Relatório Rio Silveira (Maria Gabriela e Barbara)

Saída de campo

Brincadeira Guarani realizada por alunos e participantes, durante vivência na aldeia Rio Silveira.

Dia: 07, 08 e 09/06/2019

Onde: Aldeia Rio Silveira, Bertioga-SP

Introdução:

Durante a Disciplina Sociedade, Multiculturalismo e Direito, professor responsável Drº Jorge Machado, na Universidade de São Paulo, foi proposto participar de diversas atividades durante o semestre, uma delas foi a vivência durante três dias na aldeia Rio Silveira, localizada na divisa entre Bertioga e São Sebastião, com intuito de observar a questão do olhar do outro sobre a identidade cultural, por meio do método de observação participante.  A etnia Guarani Mbya são o grupo pertencente a está aldeia, com presença Tupi, composto por cinco núcleos, com 120 famílias dispostas pela reserva e mais de 600 habitantes, segundo moradores. Houve aulas de preparação para a vivência, afim de preparar os alunos para experiência.

Aliança Universidade e Povos Indígenas (AUPI)

O coletivo AUPI é uma iniciativa de projetos em prol a causa indígena. Durante a vivência os membros do coletivo auxiliaram na programação e desenvolvimento de atividades no local, além de cuidar da alimentação dos participantes. A iniciativa do coletivo foi com um projeto de extensão desenvolvida dentro da USP leste, envolvendo áreas de ensino, extensão e pesquisa. Atualmente o projeto cresceu e se tornou um coletivo abrindo suas portas a outras universidades e pessoas ativistas na causa. Dentro do projeto atuam pessoas da área de lazer, turismo, gestão ambiental e até um padeiro. Esses membros são alguns estudantes inclusive. Auxiliaram com monitores que haviam entrosamento com a aldeia, e cada monitor tinha uma habilidade diferente, que se dividiam em diferentes conhecimentos.

Desenvolvimento:  

Durante a vivência houve várias atividades, com objetivos de percepção, interação e experiência com o meio.  A saída de campo é uma ferramenta de experiência com a etnia Guarani Mbya, que resiste em locais próximos, inclusive da universidade. Durante roda de conversas no local, monitores do projeto AUPI, coletivo e extensão do projeto comentam sobre a construção da cidade de São Paulo e a presença de aldeiamentos em locais muito próximos ao local que está a USP leste. Durante essas rodas de conversa foi possível sanar algumas dúvidas e curiosidades com o morador da aldeia Mario, que veio da aldeia de Parelheiros, Tenonde Porã, ainda no território na zona sul de São Paulo. Esse momento acontece no começo do segundo dia no local, desenvolvendo outras analise durante o decorrer da vivencia. Dúvidas sobre o modo de vida Guarani, o Anhandereko.  

Olhando da perspectiva de estudante de lazer e turismo pra questão hospitalidade versus hostilidade durante nossa inserção, senti de maneira geral que o grupo é bem aceito por todos mas em escala com sutis diferenças, as crianças são profundamente receptivas, as mulheres falaram pouco de maneira geral, não tem nenhum ar de hostilidade mas isso naturalmente se faz uma barreira inicial . Os homens são de maneira geral mais comunicativos se comparados as mulheres, mas se comparados com qualquer um dentro do nosso grupo a  comunicação é muito distinta, mais constante e principalmente mais alta. Olhando de fora vi que existe uma comunicação entre eles não dita mas por meio de ações e olhares.

Para contextualização do local onde a aldeia está houve um passeio até a praia que ocorreu roda de conversa com outros dois monitores AUPI, que falaram sobre a especulação imobiliária e a construção da rodovia BR-101. Local que começou a ser povoado por não indígenas com a construção da rodovia. Parte do território que seria indígena passou a ser local de passagem de carros e com isso foram feitos comércios e residencias ao seu redor.

Outra atividade desenvolvida foi para os momentos de alimentação, que houve outro modo de olhar, para quem pode participar. O preparo das comidas foi feito em conjunto com o grupo responsável, os alunos e também com as mulheres indígenas, momento em que foi possível comparar como é feito o trabalho em conjunto entre ambas as culturas.

Dentro as atividades realizadas também foi proporcionada interação com a cultura guarani, como em roda de conversa já mencionada antes, o momento do plantio, que proporcionou um conhecimento sobre o local e uma fala muito linda sobre os princípio da aldeia feita pelo pajé Liveís. Nesse momento ouvimos a história e percebe-se que a mata parecia intacta, cinquenta anos depois da desocupação do local. Também foi realizado momento com brincadeiras da cultura, uma delas foi mamãe galinha, o local da brincadeira é dividido em duas áreas, uma onde fica o lobo (um integrante) e outro onde ficam as galinhas (outros participantes), um participante é a mamãe galinha que vai para o campo onde fica o lobo, quem o lobo pega se torna lobo também e permanece do lado dos lobos, e assim também pode capturar galinhas, porém eles não podem ultrapassar para o lodo onde fica as galinhas. Outra brincadeira foi arranca mandioca, onde os participantes se agarram um no outro, sendo que o primeiro agarra uma arvore, alguém fala: arranca mandioca e então uma pessoa é quem colhe as mandiocas, e tem que retira um ou mais participantes que estão agarrados, pode sair mais de um ao mesmo tempo.

Durante o plantio um dos monitores da AUPI, a Bianca, estudante de Gestão Ambiental, também falou um pouco sobre as plantas que seriam plantadas, que inclusive eram nativas da mata atlântica. Entre as mudas plantadas tinham: jabuticabeira, cambuci, goiabeira, cabeludinha, jenipapo, grumixama, palmeira açai e jussara, entre outras.

Conclusão :

Uma vivência muito importante no meio acadêmico, pois estimula e envolve os estudantes. Observar e vivenciar outra cultura, envolve e traz reflexões com o que passado em sala de aula. A experiência promove contato direto com a história e dívidas sociais, com reflexos da construção da nação brasileira e aspectos antropológicos, políticos, ambientais, entre vários. As brincadeiras fazem parte de compreender que sentido elas fariam em outro contexto, além dos contrantes entre o meio urbano e a mata atlântica, a qual estávamos.

A partir desta observação pode se ver que existem diferenças nítidas entre as culturas, passando por hábitos culturais, sociais e religiosos, em que ambas tem pontos que podem agregar a contra ponto da outra cultura. Mas vale ressaltar que o mais marcante, na vivência, foi entender através dela que nossas culturas estão correlacionadas, de maneira dependente. Onde as ações do grupo de cultura "dominante" refletem nas demandas do de cultura menos favorecida, sejam por meio de legislações, meio de produção de alimento, politicas publicas pensadas para esta demanda. As escolhas que fazemos são também escolhas politicas e suas consequências refletem neste ambiente de maneira intensa, se faz necessário fortalecer está cultura e apoiar sua resistência, para que a história de extermínio cultural não se repita.