Sociologia (RTVI)/2021/Trabalho semestral/Grupo 6
Relato individual
editar- Ratão-do-banhado704: Coordenação e organização do grupo, formatação dos textos e criação das perguntas para entrevista.
- Vctr2108: Captação da história, gravação e apresentação do programa.
- Pedro Fazzio: Edição do áudio.
- Stanislav Basco: Roteiro e transcrição dos trechos marcantes da entrevista.
- Nessataria2202/ Vanessa Serra: Roteiro e a transcrição dos trechos marcantes da entrevista.
Publicação de texto do grupo
editarAbaixo estão transcritos trechos marcantes da entrevista com Maria De Las Dolores Castro Silva, também chamada carinhosamente de Lolita. A entrevistada nasceu na Espanha em 1954, e imigrou para o Brasil ainda criança. Nós tivemos a honra de conhecer a história dela, e sua trajetória cheia de momentos inspiradores.
"O meu pai e a minha mãe enfrentaram o pós-guerra lá, e foi muito difícil para eles. Pra você ganhar um pedaço de pão do governo. Você pegava uma fila enorme, e eu lembro que a minha mãe falava isso, eles tinham que pegar uma fila para ganhar um pão! E esse pão era dividido também entre meus tios, minha avó teve doze filhos, então era dividido entre os doze filhos, doze crianças”
“Doze filhos um único pão?!”
“Um único pão”.
“Meu pai, por conta disso, dá dificuldade veio para o Brasil. Depois de dois anos ele mandou uma carta para a minha mãe dizendo que estava cuidando de uma fazenda, então a gente veio para o Brasil, mas de uma forma bem diferente, a gente veio pro Brasil porque a gente frequentava a igreja católica na Espanha e a igreja ajudou pagando a nossa passagem por conta da dificuldade também”
“E você veio de barco, veio de avião… como foi?”
“Não naquele tempo nós viemos de navio”
“Quanto tempo demorou a viagem?”
“Demorou oito dias pra chegar até o Brasil… e nessa viagem eu me lembro de muitas coisas no navio. Eu me lembro que a minha mãe, por conta do navio, fazia várias ondas né ? Aí ela passava mal e vomitava, o tempo todo, desde que saiu de lá até chegar ao Brasil… Eu e minha irmã cuidamos dela”.
“... Naquele tempo a vida não era muito fácil, daí eu fui trabalhar com 13 anos…”
“...Depois com 15 anos conheci seu avô.”
“...Como foi conhecê-lo? Como foi vê-lo pela primeira vez? Você lembra disso?”
“... Ele ficava me olhando, e eu olhando pra ele, e até que uma hora, ele pediu pra uma amiga da gente, que se chama Maria, para falar comigo. Então ela foi nosso cupido…”
“... Então vocês estão juntos desde a década de 70?”
“ Isso, em 70 conheci ele, e depois a gente começou a namorar e em 74 nós nos casamos.”
“... Fiquei com vontade de engravidar, mas pra minha surpresa, perdi meu primeiro bebê…”
“...Como eu fiz curetagem, daí eu consegui engravidar, daí veio o seu pai.”
... E como é a sensação de encostar no seu próprio filho?”
“ É muito lindo, muito mágico, é uma sensação muito linda, não dá pra descrever, é uma mistura de emoção de ser mãe. É muito amor que envolve tudo isso.”
“... Eu fui trabalhar com a minha irmã. Trabalhei por um ano e depois, eu aprendi, na verdade ela me ensinou a fazer doces e salgados, daí eu aprendi e fui trabalhar em casa, porque aí eu ficava cuidando dos filhos e também trabalhando, para ajudar em casa…”
“ E outro momento difícil, de dificuldade, difícil eu diria assim, foi quando minha mãe ficou doente com câncer e depois de 35 anos que ela tinha tido um câncer, daí ela voltou com câncer, e ela fez uma cirurgia no abdômen, aí o médico descobriu um tumor atrás da bexiga dela. Daí, daqui pra cá, ela precisou fazer uma cirurgia para retirar um tumor, daí ela precisou fazer quimioterapia, radioterapia... Só que infelizmente, ela não conseguiu dessa vez vencer o câncer… E infelizmente ela precisou nos deixar, e foi muito triste para nós aqui em casa, porque ela ficava na minha casa, e ela ficava muito tempo na minha casa, muito tempo com os meninos, então nós sentimos muito a falta dela e até hoje lembramos dela com muito amor e carinho”
“ Que bonito isso, vó. É Muito bonito ver o significado que a família tem pra você, que família vem em primeiro lugar, e é muito muito bonito isso, e você pode me dizer o que a vida te ensinou?”
“A vida me ensinou a ser forte, e descobrir dentro de mim, acho que de todos nós, descobrir dentro da gente, uma força que nem a gente imagina que tem. Então, a vida me ensinou que temos que ser que nem Bambu, enverga, mas não quebrar, a palavra é persistência.”
“... De todas as pessoas que já passaram na sua vida, qual delas é ou foi sua maior inspiração?”
“ Meus pais, porque eles foram muito fortes, eu admiro muito a fortaleza dos meus pais, que conseguiram vir de um país para o outro, sem conhecer a língua, sem conhecer as pessoas e começar a vida do nada, e ter que aprender a outra língua, trabalho, tudo diferente, então o meu pai e minha mãe foram minha inspiração.”
“... Como a senhora descreveria sua trajetória?”
“Com muitos momentos difíceis, mas também com muitos momentos bons. Momentos inesquecíveis né, de alegria e também tive momentos tristes, mas a alegria foi maior. Sou muito grata a Deus por tudo! Assim como diz a letra do Roberto Carlos, se chorei ou se sorri, o importante é que eu vivi e sou muito feliz!!”
SUBSTITUA ESTA MENSAGEM PELO TEXTO
- Link para o termo de cessão: https://drive.google.com/file/d/1ATw6Gs8H3Ntdn0tSTdAyS6p5wVTAzH9Y/view?usp=sharing
Publicação de texto da pessoa entrevistada
editarInfância:
Meus pais passaram muita necessidade na época do pós-guerra, por isso eles decidiram vir para o Brasil. Meu pai veio na frente para não correr risco de ser chamado para a Guerra, por isso, ele decidiu vir para o Brasil arrumar emprego e um lar para nós cinco. A economia na Espanha estava muito abalada, muito parecido com o que vemos hoje em dia no Brasil, tanto, que nós só conseguimos viajar com a ajuda da igreja católica que frequentamos. Metade da casa em que eu morava se tornou patrimônio histórico por ter uma máquina separadora de grãos nos fundos. Uma lembrança muito forte que tenho é de estar me despedindo da minha família em Galicia, cidade de Pontevedra entrando no navio, com quatro anos de idade, vindo para o Brasil em 1959. Eu, minha mãe, meu irmão e minha irmã viemos nos encontrar com o meu pai que intercalava seus empregos entre ser faz-tudo em uma fazenda, vendia ovos na feira e aplicava pedras nas casas, como se fosse um azulejista. Desembarcamos no Rio de Janeiro e moramos lá por dois anos, nos mudamos muito enquanto morávamos lá. Uma vez meu pai atolou a caminhonete que estava cheia de ovos e tivemos que dormir nela, foi muito divertido dormir lá, por mais que ele não tenha dormido junto.
Quando chegamos em São Paulo, fomos morar no Tucuruvi, a memória mais forte que eu tenho, era de brincar em um pé de ameixa. Tive aula em uma chácara cheia de pé de frutas, nessa escolinha improvisada, tive uma professora chamada Estela que sempre foi muito amorosa com todos seus alunos.
Com oito anos, meu pai construiu uma casa no Imirim. Era tudo mato, sem asfalto nem nada.
Juventude:
Estudei em uma escola feita completamente de madeira, durante essa fase tive muitas amizades boas, éramos realmente uma família, tanto, que até hoje somos amigas e conversamos por WhatsApp.
Com treze anos precisei parar de estudar para ajudar a minha família. Todos na vizinhança eram unidos
Rosinha tinha mais condições e me ajudou a fazer meu chá de cozinha e tenho contato com ela até hoje
Voltei a estudar mais tarde, no supletivo.
Antes de conhecer seu avô, tive um namoradinho aos 14, terminei com ele conheci seu avô com 15. Da minha casa para a casa da tia Maria e tio Museu era bem perto, jogávamos bolinha de gude na rua e ficava olhando seu avô, e ele para mim. Paqueramos bastante, até que seu avô pediu através da Maria para falar comigo, ela foi o nosso cupido. Assim que cheguei perto dele, ele ficou me encarando e começamos a conversar. Nos encontramos diversas vezes, até que ele quis me beijar. Demoramos um mês para dar o nosso primeiro beijo. Namoramos contra a vontade do meu pai, que era muito ciumento, somente meu irmão podia namorar. Namoramos por três anos, ficamos noivos em 1973, casámos no ano seguinte e estamos juntos até hoje em dia.
Vida adulta e formação da família:
Moramos na casa do tio dele, trabalhei até ter dois anos de casada, por querer ter filhos, estava com muita vontade de engravidar, mas acabei perdendo o bebê. Fiquei muito triste, mas depois de um mês consegui engravidar e veio o seu pai. Fomos morar em um quarto e cozinha da tia da minha amiga Tina. Depois disso, começamos a construir a casa da sua bisavó, dividindo-a com a tia Penha. Depois que descobri a gravidez do seu tio Márcio, seu pai tinha dois anos e nove meses, ele não foi programado mas foi muito amado. Quando ele completou dois anos, viemos morar na casa em que vivemos até hoje. Seu avô resolveu fazer faculdade e decidimos ter mais um filho para não me sentir só. Quando estava de oito meses do seu tio Fabio, tentaram entrar nessa casa, mas o tio Museu nos avisou e conseguimos evitar o assalto. Decidimos então nos mudar para o bairro do limão, alugamos um apartamento por lá, por conta da segurança que teríamos.
Uma vez, o Marcio caiu de bicicleta e rasgou a língua. Fomos muito felizes ali, minha mãe foi muito presente na minha vida, me ajudou muito com os meus filhos.
Conforme eles foram crescendo, precisamos retornar para a casa antiga para ter mais espaço. Quando seu avô se formou, ele começou a trabalhar em uma empresa que faliu pouco tempo depois, foi uma fase bem difícil, atuando com contabilidade e direito, construiu um escritório na edícula da casa. Até meu irmão precisar morar conosco por conta do divórcio dele. Ele foi morar depois num quarto e na cozinha da tia Bele, onde formou sua família até ir para Toledo, no Paraná. Durante esse tempo, eles trabalhavam juntos e decidiram formar uma fábrica de pão de queijo, levando o escritório para lá.
Dificuldades no caminho:
Essa sociedade da fábrica era de quatro pessoas, mas infelizmente a fábrica precisou fechar. Foi um momento muito difícil para nós, comecei a vender salgados e doces para minha irmã, trabalhei com ela por um ano e depois que aprendi, comecei a fazê-los em casa para vender na rua. Aprendi a fazer um trabalho manual com fitas em toalhas de todos os tamanhos também. Sua avó comprava os pães de mel que eu fazia para me ajudar.
Minha mãe não tinha o céu da boca, mas conseguimos entender bem o que ela falava. Todo mês íamos visitá-la em São Sebastião da Grama, por isso temos muitos amigos lá, revezamos para ela vir e nós irmos até lá. Aos 35 anos ela precisou remover o útero e fazer 45 sessões de químio e radioterapia. O câncer voltou depois de 30 anos, foi descoberto através de um procedimento cirúrgico. Ela foi muito bem cuidada no Hospital da Beneficência Portuguesa, durante esses cinco meses, eu e minha irmã revezamos para cuidar dela no hospital, até ela vir para minha casa e eu tomar a frente dos cuidados (minha irmã trabalhava muito na época). Essa casa sempre foi um pouco hospital. Quando soube da notícia que não havia mais cura para o câncer, um médico me chamou para conversar e deu a previsão de cinco meses de vida. A única coisa que pedi para o médico era que ela não sofresse mais. Foi muito difícil, mas o que me alivia é saber que fiz de tudo por ela e faria tudo de novo.
O que a vida me ensinou:
“Na vida você precisa ser um bambu, envergar mas não quebrar. A palavra é persistência.”
“o amor é a essência da vida.”
A vida me trouxe grandes conquistas. Amor verdadeiro de amizade, respeito, muita solidariedade. Todos esses são os sentimentos que carrego até hoje.
Carregamento de áudio de entrevista
editarLink da entrevista completa com Maria De Las Dolores:
https://drive.google.com/file/d/12RColnEYF6FgWYnf2bEajX7-eExnGKdM/view?usp=sharing
Selfie da pessoa entrevistada
editarFotografia da pessoa entrevistada
editarFoto antiga de Maria com seu neto:
https://drive.google.com/file/d/1gSXJXmvlByM14fkKyFmzfem76W230Txs/view?usp=sharing
Foto atual de Maria: