Sociologia e Comunicação Cásper/Modernidade

Não é mau definir épocas históricas pelo tipo de ‘demônios íntimos’ que as assombram e atormentam. (Modernidade Líquida - Zygmunt Bauman)

Vamos começar falando das transformações pela qual passa esse mundo moderno.


Um Mundo Novo

No que diz respeito à vida cotidiana moderna, podemos dizer que ela se revela como um “mundo em disparada” que tende a um “desenraizamento” das antigas formas comunitárias tradicionais (pré-modernas). Como alterações na estrutura da experiência, temos: a aceleração da vida cotidiana na vida da metrópole, a experiência do choque, a presença da multidão e um bombardeio de estímulos.

Para entender as transformações trazidas pelo mundo moderno é preciso seguir os passos de Walter Benjamin e observar que: No interior de grandes períodos históricos, a forma de percepção das coletividades humanas se transforma ao mesmo tempo que seu modo de existência.

As transformações históricas (sociais, culturais, tecnológicas etc.) estão associadas à eliminação de determinados tipos de comportamento e de certas emoções, ou seja, nossas emoções e sensações são históricas e socialmente construídas (Walter Benjamin, Obras Escolhidas III p. 169).

Esse aspecto é bastante desenvolvido em autores com Walter Benjamin e Georg Simmel.


Georg Simmel (1858-1918)

O mundo ocidental moderno promete aventura, liberdade, poder, mobilidade, velocidade, uma transformação constante de si mesmo e do mundo ao redor, fazendo com que a vida social se intensifique, mas, ao mesmo tempo, ameaçam romper com tudo o que construímos ou conhecemos de uma hora para outra.

Em meio à turbulência sem precedente do tráfego, barulho, painéis, sinais de trânsito, multidões que se acotovelam, vitrines e anúncio da cidade grande, o indivíduo defrontou-se com uma nova intensidade de estimulação sensorial. A metrópole sujeitou o indivíduo a um bombardeio de impressões, choques e sobressaltos. O ritmo da vida também se tornou mais frenético, acelerado pelas novas formas de transporte rápido, pelos horários prementes do capitalismo moderno e pela velocidade da linha de montagem.” (Mike Featherstone . O flâneur, a cidade e a vida pública virtual)."

O sociólogo Georg Simmel constata que, para se defender desse turbilhão de sensações, o homem urbano moderno tende a desenvolver uma atitude blasè. Devido ao hiperestímulo constantes, as pessoas que vivem na metróple desevolvem um mecanismo de defesa, uma certa relação de indiferença com o que está acontecendo ao seu redor.


A Modernidade em Anthony Giddens

No que diz respeito à vida cotidiana moderna, podemos dizer que ela se revela como um “mundo em disparada” que tende a um “desenraizamento” das antigas formas comunitárias tradicionais (pré-modernas).

Essa nova ordem social, moral, política e econômica precisa estabelecer as condições para que  novas relações institucionais de confiança e segurança sejam estabelecidas.

Vamos explorar um pouco mais essa ideia.


Sistema Abstrato (fichas simbólicas + sistemas peritos)

Sociólogo: Anthony Giddens (1938- )
Esse desencaixe das instituições pode ser percebido no aparecimento de um “sistema abstrato” caracterizado pela presença, cada vez maior, das chamadas “fichas simbólicas” e dos “sistemas especializados”.

O dinheiro é a forma mais comum de ficha simbólica. Ele se torna uma espécie de equivalente universal que pode ser trocado por qualquer coisa em qualquer lugar.

Os sistemas peritos (especializados), por sua vez, podem ser identificados na divisão social do trabalho presente no mundo moderno. Giddens observa que o médico, o analista e o terapeuta tornam-se tão importantes como sistemas especialistas quanto um cientista, um técnico ou um engenheiro.

Tanto as fichas simbólicas (como o dinheiro) quanto os sistemas peritos (especialistas) dependem de um elemento fundamental: um novo sistema de produção da confiança.

A confiança torna-se fundamental em um mundo em que as pessoas não se conhecem e relacionam-se em lugares muito distantes daqueles onde vivem ou trabalham. Ou, até mesmo, são obrigadas a confiar em pessoas que detêm um conhecimento técnico que desconhecem (médicos, mecânicos, advogados etc.)

Para que o mundo moderno não se desestruture, faz-se necessária a construção de novas arenas capazes de gerar um sentimento de segurança relativa na vida social. Uma dimensão importante dessa nova ordem moderna é que a tradição não lhe serve mais de referência.

A reflexividade passa a ser uma dinâmica importante da vida nessa nova configuração histórica. Tudo está sujeito a intensa revisão à luz de novos conhecimentos – normalmente produzidos pelos sistemas especialistas. A ciência passa a ser uma dimensão fundamental dessa reflexividade, pois é baseada justamente no princípio da dúvida, ou seja, todo conhecimento está sujeito a revisão ou pode ser descartado diante de novas descobertas ou mudanças de paradigma.

O próprio Eu ou o Self passa a ser construído reflexivamente. Como no mundo moderno a tradição perdeu a sua força, esse eu deve ser construído, ao menos em tese, em meio a diversas opções e possibilidades que podem ser revistas com o tempo.

Como esse Eu precisa ser construído reflexivamente, como foi dito acima, o aparecimento de “especialistas” na sua construção passa a ser cada vez mais requisitado. Quanto mais se aumentam as possibilidades de escolha, aumenta-se, também, a incerteza quanto as decisões consideradas “corretas”.

A modernidade pode ter reduzido consideravelmente os riscos em determinadas esferas da vida, mas introduziu não somente novos riscos – de que nem sequer tem ideia ainda -, mas novas formas de avalia-los e antecipa-los. - formas que não existiam em épocas anteriores.


ATIVIDADE


Bibliografia


Referências

GIDDENS, Anthony. Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002

SIMMEL, Georg. As grandes cidades e a vida do espírito. Mana. Rio de Janeiro, vol.11, no.2, out. 2005 [1903], p.577-591.

SINGER,Ben. Modernidade, Hiperestímulo e o início do sensacionalismo moderno. In: CHARNEY, Leo & SCHWARZ, Vanessa R. (Org.). O cinema e a invenção da vida moderna. Editora Cosac Naify, 1ª edição, 2010.


Outras Referências

CRÔNICA/POESIA Leia ao menos um dos textos.

João do Rio. O automóvel (incrível capacidade de observação de João do Rio sobre o significado do automóvel no mundo moderno. As mudanças que o automóvel anuncia)

________. Pressa de Acabar (O cinematógrafo)

Terra desolada – T.S. Elliot

Ode Triunfal Álvaro de Campos (Fernando Pessoa) – incrível tradução da experiência moderna

Manifesto Futurista – Marinetti Ser moderno – Vinícius de Moraes (Rio de Janeiro, Jornal do Brasil, 31/12/1969)

OUTRAS FONTES

Moving Pictures: Magic Lanterns, Portable Projection, and Urban Advertising in the Nineteenth Century – Dec 19, 2016 By: Ellery E. Foutch – Volume 1, Issue 4 – © 2016 Johns Hopkins University Press

Para entender a modernidade e o modo pelo qual o cinema passa pelo tema. Raimo Benedetti conta o que é o Cinema das Atrações

Propagandas (século XIX)

Government corruption and the Progressive Era

A Mobilidade como objecto sociológico – Emília Rodrigues Araújo

O que é FoMO? ‘Fear of missing out’ revela o medo de ficar por fora nas redes sociais – Isabela Giantomaso – TechTudo, 27/05/2017

Ramadã, uma preocupação para o Liverpool e sete seleções que vão à Copa – Luís Augusto Monaco – Chuteira F.C. 06/05/2018

Luís Felipe Miguel. O jornalismo como sistema perito

Renato Motta. Risco e Modernidade – Uma nova teoria social?

Sérgio Augusto. Adeus às Ilusões. estadao.com.br/cultura - 25 de agosto de 2012

Zygmunt Bauman: ‘Três décadas de orgia consumista resultaram em uma sensação de urgência sem fim’ – Maria Fernanda Rodrigues, O Estado de S. Paulo 06 Agosto 2016 | 16h00

CULTURA DE CONSUMO: O GRANDE NÓ DA SUSTENTABILIDADE NA CADEIA DA MODA – por Amália Safatle – Página 22, 31/10/2107

O livro que criou o termo ‘meritocracia’ é uma distopia – Camilo Rocha – Nexo – 06 Nov 2017 (atualizado 06/Nov 00h36)