Temperaturas Paulistanas/Planejamento/Marsilac/Turma B

Marsilac: o distrito esquecido por São Paulo

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O Marsilac é um distrito localizado no extremo sul de São Paulo - cerca de 60km do centro -, sendo o maior de todos no município (ver mapa 3), com a menor densidade demográfica. Ele faz parte da subprefeitura de Parelheiros. A maior parte de seu território é rural e parcialmente ocupado por fragmentos de Mata Atlântica. Para completar a paisagem natural, também é onde são encontradas cachoeiras, como a do Jamil. Apesar de ser um lugar isolado do centro paulista, é repleto de eventos culturais para moradores, como desfiles e mostras culturais, e atividades ligadas a natureza. Recentemente, o distrito conquistou reparos em estradas asfaltadas, muito esperados por todos que vivem na região. A maior parte do distrito é de alta privação ligada a adultos.Marsilac tem o menor IDH entre os distritos avaliados (0,701), porém, vale ressaltar que esse número não é considerado baixo.

Membros do grupo

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Amanda Ravelli: organização dos dados, questionário (trabalho remoto)

Beatriz Vilanova: trabalho de campo, organização dos dados

Camila Gambirasio: trabalho de campo, organização dos dados

Matheus Castro: trabalho de campo, organização dos dados

Rafaela Putini: trabalho de campo, organização dos dados

Onde será aplicado o questionário?

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O objetivo é entre o norte e o centro (região central maior densidade demográfica), já que no extremo sul do distrito é composto por favelas. Cerca de 80% do distrito é composto, segundo mapa baseado em dados IBGE de 2000, por uma população de alta privação e de maioria adulta. 10% podem ser consideradas de altíssima privação e composta de jovens; 3% de média privação e adultos e 7% de alta privação e jovens. Conclusão: Marsilac é um distrito que se encaixa basicamente na alta privação de maioria adulta, com renda e escolaridade baixa. [VER MAPA NO LINK A BAIXO]. A ideia é capturar no noroeste essas pequenas faixas, e seguir para o centro-oeste, captando informações daqueles que fazem parte da alta privação/adulta (laranja) e da altíssima privação/jovens (vermelho). Boa parte do resto do município não pede tanto foco de exploração por conta da extensa área de vegetação (ver mapa 4).

http://www.fflch.usp.br/centrodametropole/cemsas/1.3.20.Parelheiros.pdf

Cronograma

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20/08: visita ao Marsilac e aplicação do questionário

10/09: visita ao Marsilac e realização do grupo focal

Questionário

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Temas a serem abordados

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(elaborar até dia 17 as perguntas e enviar para o Rafael - a pesquisa de campo acontece no sábado 20)

Condições de saneamento básico

Condições das estradas e ruas

Condições de moradia Acesso à agua Acesso à Internet Condições de vida (quantos eletrodomésticos têm na casa, se falta luz)

O que os cidadãos acham do cenário político atual (se tem conhecimento da situação do país, se tem acesso às campanhas eleitorais)

O que os moradores priorizam na hora de definir seu voto (quais as promessas e candidatos que mais os representam)

Como são as condições de trabalho (quanto tempo demoram para chegar ao trabalho, se precisam ir até outros bairros e distritos para trabalhar, se tem muitos desempregados, se tem transporte suficiente)

Respostas dos questionários

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Total de questionários respondidos: 41

1) Com qual gênero você se identifica?

13 Feminino

28 Masculino

0 Outro

2) Qual é a sua idade?

( ) Até 19 anos

Mulheres 0 | Homens 3 | Total 3

( ) De 20 a 39 anos

Mulheres 5 | Homens 9 | Total 14

( ) De 40 a 59 anos

Mulheres 6 | Homens 11 | Total 17

( ) De 60 a 79 anos

Mulheres 2 | Homens 5 | Total 7

( ) De 80 a 99 anos

Mulheres 0 | Homens 0 | Total 0

3) Qual é o seu estado civil?

( ) Solteiro (a)

Mulheres 4 | Homens 15 | Total 19

( ) Casado (a)

Mulheres 7 | Homens 11 | Total 18

( ) Divorciado (a)

Mulheres 0 | Homens 1 | Total 1

( ) Viúvo (a)

Mulheres 2 | Homens 1 | Total 3

4) Tem filhos:

( ) Nenhum

Mulheres 3 | Homens 11 | Total 14

( ) Apenas um

Mulheres 3 | Homens 4 | Total 7

( ) Dois filhos

Mulheres 2 | Homens 3 | Total 5

( ) Três filhos

Mulheres 2 | Homens 4 | Total 6

( ) Mais que três filhos

Mulheres 3 | Homens 6 | Total 9

5) Quantas pessoas moram na sua casa?

( ) Apenas eu

Mulheres 2 | Homens 3 | Total 5

( ) Eu e mais uma pessoas

Mulheres 2 | Homens 4 | Total 6

( ) Eu e mais duas pessoas

Mulheres 6 | Homens 8 | Total 14

( ) Eu e mais três pessoas

Mulheres 0 | Homens 3 | Total 3

( ) Eu e mais quatro pessoas

Mulheres 1 | Homens 4 | Total 5

( ) Eu e mais cinco pessoas

Mulheres 1 | Homens 2 | Total 3

( ) Eu e mais de cinco pessoas

Mulheres 1 | Homens 4 | Total 5

6) Renda familiar:

( ) Menos que 880 reais 5

Mulheres 4 | Homens 5 | Total 9

( ) Entre 880 e 1320 reais

Mulheres 4 | Homens 6 | Total 10

( ) Entre 1320 e 1760 reais

Mulheres 2 | Homens 3 | Total 5

( ) Entre 1760 e 2200 reais

Mulheres 0 | Homens 3 | Total 3

( ) Entre 2200 e 2640 reais

Mulheres 0 | Homens 2 | Total 2

( ) Mais que 2640 reais

Mulheres 3 | Homens 6 | Total 9

7) Na sua casa você:

( ) Tem acesso à agua potável e saneamento básico

Mulheres 0 | Homens 6 | Total 6

( ) Tem acesso apenas à agua potável

Mulheres 4 | Homens 6 | Total 10

( ) Tem acesso apenas ao saneamento básico

Mulheres 0 | Homens 1 | Total 1

( ) Não tem acesso a nenhum

Mulheres 9 | Homens 15 | Total 24

8) Na sua casa você:

( ) Tem acesso à luz e Internet

Mulheres 3 | Homens 13 | Total 16

( ) Tem acesso apenas à luz

Mulheres 9 | Homens 14 | Total 23

( ) Tem acesso apenas à Internet

Mulheres 0 | Homens 0 | Total 0

( ) Não tem acesso a nenhum

Mulheres 1 | Homens 1 | Total 2

9) As ruas e estradas da região estão em estado ruim e não atendem às necessidades da população

( ) Concorda fortemente

Mulheres 4 | Homens 15 | Total 19

( ) Concorda

Mulheres 5 | Homens 9 | Total 14

( ) Nem concorda nem discorda

Mulheres 2 | Homens 3 | Total 5

( ) Discorda

Mulheres 1 | Homens 1 | Total 2

( ) Discorda fortemente

Mulheres 1 | Homens 0 | Total 1

10) Atualmente, você:

( ) Trabalha na região do Marsilac

Mulheres 6 | Homens 18 | Total 24

( ) Trabalha na região metropolitana de São Paulo

Mulheres 2 | Homens 4 | Total 6

( ) Trabalha em outra cidade

Mulheres 0 | Homens 1 | Total 1

( ) Não trabalha

Mulheres 5 | Homens 5 | Total 10

11) Pra ir até o seu trabalho, você:

( ) Usa carro

Mulheres 3 | Homens 5 | Total 8

( ) Usa transporte público

Mulheres 2 | Homens 7 | Total 9

( ) Vai de carona

Mulheres 0 | Homens 1 | Total 1

( ) Vai a pé

Mulheres 3 | Homens 10 | Total 13

12) Quanto tempo demora para ir até o seu trabalho?

( ) Até uma hora

Mulheres 5 | Homens 18 | Total 23

( ) Entre uma e duas horas

Mulheres 2 | Homens 3 | Total 5

( ) Entre duas e três horas

Mulheres 1 | Homens 2 | Total 3

( ) Mais de três horas

Mulheres 0 | Homens 0 | Total 0

13) O transporte público é acessível e de boa qualidade

( ) Concorda fortemente

Mulheres 1 | Homens 4 | Total 5

( ) Concorda

Mulheres 6 | Homens 11 | Total 17

( ) Nem concorda nem discorda

Mulheres 0 | Homens 6 | Total 6

( ) Discorda

Mulheres 3 | Homens 5 | Total 8

( ) Discorda fortemente

Mulheres 3 | Homens 1 | Total 4

14) A escola tem uma boa estrutura para alunos e professores

( ) Concorda fortemente

Mulheres 1 | Homens 5 | Total 6

( ) Concorda

Mulheres 2 | Homens 12 | Total 14

( ) Nem concorda nem discorda

Mulheres 4 | Homens 6 | Total 10

( ) Discorda

Mulheres 3 | Homens 2 | Total 5

( ) Discorda fortemente

Mulheres 3 | Homens 2 | Total 5

15) Os hospitais tem estrutura e profissionais necessários para atender a população

( ) Concorda fortemente

Mulheres 0 | Homens 1 | Total 1

( ) Concorda

Mulheres 1 | Homens 3 | Total 4

( ) Nem concorda nem discorda

Mulheres 2 | Homens 5 | Total 7

( ) Discorda

Mulheres 3 | Homens 6 | Total 9

( ) Discorda fortemente

Mulheres 7 | Homens 11 | Total 18

16) Sinto que houveram melhoras no município nos últimos 4 anos

( ) Concorda fortemente

Mulheres 1 | Homens 3 | Total 4

( ) Concorda

Mulheres 6 | Homens 9 | Total 15

( ) Nem concorda nem discorda

Mulheres 0 | Homens 2 | Total 2

( ) Discorda

Mulheres 2 | Homens 7 | Total 9

( ) Discorda fortemente

Mulheres 4 | Homens 6 | Total 10

17) Você acredita que a sua cidade precisa de reformas?

( ) Sim

Mulheres 13 | Homens 27 | Total 40

( ) Não

Mulheres 0 | Homens 0 | Total 0

18) Se sim para a questão 16, responda quais reformas você acredita serem necessárias, dando uma nota de prioridade de 1 a 5, sendo 1 o mais urgente e diga o porque

Saúde

Nota 1

Mulheres 8 | Homens 18 | Total 26

Nota 2

Mulheres 2 | Homens 5 | Total 7

Nota 3

Mulheres 2 | Homens 2 | Total 4

Nota 4

Mulheres 0 | Homens 0 | Total 0

Nota 5

Mulheres 2 | Homens 1 | Total 3

Comentários:

Falta de médicos/atraso para consultas

Mulheres 4 | Homens 8 | Total 12

Hospitais sem estrutura ou falta de hospitais

Mulheres 4 | Homens 10 | Total 14

Atendimento precário

Mulheres 3 | Homens 3 | Total 6

Hospital fica longe

Mulheres 0 | Homens 3 | Total 3

Sem comentários

Mulheres 3 | Homens 4 | Total 7

Educação

Nota 1

Mulheres 4 | Homens 5 | Total 9

Nota 2

Mulheres 0 | Homens 0 | Total 0

Nota 3

Mulheres 1 | Homens 8 | Total 9

Nota 4

Mulheres 0 | Homens 4 | Total 4

Nota 5

Mulheres 2 | Homens 5 | Total 7

Comentários:

Salas muito lotadas/falta de estrutura

Mulheres 1 | Homens 2 | Total 3

Sistema de educação precário/falta professores de qualidade

Mulheres 1 | Homens 8 | Total 9

Acessibilidade precária (escola fica longe)

Mulheres 1 | Homens 2 | Total 3

Poucas escolas

Mulheres 0 | Homens 1 | Total 1

Sem comentários

Mulheres 4 | Homens 12 | Total 16

Transporte e mobilidade

Nota 1

Mulheres 2 | Homens 4 | Total 6

Nota 2

Mulheres 0 | Homens 5 | Total 5

Nota 3

Mulheres 3 | Homens 6 | Total 9

Nota 4

Mulheres 2 | Homens 3 | Total 5

Nota 5

Mulheres 5 | Homens 6 | Total 11

Comentários:

Falta ônibus/transportes de outros serviços (ambulâncias, escolares, etc)

Mulheres 3 | Homens 7 | Total 10

Os trajetos precisam expandir

Mulheres 0 | Homens 1 | Total 1

Faltam melhores estradas

Mulheres 0 | Homens 1 | Total 1

Sem comentários

Mulheres 9 | Homens 15 | Total 24

Acesso a saneamento básico

Nota 1

Mulheres 8 | Homens 17 | Total 25

Nota 2

Mulheres 0 | Homens 3 | Total 3

Nota 3

Mulheres 3 | Homens 3 | Total 6

Nota 4

Mulheres 0 | Homens 2 | Total 2

Nota 5

Mulheres 1 | Homens 0 | Total 1

Comentários:

Falta rede de esgoto/agua encanada/estrutura

Mulheres 3 | Homens 9 | Total 12

Sem comentários

Mulheres 9 | Homens 16 | Total 23

Acesso a internet e informação

Nota 1

Mulheres 5 | Homens 15 | Total 20

Nota 2

Mulheres 0 | Homens 4 | Total 4

Nota 3

Mulheres 4 | Homens 4 | Total 8

Nota 4

Mulheres 1 | Homens 4 | Total 5

Nota 5

Mulheres 1 | Homens 3 | Total 4

Comentários:

A qualidade deveria ser melhor/falta estrutura

Mulheres 1 | Homens 7 | Total 8

A facilidade de acesso à Internet e telefone deveria ser maior

Mulheres 0 | Homens 4 | Total 4

Sem comentários

Mulheres 10 | Homens 16 | Total 26

Melhora das condições de moradia

Nota 1

Mulheres 2 | Homens 5 | Total 7

Nota 2

Mulheres 2 | Homens 5 | Total 7

Nota 3

Mulheres 3 | Homens 3 | Total 6

Nota 4

Mulheres 1 | Homens 4 | Total 5

Nota 5

Mulheres 3 | Homens 9 | Total 12

Comentários:

Falta de áreas para construção pela área dos mananciais

Mulheres 2 | Homens 1 | Total 3

Falta estrutura

Mulheres 1 | Homens 4 | Total 5

Distância dos centros é prejudicial/falta convivência social

Mulheres 0 | Homens 2 | Total 2

Projeto de habitações deve ser colocado em pratica

Mulheres 1 | Homens 0 | Total 1

Sem comentários

Mulheres 7 | Homens 17 | Total 24

19) Sobre as eleições municipais deste ano, você:

( ) Já decidiu em quem vai votar

Mulheres 1 | Homens 6 | Total 7

( ) Não decidiu em quem vai votar

Mulheres 11 | Homens 10 | Total 21

( ) Está indeciso

Mulheres 0 | Homens 5 | Total 5

( ) Não irá votar

Mulheres 0 | Homens 5 | Total 5

20) Sobre as campanhas eleitorais dos candidatos aos cargos municipais, você:

( ) Acompanha as campanhas

Mulheres 5 | Homens 14 | Total 19

( ) Não acompanha as campanhas

Mulheres 5 | Homens 8 | Total 13

( ) Não tem acesso às campanhas

Mulheres 2 | Homens 4 | Total 6

Análise dos dados e ideias para a reportagem

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O nosso questionário seguiu uma linha mais ampla sobre o estilo de vida dos moradores de Marsilac. O objetivo era investigar sobre o cotidiano e a qualidade de vida dessas pessoas. Durante a aplicação, percebemos como os moradores são bem solícitos: todos que abordamos concordaram em responder o questionário. Diferente do que pensávamos - e que nos surpreendeu - conseguimos respostas para a nossa atividade com facilidade. A maior parte dos entrevistados têm entre 40 e 59 anos, seguidos pelos de idade entre 20 e 39 anos; foram 28 homens e 13 mulheres, totalizando 41 questionários respondidos. A maior parte (34%) mora com mais duas pessoas (três pessoas na casa), e a renda familiar predominante é entre R$880 e R$1320.

Pelas respostas do questionário e informações que foram coletadas durante sua aplicação, concluímos que o distrito de Marsilc, apesar de ser um lugar esquecido por São Paulo, tem voz e opiniões definidas. Notamos que algumas avaliações tiveram respostas similares, ou seja, muitos moradores concordam em alguns pontos: por exemplo, 65% dos entrevistados deram nota 1 (questão muito urgente a ser resolvida) para o sistema de saúde, e ressaltaram a falta de médicos como um dos principais problemas; 67% concorda que o acesso ao saneamento básico é uma prioridade a ser resolvida no distrito; 100% concorda que Marsilac precisa de reformas.

Comparamos a região com uma cidade do interior, já que a realidade que presenciamos é outra completamente diferente da nossa: ao contrário do que encontramos nos centros urbanos e de classe média de São Paulo - os quais estamos acostumados - 58% dos moradores de Marsilac não têm acesso a agua potável e saneamento básico, e apenas 14% tem acesso a ambos. Durante a aplicação do questionário, foi revelado que algumas pessoas só conseguem agua através de poços. Dos que trabalham, a maioria tem seu emprego localizado na região do Marsilac, e se locomovem a pé até o local de trabalho. O sistema de transporte público foi o melhor avaliado: 42% dos entrevistados acreditam que ele é acessível e de boa qualidade. Por outro lado, 46% concorda fortemente que as ruas e estradas não atendem as necessidades da população.

O que mais nos chamou atenção, e que será abordado na reportagem, é o sistema de comunicação do Marsilac. 39% dos entrevistados tem acesso à luz e Internet, e 56% tem apenas à luz; 4% não tem acesso a nenhum dos dois; 48% deram nota 1 (questão muito urgente a ser resolvida) para a facilidade ao acesso a Internet e informação. Além disso, muitos moradores que conseguem acessar a Internet, apenas o fazem via radio, e afirmam que mesmo assim a qualidade do serviço é baixa, pela falta de sinal. Acreditamos que é importante ressaltar este tema porque ele está presente no cotidiano dos moradores do distrito, é uma realidade que eles enfrentam especificamente.

Queremos descobrir como é o dia a dia dessas pessoas que precisam lidar com isso, como (e se) conseguem informações sobre o cenário sócio-econômico do Brasil e do mundo, como acessam a Internet quando precisam e que solução eles criaram para poder se comunicar com outras regiões de São Paulo e do Brasil, como se sentem com a falta de acessibilidade, e como organizam sua vida com essa condição. Também queremos olhar o outro lado da comunicação: como é o relacionamento entre os moradores do distrito, qual é a história desses moradores*, se eles mantém contato com suas famílias (se todos moram no Marsilac), o que eles acham que precisaria melhorar para que o acesso à Internet e ao sinal de telefones se tornasse acessível, quais são suas propostas para essa mudança.

*Moradores que colaboraram na entrevista de profundidade

Áudios brutos de entrevistas

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Tadeu - Policial do único posto de Marsilac

http://vocaroo.com/i/s0EgfArsCILm

Fábio - Pastor na comunidade

http://vocaroo.com/i/s0jHGGNbULvH

Janete

http://vocaroo.com/i/s0SlhCV58iFm

Um retrato não tão distante de Marsilac

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Apesar dos problemas, o distrito de Marsilac apresenta um senso de comunidade que parecia estar perdido em São Paulo. A cooperação e a solicitude entre os moradores é um diferencial pouco conhecido pelos que vivem fora da região.

Uma semana antes da nossa visita ao distrito de Marsilac, havia sido divulgada uma das raras notícias destacando a região, que ainda gerava grande repercussão na comunidade. Só o título da matéria - “Marsilac, na Zona Sul, é onde a chance de ser assassinado é maior em SP”, publicada pela Veja São Paulo - já evidencia qual o tipo de foco que o jornalismo tradicional dá para o bairro, quando lembra que ele existe.

 
Marsilac de cima

Localizado no extremo sul da capital, a cerca de 50 km da Praça da Sé, o distrito é, ao mesmo tempo, o maior de São Paulo, e o que recebe a menor visibilidade. Os moradores se queixam da negligência com a qual são tratados. Do que acontece de inovador e extraordinário no bairro ninguém sabe, reforçando uma imagem negativa e estereotipada da região.

“Das partes boas ninguém fala. A gente gostaria que houvesse um olhar positivo, que as pessoas viessem para cá e vissem todas as iniciativas bacanas que acontecem aqui” - diz o pastor Fábio da Silva, ex-morador do Grajaú que se mudou para Marsilac há dois anos, seguindo um chamado pastoral de sua Igreja. Hoje ele, que é formado em educação física, comanda uma ONG que promove atividades esportivas para as crianças da região.

Durante conversa, o pastor contou que, de vez em quando, realmente aparecem carros roubados ou acontecem homicídios. Porém, a maioria exorbitante desses crimes são praticados por pessoas que vêm de fora; ele mesmo afirma se sentir muito mais seguro em Marsilac do que se sentia quando morava mais perto do centro urbano. Existe ali um sentimento profundo de chateação com a imprensa, que, segundo os próprios moradores, divulga dados e faz manchetes negativas sem nunca ter aparecido por lá para conversar com eles e realmente conhecer a região.

Logo na entrada do distrito distante, que é bem sinalizado por placas no caminho, de certa forma necessárias, já que as operadoras, em determinado ponto, cedem o funcionamento, encontra-se o único posto policial da região. É lá que ficam sempre dois guardas; cerca de 30 homens revezam entre si, mas todos os dias, duas presenças estão sempre confirmadas, acompanhando diariamente todo o movimento: quem entra e quem sai.

 
Policial Tadeu - Professor voluntário de tênis no projeto da ONG para jovens e crianças

Um deles, o policial Tadeu, descreve que sua rotina em Marsilac não é exclusivamente dedicada ao combate de crimes. Ele afirma que a polícia atende praticamente todo tipo de chamado, não apenas relacionados a delitos.

"Por exemplo, atendemos uma gestante que já havia chamado o SAMU. Demorou muito e ela teve que vir para cá [o posto da polícia]. Na verdade, ela deveria ter sido conduzida com cuidado especial pelo tempo da gestação, mas a gente teve que levar ela. Foi um pouco constrangedor [a situação] pois ela estava com sangramento. Levamos devagarzinho para ela chegar bem, mas que também não é o ideal... Socorrer uma gestante na viatura. Fizemos o que tínhamos que fazer na hora por esse comprometimento com a vida".

Além disso, ao questionarmos se o crime era tão violento quanto era comentado pela mídia, ele apresenta convicção: "Não [vejo crime que a mídia informa]. Existe crime; existe tudo o que tem em um lugar mais movimentado, só que em uma proporção menor. O índice de criminalidade aqui não é grande, e diminui mais ainda porque a gente é muito presente. Além dos projetos sociais que fazemos, temos um contato com a comunidade".

SOBRE MARSILAC

O distrito de Marsilac pertence à subprefeitura de Parelheiros, a aproximadamente 60 km do centro paulista. Além de ter o menor IDH da cidade (0,701), tem baixíssima densidade demográfica, com pouco mais de 10 mil habitantes. A região tem bastante área verde, o que faz com os habitantes tenham mais contato com a natureza no dia a dia. Além disso, podemos encontrar algumas paisagens naturais.

Entre elas, estão as cachoeiras de Marsilac, uma diversão para os frequentadores. Os moradores do distrito tem controle da entrada e saída de visitantes, já que muitas pessoas que não eram da região, tinham o costume de poluir as águas. Para combater este problema, os habitantes fizeram uma força tarefa para limpar as cachoeiras, com o propósito de evitar a degradação das águas.

Apesar disso, as pessoas que vivem em Marsilac sentem que o distrito precisa de reformas. Alguns dos principais problemas de Marsilac, apontados por eles, são: os hospitais não são tão acessíveis, por ficarem longe do distrito, o sistema de saneamento básico precário, a falta de infraestrutura nas escolas da região e a falta de acesso a Internet e sinal de telefone.

O problema da comunicação é um diferencial de Marsilac. Lá, apenas uma pequena parte da população têm acesso ao sinal de celular via satélite. Mesmo assim, a qualidade das transmissões é bem fraca, já que é alcançada pelo rádio. Podemos observar, a partir dessas informações, o quanto a cidade de São Paulo é desigual socialmente; Internet, pacote de dados e sinal de celular são tão triviais para nós, enquanto que, para os moradores de Marsilac, é um privilégio que a maioria não pode ter.

Em contrapartida, a indisponibilidade de tecnologia de ponta fez com que as pessoas da região se comunicassem ainda mais entre si, e criassem laços afetivos mais fortes.

PRIMEIRAS IMPRESSÕES

Chegando a Marsilac, depois de pegar no mínimo três linhas de ônibus, não é possível reconhecer a região inóspita sobre a qual lemos antes da visita. O distrito é uma grande comunidade, cheia de iniciativas e pessoas receptivas, com ruas tranquilas e vazias e um ar de cidade de interior. É verdade que o caminho de ida até o distrito já o entrega, com suas ruas e curvas, repletas de árvores e vestígios de Mata Atlântica. A sensação que o distrito passa é a de que se está fora do caos da cidade de São Paulo, em um lugar onde o som dos pássaros cantando toma conta das ruas e onde quase todos os moradores se conhecem entre si.

 
Centro de Marsilac - Único ponto de ônibus

Logo na entrada de Marsilac, um mercado recepciona os visitantes. Nada muito grande, se comparado aos “hipers” do centro de São Paulo, mas para o cenário de Marsilac, aparenta ser muito completo e suficiente aos moradores da região. Com um letreiro discreto, o “Mercado Bertini” pertence ao brasileiro, filho de japoneses, Mitsuyoshi Osako, de 70 anos, que é sempre muito receptivo com os turistas da região. O Japonês, como é carinhosamente chamado por todos os amigos que vivem no mercado, trabalhou no Japão e nos Estados Unidos como mecânico, mas se aposentou, voltou à Marsilac e abriu o estabelecimento que funciona como padaria, mercado e quitanda, único na região. No café-da-manhã, vários personagens importantes de Marsilac se reúnem para comer um pão na chapa e um café preto. O Pastor Fábio e o policial Tadeu, todos apresentados por Mitsuyoshi a nós, são clientes fiéis do mercado. O Japonês demonstra confiar muito nos visitantes da região e revela ser um leitor muito informado, sempre ligado nas últimas notícias.

Mitsuyoshi valoriza muito a classe jornalística, mas revela um certo desapontamento com a imprensa ultimamente. Ele revela que alguns veículos até produzem matérias sobre Marsilac, com um único porém, ninguém realmente conhece ou visita a região. O Japonês não consegue se recordar quando foi a última vez que algum jornalista foi pesquisar pessoalmente como é a vida onde ele mora e trabalha, até por isso ele mostrou uma alegria imensa em nos ver por lá. Mitsuyoshi tem a consciência de que os artigos que revelam que em Marsilac não há saneamento básico e nem sinal de celular são verdadeiros, porém, ele questiona como alguém pode retratar Marsilac sem ao menos visitá-la uma vez. O dono do mercado lamenta que a região apenas é lembrada por seus aspectos negativos, que são muitos, mas também há muitos elementos positivos na região, como o senso de comunidade que domina o ambiente.

SENSO DE COMUNIDADE

Se existe algo em Marsilac notadamente benéfico e desenvolvido, em comparação ao centro de São Paulo, é seu senso de comunidade. A triste carência permanente nas questões de saúde, infraestrutura, esgoto e comunicação (internet e celular), conseguiu transformar uma sociedade que, mesmo isolada, pratica gestos inacreditáveis de solidariedade, sem quaisquer pretensões; a não ser, a de uma comunidade unida e sempre melhor. O contato humano favoreceu em Marsilac os laços e é por isso que hoje todos por lá se tratam como uma diversificada família.

Algumas iniciativas

 
Crianças de Marsilac
 
Pastor Fábio - Responsável pela ONG para inserção social de jovens e crianças de Marsilac

Fábio, o pastor, foi chamado por esse senso. Com sua personalidade paternal refletida não só no filho de poucos meses, mas também nas crianças e jovens de Marsilac, ele busca o desenvolvimento social através da oportunidade: participa hoje da ONG CCA (Centro para Criança e Adolescente) - Mão Cooperadora, que estimula diversos tipos de esportes entre os jovens, além de palestras educativas sobre temas sociais e importantes na formação, como educação sexual, que ainda é um assunto bastante evitado por lá.

Dessa forma, as crianças podem fugir da vulnerabilidade e da rua, evitando se envolver com tráfico e violência, que segundo Fábio, existe em todos os lugares. Ele acredita que se o estímulo vem desde cedo, o caminho é endireitado mais facilmente, embora isso não signifique que adultos não possam encontrar uma trajetória melhor em qualquer altura de suas vidas. É por isso que, no mesmo lugar, adultos e jovens-adultos interessados recebem cursos e aulas de computação, por exemplo.

No auxílio infanto-juvenil, apesar da falta de visibilidade, alguns frutos puderam amadurecer: solidarizados com a proposta, a cooperativa Seninha e a marca Nike decidiram que uma colaboração poderia fazer grande diferença nas crianças de Marsilac. Hoje, sem qualquer custo, elas recebem tênis e equipamentos esportivos como skates, utilizados para promover as gentis ações de uma população que pouco vê perigo em seu distrito. O pastor mesmo, dorme às vezes com a porta aberta.

Fortaleza Janete

 
Dona Janete - Catadora há 15 anos na região

Para Fábio é impossível falar de coisas boas feitas por lá sem falar de dona Janete, uma senhora que faz toda a separação do lixo reciclável da região no quintal de casa. Um pouco perdidos com a falta de nome das ruas, já que ali é tudo na base das referências e não de endereços, pedimos uma orientação. “Eu levo vocês lá, é só atravessar a linha do trem ali e descer um pouco, vem”, disse enquanto nos orientava. Ao chegar na frente de um portão simples de ripas de madeira ele bateu palmas e chamou por Janete, que ficou feliz em nos recepcionar.

Seu trabalho com a reciclagem começou há 15 anos. Na época, sem emprego e sem estudo, ela catava o lixo na beira da rua para sustentar a casa com o então marido. Hoje, com 53, ela sustenta, com a venda dos plásticos, uma casa com o agora ex-cônjuge e 4 de seus 7 filhos. Por dia ela coleta de 10 a 15 quilos só de plástico, que são vendidos por 1 real o quilo, fora as latinhas, os pedaços de cobre e outras coisas, como panelas de ferro.

Em 2004 uma cooperativa de 17 pessoas levada para lá foi construída no quintal da casa de Janete, mas na gestão Serra todos os núcleos e cooperativas foram fechados e ela continuou sozinha. “Fiquei com 20 sacos lotados de material e não sabia o que fazer, não sabia vender. Então comecei a vender para um ferro velho. Nunca deixei de juntar (a sucata), todo mundo desistiu, só eu que não parei porque era o meio de tirar meu sustento”, contou.

Durante nove meses ela trabalhou em uma grande reciclagem, onde aprendeu tudo sobre tipos de plástico e técnicas de separação, das quais nos deu uma aula. Além disso, Janete sempre busca trabalhos alternativos, como nos dias em que sai de Marsilac às 5 da manhã para comprar roupas no Brás e revender. É uma mulher forte e, acima de tudo, consciente do impacto daquilo que ela faz. “Arrancando o lixo das ruas, além de ser um sustento, você ainda está ajudando o meio ambiente. As pessoas não colocam o lixo para coletar, só atravessam a rua e jogam no barranco. Quando eu vejo eu cato, mas as outras coisas vão pro meio ambiente e poluem tudo. Nossa água é toda contaminada”.

Outras pessoas acabam fazendo o serviço de catar também, mas segundo Janete elas têm vergonha do ofício que chamam de trabalho de lixeiro, por isso escondem e não fazem nenhum processo de separar, só vendem para ela. Janete não, Janete tem orgulho. Para ela a única parte ruim é a falta de reconhecimento e de garantia. “Você ajuda, ajuda e o governo não está nem aí para você, não valorizam. Não é fácil não. A única cooperativa que o Serra manteve foi a dele, que dá lucro pra ele. Dá muita raiva, mas fazer o que, nem tudo é como a gente quer”.

Popular em Marsilac ela conheceu todo mundo por meio do programa Alimenta São Paulo, em que voluntariamente levava cestas básicas do governo para as famílias mais carentes da região, à pessoas que vivem com uma renda mensal de 80 reais. Por isso, para ela, a internet e o telefone não fazem falta. Na verdade, em sua visão, eles afastam as pessoas. Na hora de despedir, um abraço muito apertado, em um misto de agradecimento e sensação de quem nos conhecia há muito mais que algumas poucas horas.

Referências bibliográficas

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Mapas:

  1. Crescimento Populacional na virada do século: http://atlasambiental.prefeitura.sp.gov.br/conteudo/socioeconomia/socioeco_02.jpg
  2. Renda domiciliar em salários mínimos (IBGE 2000): http://outracidade.uol.com.br/wp-content/uploads/2015/09/mapa-desigualdade-sp.png
  3. Marsilac: o maior distrito de São Paulo: http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/imagens/MapaDistritosMenor.jpg
  4. Áreas urbanizadas / de vegetação / industriais [...]: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/meio_ambiente/imagens/apa_capivari_monos/mapas_plano_manejo/apa_cm_uso_do_solo_2002_a1.jpg - Atenção: esse mapa não abrange apenas Marsilac! Cuidado principalmente com o canto do nordeste, que não faz parte.