Temperaturas Paulistanas/Planejamento/Lajeado/Turma A

Grupo: Amanda Cavalcanti, Lavínia Bortolotto e Rafaela Artero

Lajeado editar

O distrito de Lajeado está situado na Zona Leste de São Paulo. Junto com Guaianases, formam a Subprefeitura de Guaianases. Lajeado fazia parte do distrito de São Miguel Paulista, mas em 1929, ele se tornou distrito. Os bairros que formam Lajeado são: Conjunto da Paz, Jardim Augusta, Jardim Aurora, Jardim Brigida, Jardim Campos, Jardim do Campo, Jardim Dona Deolinda, Jardim Etelvina, Jardim Fanganiello, Jardim Gianetti, Jardim Guaianases, Jardim Moreno, Jardim Nova Guaianases, Jardim São Paulo, Jardim Ubirajara, Lajeado, Núcleo Lajeado, Parque Guaianases, Vila Andes, Vila Chabilândia, Vila Fukuya, Vila Iolanda, Vila Lourdes, Vila Minerva e Vila Nancy.

Dados editar

Localização: Zona Leste 2

Subprefeitura: Guaianases

Área geográfica total: 9,20 km²

Densidade Demográfica (Hab/km²): 12.093

Renda média: R$ 543,58

População total: 164.606 habitantes

História editar

Lajeado, junto com São Miguel, é um dos primeiros bairros de São Paulo. O local é uma mostra da grande miscigenação que temos em nosso país. Os primeiros moradores foram os membros da tribo tupi Guaianás. Os Guaianás povoaram a região de São Paulo de Piratininga até o século XVI. A tribo foi catequizada pelos jesuítas e ainda no local há uma antiga igreja dessa época, Santa Cruz, fundada no século XVII. Lajeado teve um papel importante na colonização com o país: junto com Itaim Paulista "era a porta de entrada dos viajantes quem vinham do vale do Paraíba para a cidade de São Paulo ou saiam em direção à cidade do Rio de Janeiro nos tempos do Brasil colônia"[1]. A atual estrada de Lajeado já foi chamada de estrada da Coroa e o próprio Dom Pedro passou por ali em 24 de agosto de 1822.No século XIX, o lugar recebeu uma estrada de ferro, chamada de Estrada de Ferro Norte e depois Central do Brasil. A região recebeu um grande número de imigrantes e migrantes, os últimos foram principalmente do Norte e Nordeste, que até hoje representam grande parte da população local. O lugar também recebeu a migração de muito mineiros. Com a chegada da estrada de ferro e chegada de imigrantes, o local conseguiu se desenvolver economicamente. Imigrantes italianos se tornaram ali comerciantes, fabricantes de vinho, fabricantes de tachos de cobre, ferreiros e carpinteiros.. Os espanhóis chegaram ao local no início da década de 1910 e se dedicaram à extração de pedras nas Pedreiras Lajeado e São Matheus. Os migrantes do Norte, Nordeste e de Minas Gerais se dedicaram às olarias. No Parque Chácara das Flores ainda é possível se ver uma delas. Essa olaria foi importante para o desenvolvimento de São Paulo, tendo saído dali muitos tijolos de construções importantes, como parte das Indústrias Matarazzo e o Moinho Santo Antônio na Mooca.

Dados Sociais editar

Lajeado está em 3º lugar no ranking dos 20 piores IDHs de São Paulo, com 0,748.  Na classificação geral, o distrito está na posição 94 no grupo Desenvolvimento Humano Médio.

De acordo com o CEM (Centro de Estudos da Metrópole), a predominância dos níveis sociais é de Média Privação e Adultos, Alta Privação e Jovens, e Alta Privação e Adultos:

Média privação – condições de precariedade socioeconômica médias e com presença de famílias adultas (Grupo 4): este grupo é formado por 18,7% dos setores censitários, e engloba 20,8% da população da região. Este grupo apresenta características próximas às médias observadas, com exceção dos rendimentos, que são inferiores aos observados para o total do município. Porém, algumas características colocam-no em pior condição do que o grupo 6, como a maior concentração de crianças de 0 a 4 anos, por exemplo. Espacialmente, esse grupo localiza-se nas áreas mais periféricas do município.[1]

Planejamento editar

Atribuição de responsabilidades entre os membros do grupo editar

Todos os membros do grupo participarão de todas as etapas do projeto: edições no site, visitas ao local, aplicação de questionário e entrevistas.

Locais onde serão aplicados o questionário editar

Os questionários serão aplicados em diferentes regiões de Lajeado – como o distrito conta com diversos níveis sociais, o objetivo do grupo é dar conta dessa diversidade. Aplicaremos os questionários em pontos de ônibus, na estação Itaquera do metrô (que não está dentro de Lajeado, mas por onde passam diversos moradores do distrito diariamente), em creches e escolas (para os professores/funcionários), igrejas, hospitais, nas próprias residências dos moradores. O grupo acha importante que a aplicação dos questionários ocorra nesses lugares-chave, diariamente frequentados pelos moradores, para que possamos ter alguma noção de como é o dia-a-dia de um morador de Lajeado.

Temas abordados na pesquisa editar

A pesquisa planeja trabalhar com micro e macro; ou seja, estudar o que a existência social e individual dos moradores de Lajeado significa sobre a cidade de São Paulo. Para isso, trataremos de assuntos como educação, saúde, política (as eleições para prefeito no fim do ano e a efetividade dos programas sociais do Governo Federal na última década, por exemplo), tecnologia, sexualidade/gênero, questões raciais, religião, transporte, condições de trabalho, entre muitos outros.

Cronograma editar

10/8 - Elaboração do planejamento

14/8 - Publicação do planejamento

16/8 - Elaboração do questionário

19/8 - Aplicação do questionário com os moradores da região

30/8 - Publicação dos resultados do questionário

6/9 - Elaboração da pauta da reportagem

20/9 - Publicação da reportagem

Dados coletados editar

Questionário editar

  1. Dados Pessoais

Nome completo: _______________________________________________________________

Contato (e-mail/telefone): ________________________________________________________

Bairro em que você mora: ________________________________________________________

Idade:

(   ) até 18

(   ) 19 a 30

(   ) 31 a 40

(   ) 41 a 50

(   ) 51 a 60

(   ) 61 ou mais

Sexo:

(   ) Masculino

(   ) Feminino

Estado Civil:

(   ) Solteiro

(   ) Casado

(   ) Viúvo

(   ) Desquitado/divorciado

(   ) Solteiro, mas vive junto com parceiro(a)

Religião:

(   ) Católica

(   ) Espírita

(   ) Protestante (Evangélica)

(   ) Judaica

(   ) Outra. Qual? _________________

(   ) Não possuo religião

Ocupação:

(   ) Estudante

(   ) Trabalhador. Em que área? ___________________

(   ) Aposentado (a)

2. Família

Você tem filhos?

(   ) Não

(   ) Sim, um filho

(   ) Sim, dois filhos

(   ) Sim, três ou mais filhos

Seu cônjuge (esposo ou esposa) trabalha?

(   ) Sim

(   ) Não

Seus filhos trabalham?

(   ) Sim

(   ) Não

Qual é a renda total, mensal (aproximada) de sua família? Some o seu salário com o de seu cônjuge e com o de seus filhos (que ainda dependem de você). (O salário mínimo é R$ 880)

(   ) 1 salário mínimo

(   ) entre 1 e 2 salários mínimos

(   ) entre 2 e 3 salários mínimos

(   ) entre 3 e 4 salários mínimos

(   ) entre 4 e 5 salários mínimos

(   ) entre 5 e 10 salários mínimos

(   ) entre 10 e 15 salários mínimos

(   ) entre 15 e 20 salários mínimos

(   ) acima de 20 salários mínimos

Com quem você mora?

_________________________________________________________________________________

Quão frequentemente a sua família frequenta a igreja/centro espírita/outro estabelecimento religioso?

(   ) Mais de uma vez por semana

(   ) Uma vez por semana

(   ) Ao menos uma vez por mês

(   ) Ao menos uma vez no ano

(   ) Raramente

(   ) Nunca

3. Educação

Qual é a sua escolaridade?

(   ) Não frequentei a escola

(   ) Primeiro grau incompleto (até a 4 ª série )

(   ) Primeiro grau completo (até a 8 ª série )

(   ) Segundo grau incompleto

(   ) Segundo grau completo

(   ) Superior incompleto

(   ) Superior completo

(   ) Pós-graduação incompleta

(   ) Pós-graduação completa: (   )especialização (   )mestrado (   )doutorado

Você ainda está estudando?

(   ) Sim

(   ) Não

Quantos filhos seus estão na creche/estudando?

(   ) Nenhum (   ) 1 (   ) 2 (   ) 3 (   ) 4 (   ) 5 (   ) 6 (   ) 7 (   ) 8

Na sua casa, todos os que “passaram” da idade escolar sabem ler e escrever?

(   ) Sim (   ) Não

4. Transporte

Qual é o meio de transporte que você utiliza para ir e voltar do trabalho/escola/faculdade? (Assinale todos os que se aplicam.)

(   ) Carro

(   ) Ônibus

(   ) Trem

(   ) Bicicleta

(   ) Moto

(   ) Carona

(   ) Metrô

(   ) A pé

Quanto tempo você gasta?

Para chegar no trabalho: __________

Para chegar em casa: ___________

5. Saúde

Você ou alguém da sua família tem alguma doença crônica (diabetes, hipertensão, etc.)?

__________________________________________________________________________

Sua família tem algum tipo de assistência médica particular?

(    ) Sim

(    ) Não

Próximo da sua residência existe algum hospital ou posto de saúde?

(    ) Sim

(    ) Não

Onde você adquire os seus remédios?

(    ) Postos de saúde

(    ) Farmácias

6. Política

Você votou nas últimas eleições para prefeito de São Paulo?

(   ) Sim

(   ) Não

Se sim, em quem?

(   ) Fernando Haddad (PT)

(   ) José Serra (PSDB)

(   ) Celso Russomano (PRB)

(   ) Gabriel Chalita (PMDB)

(   ) Outros

Você pretende votar nas eleições de 2016?

(   ) Sim

(   ) Não

Se sim, em quem?

(   ) Fernando Haddad (PT)

(   ) Celso Russomanno (PRB)

(   ) João Dória (PSDB)

(   ) Marta Suplicy (PMDB)

(   ) Luiza Erundina (PSOL)

(   ) Levy Fidelix (PRTB)

(   ) Ricardo Young (REDE)

(   ) Ainda não sei

7. Tecnologia

Você possui um smartphone ou computador com acesso a internet?

(   ) Sim

(   ) Não

Com que frequência você acessa suas redes sociais/sites da internet?

(   ) Muitas vezes por dia

(   ) Uma vez por dia

(   ) Uma vez por semana

(   ) Uma vez por mês

(   ) Não tenho/não uso

Dados coletados editar

Nota: Boa parte dos questionários foram aplicados nos pais dos alunos de uma creche em Lajeado, além de alguns pontos de ônibus e estabelecimentos pelo distrito. O questionário foi aplicado em 29 moradores de Lajeado, de diferentes bairros.

Idade editar

A idade média dos moradores de Lajeado é entre 19 e 40 anos. Como optamos por entrevistar um mínimo de jovens abaixo de 18 anos, os números são baixos. O número de idosos, porém, parece ser naturalmente baixo no distrito. Gráfico de idade.

Estado Civil/Família editar

Em contraste ao que acontece no restante do mundo, no Brasil o número de casamentos cresce a cada ano. Em Lajeado, a porcentagem de moradores casados (ou, pelo menos, de moradores solteiros que moram com os companheiros) é bem alta. Gráfico de Estado Civil.

A quantidade de filhos por casal, porém, é bem equilibrada: Gráfico de Quantidade de Filhos.

Ocupação editar

Um recorte de gênero ficou claro quando perguntamos aos moradores de Lajeado sua ocupação: apesar de não termos a opção no questionário originalmente, muitas mulheres responderam que sua ocupação eram "do lar", ou dona de casa. Acabamos por colocar a categoria na contagem final. Gráfico de Ocupação.

Religião editar

As religiões predominantes em Lajeado são as "tradicionais" das sociedades ocidentais, a católica e a evangélica. As pessoas que não possuem religião compõem apenas pouco mais de um décimo da população. As únicas religiões citadas são as que aparecem no gráfico. Gráfico de Religião.

Renda total editar

A renda de Lajeado acompanha a tendência da capital paulistana (e, na verdade, a do país inteiro) e é mal distribuída por entre seus moradores. Gráfico de Renda total.

Nível de Escolaridade editar

O baixo nível de escolaridade da população de Lajeado foi um dos dados que mais no chamou a atenção enquanto analisávamos os formulários. A oportunidade de frequentar a universidade é muito limitada aos moradores, visto que menos de um quarto da população conseguiu concluir o Ensino Superior. Gráfico do Nível de Escolaridade.

Entrevistas editar

https://drive.google.com/drive/folders/0B1r0Li4za6J-WDNpZ21rQ3ZBcWs?usp=sharing

Reportagem editar

 
Crianças do CEI Lajeado

Pelos corredores coloridos do CEI Lajeado editar

Um prédio todo azul. Os muros, cercados por figuras de crianças sorridentes. Nos portões à frente do prédio, pais não tão sorridentes. Aliás, a vontade aqui é de burlar a Língua Portuguesa e arredondar para o feminino: das muitas pessoas que assistimos, por algum tempo, indo e vindo para deixar suas crianças na CEI Lajeado, haviam cerca de quatro ou cinco homens. Havíamos acabado de chegar no lugar e procurávamos pessoas que pudessem responder nossos questionários sobre o distrito -- mas, por mais solícitos que fossem os pais, eles pareciam um tanto apressados.

Do centro de São Paulo, demora-se em torno de duas horas para chegar no distrito de Lajeado. Dos vários caminhos possíveis, o mais simples é pegar o metrô até a estação Luz, entrar na CPTM até a parada Guaianazes e, então, entrar num ônibus. Já pelos ônibus antigos e sujos era perceptível o descuido com aquela região da cidade. Pelas suas janelas, começamos a observar o mato alto repleto de lixo e as casas sem rebocos em meio às avenidas do bairro.

Na travessa de uma dessas avenidas – mais precisamente, na Rua João da Silva Aguiar, 150 – está o Centro Educacional Infantil Lajeado. O bairro conta, ainda, com outros 67 CEIs; com 244 crianças atendidas, Lajeado é o maior deles. Na entrada, nos identificamos como jornalistas e arrancamos alguns sorrisos e piadas das professoras mais próximas. A diretora, Vanessa, vem nos receber.

A mulher é muito nova e conta que se tornou diretora da CEI Lajeado por um infortúnio do destino. Ela começou como Coordenadora Pedagógica em outro CEI, e quando o de Lajeado foi inaugurado, há quase oito anos, a diretora do CEI em que Vanessa trabalhava foi transferida para a nova unidade, tornando-a diretora da anterior.

— A gestora que veio pra cá, a Clarisse, faleceu, e aí vieram outras gestoras que deu problema, aí na época o diretor me transferiu para cá. Então, agora em setembro fez quatro anos que estou como diretora desta unidade. Foi uma surpresa, porque lá eu atendia de zero a três anos, e aqui eu vim atender essa faixa etária de quatro a cinco anos, e até seis anos.

A nova experiência se deu porque, em teoria, os CEIs não atendem crianças maiores de três anos. Por problemas, porém, de “espaço e terreno”, segundo Vanessa, não há Escolas Municipais de Educação Infantil, ou EMEI suficientes na região. Pela alta demanda de crianças, o CEI começou a aceitar inscrições de infantes que completam até seis anos de idade durante o ano letivo.

No sistema de inscrição das creches, os pais são direcionados às mais próximas de seus endereços, mas, se preferirem, podem cancelar a inscrição automática, escolher a creche de sua preferência e permanecer na lista de espera enquanto aguardam mais vagas serem abertas. Por esse sistema, também, as funcionárias notaram que a alta demanda na região não é só pela falta de EMEIs: mesmo com muitas creches no bairro, a lista de espera para o CEI Lajeado nunca foi zerada.

Uma teoria da diretora para a razão desse fenômeno é o CEI de Lajeado ser um dos três em São Paulo administrada pela entidade Pró-Saúde, uma associação de beneficente de assistência social. Dessa maneira, a creche se torna isenta de 100% das cotas patronais e INSS, o que faz com que toda a renda seja direcionada às crianças. Sair debaixo da saia da prefeitura, segundo Vanessa, também dá à diretoria mais autonomia, o que gera mais resultados para elas.

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Caminhando pelos corredores coloridos da CEI, bisbilhotávamos cada uma das salas e, em uma das últimas à direita, vimos fileiras de crianças deitadas em colchões finos, dormindo tranquilamente sob cobertores com motivos de pandas. Era a “hora da soneca”, segundo a professora daquela turma, Ítala, que nos convidou a entrar. Naquele dia, ela acompanhava a sua turma, crianças entre dois e três anos, sozinha.

— A gente tem o apoio das volantes, que são professoras formadas, como nós todas, mas elas não pegaram sala esse ano, então ficam no apoio. Então quando precisa elas estão a disposição. Essa semana nós estamos em falta de volantes, três estão de licença, então isso sobrecarrega as professoras, né? — ela diz, um olho na gente e um nas crianças, caso alguém decidisse acordar antes da hora.

Ítala nos explicou que o esquema de crianças por sala (e por professora) nas creches funciona por metro quadrado; portanto, ali na unidade Lajeado eram 24 em todas. Haviam os casos excepcionais, também, em que alguns grupos de idades não-homogêneas eram unidos, e mais professoras eram colocadas. Há outros CEIs, porém, que não contam com o “privilégio” de Lajeado – isso porque, segundo Ítala, a unidade só conta com mais professoras porque Vanessa “bateu o pé” e exigiu que, pelo tamanho, elas fossem priorizadas.

— Tem um candidato agora que tá fazendo a propaganda dele na nossa creche em Tiradentes, e lá também são duzentas e poucas crianças, só que lá não tem o infantil como nós temos aqui. Lá são três, quatro berçários juntos. Não tem divisão igual tem aqui. Então são tipo seis professoras juntas numa sala só pra dar conta. E será que dá conta? Dar conta a gente dá, por causa do profissionalismo que a gente tem. Mas a custo do que, né… Nós vamos em palestras, e a gente vê as propagandas eleitorais e falam das creches em todas, todas, todas, por que? Porque é a bola da vez! A parte boa é que essas propagandas geram uma valorização para a imagem das creches. Aí, a gente fica feliz, porque a educação infantil precisa desse apoio, precisa ser valorizada.

O tempo que passamos conversando com Ítala é o bastante para que algumas crianças acordem, coloquem os tênis e saiam da sala para ir ao banheiro, sozinhas. Todas as portas das salas são divididas em duas partes. Geralmente apenas uma, a de baixo na altura das crianças, fica fechada. Ela tem um trinco de fácil acesso e cada criança pode abrir a porta e ir ao banheiro, com a autorização da professora.

Conforme as crianças percebem a nossa presença, elas vêm puxar assunto. Perguntam nossos nomes, depois se apresentam e apresentam seus amigos. Outras já nos abraçam, seguram nossas mãos e nos levam para outro lugar. Nos mostram seus brinquedos, suas roupas e os trabalhos que fizeram com a professora.

Depois que todos acordaram, as crianças vão para um local perto da sala de aula, com mini-cadeiras e mini-mesas para tomar o leite oferecido pela professora. Alguns ainda estão com um “mau-humor matinal” e tomam o leite com muito custo.

Na volta à sala de aula, percebemos que atrapalhamos a dinâmica da turma. Somos novidade e as crianças querem conversar com a gente. Ali, começa uma competição por nossa atenção. É interessante como elas são comunicativas, cheias de desenvoltura. Mas isso não faz delas mini-adultos.

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Para Vanessa, um dos focos principais do CEI é evitar a adultização das crianças. Apesar de nem todas viverem em lares desprivilegiados, Lajeado ainda é uma comunidade um tanto carente e isso pode exigir uma maturidade delas muito antes do esperado.

— A gente quer que elas sejam crianças. Hoje, a sociedade com todas essas cobranças, eles veem as crianças como adultos em miniatura. Então, aqui a minha proposta é que eles aprendam brincando. A sociedade valoriza ainda só a EMEI, que é a escola em que a criança é alfabetizada. A educação infantil é o lúdico. Eu quero que eles saiam daqui crianças; claro que preparados para o mundo lá fora, sendo cidadãos direitos, conscientes, críticos, com vez e com voz. Mas sem deixar de ser criança.

Para ensinar às crianças a ter essa autonomia, o CEI Lajeado engajou-se em projetos diferenciais. Um exemplo é o self service. Na hora do almoço, vemos as crianças fazendo fila, pegando pratos de vidro, garfo, faca e se servindo com os alimentos dispostos dentro de um richô na altura deles. Eles vão para as mini-mesas com animação e não é de menos: nós almoçamos ali e a comida é deliciosa. A diretora nos contou que com esse projeto o desperdício de comida foi diminuído. Pois, ao invés de receberem um prato feito, elas têm a opção de comer aquilo que querem. A professora Ítala nos disse que fiquem atentas para o que elas comem. Naquele dia, alguns de seus alunos pegaram apenas o arroz, então ela nos disse que irá trabalhar de forma lúdica a importância de uma alimentação balanceada.

Outro exemplo é o que eles chamam de “inter-salas”. São um ou dois dias por mês em que a creche tem uma programação especial: as crianças podem andar livremente pelas salas, que são transformadas pelas professoras em “cantinhos” com diversas atividades. A professora Ítala nos conta que, no último inter-salas, fez de seu cantinho um restaurante: as crianças sentavam, pediam o que queriam do menu e a professora-garçonete os levava um bocado de massinhas coloridas. Outras salas foram feitas de discotecas e até de praia (!): uma das professoras encheu a sala de areia, colocou animais marinhos de plástico por toda a parte e seus alunos foram de roupa de banho. A professora fez tudo isso em apenas dois dias de tempo. A ideia veio dos alunos, pois na creche as crianças dão opinião sobre o planejamento pedagógico. Mesmo com o prazo curto de tempo, ela decidiu fazer o que os alunos queriam.

— Uma das propostas da educação é a de a criança conviver consigo mesma, com pares da sua idade, com crianças de outras faixas etárias e com adultos. Não só com o professor da sua sala, mas com outros professores. Às vezes tem criança que prefere a arte, mas tem uma sala tão atrativa que ela possa vir a gostar de outras coisas também. Queremos que ela tenha essas diversas experiências na sua rotina — conta Vanessa.

Vanessa nos atenta para a questão do lúdico. Tudo ali é ensinado através de brincadeiras e fantasias. Por exemplo, há um projeto da construção de um jardim para a creche feito pelas próprias crianças. Em um dia elas receberam a carta de uma fada dizendo que estava muito chateada porque ela não tinha mais jardim. Então, durante algumas semanas as professoras trabalharam em sala de aula a importância de cuidar do meio ambiente e as crianças começaram a plantar no futuro jardim. Nas próximas semanas a tal fada (a filha de uma professora fantasiada) irá a creche para a inauguração do jardim.

Mesmo com algumas poucas visitas à creche, nos enchemos de admiração por aquelas mulheres. Vimos em seus rostos o cansaço, físico e mental, de ter de cuidar de tantas crianças todos os dias. Mas elas não deixam a peteca cair. Ítala contou que tenta fazer pelos seus alunos o que gostaria que fizessem pelos filhos dela. E faz. É dura quando precisa, mas fica claro o afeto que sente pelos seus alunos. O esforço diário de todas elas é admirável.

As crianças também parecem muito gratas pelo esforço investido nelas. Certa vez, enquanto jogávamos conversa fora com as secretárias do CEI, vimos uma mãe atravessar a porta da creche com a filha chorando no colo e um atestado nas mãos. Compreendemos o motivo do choro quando a professora da menina foi consolá-la: por uma virose, ela teria que repousar em casa por uma semana, e chorava porque queria ficar na creche.

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A educação infantil no brasil surgiu há quase 80 anos, quando as mulheres operárias começaram a ir trabalhar, precisando de um lugar para deixar seus filhos. Na época, não era exigido estudo das mulheres que cuidavam dessas crianças. Décadas depois, a professora do ensino infantil ganhou um papel central na vida delas; mas, para as funcionárias do CEI, esse conceito vem mudando novamente.

— A gente tem os documentos da Prefeitura, da DRE (a Delegacia Regional de Ensino), e esses documentos falam muito disso, do que é a criança hoje na educação infantil. Da valorização dela. A professora não é mais o centro. As crianças são o centro. A professora tá ali pra ajudar, pra apoiar, pra ser a base daquela criança. Então você vai trazer propostas para aquelas crianças, vai trazer ambientes para ela explorar. Mudou muito a visão. — diz Vanessa.

Outra coisa que muda, aos poucos, é o conceito da importância da educação infantil na formação dessas crianças, como pessoas. Como nos conta Ítala:

— As pessoas pensam que só o fundamental é importante. Mas hoje os documentos são claros. É importante a educação infantil pra ter um bom desenvolvimento no fundamental.

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Ao nos despedirmos do CEI Lajeado, temos uma mistura confusa de sentimentos. O que sentimos primeiro é a esperança. É sim possível mudar a educação, é possível ter um ensino de qualidade e público que pense na formação universal da criança. Mas, também vem a dor. Apesar dos esforços da CEI Lajeado em dar oportunidades de um futuro melhor para suas crianças, não é possível tirá-las da realidade em que estão. Descobrimos isso através de uma criança.

G* foi uma das primeiras crianças que nos chamou a atenção. Ele sempre era o mais bagunceiro da turma. Em nossa primeira visita, ficamos de olho integralmente nele para que as professoras pudessem tomar conta dos outros. Percebemos que ele parecia ser mais novo do que os outros: seu andar ainda era cambaleante, sua fala parecia a de um bebê. Ele também tinha problemas na compreensão. Quando alguma outra criança era chamada atenção, ela parava de fazer aquilo ou questionava o motivo de não poder fazer tal coisa. Mas, G não. Ele parecia não compreender o que estávamos falando. Depois de algumas horas com ele, levamos um susto: ele nos chama de “mamãe”. Chocadas com aquilo, fomos perguntar para a professora Ítala sobre ele. Ela nos conta que a mãe de G” era usuária de drogas e as usou durante a gravidez. Por isso, G* tinha problemas na fala, na coordenação e também já sofria de abstinência. Inclusive já teve uma convulsão enquanto estava na creche. Ele era criado por uma avó, que também não o dava muita atenção. A professora termina dizendo que é muito comum ele chamar elas de “mamãe”.

Pegamos um ônibus, fomos até a estação de Guaianases e depois voltamos para a Luz. Essa confusa mistura de dor e esperança é o que embala nosso caminho para a casa.

Referências bibliográficas editar

http://www.itaimpaulista.com.br/portal/index.php?secao=news&id_noticia=2064&subsecao=34

http://www.spbairros.com.br/lajeado/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Lajeado_(distrito_de_S%C3%A3o_Paulo)

http://fotos.estadao.com.br/galerias/cidades,idh-os-20-melhores-e-os-20-piores-distritos-de-sao-paulo,24925

http://www.fflch.usp.br/centrodametropole/584

  1. era a porta de entrada dos viajantes quem vinham do vale do Paraíba para a cidade de São Paulo ou saiam em direção à cidade do Rio de Janeiro nos tempos do Brasil colônia.[2]