Sociologia e Comunicação USCS 2022/Sociedades disciplinares e Sociedades de controle
Fernanda Bruno chama atenção para o fato de que no século XVIII as técnicas de cálculo, de produção de informação e conhecimento integram-se de modo complexo às técnicas de vigilância e controle.
MIchel Foucault chega a usar o termo Biopolítica e Governamentalidade para falar desse processo.
A Estatística, por exemplo é identificada como uma ciência do Estado – desenvolve novas técnicas de coleta e tabulação de dados sobre as populações, categorizando, classificando, hierarquizando, mapeando os mais diversos tipos de informações sobre elas.
Vamos ver os modos pelos quais Foucault e Deleuze pensaram nossas sociedades.
Sociedades disciplinares |
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Foucault é conhecido pelos seus estudos sobre a passagem dos regimes de vigilância e punicação das Sociedades de soberania para as Sociedades disciplinares - que podem ser encontradas em sua obra "Vigiar e Punir". Esses regimes de vigilância e a nova lógica de produção de informação e conhecimento ("Saberes") produzidos neles, articulam-se no que ele chama de microfísica do poder. Gilles Deluze, em um clássico posfácio de sua obra “Conversações”, faz um mapeamento das características das sociedades disciplinares (Foucault) e a sua transição para o que ele chama de sociedades de controle. É importante destacar que Foucault e Deleuze eram muito próximos e produziram diversas interlocuções. Em seu mapeamento das sociedades disciplinares (visão proposta por Foucault), Deleuze destaca os seguintes pontos de observação que a caracterizam:
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Sociedades de controle |
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Sociedade de Controle foi um termo inspirado pelo escritor William S. Burroughs ( no colóquio Squizo Culture de 1975 nos EUA). A sociedade de controle move-se por outra lógica ou um outro arranjo de forças ou novos agenciamentos – na linguagem de Deleuze. O que as caracterizam são:
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Vigilância e mediadores algorítmicos |
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Lucia Santaella destaca que estamos em um mundo de dados e de fluxos em tempo real, monitoramentos em movimento não só do que fizemos e fazemos. Eles podem servir de identificadores de padrões capazes de “prever” futuros comportamentos possíveis. Eles dependem de uma coleta massiva de dados de um modo muito pouco claro para os usuários, que são seus produtores. É o que se convencionou chamar de “Big Data“. Os dispositivos de controle permitem também um monitoramento e autovigilância de nós mesmos – os wearables – que indicam nosso ritmo cardíaco, ritmo de passadas em uma caminhada e um conjunto de outras reações corporais. Esbarramos no limite entre as práticas de vigilância e o fornecimento de dados para a melhoria da experiência pessoal e dos cuidados com o corpo a partir da identificação de certos padrões. Há, ainda, uma série de integrações entre esses dados pessoais, empresas e as pesquisas científicas sobre saúde. Esses agenciamentos e seus dispositivos (sociedades de controle) produzem uma economia da abundância (de informação) que, consequentemente, produz um limite na capacidade humana para lidar com eles. Cada vez mais, passamos a sofrer ou passar pela mediação de filtros (algoritmos-bots). Nossos padrões de relevância e confiança passam a ser alterados. Novos sistemas de gestão, curadoria e recomendação surgem. O risco da formação de “bolhas” baseadas em padrões de comportamento, gosto ou orientação política pode se tornar cada vez mais comum. A noção de privacidade muda. Vigilância e voyeurismo combinam-se de modo complexo e assumem uma relação, também, complexa com novas formas de prazer. A invasão de privacidade dá lugar à evasão de privacidade e seus novos padrões de exibição pública. A melhoria da experiência do usuário (UX) depende do acesso a seus dados cotidianos, mas serve também para um propósito não muito claro, mas lógico, em uma sociedade capitalista: a comodificação dos perfis e a gerenciamento da disputa pela atenção desses mesmos usuários (disputa política e corporativa pelos seus corações e mentes). Os mediadores algorítmicos estão sempre presentes, mas tornam-se invisíveis, embora atuem como intermediários fundamentais das nossas trocas simbólicas em ambientes digitais. Não existe nenhum tipo de auditoria ou debate público sobre seus “propósitos”. Os algoritmos/bots são agentes muito particulares e misteriosos que passam a conviver cotidianamente conosco. Como observa Steven Johnson, eles são meio textos, meio máquinas, meio atores, meio ambientes. Eles, praticamente, funcionam e podem ser modificados sem intervenção humana direta e podem ser “inteligentes” em certo sentido. Referindo-se a Foucault, Cheney-Lippold fala de uma soft biopolitic. Falaremos mais sobre isso no capítulo sobre as Novas Mídias e a Cultura do Algoritmo. |
Bibliografia |
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BIBLIOGRAFIA DELEUZE, Giles. Pos-Scriptum: Sobre as sociedades de controle. In: Conversações, 1972–1990. Rio de Janeiro: Ed.34, 1992 BRUNO, Fernanda. Monitoramento, classificação e controle nos dispositivos de vigilância digital. Revista FAMECOS Porto Alegre nº 36 agosto de 2008 CHENEY-LIPPOLD, John. A new Algorithmic Identity – soft biopolitics and the modulation of control. Theory, Culture & Society v. 28 n. 6, 2011 pp. 164-181 GIRARDI jR, Liráucio . O Estranho mundo da informação – e da materialidade – no campo da comunicação e-COMPÓS, 2017 PASQUALE, Frank. A Esfera pública automatizada: The Automated Public Sphere. Líbero. ANO XX – No 39 JAN. / AGO. 201 SANTAELLA, Lucia. Ecologia Pluralista da Comunicação. São Paulo: Paulus, 2010 SILVEIRA, Sérgio Amadeu. O governo dos algoritmos. Revista de Políticas Públicas v.21 n. 1 p267-281, 2016 William Gibson. Neuromancer OUTRAS REFERÊNCIAS MOROZOV, Evgeny. ‘Big Data’ poderia ter impedido o 11 de setembro? Folha de S. Paulo.23/07/2013 A Field Guide to Fake News and Other Information Disorders – Public Data Lab How to see all the companies tracking you on Facebook — and block them – Jim Edwards – Business Insider, Aug. 12, 2015 Por que publicar mais dados abertos não é suficiente para empoderar os cidadãos – JORNALISMO DE DADOS – Adi Eyal IJnet 11/01/17 (“Mas simplesmente “liberar” dados não é suficiente. Até mesmo a conferência de alto nível da ONU sobre a revolução dos dados na África, realizada no ano passado, reconheceu que é improvável que os cidadãos usem dados abertos e, portanto, os intermediários – ou “infomediários” – devem desempenhar um papel importante”) “Vejam o caso da Lego. Ao buscar ideias para novos produtos, eles perceberam que seus fãs poderiam ajudar. Para aproveitar esse potencial, eles criaram a plataforma Lego Ideas, que convida consumidores do mundo inteiro a enviar e avaliar sugestões para novos sets. Os mais votados são produzidos e os autores, recompensados. O ciclo de produção e go-to-marketdesses produtos é mais rápido que dos demais, assim, eles conseguem aproveitar as oportunidades de mercado para temas como Tron Legacyou Adventure Time.’ As democracias estão em risco e só a tecnologia pode salvá-las – Marco Konopacki, Democracia Abierta, 30/03/2017 (o título foi um pouco infeliz, mas o texto é muito interessante) More is less Rolf Dobelli, author of The Art of Thinking Clearly, explains: “News items are bubbles popping on the surface of a deeper world. Will accumulating facts help you understand the world? Sadly, no. The relationship is inverted. The important stories are non-stories: slow, powerful movements that develop below journalists’ radar but have a transforming effect. The more ‘news factoids’ you digest, the less of the big picture you will understand.” – How the web distorts reality and impairs our judgement skills – Tomas Chamorro-Premuzic The Guardian 13/05/2014 OS LIMITES DO CONTROLE – William S. Burroughs (Blog Maelström Life) ALL WATCHED OVER BY MACHINES OF LOVING GRACE É UM DOCUMENTÁRIO PRODUZIDO EM 2011 POR ADAM CURTIS EM PARCERIA COM A BBC. O DOCUMENTÁRIO DE ADAM CURTIS É DIVIDIDO EM 3 PARTES DIFERENTES, CADA UMA FALANDO DE UM SUBTEMA RELACIONADO À NOSSA CRENÇA NAS MÁQUINAS E NO SEU PODER DE TRANSFORMAR A VIDA HUMANA. MÚSICAS E FILMES Série: Last Enemy Pink Floyd - The Wall |