Reportagens do JOA/Caio Bitencourt
Livrarias do Centro sobrevivem com a religião e tem informações sob sigilo
Livrarias do Centro de São Paulo sobrevivem em meio a degradação da área com sucesso de livros religiosos e sigilo sobre seu funcionamento
Nos últimos anos, o número de leitores no Brasil aumentou e de acordo com levantamento da pesquisa "Retratos da Leitura", do Ibope, tem cerca de 56% da população. Mas em contraponto com o crescimento de leitores, na cidade de São Paulo, o número de livrarias é cada vez mais baixo. Foram analisadas livrarias da região do centro antigo da cidade de São Paulo, onde nasceram as primeiras da cidade. Na região, estão presentes livrarias de grande porte, que vendem não só livros, como também discos, revistas, materiais escolares e de escritório comuns em papelarias.
Livrarias que nasceram a partir do século XIX, impulsionadas pela inauguração da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em 1827. Hoje, a região é mais enfraquecida em relação a elas, poucas sobreviveram: muitas se mudaram da região, enquanto outras simplesmente deixaram de existir. A partir da década de 1980, houve uma decadência da região, que teve fuga de empresas para outros pontos da cidade.
Há uma presença maior de sebos. Praticamente não há mais a presença de livrarias de pequenos grupos. Por outro lado, algumas das tradicionais livrarias estão vivas até hoje. Como por exemplo, a Saraiva, que hoje possui rede nacional. Com várias unidades pela região, todas negam informações sobre os livros mais vendidos. Quando perguntados, funcionários apenas dizem que "o fluxo de clientes é grande", e garantem que as informações são sigilosas.
As livrarias que ainda resistem tem muitas ligações religiosas, que se explicam pelo mercado editorial ter aumentado de 16,24% em 2014 para 19,62% em 2015 dos livros religiosos publicados no país, que só perdem para os livros didáticos, segundo a FIPE. A preferência do público pelos livros religiosos se explica em dois pontos: a mesma pesquisa "Retratos da Leitura" mostrou que o livro mais lido no Brasil é a Bíblia Sagrada, e o fato das revistas Veja e IstoÉ terem um ranking voltado para os livros voltados a religião.
Na região há a Livraria Paulus, voltada ao catolicismo, que negou informação sobre os livros mais vendidos da loja. São raras as livrarias de outras vertentes do cristianismo. Já a Loyola vende outros livros, mas como o gerente garante: "O público é mais religioso", e citou que as quatro obras mais vendidas são a Bíblia Sagrada, o livro "Orações Selecionadas", "Manual do Coração de Jesus" e "Temperamento Controlado Pelo Espírito".
Outras que sobrevivem são livrarias como a Martins Fontes, que tem suas próprias publicações. Entre elas, declara que as mais vendidas são "Cidades Rebeldes" e o clássico livro infantil "Onde Está Wally?". Há uma universitária, a Livraria da UNESP. Possui de livros comuns a acadêmicos. Recusou contato por meio da loja, e não respondeu os e-mails da reportagem.
Todas as livrarias não foram autorizadas a falar sobre movimentação financeira, assunto proibido para os gerentes e funcionários. Mas as livrarias presentes no centro são sobreviventes dentro da própria cidade. E alguns agradecem a Deus pela sobrevivência.