REVISTAS CLANDESTINAS NA DÉCADA DE 70 E A POPULARIZAÇÃO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO

As revistas clandestinas foram uma das formas de resistências da comunicação em massa para resistir a hegemonia branca da sociedade americana e desenvolver um espaço de identificação e representatividade para a população negra, de diferentes temas e nichos. A primeira aparição de periódico de produção negra foi o Freedom’s Journal, um jornal situado em Nova Iorque fundado em 1827 por John B. Russworm e Samuel E. Cornish, no mesmo ano da abolição da escravatura da cidade. Com o movimento “Black Is Beautiful”, entre 1960 e 1970, produções que valorizassem e disseminassem a estética e beleza negra começaram a ser criadas. As revistas de beleza, comumente associados à futilidade, também eram um ato político nesse caso, porque rompiam com o padrão estético branco.

Além das revistas americanas mais conhecidas, como a Ebony e a Jet, outras também tiveram destaque como Essence, Élan, Black Elegance Presents e Haistyling Trends. O conteúdo abordado consistia em empoderar mulheres negras, publicidades para produtos de cabelo (especialmente afro), música negra, masculinidade negra, discussões sobre relacionamentos interraciais e diferentes graus de militância.  As revistas não tratavam só de beleza, também existiam nichos de celebridades e música, notícias e estilo de vida e até revistas adolescentes. Um de seus principais nomes, respectivamente são: noir., Sepia e Black Teen.  

Conscientemente a chegada dos padrões, políticas e músicas que começaram a percorrer pelo Brasil, foram, de certa maneira, um empréstimo norte-americano. A comparação com os estadunidenses se trata de uma questão pré-existente pela cultura brasileira. Entretanto, a comparação feita neste momento foi interpretada como uma ação extremamente conveniente, pois foi decisivo para implementar uma raça e uma cultura nacional em uma camada que era, e continua sendo, atacada e desvalorizada.  

É importante ressaltar o período histórico do momento; O estado novo de Getúlio Vargas e ditadura pós-64. Organizações como a Frente Negra dos anos 30 e o Teatro Experimental do Negro já haviam acionado a atenção da Polícia Secreta do Rio de Janeiro, mas não de forma muito intensificada. Meados dos anos setenta, diversos bailes começaram a ser visitados por agentes disfarçados, em suma brancos que viam o movimento black como um radicalismo racial.

Revistas clandestinas, fonogramas (discos de vinil, CDs, fitas K-7), fotos (diversas vezes exibidas por carrosséis em bailes), e posteriormente a ascensão de cantores brasileiros como Tim Maia, Martinho da Vila e Gerson Rei, além de estações AM de rádio como as reinventadas pelo DJ Big boy, todos serviram como referências de resistência e autoestima para aqueles que os viam e ouviam. As informações obtidas por estes meios se apresentavam opostas às representações negativas e depreciativas que chegavam para a comunidade negra, principalmente no ápice do Regime Militar e antes das grandes revoluções. Sendo assim, com as novas informações chegando no território brasileiro, a cultura local pôde se aflorar.