Sociologia (RTVI)/2021/Trabalho semestral/Grupo 1


Relato individual editar

  1. AnnaCoutinho / Anna Coutinho: Transcrição do relato da entrevista.
  2. Brinquedola / João Pedro: Edição da página e colaboração nas transcrições.
  3. Maria Eduarda Dutra Monteiro Matarazzo: Realização da entrevista, texto do grupo.
  4. RioMariana / Mariana Passos: Transcrição do relato sobre o futuro.
  5. Matorlandi / Matheus Orlandi: Auxiliar na edição da página, uploud de arquivos de áudio e imagem.

Publicação de texto do grupo editar

Um outro momento marcante para a vida da entrevistada, foi a morte de sua mãe, depois de 40 dias internada com um nódulo no fígado e vindo desenvolver uma cirrose, Célia Catarina Carneiro Lobo, mãe de Marcella, veio a falecer no dia 17 de maio de 2010. Foi um choque e um susto para todos, pois Célia não queria ir para o hospital, mas quando chegou os médicos diziam que ela sairia daquela situação, chegando no hospital ela foi diagnosticada com uns nódulos no fígado, mas Marcella junto com sua família não poderia imaginar que sua mãe no hospital iria desenvolver uma cirrose hepática em função de uma medicação fitoterápica que havia tomado para sua artrose que já estava em nível avançado em seu corpo.

Depois de quarenta dias lutando e acreditando, a veterinária veio a falecer em frente de sua mãe-avó de Marcella- naquele dia 17 Marcella se assustou com seu pai entrando em casa às 11 da manhã, afinal seu pai como o de costume foi para seu trabalho e voltaria só a noite, ali naquele momento a fonoaudióloga sabia que a notícia não era aquela que ela esperava e que sua mãe tinha completado a passagem. Enterrar sua mãe foi muito forte para ela, Célia era considerada o pilar da casa, aquela que fazia comida, organizava tudo, cuidava da casa, além disso ela era uma senhora com um sorriso fácil, amava uma festa, estava sempre feliz e procurava sempre alegrar todos em sua volta.

Marcella procurou não encarar tudo pelo lado negativo, ao falar de sua mãe ela ainda se emociona, mas segundo a própria “ Superação é conseguir falar sem chorar”, morte de sua mãe fez com que a fonoaudióloga crescesse, aprendesse como cuidar dos assuntos de sua vida, fazer todas as coisas que sua mãe costumava a fazer dentro da vida de todos da família foi uma tarefa árdua para se aprender e fazer, mas que foi necessária para a sobrevivência de todos, afinal se ela não aprendesse como administrasse tudo ali ninguém conseguiria fazer nada e continuar a vida. Seu pai e sua irmã não conseguiram organizar suas vidas de volta aos eixos e por uma questão de sobrevivência Marcella enterrou seu próprio luto e assumiu o pilar da casa no lugar de sua mãe, dando uma luz para todos os outros integrantes, no meio de uma mudança de casa e o luto que assolava todos.

Marcella usa a força que sua mãe continha como exemplo para seguir todos os dias, tenta fazer seu melhor assim como sua progenitora e repassar todas as tradições e ensinamentos que lhe foi passado para todos que restaram aqui. A morte de sua mãe foi o momento mais triste de sua vida, mas também foi o momento em que ela mais cresceu e aprendeu coisas em sua vida, e hoje o que resta para Marcella é a saudade e tudo aquilo que sua mãe deixou de legado imaterial para ela.

Publicação de texto da pessoa entrevistada editar

O momento mais marcante da minha vida foi o dia do nascimento da minha filha Maria Eduarda.

A sensação de chegar na maternidade e saber que em poucas horas ela estaria em meus braços foi mágica e amedrontadora também.

Eu nunca tinha passado por uma cirurgia era tudo novo. A única certeza era que ela precisa sair da minha barriga!

Chorei horas seguidas de medo esperando meu pai chegar para me acompanhar e reanimar a pequenina que viria ao mundo.

Briguei com as enfermeiras que queriam me levar para o Centro Cirúrgico antes dele chegar, chamava pela minha mãe e pedia para todos saírem do quarto para eu me acalmar.

Minha mãe ria de mim e dizia que ficaria tudo bem e eu estava lá deitada de pantufas de tigre e um avental horrível, uma barriga imensa e o coração cheio de medo esperando o momento dela chegar.

Quando meu pai chegou descemos para o Centro Cirúrgico, me colocaram na maca e me anestesiaram...Tocava uma música de fundo bem calma, a anestesia me deu falta de ar e eu, uma criança, fui mimada pela Tia Maria Tereza e por toda a equipe. Me deitaram na maca e começaram a contar histórias e davam risada.

Após exatos 38 minutos ela veio ao mundo, silenciosa, não soltou um grito e eu desesperada porque nasci com parada cardíaca comecei a pedir para meu pai fazer ela chorar. Meu pai na calma e no amor incondicional me disse: “Calma, ela está fazendo xixi” e logo ela chorou e veio para meus braços.

O primeiro encontro fora da barriga foi tão emocionante que lembro as palavras e sinto o cheiro do meu pacote toda vez que conto a história de seu nascimento.

Naquele momento eu descobri o que era amar de verdade e minha vida nunca mais foi a mesma.

SUBSTITUA ESTA MENSAGEM PELO TEXTO

Carregamento de áudio de entrevista editar

Meu nome é Marcella Lobo Dutra, tenho 39 anos e nasci no dia 19 de 13 de 1982. Sou fonoaudióloga formada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, filha de um médico e de uma veterinária, pessoas fantásticas que sempre iluminaram a minha vida e sempre me ensinaram o caminho do bem, da humildade, da esperança e da honestidade.

O momento mais marcante da minha vida foi o nascimento da minha filha, por que fui mãe muito cedo, com 21 anos e antes de ela nascer eu fazia faculdade de moda e era meio rebelde, mas uma rebelde consciente. Eu não tinha muita raiz, gostava de viajar, ficar na rua com a galera e fazer balada. Quando eu engravidei dela eu criei raízes novamente na minha vida e criei novamente minha família.

Eu tinha esse sonho de ser mãe e sempre falei que eu ia ser mãe aos 21 anos, e que eu ia ter uma filha bem terrível, eu acho que Deus escutou as minhas preces e a vontade que eu tinha de realizar o sonho, mas ela veio num susto e eu falo que era o melhor susto que aconteceu na minha vida. Depois que ela nasceu minha vida mudou completamente, eu me tornei um ser humano muito melhor, me tornei um ser humano muito mais consciente e aprendi o que é o amor incondicional. Eu falo que ela me ensina mais do que eu ensino ela.

Eu acho que a melhor coisa na minha vida é mostrar o “mundão” para alguém que olha para mim e fala “Uau, você é o máximo”. Nem sou “o máximo”, mas se para ela eu sou tá ótimo.

Acho que o momento mais marcante da minha infância, são vários, mas as viagens que eu fazia com os meus pais, a gente ia muito para interior e ia muito para Ilhabela e eu acho que em Ilhabela eu passei os melhores momentos da minha vida, em relação a tudo. Férias de verão, acho que todas as Férias de Verão da minha vida são os momentos mais marcantes da minha infância e foi até a minha adolescência, eu levo isso com muito carinho para dentro de mim. Eu sempre tenho boas histórias para contar sobre isso.

Uma história curiosa de quando eu era pequena foi quando eu descobri que era adotar uma criança,os meus tios adotaram uma menininha linda a Gabi e aí eu aprendi o que era ter uma prima de coração, para mim ela era minha prima de verdade e até hoje ela é minha prima de verdade, mas foi quando eu descobri que existia isso no mundo e para mim foi algo bem diferente e curioso. E eu brigava com os meus avós, porque eles falavam que ela era só de coração e eu falava que ela era de verdade minha prima. Isso marcou muito na minha infância, porque eu lembro da gente indo buscar a criança no hospital, lembro dela pequenininha, eu lembro dos aniversários, enfim, isso foi algo que marcou muito a minha infância.

Quando eu era pequena meu sonho era fazer turismo, eu falava que ia viajar o mundo e eu ia ensinar pra todo mundo sobre história, porque a história é linda, história é cultura e história é futuro, que paradigma né? Eu sonhava em fazer turismo e aí depois que a minha filha, Maria Eduarda, nasceu, meu pai é pediatra né, quando mais nova eu já ia trabalhar com ele nos hospitais e nas UTIs neonatal, depois que a Maria Eduarda nasceu eu percebi que tinha alguma coisa que me levou a querer estudar um pouco mais sobre as crianças.

Meu pai sempre falou pra mim que eu deveria fazer medicina, por causa do olhar clínico que eu tenho, por causa da curiosidade, por causa do gostar do ser humano e do ser humano. Falei pro meu pai que se eu fosse fazer medicina iria ser psiquiatria infantil, mas eu não queria fazer psiquiatria infantil, eu também não queria fazer psicologia, apesar de muitas pessoas acharem que eu sou psicóloga. Eu resolvi fazer fonoaudiologia, porque foi uma área que me encantou bastante, esta relação com a comunicação humana, pois sem comunicação o ser humano não é nada, então isso me chamou bastante a atenção e eu fui fazer fonoaudiologia.

Eu acho que eu sou curiosa, então não existe nada curioso, talvez por despertar a curiosidade nas pessoas, isso é algo que é bem curioso em mim porque eu tenho essa capacidade e tenho este dom.

Minha relação com a maternidade eu acho que é a melhor possível, como já falei, era um sonho que eu tinha de ser mãe, acho que essa é a minha frase. Ser mãe é meu maior e melhor projeto de vida.

A maternidade me ensina todos os dias a ser um ser humano melhor, tanto socialmente quanto espiritualmente, essa doação para o outro que a gente tem e sem pedir nada, querermos dar para aquele “serzinho” que nasceu da gente uma vida muito melhor do que a gente teve e condições melhores. O mais gratificante da maternidade é você realizar um sonho de seu filho, é algo que mexe muito com a gente, é uma felicidade quando você vê o seu filho realizando um sonho, fazendo coisas que você nunca fez é algo bem surreal.

Não sei explicar. Eu acho que é algo tão um sonho ser mãe que eu não sei explicar, mas eu acho que realizar os sonhos da Maria Eduarda todos os dias e proporcionar coisas para ela que nunca eu proporcionei, para mim mesma, não é algo que me encanta, o sorriso dela é o meu descanso, enquanto ela estiver sorrindo, embora eu tenha que trabalhar doze ou treze horas por dia, enquanto ela estiver sorrindo eu estou descansada de que ela está bem,  é melhor melhor definição de mãe. Uma professora minha chamada, Ana Luíza Navas, da faculdade, nos livros que publicou ela sempre dedicava ao filho dela e falava “Felipe o seu sorriso e o meu descanso” e eu fiz dessa frase talvez uma filosofia para mim, ver a Maria Eduarda sorrindo para mim é um sossego, eu sei que ela também.

Sobre ser fonoaudióloga na pandemia de Covid-19 em 2021, eu não trabalho na linha de frente, mas eu trabalho em clínica, trabalho hoje numa clínica comportamental de crianças autistas e está sendo muito difícil lidar com um comportamento dessas crianças, são crianças que têm transtorno comportamental muito significativo, estão presas dentro de casa, então elas vêm para a clínica e acabam expandindo tudo aquilo que têm dentro delas, fica contido dentro delas o que tentam expressar de alguma maneira. Está sendo bem difícil lidar com a situação, é difícil lidar com os pais em relação ao desespero deles em deixar as crianças presas dentro de casa, orientar eles em relação ao que tem que ser feito em casa com a criança não vem para a clínica, mas no atendimento online e a gente acaba tendo que passar para os pais nosso conhecimento científico para que eles possam trabalhar com as crianças em casa e diminuir a ansiedade, a demanda das crianças, as tornarem um pouco mais calmas, para conseguir ficar dentro de casa.

Não posso falar que eu não estou na linha de frente, porque acaba sendo a linha de frente, o maior desafio dessa pandemia é a gente saber lidar com o nosso psicológico e se doar mais ainda às necessidades das pessoas que vêm procurar gente. A fonoaudiologia clínica tem trabalhado bastante nas sequelas que a Covid -19 deixa em algumas pessoas, isso é algo também que mexe muito com a gente, já que são histórias de pessoas que chegaram à beira da morte e temos que dar aquele acolhimento e falar que vai melhorar, mesmo não sabendo quando e se vai melhorar, e estamos fazendo nosso melhor para que aquela pessoa tenha uma nova qualidade de vida ou retome a qualidade de vida que tinha antes de ter sido contaminada.

A pressão maior, que eu pelo menos tenho passado é em relação aos pais e a dificuldade de lidar com as crianças dentro de casa, eu apelidei algumas crianças de “filhos da pandemia”, que são crianças que os pais veem desesperados para o consultório falando “Meu filho é autista, meu filho não fala, meu filho anda na ponta do pé, meu filho”, então a gente mostra para os pais que na verdade a criança não teve estímulo, as crianças estão privadas de conviver socialmente, muitas vezes elas ficam na frente de tablets, porque o pai e a mãe precisam trabalhar, e isso está sendo bem complicado lidar com esses pais com essa ansiedade de querer saber se o filho autista ou não. Você dar este diagnóstico se realmente a criança for autista e dá o acolhimento, ou falar para os pais “olha essa gente muda algumas coisinhas e dá algumas orientações pra ele, olha seu filho vai começar a falar, seu filho vai se desenvolver.Foi só uma fase pela qual ele passou.”

Enfim, acho que tenha sido um desafio grande para todos nós dentro da área da saúde, dentro da área da fonoaudiologia e quem trabalha com crianças com algum atraso no desenvolvimento, com autismo ou alguma síndrome. Mas eu também não considero uma pressão tudo isso que acontece dentro da minha profissão, me julgo apta e capacitada para lidar com qualquer tipo de coisa que aparecer. Eu costumo dizer pra todo mundo que eu nunca nunca sei o que vai passar pela porta do meu consultório e eu tenho que estar preparada para qualquer tipo de coisa.

Sobre a fonoaudiologia: me formei em 2008, então sou formada há 13 anos. O autismo entrou cedo na minha vida acadêmica. Eu estava no segundo ano de faculdade quando eu escutei pela primeira vez a palavra autismo e foi algo que me chamou muito a minha atenção, e me bateu uma curiosidade imensa e um fascínio pelos comportamentos. Por tudo que existe de estudo e de tudo que ainda existe de dúvida sobre o autismo. Então, desde do segundo ano de faculdade eu comecei a atender crianças autistas no hospital escola e fiz meu TCC em autismo. Eu sempre gostei de desafio e o meu TCC foi colocando em xeque os resultados obtidos com a aplicação de um protocolo padronizado. Eu duvidei dos resultados do protocolo de uma das mães da pragmática aqui no Brasil: a Fernanda Dreyer; e os resultados que eu obtive foram completamente diferentes dos dela. Eu chorava de alegria porque eu consegui provar por A mais B várias outras coisas dentro do mesmo protocolo e tive nota máxima. Foi um desafio imenso falar sobre o autismo. Foi fazendo meu TCC, que eu vi que era realmente algo que eu gostava muito. Eu me formei, saí da faculdade e fui fazer pós graduação em psiquiatria infantil dentro da linguagem da fonoaudiologia.

Eu tinha que entregar o TCC na semana em que minha mãe faleceu. Aí eu acabei abrindo mão do meu TCC, da especialização, e aí eu falei "quer saber eu vou para a prática e vou para a clínica". Uma vez, uma professora minha chamada Adriana Gurguéia falou pra mim que: muitas pessoas se formam fonoaudiólogas, mas poucas têm o dom da clínica fonoaudiologia. Ela falou que eu tinha esse dom; que eu olhava para a criança e falava que a criança tinha tal coisa, aí a gente aplicava os testes e a criança tinha aquela patologia. E aquilo me marcou muito e me deu uma motivação maior. Eu me joguei na clínica sem saber nada. A primeira criança que eu atendi era uma autista surda. Me colocaram dentro de uma sala pequenininha com uma folha de papel, uma boneca e uma casinha e eu fiz a fonoaudiologia acontecer pela primeira vez, e eu continuei fazendo fonoaudiologia acontecer. Eu acho que eu sou uma fonoaudióloga um pouco rebelde, eu não gosto das coisas erradas. Eu não gosto que a fonoaudiologia seja comparada a qualquer coisa. Odeio divulgação de maneira lúdica na internet, de fonoaudióloga dançando, de fonoaudióloga falando besteira. Eu acho que fonoaudiologia é uma ciência, uma ciência muito séria e eu trato ela assim.

Enfim eu me joguei na clínica fonoaudiologia, e eu achei que ao aparecer 850 mil autistas para eu atender, e eles não apareceram. Aí vinha distúrbio fonológico, ausência de linguagem, leitura e escrita ,disponia motricidade oral e quando vinha um autista eu vibrava. E aí eu comecei a me especializar cada vez mais, eu sou muito autodidata, eu leio muito e eu estudo muito. Sozinha tiro as minhas conclusões. Hoje eu sigo a linha mais comportamental, mas também acredito que Freud seja fantástico assim como Skinner é. E assim eu vou seguindo em frente dentro da minha profissão. Quando eu tinha uns oito anos de formado eu comprei um audiômetro, uma cabine audiométrica, e eu falei: "agora eu vou fazer o processamento auditivo." Larguei o autismo, e fiquei um tempão fazendo processamento auditivo e hoje eu trabalho treinamento auditivo com criança autista, porque eles têm muita dificuldade na integração auditiva; eles não desenvolvem essa habilidade e isso faz com que eles tenham alguns comportamentos que até então todo mundo achava que era só trivial, eles não integram a informação auditiva. E o autismo pra mim é uma bola de sonho. Quebrar a casca da criança. Ensinar ela a falar a primeira palavra. Olhar para a cara da mãe falar "Olha, a hora que ele começar a falar você vai pedir para ele parar de falar." Isso é uma alegria para mim. Gosto muito do desafio de atender uma criança autista, gosto das crianças autistas mais severas, mais agressivas e mais difíceis de lidar. Acho que isso é um diferencial que eu tenho. Gosto do desafio de ter aquela criança na minha frente.

Hoje, depois de três anos de formada, eu supervisiono duas clínicas de fono: uma de terapia comportamental , que é a parte de fonoaudiologia, e uma outra de uma clínica de transtorno de aprendizagem e TEA. Hoje eu passo mais conhecimento para os profissionais que supervisionam, faço isso com muito amor e com muito carinho. Como eu já disse, trabalhar na linha de frente hoje com crianças autistas anda sendo desafiador.  Os pais têm uma ansiedade imensa de muitas coisas. Os pais não estão sabendo lidar com essas crianças em casa, então é um desafio para a gente ensinar aquilo que a gente faz na clínica para eles fazerem em casa. Os pacientes acabam vindo para a clínica e a gente acaba trabalhando tudo com eles: comportamento, fala, alfabetização. Então, não que a gente não fizesse isso antes da pandemia, mas hoje a gente faz até em dobro. A gente ensina os pais a fazer em casa e é bem desafiador. Eu fui vacinada 16 dias atrás, e isso me trouxe uma pontinha de esperança para dias melhores, que essa pandemia acabe. Mas, na minha opinião, a vacina dá uma falsa sensação de liberdade porque na verdade eu não estou imune.

E se eu pegar eu posso passar para outra pessoa então, assim, na minha opinião a gente, depois que você toma as vacinas, tem que ter um cuidado redobrado porque você fica com uma falsa sensação de que você não vai pegar, e é mentira. Mas, fico grata por ter conseguido me vacinar antes de muitas pessoas. Mas, isso pra mim é até uma sensação de segurança também, porque existe um decreto de lei em que a criança autista não precisa usar máscara. São crianças que têm um distúrbio sensorial muito grande, muito severo e põe tudo na boca, lambe tudo e cospe na gente e põe tudo na boca e você tem que tirar as coisas da boca da criança, não pode permitir que ela coloque na boca. Então dá uma sensação de segurança também. Essa é a história da minha profissão e eu acho que hoje eu faço o que eu amo. O sorriso de cada criança, o sorriso de cada pai; a criança apontar, o simples gesto de apontar para mim é gratificante, eu faço festa com a criança, eu agarro, eu beijo, eu abraço e aperto. O autismo na minha vida é um desafio. E quanto mais esse desafio cresce, mais eu quero vencê-lo. Hoje eu não me vejo fazendo outra coisa na minha vida, que não seja trabalhar com criança autista. É um amor e uma doação; para estudar, é ter paciência e ter resiliência.

Fica brava e fica irritada, é se sentir ofendida com um tapa na cara que você leva, mas na verdade a criança está se comunicando, ela está protestando contra mim ,então a ofensa passa e tudo bem. Acho que eu consegui falar para vocês mais ou menos o que é ser fonoaudióloga de criança autista, porque para mim é a realização de um sonho, assim como foi a realização do sonho de ser mãe. Então eu me realizo dentro da minha profissão a cada dia, levanto cinco e meia da manhã todo dia, às vezes eu não quero fazer nada, tô com dor de cabeça, estou com dor no corpo. Estou cansada, mas a hora que eu coloco o pé na clínica e as crianças abrem aquele sorriso, para mim no dia já ficou ensolarado por mais que ele esteja nublado, e a gente vai para a batalha, e às vezes a gente não vence a batalha, a gente perde; aí a gente tenta de novo, a gente muda o planejamento terapêutico, o objetivo terapêutico, a gente conversa com o pai e a gente muda o tipo de estimulação, e aí esses desafios me fascinam. Eu gostaria que todos dentro de qualquer profissão amassem fazer o que fazem como eu amo.

Imagem da Entrevistada

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