar o modelo de progressão inferencial normal

A aplicabilidade desta mudança de foco no uso do arcabouço conceitual pragmaticista reside no acompanhamento descritivo e normativo de processos de interpretação social. Há uma consistência geral do modelo de progressão inferencial normal com as principais referências de lógica do pensamento científico (Popper, Kuhn, Latour, Piaget, Vygotsky, Habermas), de modo que vislumbra-se a possibilidade de haver tanto um uso descritivo quanto normativo do modelo.

  1. O Percurso da progressão inferencial normal:

O percurso da progressão inferencial necessariamente percorridas pelas dinâmicas de descoberta, inovação, criação, invenção e investigações artísticas e literárias pode ser denominado então, "percurso normal"e se manifestaria concretamente através de variações, permitindo fusões de estágios, repetições e elipses. Inversamente, retrocessos, retenções ou falhas no cumprimento dos estágios lógicos necessários à instalação de crenças e práticas a partir de raciocínios hipotéticos originais explicariam as inconsistências ao percurso normal. Isto é, as falhas eventuais ou sistêmicas de práticas, sejam elas individuais, sejam elas institucionais: distorções em sistemas monetários, de representação política e de tomada de decisões; enviesamento de métodos de educação e pesquisa científica, reprodução cultural, design; até mesmo distinções entre estruturas psíquicas de personalidade. No limite, algumas dessas defasagens sistêmicas poderiam ser interpretadas mesmo como "patologias" inferenciais.

Segundo nossa proposta, esses processos começariam abdutivos, passariam ao teste experiencial por dedução e se estabeleceriam por processos indutivos — cabendo retroações por causa de inconsistências, incongruências eou incomensurabilidades. Para Peirce, autor da "Máxima Pragmática", raciocinar consiste em observar que lá onde certas relações subsistem, certas outras serão encontradas. Raciocinar requer a exibição das relações com as quais raciocinamos sejam exibidas em forma de um ícone (“On the logic of numbers”, 1881, CP 1.363). Esse processo, de natureza hipotética sugere ideias gerais, ou uma teoria explicativa a partir de uma inferência através de um Ícone. Essa inferência arranjará os dados iniciais ou premissas através de um signo diagrama. Em seguida, via Dedução, que possibilita o reconhecimento das relações de idéias gerais por ser uma inferência através de um Símbolo (PEIRCE apud TURRISI, 277). Peirce caracteriza o raciocínio dedutivo como aquele “modo de raciocínio que examina o estado de coisas colocado nas premissas, elabora um diagrama desse estado de coisas, percebe, nas partes desse diagrama, relações não explicitamente mencionadas” (CP 1.66, 1896). A progressão inferencial só prossegue graças a extração de informações desse diagrama de relações: a dedução de consequências testáveis ​​(CP 7.203). Em seguida deve-se operar os raciocínios indutivos, já que a indução é a inferência que não descobre, mas confirma um geral por meio de índices. Como é possível observar, as figuras silogísticas deslocam-se para a construção diagramática do raciocínio que se dá em progresso inferencial, que possui uma tendência auto-corretiva, uma vez que a abdução formula hipóteses, a partir das quais a dedução obtém previsões, cujo grau de confiabilidade é determinada pela indução, de modo que enquanto não se extraírem certezas, um novo ciclo começaria, com abduções acerca dos resíduos de ininteligibilidade deixadas no ciclo inferencial anterior.

  1. Mapa da estrada”: um fluxograma do modelo de progressão inferencial

O modelo de progressão inferencial normal parte da dúvida. Peirce afirma que ""a dúvida é um estado desconfortável e insatisfeito do qual lutamos para nos libertar e passar ao estado de crença; enquanto o último é um estado calmo e satisfatório que não desejamos evitar, ou mudar para uma crença em qualquer outra coisa". No entanto, segundo Peirce, não se pode simplesmente duvidar das coisas. A abordagem que questiona implicitamente tudo é hipócrita para o autor, "deve haver uma dúvida real e viva, e sem tudo isso, a discussão é ociosa". Santaella, em “O método Anti-cartesiano de C. S Peirce”, afirma que de depois de 1900 ( eu chuto que foi nas conferências de 1903) os modos de inferência estavam relacionados com as categorias à luz do grau de certeza de cada um desses modos, na seguinte ordem decrescente: dedução (terceiridade), indução (segundidade) e hipótese (primeiridade). Quando foram concebidos como estágios da investigação, a relação passou a ser: abdução (primeiridade), dedução (segundidade) e indução (terceiridade), visto que se trata aqui não mais do grau de força de cada um dos argumentos lógicos, mas da sua ordem de interdependência no processo. (SANTAELLA,2004, p 95) Dessa forma o caminho possível viria dos seguintes passos:

→ 1 presságio

→ 2 sintoma

→ 3 metáfora / analogia

→ 4 pista

→5 diagnóstico / cenário

→[Diagrama:

6 explicação→10 dedução (de testes empíricos a partir das leis já estabelecidas) → 7 indução quali → enquanto os casos logicamente projetados forem inconsistentes com os fenômenos, → 5’]

→ 8 indução quantitativa

→ [Se houver mais de um caso → refinamento do problema: → [ >= 1’; <= 6’ ] (quanto “menor”, mais “revolucionária” seria a hipotetização)

→ [Se não houver exceção→

→ 9 indução crua→(nova lei, que se acrescenta ao repertório de 10’)]

Regras gerais:

  • Se os fatos não puderem ser constatados o processo recomeça e isso é repetido quantas vezes forem necessárias até que sejam.
  • "É quase impossível conceber que a verdade possa não ser absoluta; e, no entanto, a verdade do homem nunca é absoluta, porque a base do Fato é a hipótese" ( W 1: 7, 1854).
  • Abdução, dedução e indução devem trabalhar juntas.

1

1.1.1: problema vago, observação vaga, hipótese 1 muito vaga (abdução) e conclusão vaga → presságio, augúrio, “chutes”

2

2.1.1: problema concreto, teste do problema de acordo com a hipótese 1 (indução), criação da hipótese 2 (abdução) →

3

2.2.1: problema concreto, teste do problema de acordo com a hipótese 2 (indução), criação da hipótese 3 (abdução).

4

2.2.2: problema concreto, teste do problema de acordo com a hipótese 3 (indução), criação de uma inferência 1 (dedução).

5

3.1.1: problema geral, observação vaga do fenômeno, criação da hipótese 4 (abdução).

6

3.2.1: problema geral, teste do problema de acordo com a hipótese 4 (indução), criação da hipótese 5 (abdução).

10

3.3.3: problema geral, dedução diagramática, argumento 1.

7 [É uma indução quali?]

3.2.2: problema geral, teste do problema de acordo com a hipótese 5 (indução), criação da inferência 2 (dedução).

8 [É uma indução quanti?]

3.3.1: problema geral, dedução diagramática, criação da hipótese 6.

9 [É uma indução crua?]

3.3.2: problema geral, dedução diagramática, inferência 3.

Percepção/observação do fenômeno (apresentação do signo) Verificação/teste (como signo e objeto se relacionam. Teste do signo para ver se ele se conforma à realidade/objeto) Explicação/ conclusão (relação do signo com o interpretante)
1.1.1 problema vago, observação vaga

suposições gerais a partir de casos imaginados ou possíveis

observação vaga/

Percebe-se as relações formais entre hipotese e realidade.

teste sem empiria/busca de similaridades e analogias

hipótese 1 muito vaga (abdução) Conclusão vaga

Explicação com lacunas remáticas.

2.1.1. problema concreto

suposições gerais a partir de casos individuais concretos

observação vaga/ teste sem empiria/busca de similaridades e analogias baseado na hipótese 1. criação da hipótese 2 (abdução).
2.2.1 problema concreto

suposições gerais a partir de casos individuais concretos

teste do problema de acordo com a hipótese 2 (indução)

demonstrativa

criação da hipótese 3 (abdução).
2.2.2 problema concreto

suposições gerais a partir de casos individuais concretos

teste do problema de acordo com a hipótese 3 (indução) criação de uma inferência 1 (dedução).

Descritiva

3.1.1 problema geral observação vaga/ teste sem empiria/busca de similaridades e analogias baseado na inferência 1. criação da hipótese 4 (abdução) (dedução corolarial?)
3.2.1 problema geral teste do problema de acordo com a hipótese 4 (indução)

demonstrativa

criação da hipótese 5 (abdução) ou (dedução corolarial?)
3.2.2 problema geral teste do problema de acordo com a hipótese 5 (indução)

demonstrativa

criação da inferência 2 (dedução).

Descritiva

3.3.1 problema geral, dedução diagramática a partir da inferência 2. criação da hipótese 6 (dedução corolarial?).
3.3.2 problema geral dedução diagramática a partir da hipótese 6. inferência 3

Descritiva

3.3.3 problema geral, dedução diagramática a partir da inferência 3

Percebe-se as relações entre hipotese e realidade por regras de interpretação

argumento 1.

Conhecimento das consequências da hipótese

Dúvida:

Em termos de termos de tricotomias e classes onde colocar o raciocínio ampliativo?

5. Percurso Possíveis e os modos de fixação da crença:

Percurso possível 1 hipotético-dedutiva??

1. O pesquisador é confrontado com um fato surpreendente que perturba seu estado de crença.

2. Em seguida, ele faz uma abdução, ou seja, ele formula uma hipótese que pode explicar esse fato.

3. Em seguida, ele aplica a hipótese por dedução e deduz as conseqüências necessárias, que serão testadas.

4. Por fim, usando um tipo de indução - isto é, uma generalização baseada em um certo número de resultados de testes positivos - ele conclui que os resultados verificam a hipótese até encontrar evidências conflitantes.Teoria / Hipótese (regra) -> fatos (estudo empírico) -> Validação / Invalidação --> Resultado → Todo X é Y

Percursos possíveis que gerariam ciclos inferenciais defeituosos:

A seguir mostraremos alguns ciclos inferenciais defeituosos relacionados a cada uma das quatro formas de fixação das crenças. É importante destacar que haveria outros ciclos inferenciais “não normais”, geradores de “distorções” (ie. sobredeterminação da tenacidade, da autoridade, do apriorismo ou do empirismo)

Percurso possível 2 Empiricismo: Um ciclo “precipitado” (1 → 6 → 1’) Corresponderia a uma semiose “paranoica” ou “especulativa”: nunca se testa a hipótese empiricamente, não se consolidam novas regras gerais

Percurso possível 3 Superapriorismo:

Um ciclo “descabeçado” (6-10-7-8-9 → 6’) corresponderia a uma semiose “perversa” ou “administrativa”: nunca se formula novas hipóteses, não se criam novas regras gerais, apenas se retiram corolários de regras preexistentes

Percurso possível 4

Superautoridade: …? parte de um geral, não considera os indicios. Não é hipotético.

Percurso possível 5 Supertenacidade: …?] (recusa todos o indícios e ventos do real e permanece com a hipotese, que vira um geral por salto inferencial comprometido

  1. Catalisadores cognitivos”: Diagramas, máquinas lógicas, artefatos retóricos e cognição distribuída
  1. A validação da Comunidade científica e as considerações finais

O conhecimento é cumulativo e autocorretivo. Para Peirce, os envolvidos na investigação científica formulam várias observações e conclusões baseadas no estudo e estudo. Quando os cientistas se reúnem com suas descobertas, eles dialogam e chegam à conclusão de que as descobertas, uma vez hipóteses, agora representam uma teoria verificável. No mundo científico, de acordo com Peirce, o princípio de ligação entre observações e teoria é um processo de diálogo formalizado que depende das descobertas da pesquisa para validar as observações de alguém como fatos mutuamente aceitáveis.

Continuidade do trabalho aponta para a necessidade de se detalhar e relacionar melhor os seguintes temas → comunidade científica, semiose, verdade e interpretante final e raciocínio diagramático;

Bibliografia:

CASTORIADIS, C. (1982) A Instituição imaginária da sociedade

DISCH, L. (2011) Toward a Mobilization Conception of Democratic Representation

FRANCO, J. R.; BORGES, P. M. (2019) Diagrammatic relations of probative strength and inferential progression through semiotics. Semiotica, v. 2019, n. 228, p. 77-89, 2019.

HABERMAS, J. (1995) Três modelos normativos de democracia

HULSWIT, Menno. From cause to causation – a peircean perspective.Dordrecht, Boston e Londres: Kluwer Academic Publishers, 2002.

KUHN, Th. S. A estrutura das revoluções científicas. Ed. São Paulo, Perspectiva, 1970.

LATOUR, B. (2000) Ciência em Ação - Seguido engenheiros e cientistas sociedade afora.

MANSBRIDGE, J. (2003) Rethinking Representation

NEVES, B. B (2016) Antes da Comunicação: crueldade, meta-eticidade e artefatos de percepção

MONTANARO, L (2012) The Democratic Legitimacy of Self-Appointed Representatives

PIAGET ????

PITKIN, H. F. (1967) The concept of Representation

PROPP, V. (1983) Morfologia do conto maravilhoso

REHFELD, A. (2006) Towards a General Theory of Political Representation

RODRIGUES, C. T. (2011) The method of scientific discovery in Peirce's phylosophy: Deduction, induction and abduction

SANTAELLA, L. (1996) O Método Anticartesiano de Ch. S. Peirce.

SHANK, G.; CUNNINGHAM, D. J. (1996) Modeling the Six Modes of Peircean Abduction for Educational Purposes

TOMAS, D. (1996) Transcultural Spaces, Transcultural Beings

TURISI ????

VYGOTSKY, L. S. (1991) A formação social da mente.

LAKATOS, Imre; MUSGRAVE, Alan (orgs.). A crítica e o desenvolvimento do conhecimento. São Paulo: Cultrix, 1979

VER:

Nas conferências de Lowell: três modos de indução: a indução rudimentar ou crua, a indução qualitativa e a indução quantitativa.

A indução crua pode ser exemplificada na prática de generalizar sobre a tendência dos eventos futuros a partir da experiência passada. A fraqueza óbvia deste tipo de método está no fato de que se sua conclusão for entendida como indefinida, ela será de pouco uso, enquanto que, se for tomada de modo definido, ela está apta, a qualquer momento, a ser aniquilada por uma simples experiência. (PEIRCE, CP 2.757)

(versões anteriores)

Este trabalho busca propor um modelo semiótico de interpretação de processos inferenciais característicos das ciências sociais e humanas com. Tal busca, tem o objetivo de compreender a dinâmica que ocorre por trás dos raciocínios que levam à descoberta, à inovação, à criação, à invenção e produzem criações artísticas e literárias, representações políticas, contatos transculturais, surgimento e consolidação de "tecnologias do intelecto" e outras produções criativas humanas. O estudo apoia-se nas investigações semiótico pragmaticistas de Charles S. Peirce que se desdobram da Gramática Especulativa em direção à lógica crítica (que distingue e interrelaciona classes de inferências) até a retórica especulativa, distinguindo-se, por isso das abordagens exclusivamente gramaticais, que buscam identificar fenômenos a tipos de signos. Considerando a própria lógica das ciências, um modelo que considera a lógica e a retórica especulativa não poderia ignorar a gramática especulativa, o primeiro ramo da semiótica. No entanto, para alcançar questões da lógica e da retórica que envolve uma série de interpretantes inter-relacionados, utilizamos os conceitos desenvolvidos tardiamente na semiótica de Peirce, conhecidos por formarem seu sistema de 66 classes de signos. A aplicabilidade desta mudança de foco no uso do arcabouço conceitual pragmaticista reside no acompanhamento descritivo e normativo de processos de interpretação social. Há uma consistência geral do modelo de progressão inferencial normal com as principais referências de lógica do pensamento científico (Popper, Kuhn, Latour, Piaget, Vygotsky, Habermas), de modo que vislumbra-se a possibilidade de haver tanto um uso descritivo quanto normativo do modelo. Nesse sentido, o estudo partirá da Lógica Crítica que classifica argumentos e determina sua validade e sua força (EP 2:260 [1903]). A proposta deste trabalho para um modelo inferencial normal implica em compreender os três tipos de argumentos apresentados por Peirce como inseparáveis e como fundamento dos processos de semiose. A semiose aqui apreendida como um processo inferencial (FRANCO e BORGES 2019; Rodrigues XXXX). Esse encadeamento de raciocínios proposto por Peirce se fundamenta nas afirmação de Peirce de que não há cognição que não seja determinada por uma cognição anterior (EP 1:25-27, 1868). Ao apontar as consequências de que qualquer cognição é determinada por outras cognições, Peirce mostra que há um processo inferencial constituído por associações mentais (EP 1:39, 1868). O processo Inferencial normal parte de processos de pensamento que produzem conjecturas. Em uma versão do Prolegomena for an Apology to Pragmatism MS293 (NEM 4:319-320), Peirce menciona “processos de pensamento incapazes de produzir conclusões mais consistentes do que apenas conjecturas”. Esses processos seriam abdutivos. Segundo o autor, raciocinar consiste em observar que lá onde certas relações subsistem, certas outras serão encontradas. Raciocinar requer a exibição das relações com as quais raciocinamos sejam exibidas em forma de um ícone (“On the logic of numbers”, 1881, CP 1.363). Esse processo, de natureza hipotética sugere ideias gerais, ou uma teoria explicativa a partir de uma inferência através de um Ícone. Essa inferência arranjará os dados iniciais ou premissas através de um signo diagrama. Em seguida, via Dedução, que possibilita o reconhecimento das relações de idéias gerais por ser uma inferência através de um Símbolo (PEIRCE apud TURRISI, 277). Peirce caracteriza o raciocínio dedutivo como aquele “modo de raciocínio que examina o estado de coisas colocado nas premissas, elabora um diagrama desse estado de coisas, percebe, nas partes desse diagrama, relações não explicitamente mencionadas” (CP 1.66, 1896). A progressão inferencial segue graças a extração de informações desse diagrama de relações: a dedução de consequências testáveis ​​(CP 7.203). Em seguida deve-se operar o raciocínio indutivo, que é uma uma inferência que não consiste em descobrir, mas em confirmar um geral por meio de índices. Como é possível observar, as figuras silogísticas deslocam-se para a construção diagramática do raciocínio que se dá em progresso inferencial, que possui uma tendência auto-corretiva. uma vez que Abdução formula hipóteses a partir das quais a dedução obtém previsões cuja confiabilidade é determinada pela indução.

1“Artefatos retóricos” ou “máquinas retóricas” seriam aquelas que precipitam no presente resultados de eventos futuros; haveria também “artefatos cibernéticos” que precipitam os de eventos passados; e artefatos energéticos, que ocasionam o desencadeamento de eventos co-presentes. Cf. Neves, 2010

2Num sentido lato, o conceito de paradigma refere-se àquilo que é partilhado por uma comunidade científica, uma forma de fazer ciência, uma matriz disciplinar. Uma comunidade científica caracteriza-se pela prática de uma especialidade científica, por uma formação teórica comum, pela circulação abundante de informação no interior do grupo e pela unanimidade de juízo em assuntos profissionais. Em sentido particular, o paradigma é um exemplar; é um conjunto de soluções de problemas concretos, uma realização científica concreta que fornece os instrumentos conceptuais e instrumentais para o surgimento e para a solução de problemas. O paradigma é, neste sentido, uma "concepção de mundo" que, pressupondo um "modo de ver" e de "praticar", engloba um conjunto de teorias, instrumentos, conceitos e métodos de investigação;

3Latour, Ciência em Ação; A Vida em Laboratório; The de-scription of socio-technical objects...