Temperaturas Paulistanas/Planejamento/Anhanguera/Turma C

Velho Diabo

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Radioreportagem produzida a partir da entrevista com Vinícius dos Santos e pesquisa sobre região do Anhanguera.
Áudio de resposta de Vinícius dos Santos.

Pertencente à Subprefeitura de Perus, o distrito do Anhanguera está localizado na região noroeste da cidade de São Paulo. Os seus 33 km2 de área são majoritariamente cobertos por matas. A localidade está fora da mancha urbana da Região Metropolitana de São Paulo e parte de sua população vive, ainda, em áreas consideradas rurais.

Áudio de resposta de Vinícius dos Santos.

A origem de seu nome é tupi, união das palavras anhagá e puêra. Anhangá são os espíritos que rondam a terra após a morte do corpo, azucrinando os que ainda não fizeram sua passagem. Puêra é aquilo que se foi, é o antigo. Espírito velho, velho diabo. Anhanguera: um nome amaldiçoado que não condiz com a realidade de quem lá vive.

São oito e meia de uma manhã quente no bairro da Barra Funda. O ônibus 8622 verde-claro já estava no ponto do terminal quando chegamos. A mistura de dez pães de queijo por dois reais e o café aguado faziam jus ao aroma da segunda maior rodoviária de São Paulo. Mas nosso destino não era a praia, muito menos a cidade maravilhosa: iríamos até o extremo noroeste da cidade, para desbravar morros ora doces, ora amargos. Ônibus quase vazio, poucas pessoas pegam o contrafluxo essa hora da manhã; o Anhanguera é uma região verde com seus poucos trabalhadores. O percurso, pelas ruas e avenidas, serpenteava, dando lugar a um conglomerado de múltiplos tons de verdes; as placas indicando “Jundiaí” já mostravam que estávamos longe do ponto central da cidade.

Apreensivas com a demora do percurso, perguntamos ao cobrador se já estávamos chegando. “Só quando estivermos mais perto do Pico do Jaraguá”, ele afirmou. E lá vinha ele no horizonte, aquele pico de terra perdido em meio ao caos urbano tão próximo. Nossa referência era um cemitério e um  parque, ambos com “Anhanguera” no nome. O percurso revelou uma face colorida da cidade paulista que se perde em meio ao estresse diário. Árvores e mais árvores da Mata Atlântica; respectivamente contrário a São Paulo, os número de casas diminuía e o ar puro entrava, sem pedir licença, nos pulmões. É destoante perceber que, principalmente para quem mora no eixo central, há todo um ambiente desconhecido, quiçá selvagem, na cidade da garoa.

“Moça, é o próximo, só atravessar por cima!”, o cobrador grita para o fundo do ônibus, onde estávamos distraídas com essa nova São Paulo. Descemos em uma mistura de sentimentos e sensações: estar no meio do nada e estar frente a um pequeno reino esquecido pelos paulistas. A vista era passível de se esquecer que ainda estamos na cidade mais populosa do país. Desembarcamos do lado do tal cemitério, que era um dos quatro elementos que compunham a pintura: incontáveis casinhas coladas ao CEU Anhanguera de uma lado da pista e, do outro, um cemitério e um parque. De um lado onde morremos, do outro onde vivemos - onde eles vivem.

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Atravessamos a passarela e uma única sensação ficou nítida: todos pelos quais passamos nesse breve caminho sabiam que não éramos de lá. A impressão que fica é a de que é realmente um feudo aquele lugar. A entrada principal de acesso ao CEU Anhanguera lembra a de um castelo: algumas vigas de madeira que transpassam um córrego estreitíssimo, assim como os meninos que jogam bola na quadra; uma árvore é porteira e sombra, e um boteco te recebe na esquina com cachaça e simplicidade. O cercado em volta do pequeno rio é de madeira. Os mercadinhos vendem balas a um centavo - nostalgias que a grande São Paulo não oferece mais, luxos, por assim dizer, de uma periferia.

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Logo fomos ao que tínhamos vindo saber: a inclusão através do esporte numa das regiões do noroeste paulista mais afastada. Entrando no CEU já dá para perceber como a matriz de todos os jovens está ali: desde atividades culturais - como teatro, música, hip-hop e breakdancing - até esportes incomuns, como badminton, estão na programação do local. Muitos jovens são atletas e veem o esporte como uma carreira possível na vida. Várias mães, como a senhora Francisléia, acham de extrema importância ter essa quantidade enorme de atividades para a juventude da região, pois é um incentivo muito grande para desenvolver outras qualidades e virtudes dos jovens.

Áudio de resposta de Vinícius dos Santos.

Pelo fato de ter difícil acesso e de ser um dos poucos próximos a um CEU, o bairro do Anhanguera vive entre o limite do isolamento e do sentimento pulsante de comunidade. De forma geral, o esporte é visto, por toda a comunidade, com bons olhos, já que é uma alternativa próxima, acessível e, principalmente, fornecedora de um futuro mais abrangente para aqueles jovens. O esporte é mais que um lazer, é uma forma de vida. Josianne, por exemplo, é uma dessas jovens.

Áudio de resposta de Vinícius dos Santos.

Ela nos recebeu com uma timidez sem tamanho no seu mercadinho em frente ao CEU Anhanguera, um dos pontos mais frequentados daquela rua. Josianne tem vinte e cinco anos, cursou o Ensino Médio e sempre praticou futebol e handebol no CEU. Morou a vida inteira na região e seus olhos brilham quando fala da época que “batia uma bola”. Muito tímida e acuada, Josianne se soltou durante a nossa conversa. O motivo maior de ter parado de praticar esportes foi, de fato, a busca por um emprego. Apesar disso, ela acredita fortemente que o esporte é uma opção profissional viável e almejável para os jovens do local. Durante toda a conversa, não parava de entrar e sair pessoas em busca das especificidades da vendinha - desde sonhos de padaria a pilhas para o controle remoto da TV. Josianne, ex-atleta, curvou-se ali no balcão buscando uma profissão e abandonou as quadras.

As histórias e os esportes se misturam entre as vielas do Anhanguera. Todo dia que algum jovem desce do morro para a cidade, a ansiedade para jogar bola na volta aparece. A subida do morro deixa as pernas mais preparadas para os torneios internos do Anhanguera. São 3 times que jogam sempre, que se conhecem bem, o campinho da Escola Estadual localizada no Anhanguera é o palco do cansaço revertido em gol. Se o futebol é o esporte do brasileiro, o filho de dona Francisléia descobriu o Brasil.

- Saiu da vida errada, né? Ele estuda e joga bola. Se não jogasse não sei nem pra onde ele tinha ido... Sou mãe solteira, sabe? Não tinha com quem deixar ele. Deixei brincar com os meninos desde sempre... Todo mundo pode ser atleta.

- Você acha que o esporte pode ser uma profissão?

- Eu tenho certeza... As Olimpíadas tão mostrando isso, né? Mas acho que pra ser profissão o esporte também precisa subir o morro. Precisa de ONG, de escolinha barata e de professor de Educação Física aqui.

Segurando a sacola pesada quando acabava de sair do sacolão ali do Anhanguera, Francisléia acena como se visse nos questionários uma oportunidade do esporte ser frequente no Anhanguera. É jogadora da turma de vôlei do CEU e faz musculação.

- Depois que meu marido me largou eu comecei a mudar minha vida... Nunca tinha pensado em fazer atividade mas precisei me salvar. Com os meninos [os filhos] também fiz isso...

Como times que bem se comunicam em quadra, de fora do CEU já se ouve as equipes de handebol e vôlei bem mais frequentados que o Badminton e que o Taekwondo. O esporte que sobe o morro é assim. Ele não é só futebol. Ele é a medalha de ouro nas Olimpíadas do Rio.

Áudio de resposta de Vinícius dos Santos.

Figuras vêm e vão. Trabalhadores vêm e vão. Atletas também vêm e vão. O Anhanguera ficou pequeno para a história de Camilla e Ana Claudia. A adolescência não é fácil para as meninas do morro não tão doce, a vida adulta começou cedo e, ainda que amarga, fez que as duas conhecessem um esporte europeu - que embora não seja novo no Brasil, começou a tomar forma há pouco tempo. As amigas que não se conheciam antes de entrarem em contato com o Rugby, desde 2013, estão juntas no esporte. Camilla e Ana Claudia não fazem parte de qualquer história. Não fazem, sequer, parte de uma iniciativa social que deu certo dentro do CEU Anhanguera. Camilla e Ana Claudia conheceram o Rugby porque estudaram longe de casa, ou, como elas dizem, perto, para quem está longe de tudo. Hoje, com 18 anos e formadas no Ensino Médio, contam que se conheceram nas salas de aula da Escola Estadual Alexandre Von Humboldt. É um colégio na Lapa, onde alguns alunos conseguem vagas para estudar pela rede pública, apesar de, dentro do Anhanguera haver uma escola estadual além do CEU, o qual a maior parte dos jovens frequenta. A escola que as duas estudavam tem um campo de futebol que, para o Rio Branco Rugby Club, serviu como campo de sua modalidade para aplicar os treinos.

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Alguns professores de educação física da escola Alexandre Von Humboldt acreditaram que apresentar o novo esporte seria a melhor forma de fazer os alunos conhecerem e, caso desenvolvessem interesse, poderem, ainda, treinar com o Rio Branco. Camilla, David e Ana Claudia são os resultados destes professores que se comprometeram a dar uma nova perspectiva dentro de suas aulas.

Áudio de resposta de Vinícius dos Santos.

O primeiro treino. O primeiro contato com a bola oval. A descoberta de que Camillinha, como ficou conhecida logo no dia, podia nunca ter praticado Rugby mas que, por sorte, havia nascido com uma facilidade sem tamanho. Para ela, a agilidade talvez tenha vindo dos dias brincando de bola nas ruas do Anhanguera.  Para David uma resposta amarga, muito além do que poderia imaginar: vindo do morro para a cidade, sofreu com a homofobia de uma forma muito mais dura.

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A história de Camillinha como atleta tomou uma forma menos abstrata. Entre passes e avanços, conheceu a treinadora Adriana Moraes, uma mulher de 31 anos que trabalha com Rugby feminino e de desenvolvimento desde os 25 e, que nestes anos, têm inserido o Rugby dentro de vida de jovens que quase nem têm acesso às bolas de meia. Um percurso de ônibus do destino levou ao encontro a peça que Adriana precisava para acreditar ainda mais no esporte como perspectiva. Tornou-se, para Camillinha, David e Ana, uma espécie de mãe-treinadora.

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Seis da manhã. Pega a mochila. Chuteira. Shorts debaixo. Shorts de cima. Camiseta. Ansiedade. Toma o café. O tchau pra mãe. O ônibus que ia pra Lapa. Camillinha. Um ano de treino. Convite aceito. Estaria na seletiva das melhores atletas do estado de São Paulo. Do morro para a boca das melhores treinadoras do Brasil.

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Distrito de Anhanguera

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De acordo com o Mapa de Vulnerabilidade Social produzido pelo CEM, o distrito de Anhanguera é pertencente à subprefeitura de Perus (localizada na região Noroeste da cidade de São Paulo). O mapa é predominantemente laranja e isso significa que as regiões pintadas nessa cor são as que possuem famílias adultas em alta condição de precariedade, com baixa renda e baixa escolaridade, presença de crianças de 0 a 4 anos e de adolescentes entre 15 e 19. A segunda cor em predominância é a verde e isso quer dizer que as condições de precariedade são médias e que a maior parte das famílias é adulta. A terceira cor em destaque é a amarela e representa a predominância de famílias jovens em média condição de precariedade (a descrição no site indica que são famílias com chefes entre 10 e 29 anos). Não é uma grande parte, mas uma fatia relevante do Anhanguera é caracterizada pelo rosa e representa as pessoas com melhor condição socioeconômica da região, ou seja, essas pessoas não estão totalmente privadas de escolaridade e saúde, por exemplo. O mapa também demonstra que a região do Anhanguera não possui favelas, apesar de ser possível localizar o crescimento delas através de fotos.

Observa-se, no Anhanguera, um crescimento populacional principalmente ocasionado pela ocupação urbana[1]. A população presente nesse distrito possui média de renda de até 3 salários mínimos mas ainda assim, 10% dos domicílios possuem renda de 20 salários mínimos[2].

Locais para aplicação do questionário

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Morro Doce

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Um dos maiores bairros da região, atualmente possui 65 mil habitantes e ainda conta com próprio terminal de ônibus com acesso às regiões centrais da capital (como a Praça Ramos de Azevedo).

Parque Anhanguera

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Pelo fato de o foco do trabalho ser “esportes”, o parque é ideal para que os entrevistados respondam sobre a prática de atividades físicas, sobre a existência ou não de ONGs voltadas a esportes e iniciativas esportivas da subprefeitura de Perus.

CEU Parque Anhanguera

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Questionários serão aplicados aos professores de educação física, coordenadores e responsáveis pelo CEU com a intenção de conhecer as iniciativas esportivas para os alunos e como elas são desenvolvidas da infância até a juventude.

Divisão de tarefas e cronograma

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Atribuição de responsabilidades

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  • Atualização do site: Stephanie Sampaio e Isabella Barboza
  • Produção de questionários: Isabella Barboza e Beatriz Fontes
  • Ida à campo: todas as membras
  • Compilação de dados: todas as membras

Cronograma

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  • Produção de questionários: até dia 17/08
  • Ida à campo: dias 20/08, 21/08 e 27/08
  • Compilação e organização de dados: até dia 28/08

Pré-roteiro de pesquisa

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Tema: Esporte e Inclusão Social no distrito periférico de Anhanguera

O intuito da pesquisa é apurar o oferecimento de esportes de qualquer modalidade, seja como lazer ou como caminho profissional, para os jovens periféricos da região do Anhanguera. Visando verificar essa relação do esporte com a inclusão social de jovens marginalizados, pretendemos abordar o maior número de moradores da região para ter um panorama a cerca de o esporte ser presente ou não na localidade. Além de pesquisarmos a existência de centros esportivos, clubes e programas que levem o esporte para a periferia como uma forma de incluir esses jovens na sociedade, visamos fazer um recorte de gênero, verificando se todos os itens citados anteriormente são disponibilizados para mulheres da região; e se são, porque tem ou não adesão (dados e caminhos a serem buscados ao longo da aplicação do questionário na região e análise de seus resultados).

Referências bibliográficas

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Reportagens

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Artigos

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  1. CRESCIMENTO POPULACIONAL PERIFÉRICO NO MUNICÍPIO DE SÂO PAULO: O CASO DO DISTRITO ANHANGUERA, Ivan Luis Gomes, pág. 2
  2. CRESCIMENTO POPULACIONAL PERIFÉRICO NO MUNICÍPIO DE SÂO PAULO: O CASO DO DISTRITO ANHANGUERA, Ivan Luis Gomes, pág. 23