Sociologia e Comunicação/Estudo 10

O Futuro não é mais o que costumava ser

(Paul Valéry)


Quem me dera, ao menos uma vez/Explicar o que ninguém consegue entender:/Que o que aconteceu ainda está por vir/ E o futuro não é mais como era antigamente.

(Índios – Legião Urbana)


“Do ponto de vista do nosso objetivo, a principal consequência desta realidade é que a habilidade e a capacidade de gerar novos conhecimentos passam a depender do acesso aos fluxos das redes. Vivemos definitivamente numa sociedade de informação, baseada no conhecimento. Porém, este conceito de fluxo tem consequências ainda mais amplas e profundas do que sua simples operacionalização através das redes informáticas. O próprio conhecimento tornou-se um permanente fluir, seja do ponto de vista da perda de sua fixidez ou permanência, seja do ponto de vista de sua geração que é feita de modo interativo com a participação de muitos pesquisadores e grupos de pesquisa de diferentes partes do mundo.” (Pedro Goergen. Ciência, sociedade e universidade)


“Na verdade, são exigidas novas modalidades de confiança, sem precedentes na história, para se lidar com a nova realidade das instituições modernas. A confiança é um tipo de fé que simboliza muito mais uma expectativa em resultados prováveis do que um entendimento ou domínio cognitivo da situação. Ela se associa à ausência no tempo e espaço, tendo em vista que seria dispensável no caso da transparência das ações de uma pessoa ou dos princípios de funcionamento de um sistema. Antes da Modernidade, a confiança era creditada a indivíduos, era regulada por sua conduta, por sua presença. Tratava-se de um “compromisso com rosto... Hoje, ela se converte em credulidade em um sistema impessoal e abstrato.” http://www.redalyc.org/pdf/3399/339938468012.pdf (Sandra Leal de Melo Dahi. Da obediência ao consentimento:reflexões sobre o experimento de Milgram à luz das instituições modernas)


“... os perigos advindos da civilização moderna não podem mais ficar restritos no tempo e no espaço... vivemos em uma sociedade marcada por constantes ameaças de natureza global, de difícil caracterização e gerenciamento. Desta forma, as complexas demandas advindas da pós-modernidade merecem especial proteção do Estado, como forma de garantir o controle e a efetiva resposta aos danos ambientais... aquele que desenvolve uma atividade que ofereça riscos a terceiros deve arcar com os danos decorrentes da sua materialização, mesmo que isento de culpa, contudo, poderá haver invocação de excludentes de responsabilidade civil.”

“Em decorrência da sensação de desconforto, ansiedade, ou mesmo de perigo ocasionada pela ruptura espaço-temporal e seu ritmo mais acelerado de mudanças – ou desencaixe –, os atores necessitam desenvolver ações que transmitam segurança para sobreviver. As pessoas não podem sentir-se em constante estado de risco; para ganhar segurança, desenvolvem, então, novos mecanismos de confiança.” Qual a relação entre “desencaixe” e as novas formas de confiança?

No exercício do poder, a vigilância substituiu o espetáculo. Nos tempos pré-modernos, o poder costumava impor-se ao populus deixando os plebeus observarem com espanto, medo e admiração a sua pompa, riqueza e esplendor. O poder moderno preferia ficar na sombra, observando os súditos, em vez de ser observado por eles. Mathiesen censura Foucault por não dar a devida atenção ao processo moderno paralelo: o desenvolvimento de novas técnicas de poder, que consistem – ao contrário – em muitos (como nunca antes na história) vigiarem poucos...um outro mecanismo de poder de vigilância...” (Z. Bauman. Globalização p. 60)


“Analisada, não importa sob qual dos dois enfoques, o fato é que a globalização alterou a dinâmica das organizações, sejam elas locais, nacionais, multinacionais ou transnacionais, resultando em um mundo mais interconectado e com novas práticas comerciais decorrentes, principalmente, da abertura dos mercados. Hoje, o que ocorre, por exemplo, numa pequena localidade não escapa à influência de fatores relacionados com a economia mundial ... Baseadas na prática da Comunicação nos diferentes contextos políticos, econômicos, sociais e culturais, as Relações Públicas definem estratégias específicas para cada país ou região, sem perder de vista os fatores intervenientes da globalização, o que nos permite considerá-las, em sua dimensão internacional, como uma especialidade das Relações Públicas, área maior do conhecimento.”

http://www.eca.usp.br/departam/crp/cursos/posgrad/gestcorp/organicom/re_vista5/82a95.pdf

Como esta citação pode ser associada ao pensamento de Anthony Giddens?


Portanto, as relações públicas evidenciam-se como um pensamento comunicacional que sofre resistências para se impor diante dos modelos comunicacionais e administrativos ainda hegemônicos na configuração do mercado de trabalho, como a propaganda e o marketing. A situação em que emergem as relações públicas e o seu desdobramento que é a comunicação organizacional já se tornou conhecida: o capitalismo, enfaticamente desde o século XIX, sempre utilizou recursos teóricos advindos da produção científica que, de modo funcional, acelerassem seu desenvolvimento, e não necessariamente de ferramentas que se constituíssem como instância crítica para desacelerar e inibir seus projetos modernamente orientados pelo estabelecimento e alcance de metas financeiras. No desenvolvimento do capitalismo histórico (WALLERSTEIN, 2001), tais finalidades invariavelmente se confundem com resultados financeiros favoráveis às organizações privadas. Num desvio de rota teórico, as relações públicas renovam não apenas as práticas midiáticas, mas, de forma mais ampla, inovam o próprio pensamento comunicacional do século XX. A inovação, que também é algo próprio dos processos reflexivos, se dá mais precisamente pelo fato de as relações públicas se constituírem numa perspectiva simultaneamente funcional e instrumental, enquanto ferramenta da ordem ou da construção do discurso organizacional, mas paradoxalmente crítica, porque percebe e concebe a opinião pública e a opinião dos públicos como categorias até então ignoradas ou de relevância minimizada em disciplinas de interesses administrativos e organizacionais. A posição teórica crítica na qual historicamente se fundamentaram as relações públicas tem sido considerada, principalmente no ambiente da prática profissional, como “utópica” por seus preceitos conceituais. No entanto, o que no próprio campo das relações públicas pode ser considerado como suposto “arcaísmo” das teorias críticas, hoje deve ser visto como o que havia – e atualmente há – de inovador e propriamente moderno no pensamento comunicacional contemporâneo. ]

Assim como a função crítica tem sido historicamente atribuída ao jornalismo e ao audiovisual, através do jornalismo de denúncia e de documentários investigativos, as relações públicas produzem simultaneamente uma mudança no moderno pensamento comunicacional na medida em que se desviam dos padrões discursivos principalmente da propaganda. As relações públicas, ao instituírem-se como dispositivo conceitual crítico, contribuem para que o campo comunicacional se candidate a ser um paradigma teórico através do qual torna-se possível pensar as organizações na constituição de um discurso moderno que produz uma autoconfrontação consigo mesmo, caracterizando o pensamento que se desenvolve na comunicação organizacional muito próximo do que Anthony Giddens, Ulrich Beck e Scott Lash buscaram conceituar, em trabalho conjunto, de “modernização reflexiva”. (GIDDENS, BECK, LASH, 1997)


Retornando à questão dos sistemas abstratos, acredita-se que, indubitavelmente, existem informações complexas – ou dados – impregnadas de conteúdos subjacentes às ações exercidas nas relações sociais e relações de trabalho. Na maioria das vezes, os atores envolvidos desconhecem essas informações, não se apercebem da sua existência, desconhecem quanta tecnologia e responsabilidade implicam. Tais realidades ou sistemas dão suporte ao fazer, à maneira particular de enxergar cada contexto. E simplesmente aceita-se que eles existam, confia-se cegamente que lá estejam desempenhando o papel que lhes cabe, mesmo que os indivíduos não entendam absolutamente nada sobre seus princípios de funcionamento.

http://www.scielo.br/pdf/ci/v32n3/19023.pdf

Na verdade, são exigidas novas modalidades de confiança, sem precedentes na história, para se lidar com a nova realidade das instituições modernas. A confiança é um tipo de fé que simboliza muito mais uma expectativa em resultados prováveis do que um entendimento ou domínio cognitivo da situação. Ela se associa à ausência no tempo e espaço, tendo em vista que seria dispensável no caso da transparência das ações de uma pessoa ou dos princípios de funcionamento de um sistema. Antes da Modernidade, a confiança era creditada a indivíduos, era regulada por sua conduta, por sua presença. Tratava-se de um “compromisso com rosto” – para usarmos a terminologia de Giddens (1991: 91). Hoje, ela se converte em credulidade em um sistema impessoal e abstrato.

http://www.redalyc.org/pdf/3399/339938468012.pdf