Temperaturas Paulistanas/Planejamento/Moema/Turma B
REGIÃO: Moema
TURMA: B
INTEGRANTES: Fernando Lucarevschi, João Pedro Siqueira, Luís Borgia, Lívia Figueiredo, Pedro Ernesto Bettamio
Introdução
editarO distrito de Moema, localizado na região Sul da cidade de São Paulo, pertence à subprefeitura de Vila Mariana, com uma população de aproximadamente 71. 549 habitantes, segundo o Censo de 2010. Atualmente, o distrito é considerado uma das regiões mais nobres da metrópole, valorizada pela infraestrutura desenvolvida que proporciona a melhor qualidade de vida da cidade. O seu IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de 0,961 é o maior da metrópole, e se fosse um país lideraria o ranking mundial. Inicialmente, pelo que se possui documentado a região era composta de chácaras que a partir de 1880 passou a receber imigrantes alemães e ingleses. Apesar de o primeiro grande loteamento ter ocorrido nos anos 20, o amplo desenvolvimento veio no final dos anos 70, com a construção do Shopping Ibirapuera, que atraiu novos moradores. O Parque Ibirapuera também faz parte do distrito e agrega grande valor ao lazer, entre outros atrativos que compõem a infraestrutura estão diversos bares, restaurantes e casas de show, além da grande presença de empresas de serviços e comércio. O bairro de Vila Conceição que possui o metro quadrado mais caro da cidade, pertence ao distrito.
O trânsito é um dos problemas, pois é muito congestionado. Com previsão de entrega para 2016, ainda se aguarda a inauguração da ampliação da Linha 5-Lilás do metrô, que terá a Estação Moema, Ibirapuera e Servidor e deverá chegar à Linha 2-Verde.
Pontos de aplicação dos questionários
editarO local escolhido para a aplicação dos questionários será o quadrante limitado pelas ruas Hélio Pellegrino, Ibirapuera, Bandeirantes, Santo Amaro e República do Líbano. Esse quadrante foi selecionado devido a uma alta concentração de setores censitários de baixa ou nenhuma privação na região de Moema, assim como observado no mapeamento do Centro de Estudos da Metrópole da região da subprefeitura de Vila Mariana. Além disso, nesse mesmo quadrante encontra-se uma grande quantidade de unidades de comércio e pontos de interesse, como cursinhos pré-vestibular, instituições religiosas, academias e mercados. As escolas preparatórias para vestibulares nos permitirão um maior contato com pessoas jovens; as instituições religiosas potencialmente concentrarão uma parcela mais socialmente conservadora; e as academias e mercados possivelmente contarão com o fluxo de moradores da região escolhida, dado o fato de que as pessoas buscam fazer compras e exercitar-se em locais próximos de suas moradias.
Análise de evasão de votos
Com os índices de evasão de voto crescentes recentemente, o grupo decidiu focar sua pesquisa para este fenômeno, especificamente na região de Moema. Acredita-se que a heterogeneidade da população local seja capaz de trazer diferentes visões sobre o assunto. Por exemplo, acredita-se que um jovem de 20 anos terá um pensamento diferente de um adulto de 40 anos. Nos questionários, procuraremos identificar esses grupos diferentes, assim como alguns pontos que influenciam na formação de seus pensamentos, como o consumo de informação e a participação em diferentes instituições.
Divisão de tarefas
editarElaboração dos questionários
editarRealização: Todos
Responsável: Fernando Lucarevschi
Aplicação dos questionários
editarRealização: Todos
Responsável: João Pedro Siqueira e Pedro Ernesto
Atualização na Wikiversidade
editarRealização: Todos
Responsável: João Pedro Siqueira
Audiovisual e fotografia
editarResponsável: Lívia Figueiredo
Planilha com os resultados
editarResponsáveis: Luís Borgia e Pedro Ernesto
Tema do projeto
editarAnálise qualitativa de índices de participação social
Com os índices de participação social tendendo a decrescer nas próximas eleições, dado o descrédito da população no modelo representativo de democracia - este, fruto de uma crise política, econômica e social no país - o grupo decidiu focar sua pesquisa neste fenômeno, especificamente na região de Moema. No Brasil como um todo, de acordo com pesquisa do IBGE e do TSE em 2010, o país possuía um total de 54 milhões de eleitores que deixavam de votar. Esse número representava 28% do total de eleitores brasileiros e acredita-se que tenha crescido ainda mais. Uma análise ampla da população local será capaz de trazer diferentes visões sobre o assunto. Por exemplo, acredita-se que um jovem de 20 anos terá um pensamento diferente de um adulto de 40 anos. Nos questionários, procuraremos identificar esses grupos diferentes, assim como alguns pontos que influenciam na formação de seus pensamentos, como o consumo de informação e a participação em diferentes instituições.
Referências bibliográficas do Planejamento
editarhttp://g1.globo.com/sao-paulo/eleicoes/2012/noticia/2012/10/votos-brancos-nulos-e-abstencoes-sobem-em-sao-paulo.html
http://g1.globo.com/sp/sao-paulo/apuracao/sao-paulo.html
http://www.cognatis.com.br/blog/2016/03/21/conheca-o-perfil-de-mercado-do-bairro-moema-de-sp/
http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,moema-bairro-e-numero-um-em-qualidade-de-vida,1609248
http://www.fflch.usp.br/centrodametropole/cemsas/1.3.12.VilaMariana.pdf
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_dos_distritos_de_S%C3%A3o_Paulo_por_%C3%8Dndice_de_Desenvolvimento_Humano
http://www.fflch.usp.br/centrodametropole/antigo/v1/MV/Sul-B-(18-38).pdf
Questionário
editarPERFIL DEMOGRÁFICO
Qual o seu nome?
______________________________________
Qual a sua idade?
______________________________________
Qual a sua ocupação?
_____________________________________
Com qual gênero você se identifica?
( ) Homem ( ) Mulher ( ) Outro
Você se considera:
( ) Branco(a) ( ) Pardo(a) ( ) Negro(a) ( ) Indígena ( ) Amarelo
Qual a sua escolaridade?
( ) Superior completo
( ) Superior incompleto
( ) Médio completo
( ) Médio incompleto
( ) Não frequentou a escola
PERFIL POLÍTICO
Que jornais consome? (TV, impresso, internet, rádio etc)
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Como classificaria seu interesse por política?
( ) Gosta e acompanha
( ) Gosta e acompanha pouco
( ) Gosta, mas não acompanha
( ) Não liga
( ) Não gosta
Você costuma conversar com alguém sobre política?
( ) Sim ( ) Não
Você pode me dizer o nome do atual prefeito de São Paulo?
______________________________________________________________________________
De qual partido é o prefeito?
______________________________________________________________________________
Você pode me dizer o nome de um(a) vereador(a) da cidade?
______________________________________________________________________________
É militante de algum partido?
( ) Sim ( ) Não
Se sim, qual?
______________________________________________________________________________
Tem afinidade por algum partido?
( ) Sim ( ) Não
Se sim, qual?
______________________________________________________________________________
Participa de algum coletivo, ONG ou frente de atuação?
( ) Sim ( ) Não
Se sim, qual?
______________________________________________________________________________
Participa de reuniões de condomínio ou associações de bairro?
( ) Sim ( ) Não
Se sim, qual?
______________________________________________________________________________
Já foi algum dia à Câmara dos Vereadores?
( ) Sim ( ) Não
Já participou de alguma manifestação ou protesto?
( ) Sim ( ) Não
Se sim, qual?
______________________________________________________________________________
Já deixou de votar?
( ) Sim ( ) Não
Se sim, por quê?
______________________________________________________________________________
Já votou branco ou nulo?
( ) Sim ( ) Não
Se sim, por quê?
______________________________________________________________________________
Conhece alguém que tenha votado branco ou nulo?
( ) Sim ( ) Não ( ) Não sabe/não lembra
Já votou no candidato “menos pior”?
( ) Sim ( ) Não
Se sim, por quê?
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Você confia no resultado das eleições?
( ) Sim ( ) Não
Vai comparecer a uma escola eleitoral para votar neste ano?
( ) Sim ( ) Não
Pretende votar branco ou nulo nestas eleições?
( ) Sim ( ) Não ( ) Não decidiu
Se sim, por quê?
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Você votaria caso o voto não fosse obrigatório?
( ) Sim ( ) Não
Acredita que o país poderia melhorar se o regime democrático fosse substituído por um regime militar?
( ) Sim ( ) Não
Se sim, por quê?
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Você toparia participar de uma segunda fase dessa pesquisa?
( ) Sim ( ) Não
Contato:
______________________________________
Resultados dos questionários
editarGênero | |
---|---|
Homem | 17 |
Mulher | 40 |
outro | 0 |
Idade | |
---|---|
até 20 anos | 0 |
de 21 a 30 anos | 11 |
de 31 a 40 anos | 16 |
de 41 a 50 anos | 11 |
acima de 50 anos | 18 |
Etnia | |
---|---|
Branco(a) | 52 |
Pardo(a) | 4 |
Negro(a) | 0 |
Asiático(a) | 1 |
Escolaridade | |
---|---|
Superior Completo | 43 |
Superior Incompleto | 3 |
Médio Completo | 7 |
Médio Incompleto | 1 |
Jornais
(10) Folha de S.Paulo
(9) Jornal Nacional
(5) BandNews
(13) Estadão
(11) Uol
(4) CBN
(11) Veja
(17) Globo News
(4) Valor Econômico
(18) outros
Gosto por política e acompanhamento | |
---|---|
Gosta e acompanha muito | 24 |
Gosta e acompanha pouco | 3 |
Gosta mas não acompanha | 2 |
Não liga | 3 |
Não gosta | 28 |
Conversa sobre política com pessoas | |
---|---|
Sim | 48 |
Não | 9 |
Sabia nomear o atual prefeito de SP | |
---|---|
Sim | 50 |
Não | 7* |
Erraram | 2 |
*Foram mencionados Gilberto Kassab (ex-prefeito de S.Paulo) e Eduardo Paes (prefeito da cidade do Rio de Janeiro).
Sabem nomear o partido do prefeito? | |
Sim | 47 |
Não | 10 |
Sabem nomear um vereador da cidade | |
Sim | 3 |
Não | 54* |
*Erraram | 10** |
**Jooji Hato(ex-vereador) foi mencionado duas vezes.
É militante de algum partido | |
Sim | 2 |
Não | 55 |
Tem afinidade por algum partido | |
Sim | 18* |
Não | 49 |
*PSDB(11); Partido Novo(2); PMDB, REDE, PRTB (1); Partidos de Centro Esquerda (2); Anti-PT ou Anti-Comunista (2).
Participa de algum coletivo, ONG, reuniões de condomínio ou associações de bairro | |
---|---|
Sim | 25 |
Não | 32 |
Já foi algum dia à Câmara dos Vereadores | |
---|---|
Sim | 10 |
Não | 47 |
Já participou de alguma manifestação ou protesto | |
---|---|
Sim | 28* |
Não | 29 |
*Segue tabela abaixo:bela abaixo:
Impeachment/MBL | 22 |
Caras Pintadas | 4 |
Passe Livre | 2 |
Fora Temer | 1 |
Reajuste dos Prof°s | 1 |
Bingos -DF/2006 | 1 |
Deixou de votar | |
Sim | 27 |
Não | 30 |
Já votou branco ou nulo | |
Sim | 17 |
Não | 40 |
Conhece alguém que tenha votado branco ou nulo | |
Sim | 40 |
Não | 13 |
Não lembra | 4 |
Já votou no candidato “menos pior” | |
Sim | 34* |
Não | 23 |
*Justificativas na tabela abaixo:
Falta de opção | 23 |
Fazer oposição | 3 |
Não queria anular | 3 |
Mudança | 1 |
É o menos pior | 1 |
Indicação de família | 1 |
Confia no resultado das eleições | |
Sim | 21 |
Não | 35 |
Vai comparecer a uma escola eleitoral para votar neste ano | |
Sim | 42 |
Não | 5 |
Pretende votar branco ou nulo nestas eleições | |
Sim | 4 |
Não | 41 |
Não decidiu | 12 |
Votaria caso o voto não fosse obrigatório | |
Sim | 39 |
Não | 16 |
Não sabe | 2 |
Acredita que o país poderia melhorar se o regime democrático fosse substituído por um regime militar | |
Sim | 12* |
Não | 45 |
*Justificativas abaixo:
Acabar com a corrupção | 4 |
Mais ordem | 3 |
Mais respeito | 1 |
Mais segurança | 2 |
Reforma na constituição | 1 |
Competência | 1 |
Falavam bem | 1 |
Apuração - Grupo Focal
editarPAUTA
TEMA
Participação dos moradores de Moema na política institucional
HIPÓTESE
Os eleitores de Moema não conhecem seus representantes (vereadores)? Querem a volta dos militares? Não dão valor ao próprio voto?
OBJETIVOS DA REPORTAGEM
Expor um tipo de pensamento peculiar dos cidadãos e cidadãs de Moema a partir de três eixos: deixar de votar, apoiar regimes antidemocráticos e desconhecer os representantes do município.
PRÉ-APURAÇÃO
LISTAR FONTES PARA ENTREVISTAR - Luis
CONTATAR FONTES - Lívia e Fernando
ELABORAR ROTEIRO DE PERGUNTAS - Pedro e João
APURAÇÃO
MEDIAÇÃO - Pedro
DEBATEDOR - João
AUDIOVISUAL - Lívia
RELATOR - Luis e Fernando
REDAÇÃO E EDIÇÃO
RESPONSÁVEIS PELA REDAÇÃO (TODOS DEVEM ESCREVER) - Fernando, Lívia e Luis
EDIÇÃO DO AUDIOVISUAL - João
PESQUISA DE DADOS COMPLEMENTARES - Pedro
Reportagem
editarConfira aqui o processo de produção do Temperaturas Paulistanas - Moema: https://www.youtube.com/watch?v=H39pDTst92U
A névoa
editar“Os políticos só querem saber de encher os próprios bolsos e não fazem nada para o povo”. Eldema Brisola, aos seus 66 anos e já aposentada, tem um olhar bastante representativo de como o brasileiro - e, mais especificamente, o paulistano - vê seus representantes. O desapontamento com os políticos profissionais por vezes se torna raiva. As sobrancelhas da senhora, que são alinhadas e engrossadas por uma espécie de maquiagem, se franzem enquanto ela reflete sobre o que vai dizer. “Quando falo sobre isso é impossível não xingar”, alerta antes de abocanhar um pedaço de um pão de queijo.
Seu sobrenome remete à uma peculiar e relevante figura histórica brasileira. Ex-deputado federal consagrado pelo povo por conta de seu trabalho em defesa dos interesses nacionais e dos trabalhadores brasileiros, a luta de Leonel Brizola forma um paradoxo bastante interessante com relação às opiniões da dona Eldema. O pensamento e as atitudes ideologicamente contrárias as da aposentada de cabelos curtos e castanhos, faria o presidente de honra da Internacional Socialista tremer de desconforto.
Eldema acredita que o governo petista que regeu o país até o impeachment de Dilma Rousseff era uma farsa. “Lula nunca trabalhou. Só se aproveitou das consequências do governo de Fernando Henrique e deturpou alguns outros projetos” diz com desprezo. Dilma, por sua vez, era uma coitada aos olhos da senhora de vestido longo e copo de café na mão. Ela vê todos os últimos treze anos com descontentamento. Apoiou, consequentemente, o processo que deu fim a um governo que, de acordo com ela, dava pães com mortadela em troca de votos. Apesar de tudo, não foi às ruas protestar. “Na rua é tudo bagunça”, afirma.
A desconfiança política de pessoas como Eldema Brisola retrata o momento turbulento pelo qual o país passa. Apesar da proximidade das eleições para prefeito e vereadores de São Paulo, que estão marcadas para o dia 2 de outubro, os eleitores encontram-se desesperançosos com a política. Na pesquisa realizada em um dos distritos mais ricos de São Paulo, Moema, revelou que mais de 60% dos moradores não confiam no resultado das eleições e 28% não votariam caso o voto fosse facultativo.
Sandro, engenheiro de 38 anos, hoje desempregado, é um morador de Moema que se encontra nesta exata situação. Decepcionado com o cenário político atual, ele diz não ter afinidade com nenhum partido político para decidir seu voto nas eleições que estão por vir. “Não me sinto representado pelos políticos de hoje”, afirma com rispidez e firmeza, “ minha nota para todos eles seria 1. É necessária uma reforma do sistema político no Brasil”.
Reforma é uma palavra muito usada nos dias atuais -- o que é compreensível, na medida em que os brasileiros querem sair do momento crítico que o país vive. O recente processo de impeachment da presidente da República, a cassação do presidente da Câmara dos Deputados, a falta de confiança na classe política, afogada em meio a numerosos escândalos de corrupção: tudo isso culmina na descrença de eleitores como Sandro. Descrença que, por vezes, culmina no completo oposto de reforma: o conservadorismo.
Há quem diga que conservadorismo é hoje uma névoa escondida no meio dos discursos. Não serve mais de alcunha adotada por indivíduos que se orgulham de pensar assim, mas não deixou de passear de maneira sutil na fala destes. Antônio Cândido, no distante ano de 1988, já apontava a existência deste fenômeno. “Os políticos e empresários de hoje não se declaram conservadores como antes, quando a expressão classes conservadoras era um galardão”, dizia o sociólogo socialista, longe de seus 98 anos de idade.
Alguns anos depois, na segunda década do século XXI, a mesma névoa paira sob a cabeça de diversos representantes do Congresso Nacional - os quais acabam se aglutinando em bancadas defensoras dos interesses da Igreja, dos latifundiários e da indústria armamentista. O conservadorismo, enquanto ideologia política de oposição a reformas estruturais com vistas à justiça social, adquiriu mais uma conquista no ano de 2016: o maior cargo do poder político do Poder Executivo, personificado na figura de Michel Temer.
Alcançar tal objetivo, entretanto, não foi uma tarefa fácil. Tudo começou em setembro de 2015, com uma denúncia de que a presidente Dilma Rousseff havia assinado decretos orçamentários irregulares e cometido pedaladas fiscais, atos que configurariam um crime de responsabilidade. Essa questão foi levada até agosto de 2016, mês em que a presidente foi oficialmente deposta e seu vice, Michel Temer, assumiu a Presidência da República.
A polarização do país - já bastante evidente naquele momento - voltou a mostrar força: parte da população acreditava ser válida a maneira como o processo corria e defendia que a presidente fosse destituída, enquanto outra parte acreditava que o processo se tratava, na verdade, de um golpe realizado pela oposição.
“Nos Estados Unidos não existe esta confusão daqui”, analisa o paulistano. “Eu acredito que esta [forma de governo] seja, sim, melhor que a nossa”. A crença de que os Estados Unidos sejam um verdadeiro exemplo de organização e eficiência política já se tornou um discurso corriqueiro nas classes médias e altas do país.
Esse tipo de argumento, no entanto, mascara o fato de que até mesmo a terra do Tio Sam enfrenta problemas. Com 37% das intenções de voto, o caricato candidato Donald Trump desperta desgosto em muitos eleitores estadunidenses. Seus discursos racistas, xenofóbicos e machistas são frequentemente criticados pelos maiores jornais do país. A utopia do engenheiro de Moema também tem seus problemas para sanar.
Um homem instruído como Sandro enxerga um outro problema no ensino das escolas públicas. Ele aponta uma inclinação política um tanto enviesada na abordagem dos conteúdos escolares. Para ele, a didática dos professores deve ser neutra, apresentando os dois lados da história e passando o máximo de informações possíveis. Quem compartilha do mesmo pensamento é Eldema, que apoia declaradamente o Escola sem Partido, projeto de lei que visa “acabar com a doutrinação de esquerda nas escolas”. Para ela, a escola não deve ser um lugar de debates, mas um espaço onde professores ensinam e os alunos interpretam os fatos por conta própria, da maneira que acharem melhor.
Essa não é a única semelhança entre os dois. Ambos já sabem exatamente em quem votar nas eleições municipais e conhecem o candidato muito bem. Ele, pela televisão; Ela, pelo contato pessoal com o candidato, pois são amigos de longa data. Eldema e Sandro também compartilham opinião semelhante acerca do regime militar de 64. Por mais que não façam parte dos 15% que apoiam a volta do militarismo, assim como observado na pesquisa aplicada na região, não deixam de salientar pontos positivos da ditadura.
A disciplina nas escolas, a segurança nas ruas e a estabilidade econômica gerada pelo Milagre Econômico da década de 70 estão entre os argumentos que sustentam esse pensamento. “Os militares cometeram, sim, excessos”, pondera Eldema. As práticas de controle da população do regime, como a censura e a tortura, são repudiadas por ambos, para o alívio de pessoas como a analista de sistemas Ana Elisa Frecchiani.
Durante o período militar, a tia e o tio de Ana, e alguns colegas do casal da universidade participaram do Partido Comunista Estudantil. Na época, enquanto participavam de uma movimentação estudantil, foram enquadrados e classificados como contraventores e tiveram que fugir às pressas da cidade. Mas este era só o início das desventuras.
A família de Ana Elisa foi perseguida pela Polícia Militar. Sob tortura, um dos colegas revelou a localização dos familiares e uma parente acabou sendo presa pelo Batalhão do Exército. “Minha tia estava grávida no período em que ela esteve presa e foi torturada”, revela, à beira do choro. “Graças a Deus minha prima, que na época era um bebê, conseguiu sobreviver a tudo isso junto com a minha tia.”.
Depois de muito criticar o regime, Ana Elisa explicou como essas ações, que pertencem a um passado distante e sombrio, ainda trazem complicações e traumas para sua família. “O pior da tortura não é o que ela faz para a pessoa apenas. A família e todos que estão ao redor sofrem muito com isso para o resto da vida”. Afirma ao contar que ninguém dessa parte da família pode aderir às redes sociais por medo de perseguição.
A tortura que a tia de Ana, não identificada por nenhum nome ou sobrenome, passou influenciou mesmo depois de 40 anos depois, sua própria vida. “Ninguém nunca tinha me falado nada sobre essa história. Quando foi a minha vez de entrar para o movimento estudantil, todos os membros da minha família se juntaram para fazer uma intervenção. Eles estavam morrendo de medo”.
O número de apoiadores dos militares surge, pela segunda vez em nossa história recente, junto a uma altíssima rejeição da esquerda e, coincidentemente ou não, no mesmo momento em que as ruas são tomadas pelas manifestações.
Em 1964, um golpe de estado foi instaurado como suposta prevenção de uma revolução de esquerda no país. A névoa do conservadorismo já podia ser vista no horizonte, como que movida pelo medo de um governo socialista. Da mesma maneira, mais de 50 anos depois, essa mesma névoa volta a pairar sobre o território brasileiro. A diferença é que, dessa vez, a névoa do conservadorismo sobrevoa invisível a cabeça do povo brasileiro.
No meio de toda essa efervescência de ideias, pensamentos e críticas, as políticas conservadoras ganham espaço. Em momentos complicados e confusos, é normal se atrelar ao passado, à uma nostalgia de que “antes tudo era melhor”. Com esse sentimento ecoando por todo o país, em São Paulo não seria diferente. Em Moema não seria diferente.
Áudios brutos:
https://soundcloud.com/joao-pedro-siqueira-2/sets/entrevistas-temperaturas-paulistanas