Sociologia e Comunicação Cásper 2022/ Modernidade I
“O paradigma cultural da modernidade constituiu-se antes de o modo de produção capitalista se ter tornado dominante e extinguir-se-á antes de este último deixar de ser dominante. (…) O projeto sociocultural da modernidade constituiu-se entre o século XVI e finais do século XVIII… [enquanto] a especificidade histórica do capitalismo…só ocorre a partir do século XVIII ou mesmo meados do século XIX” (Boaventura de Sousa Santos. Pela Mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade)
Para Santos, o projeto da modernidade é um projeto rico e complexo, ambicioso e revolucionário, com múltiplas possibilidades e contradições. Ele cumpriu algumas de suas promessas mais ambiciosas. No entanto, ele é irremediavelmente incapaz de cumprir outras.
Modernidade |
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No que diz respeito à vida cotidiana moderna, podemos dizer que ela se revela como um “mundo em disparada” que tende a um “desenraizamento” das antigas formas comunitárias tradicionais (pré-modernas). Três conjuntos de elementos contribuem para esse processo.
Nessa nova ordem, faz-se necessária, cada vez mais, uma nova articulação entre o tempo comum dos encontros e os diferentes espaços em que as pessoas se encontram. Tudo isso produz o que Anthony Giddens chama de “desencaixe das instituições sociais”. Essa nova ordem social, moral, política e econômica precisa estabelecer as condições para que novas relações institucionais de confiança e segurança sejam estabelecidas. Vamos explorar um pouco mais essa ideia. |
Uma Nova Ordem Mundial |
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Vamos começar falando das transformações pela qual passa esse mundo moderno. Para Ben Singer, em Modernidade, Hiperestímulo e o Início do Sensacionalismo Moderno, a modernidade pode ser pensada a partir das transformações produzidas em várias esferas da vida:
Ao representar uma força de ruptura com o mundo tradicional, suas normas e valores e produzir uma centralização do poder político nos chamados Estados-Nação e todo o seu sistema de representação, o individualismo de ordem liberal etc.
Essa vontade de controle sobre a natureza e sobre todos os aspectos da vida humana é orientada pela ideia de progresso como uma espécie de domínio sobre certas forças poderosas e desconhecidas com a finalidade de direciona-las a um propósito civilizador de emancipação do homem. Essa crença revelou-se ingênua e suas consequências, em alguns casos, foram terríveis (desigualdade, opressão, massacres, poluição, acidentes nucleares etc.)
Podemos pensar a modernidade a partir de seu vínculo com uma ordem industrial.Essa nova ordem gera um tipo particular de mobilidade que acentua o fenômeno da urbanização, demandno um novo sistema de circulação de bens, pessoas e informações com mudanças radicais nos sistema de transporte “de massa” e nos sistemas de comunicação (telefone, telégrafo, imprensa etc.) Surgem novos espaços e modos de consumo, baseados nos centros de compras, na publicidade e no consumo “de massa”. O mercado aparece como um sistema autônomo que organiza a vida social. Quase tudo, nessa nova ordem, tende a assumir a forma de mercadoria e a ser disponibilizada nesse espaço que é o mercado no qual pode ser comprada ou vendida.
Esse mesmo hiperestímulo sensorial é o meio no qual o sensacionalismo dos jornais impressos prolifera. (Singer, 2001). Para entender essa transformação é preciso seguir os passos de Walter Benjamin e observar que:O mundo ocidental moderno promete aventura, liberdade, poder, mobilidade, velocidade, uma transformação constante de si mesmo e do mundo ao redor, fazendo com que a vida social se intensifique, mas, ao mesmo tempo, ameaçam romper com tudo o que construímos ou conhecemos de uma hora para outra. Como Karl Marx destaca, um mundo em que tudo o que parece sólido pode se desmanchar no ar de uma hora para outra. Em Sobre alguns temas em Charles Baudelaire, Walter Benjamin (1989) destaca que a grande cidade causava medo, repugnância e horror aos que, pela primeira vez, deparavam-se com ela. Mas, ao mesmo tempo, ela era um espaço de sonho e fantasia. Uma estranha fantasmagoria. Um novo processo civilizatório que começava a ganhar forma. |
A Técnica e a Vida Automatizada |
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Esse processo civilizatório traz consigo uma série de “sintomas” identificados em um sistema que aparenta funcionar por si só,“sem atritos dos mecanismos sociais”. Para Benjamin:
Ele constata, ainda, que a cada aperfeiçoamento desse mesmo mecanismo, dever-se-ia pressupor, também, a eliminação de determinados tipos de comportamento e de certas emoções. Nossas emoções e sensações são históricas e socialmente construídas. |
A Modernidade em Anthony Giddens |
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Sistema Abstrato (fichas simbólicas + sistemas peritos) Esse desencaixe das instituições pode ser percebido no aparecimento de um “sistema abstrato” caracterizado pela presença, cada vez maior, das chamadas “fichas simbólicas” e dos “sistemas especializados”.O dinheiro é a forma mais comum de ficha simbólica. Ele se torna uma espécie de equivalente universal que pode ser trocado por qualquer coisa em qualquer lugar. Os sistemas peritos (especializados), por sua vez, podem ser identificados na divisão social do trabalho presente no mundo moderno. Giddens observa que o médico, o analista e o terapeuta tornam-se tão importantes como sistemas especialistas quanto um cientista, um técnico ou um engenheiro. Tanto as fichas simbólicas (como o dinheiro) quanto os sistemas especialistas dependem de um elemento fundamental: um novo sistema de produção da confiança. A confiança torna-se fundamental em um mundo em que as pessoas não se conhecem e relacionam-se em lugares muito distantes daqueles onde vivem ou trabalham. Ou, até mesmo, são obrigadas a confiar em pessoas que detêm um conhecimento técnico que desconhecem (médicos, mecânicos, advogados etc.) Para que o mundo moderno não se desestruture, faz-se necessária a construção de novas arenas capazes de gerar um sentimento de segurança relativa na vida social. Uma dimensão importante dessa nova ordem moderna é que a tradição não lhe serve mais de referência. A reflexividade passa a ser uma dinâmica importante da vida nessa nova configuração histórica. Tudo está sujeito a intensa revisão à luz de novos conhecimentos – normalmente produzidos pelos sistemas especialistas. A ciência passa a ser uma dimensão fundamental dessa reflexividade, pois é baseada justamente no princípio da dúvida, ou seja, todo conhecimento está sujeito a revisão ou pode ser descartado diante de novas descobertas ou mudanças de paradigma. O próprio Eu ou o Self passa a ser construído reflexivamente. Como no mundo moderno a tradição perdeu a sua força, esse eu deve ser construído, ao menos em tese, em meio a diversas opções e possibilidades que podem ser revistas com o tempo. Como esse Eu precisa ser construído reflexivamente, como foi dito acima, o aparecimento de “especialistas” na sua construção passa a ser cada vez mais requisitado. Quanto mais se aumentam as possibilidades de escolha, aumenta-se, também, a incerteza quanto as decisões consideradas “corretas”. A modernidade pode ter reduzido consideravelmente os riscos em determinadas esferas da vida, mas introduziu não somente novos riscos – de que nem sequer tem ideia ainda -, mas novas formas de avalia-los e antecipa-los. Formas que não existiam em épocas anteriores. |
Bibliografia |
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BIBLIOGRAFIA GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade. São Paulo: UNESP, 1991 GIDDENS, Anthony. Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002 (Introdução e Cap. I) SIMMEL, Georg. As grandes cidades e a vida do espírito. Mana. Rio de Janeiro, vol.11, no.2, out. 2005 [1903], p.577-591. SINGER,Ben. Modernidade, Hiperestímulo e o início do sensacionalismo moderno. In: CHARNEY, Leo & SCHWARZ, Vanessa R. (Org.). O cinema e a invenção da vida moderna. Editora Cosac Naify, 1ª edição, 2010.
João do Rio. O automóvel (incrível capacidade de observação de João do Rio sobre o significado do automóvel no mundo moderno. As mudanças que o automóvel anuncia) ________. Pressa de Acabar (O cinematógrafo) Álvaro de Campos (Fernando Pessoa) Terra desolada – T.S. Elliot Ode Triunfal Álvaro de Campos (Fernando Pessoa) – incrível tradução da experiência moderna Manifesto Futurista – Marinetti Ser moderno – Vinícius de Moraes (Rio de Janeiro, Jornal do Brasil, 31/12/1969) OUTRAS FONTES Moving Pictures: Magic Lanterns, Portable Projection, and Urban Advertising in the Nineteenth Century – Dec 19, 2016 By: Ellery E. Foutch – Volume 1, Issue 4 – © 2016 Johns Hopkins University Press Para entender a modernidade e o modo pelo qual o cinema passa pelo tema. Raimo Benedetti conta o que é o Cinema das Atrações Propagandas (século XIX) Government corruption and the Progressive EraA Mobilidade como objecto sociológico – Emília Rodrigues Araújo O que é FoMO? ‘Fear of missing out’ revela o medo de ficar por fora nas redes sociais – Isabela Giantomaso – TechTudo, 27/05/2017 Do homem-sandwich ao homem-placa Ramadã, uma preocupação para o Liverpool e sete seleções que vão à Copa – Luís Augusto Monaco – Chuteira F.C. 06/05/2018 Luís Felipe Miguel. O jornalismo como sistema perito Renato Motta. Risco e Modernidade – Uma nova teoria social? |