Sociologia e Comunicação Cásper/Linguagem e Sociedade
Temas trabalhados nesta unidade
- O mundo como construção social
- Desnaturalização/Estranhamento
- Narrativas/Elementos das representações
- Linguagem e Memória
Em primeiro lugar, vamos refletir sobre a relação entre Natureza e Cultura e descobrir que a experiência humana envolve a nossa capacidade de produzir e reconhecer padrões simbólicos. Trata-se, também, da capacidade que temos de construir o mundo em que vivemos.
O mundo humano é, portanto, uma construção social.
E o que isso significa?
Que consequências tiramos dessa ideia?
Para responder a essas perguntas, precisamos produzir uma relação de desnaturalização e estranhamento com relação ao mundo social.
Linguagem e Sociedade |
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George Steiner, crítico literário e escritor faz uma série de observações sobre a importância da linguagem para o entendimento da experiência humana, pois é através dela que os homens declaram a sua humanidade. Os tabus, as proibições, os interditos passam pela linguagem, uma vez que não posso proibir o que não posso nomear.(ver meme) É a linguagem que permite a produção do discurso, das narrativas que nos formam. É ela que me permite delimitar quem eu sou e quem é o outro. A conversação é sempre uma proposta de conhecimento e estranhamento mútuo. Além disso, para Anthony Giddens, a linguagem e a memória estão integradas. A lembrança, em sua forma individual, não pode estar separada de um quadro coletivo da memória. Trata-se daquilo que Maurice Halbwachs, antes dele, chamava de quadros sociais da memória.Tentem pensar nas consequências dela para o nosso entendimento do passado e da memória. Desse modo, tanto Giddens quanto Halbwachs ressaltam que a capacidade de recordar o passado está enraizada em estruturas sociais e culturais mais amplas. Nossas lembranças individuais são, na verdade, profundamente imbricadas em contextos coletivos, refletindo as perspectivas, valores e narrativas compartilhados pelos grupos dos quais fazemos parte.
1. Valores e perspectivas compartilhados: Nossas narrativas pessoais refletem os valores, crenças e perspectivas predominantes em nossos grupos sociais e culturais. Elas tendem a incorporar e reproduzir as normas e esquemas interpretativos desses contextos. 2. Convenções e padrões narrativos: As estruturas sociais e culturais estabelecem convenções e modelos narrativos que influenciam a forma como organizamos e expressamos nossas experiências. Nossos relatos tendem a se alinhar com esses padrões compartilhados. 3. Enquadramento de memórias: Nosso senso de passado e a forma como recordamos eventos são orientados por quadros de referência sociais e culturais. Eles condicionam o que é considerado importante lembrar e como essas lembranças são interpretadas. 4. Identidade e pertencimento: Nossas narrativas pessoais estão intimamente ligadas à nossa identidade e ao senso de pertencimento a grupos sociais e culturais específicos. Elas ajudam a nos posicionar em relação a esses contextos. 5. Dinâmicas de poder e privilégio: As estruturas de poder e desigualdade presentes em nossa sociedade e cultura também influenciam quais narrativas são valorizadas, ouvidas e disseminadas, limitando ou privilegiando certas perspectivas.
Essa visão da memória como um fenômeno inerentemente social e mediado pela linguagem contrasta com a noção de um passado "objetivo" que pode ser simplesmente recuperado. Em vez disso, a memória e a história são construídas e reconstruídas a partir de perspectivas e interesses do presente.
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Quatro Elementos das Representações |
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Vamos conhecer, agora, o trabalho de Howard S. Becker que é um sociólogo ligado à segunda geração de pesquisadores da Universidade de Chicago (Escola de Chicago) e que tem produzido uma série de estudos sobre a sociologia do desvio, a sociologia da arte e a sociologia da música. Vamos ver como o sociólogo pensa a nossa capacidade de produzir “representações” ou “relatos sobre a sociedade” (um romance, um livro de histórias, relatos etnográficos, tabelas estatísticas, filmes ou fotografias etc.). Sabemos que qualquer representação é sempre parcial, ou seja, é sempre “menor” do que aquilo que aconteceu. Algo sempre fica “de fora” no ato de descrever ou narrar. A questão que nos colocamos, então, é a seguinte: quais critérios devemos usar nas nossas escolhas e decisões a respeito do que pode ou não pode entrar em nossas histórias? OS QUATRO ELEMENTOS DAS REPRESENTAÇÕESeditarA partir das ideias de Howard S. Becker, vamos verificar que a produção de representações (narrativas) sobre a sociedade envolve quatro elementos fundamentais sobre os quais precisamos pensar. O primeiro deles é o processo de SELEÇÃO: produzir uma representação sobre alguma coisa significa, necessariamente, excluir determinados elementos. Sendo assim, a primeira questão que aparece é: o que poderia ou deveria ser excluído? quem definiria isso? Dando continuidade às nossas reflexões, nos deparamos, agora, com um novo desafio. Precisamos adequar nossas representações a determinados meios, ou seja, entramos no processo de TRADUÇÃO daquilo que estamos vendo, ouvindo, sentindo ou imaginando. Traduzir significa transpor um conjunto de elementos para outro conjunto de elementos. Por exemplo: as minhas observações sobre o cotidiano viram poemas ou romances ou música. Por isso, somos obrigados a identificar ou produzir uma “linguagem” adequada aos meios que temos à nossa disposição (escrita, audiovisual, hipertextual etc.). Podemos destacar aqui os estudos sobre gêneros textuais, também. O ARRANJO é outro elemento fundamental presente em uma representação da realidade, uma vez que é necessário “organizar” de algum modo a narrativa. É preciso começar de algum lugar, seguir para algum lugar, dar início à história de algum modo. É interessante observar como o hipertexto (a capacidade de produzir diversos textos interligados por links) abre um conjunto de novas possibilidades de arranjo às narrativas (escritas e audiovisuais). Na maioria das vezes, todos aqueles que trabalham com representações do nosso cotidiano precisam tomar decisões relacionadas aos elementos acima. O que não podemos esquecer é que o leitor, o ouvinte, o espectador ou o usuário dessas representações “interferem” no modo pelo qual essas escolhas são feitas. Vamos ver como isso acontece. Em primeiro lugar, produzimos representações para alguém (um perfil social qualquer baseado em dados ou um perfil imaginado do destinatário do nosso texto). O leitor, o ouvinte e o espectador estão presentes, de algum modo, nas escolhas dos produtores de conteúdo. Eles acabam fazendo parte de um tipo de comunidade interpretativa. Você conseguiria pensar essa ideia a partir da análise de uma comunidade de fãs, por exemplo? Por outro lado, um livro, um programa de rádio, um filme ou um jogo só ganha existência diante de um usuário que o utiliza dentro de algumas expectativas e experiências particulares. Ele ou ela trazem a história para suas vidas. O usuário precisa construir suas representações do mundo a partir das representações propostas pelos produtores (de notícias, novelas, filmes, jogos etc). Chamamos esse momento de PROCESSO INTERPRETATIVO. |
Obras Indicadas |
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Obras Indicadas (*) BECKER, Howard S. Falando da Sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009 (cap. 1 e 2) BERGER, Peter; LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade: tratado de sociologia do conhecimento. Petrópolis, RJ: Vozes, 1985 BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.~ CABECINHAS, Rosa. Processos cognitivos, cultura e estereótipos sociais. ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV Du GAY et. al. Doing Cultural Studies: The Story of the Sony Walkman. 2nd edition. Londonː SAGE. April 2013. FERREIRA, Gil António F. LINGUAGEM E MODERNIDADE - Comunicabilidade da experiência e convenções de representação nas sociedades mediatizadas - (Tese de Mestrado em Ciências da Comunicação) - Universidade da Beira Interior FLUSSER, V. – O mundo codificado: por uma filosofia do design e da comunicação. São Paulo: Ubu Editora, 2017 FÜRSICH, Fürsich. O problema em representar o outro: mídia e diversidade cultural PARÁGRAFO. V. 4, N. 1 p.51-61 JAN/JUN.2016 GIDDENS, Anthony. Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002 GONZALEZ, Lélia. A categoria político-cultural de amefricanidade. In: Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro, Nº. 92/93 (jan./jun.). 1988b, p. 69-82 HONETH, Axel. O eu no nós: reconhecimento como força motriz de grupos. Dossiê • Sociologias 15 (33) • Ago 2013 (*) MEAD, G. H. A brincadeira, o jogo e o outro generalizado. Pesquisas e Práticas Psicossociais 5(1), São João del-Rei, janeiro/julho 2010 (Traduzido de Mead, G. H. (1967). Mind, self, and society (pp. 152-164). Chicago: The Chicago University Press) NICODEMO, Thiago Lima, CARDOSO, Oldimar Metahistory for (Ro)bots: Historical Knowledge in the Artificial Intelligence EraHist. Historiogr. v. 12, n. 29, jan-abr, ano 2019, p. 17-52 - DOI: 10.15848/hh.v12i29.1443 SIMMEL, Georg. A PONTE E A PORTA. REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - POLÍTICA & TRABALHO, [S. l.], v. 12, p. 11–15, 1996. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/politicaetrabalho/article/view/6379. Acesso em: 28 fev. 2022. (*) STEINER, George. Extraterritorial: a literatura e a revolução da linguagem'. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. (Animal com Linguagem) WHITE, Leslie A. O conceito de sistemas culturais: como compreender Tribos e Nações. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1978
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Filmes e Séries |
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Filmes e Séries Werner Herzog. O Enigma de Kasper Hauser François Truffaut. O garoto selvagem Hal Ashby . Muito Além do Jardim Eliane Café. Narradores de Javé Fernando Frias. YA NO ESTOY AQUÍ (2020, México/EUA) Anne with an E (Série) |
Outras Referências |
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EKO – multiverse storytelling (Possibilia) Molleindustria – Radical Games Manual da Diversidade no Jornalismo Produção cultural evangélica | Elisa Hoerlle – Itaú Cultural. 07/11/2017 Influencers de Cristo – Evangélicos da nova geração mostram na internet um novo comportamento religioso- UOL (TAB), 18/09/2017 Católicos em rede: de ouvintes a produtores da palavra de fé – IHU Online – Edição 491 | 22 Agosto 2016 Leia a matéria completa em: “A cultura negra é popular, pessoas negras não são” As festas “neotropicalistas” e a apropriação cultural indevida – Geledés Um papo com Oz Guarani, o primeiro grupo indígena de rap de São Paulo -Weslei Barba – Noisey Apr 19 2017] Este coletivo quer acabar com o preconceito contra gays, negros e mulheres no futebol – André Cabette Fábio -9 Abr 2016 Jogos de empatia ajudam a entender ‘a dor do outro’ – Caderno Link – Estadão – BRUNO CAPELAS, 21 de março de 2016 O teste de Bechdel – Por: Por Helena Dutt-Ross Novos feminismos e a luta pelos direitos das mulheres – Nexo Jornal Teste de Bechdel: 12 filmes em que as conversas entre mulheres não são sobre homens - Yasmin Abdalla, Claudia - HuffPost Memória (do futuro), inteligência artificial e publicidade: 70 anos da Volkswagen no Brasil: 70 anos da Volkswagen no Brasil MRF Nunes, LM Campiglia, JA de Moraes Abrão - Signo, 2024 Este artigo apresenta os resultados parciais de pesquisa em curso no CNPq que tematiza a memória do futuro em textos culturais midiáticos. O objeto empírico é o vídeo publicitário VW 70 anos/VW Brasil produzido por tecnologias de Inteligência Artificial compreendido como texto cultural midiático propulsor de memórias. Interroga-se sob a forma de questão-problema: qual o papel que a IA desempenha para a construção de memórias e esquecimentos materializados nesse filme … 10/09/2014 Abel usa expressão xenofóbica ao analisar atuação do Palmeiras: "Isso não é uma equipe de índios" Por Redação do ge — São Paulo,11/07/2024 22h57
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