Temperaturas Paulistanas/Planejamento/Moema/Turma D

PLANEJAMENTO - DISTRITO DE MOEMA

Prostituta no bairro de Moema, São Paulo

INFORMAÇÕES

Subprefeitura: Vila Mariana

Mulher se prostitui em Moema
Prostituição em Moema

Zona Sul

99,7% - Baixa vulnerabilidade

Número de Domicílios: 26.309

Número de Domicílios sem esgoto: 354 (1,34%)

Prostituta em Moema

Número de favelas: 0

IDH: 0,961 (muito elevado) (1°)

  • INTRODUÇÃO

Moema (antigamente conhecida como Indianópolis) um distrito da Zona Sul de São Paulo, que tem como subprefeitura a Vila Mariana. O crescimento do local se deu devido a grande imigração em 1880. Já em 1970, a região começou a se desenvolver rapidamente por construtoras que investiram no local. Com esse crescimento e desenvolvimento da classe social cada vez mais em ascensão, os moradores da região decidiram fazer um abaixo-assinado para alterar o nome do bairro - que até então era chamado de Indianópolis - pois não era muito bem aceito pela população. O prefeito da cidade no período, Jânio Quadros, atendeu ao pedido dos moradores e o bairro passou a ser chamado de Moema desde então.

Por todo esse passado histórico e pesquisas com breve relatos de moradores feitos sobre o Distrito, o grupo optou por abordar o bairro de Indianópolis, que mesmo sendo integrante de uma zona nobre, tem focos específicos de problemas sociais. Tais como prostituição, e zonas pouco menos abastadas que acabam contrastando com o restante da região.

  • APLICAÇÃO DOS QUESTIONÁRIOS

De forma mais específica, aplicaremos o questionário na Avenida Indianópolis, a principal do bairro, e também percorreremos os seus arredores. Trabalharemos com a pesquisa de campo durante a semana nos períodos da tarde, onde há maior fluxo de pessoas e a questão de pontos de prostituição que incomoda os moradores. Abordaremos os moradores dos arredores a fim de mostrar o contraste das diferenças, como do bairro Planalto Paulista por exemplo, bairro que é extremamente perto da Avenida mas, que não passa por essas questões.

O público que alvo será dos 18 aos 70 anos. Começaremos a pesquisa a partir do Diretório Estadual do PSDB até o fim da Avenida. Também abordaremos a opinião pública no início do bairro do Planalto Paulista.

  • TEMAS QUE SERÃO DEBATIDOS

Abordaremos o tema de políticas públicas, cidadania e a questão de prostituição para os moradores da região. E também trabalharemos o contraste de opinião com outras áreas próximas ao bairro. Como do Planalto Paulista, por exemplo.

  • INTEGRANTES DO GRUPO

João Pedro Nascimento Petrini, Rafael Burgos, Gabriel Moreno, Louise Demetrio, Estevam Augusto, Wagner Lauria e Cris Albano.

  • DIVISÃO DAS RESPONSABILIDADES

- Administração da Página: João Pedro, Cris, Wagner e Rafael

- Aplicação do Questionário: (Todos) Divididos em duplas ou trios, iremos em dias e horários diferentes da semana.

- Elaboração da Planilha com os resultados: Gabriel, Estevam e Louise

- Entrevista e/ou Grupo Focal: Todos

- Elaboração da Reportagem Final: Todos

  • CRONOGRAMA

Cada integrante terá partes das etapas para realizar, dependendo dos horários possíveis para cada um: Estevam Chaparin: sábado, das 16 horas ate as 22 horas e domingo, das 10 horas até as 21 horas

Louise Demetrio: segunda-feira ou quarta-feira , a partir das 17 horas e domingo, o dia todo

Gabriel Moreno: segunda-feira a sexta feira das 7 horas as 22 horas e sábado e domingo das 17 horas as 22 horas

João Pedro: sábado e domingo das 7 horas até as 22 horas

Wagner Lauria: sábado e domingo das 7 horas as 22 horas

Rafael Burgos: segunda-feira, quarta-feira e sexta-feira das 7 horas as 22 horas

Cris Albano: Sábado e domingo das 7 horas as 22 horas

  • FONTES BIBLIOGRÁFICAS

http://www.amam-moema.org/contato.html#

http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/upload/moema_1285687682.pdf

https://pt.wikipedia.org/wiki/Moema_(distrito)

https://pt.wikipedia.org/wiki/Indian%C3%B3polis_(bairro_de_S%C3%A3o_Paulo)

http://www9.prefeitura.sp.gov.br/sempla/md/index.php?texto=introducao&ordem_tema=3&ordem_subtema=1

https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_dos_distritos_de_S%C3%A3o_Paulo_por_%C3%8Dndice_de_Desenvolvimento_Humano

http://www.fflch.usp.br/centrodametropole/upload/arquivos/Mapa_da_Vulnerabilidade_social_da_pop_da_cidade_de_Sao_Paulo_2004.pdf

  • QUESTIONÁRIO

1 - Nome 

_____________

2 - Gênero 

Outro ( )

Masculino ( )

Feminino ( )

3 - Idade 

____________

4 - Nacionalidade 

_____________

5 - Trabalha?

Sim ( )

Não ( )

Caso sim, qual profissão?

_________________

6 - Renda familiar

( ) Até 2 SM (Até R$ 1.576,00)

( ) 3 a 5 SM (R$ 2.364,00 a R$3.940,00)

( ) 6 a 10 SM (R$ 4.728,00 a R$ 7.880,00)

( ) 11 a 20 SM (R$ 8.668,00 a R$ 15.760,00)

( ) Acima de 20 SM (R$ 15.760,01 ou mais)

( ) Não quis informar.

7 - Mora ou trabalha em Moema? 

( ) Moro.

( ) Trabalho.

( ) Moro e trabalho

( ) Nenhuma das anteriores.

8 - Há quanto tempo mora/trabalha no bairro? 

( ) Menos de 1 ano.

( ) Entre 1 ano e 4 anos

( ) Entre 5 anos e 9 anos.

( ) 10 anos ou mais.

9 - Você considera Moema um lugar seguro? 

( ) Não considero.

( ) Sim, considero.

( ) Às vezes.

Por quê? 

_____________________

10 - Em comparação com outros lugares de São Paulo você acha que o bairro de Moema é mais seguro? 

( ) Sim

( ) Não

( ) Depende do aspecto analisado.

Por quê?

____________________________

11- Utiliza serviços de saúde pública ou tem plano de saúde? 

( ) Utilizo os serviços de saúde pública, apenas.

( ) Utilizo os serviços do plano de saúde, apenas.

( ) Utilizo serviço de ambos servidores.

( ) Não utilizo nenhum dos dois.

12 - Você acha que está bem servido(a) de hospitais e postos de saúde de qualidade na região? 

( ) Sim, está servido(a) de vários postos, de boa qualidade.

( ) Sim, está servido(a) de vários postos, porém de má qualidade.

( ) Não está servido(a) de muitos postos, porém os existentes são de boa qualidade.

( ) Não está servido(a) de postos, logo não há como julgar qualidade.

( ) Não frequento , nem utilizo dos serviços da região.

13- O que você acha que São Paulo e seu bairro precisam para melhorar a questão da saúde?

______________________________

14 - Como você avalia o transporte da região? 

( ) Ótimo

( ) Bom

( ) Regular

( ) Ruim

( ) Péssimo

( ) Não sei opinar.

15 - Como você avalia o trânsito da região? 

( ) Ótimo

( ) Bom

( ) Regular

( ) Ruim

( ) Péssimo

( ) Não sei opinar.

16 - Qual é o principal meio de transporte utilizado? 

( ) Carro

( ) Ônibus

( ) Metrô/Trem

( ) Bicicleta

( ) Outros

17 - Moema oferece boas opções de lazer? 

( ) Sim

( ) Não

Caso a resposta seja "sim", quais são elas?

________________________

18 - Como você avalia as escolas da região? 

( ) Ótimo

( ) Bom

( ) Regular

( ) Ruim

( ) Péssimo

( ) Não sei opinar.

19 - Você tem conhecimento de locais onde ocorra prostituição em Moema? 

( ) Sim

( ) Não

Caso conheça, considera um problema?

( ) Sim

( ) Não

Por quê?

_____________________

20 - Já sofreu com enchentes em Moema? 

( ) Sim

( ) Não

21 - Conhece alguém que tenha sofrido com enchentes em Moema? 

( ) Sim

( ) Não

22 - O que você mais espera em um político? 

____________________________

23 - Você aceitaria participar de uma entrevista após esse questionário para aprofundar algum dos temas abordados nessas perguntas? Se sim, por favor, deixe seu e-mail e telefone para contato. 

________________________________________________

  • RESULTADOS

TOTAL DE RESPOSTAS – (30)

GÊNERO – Feminino (15) / Masculino (15)

IDADE – 16 a 20: (2) / 21 a 30: (4) / 31 a 40: (11) / 41 a 50: (3) / 51 a 60: (6) / 61 a 70: (4)

NACIONALIDADE – 30 brasileiros

TRABALHA – Não: (6) / Sim: (24)

PROFISSÕES – Açougueiro (a): 1 / Advogado (a): 1 / Auxiliar de Limpeza: 1 / Caixa de Estabelecimento: 1 / CallCenter: 1 / Chefe de Cozinha: 1 / Designer: 1 / Empresário (a): 1 / Engenheiro (a): 1 / Estudante: 1 / Manobrista: 3 / Não respondeu: 1 / Professor: 1 / Proprietária: 1 / Prostituta: 3 / Publicitária: 3 / Segurança: 1 / Vendedor de lanches: 1 / Vendedor de revistas: 1

RENDA FAMILIAR

Até 2 SM (Até R$ 1.576,00) – (6)

3 a 5 SM (R$ 2.364,00 a R$3.940,00) – (8)

6 a 10 SM (R$ 4.728,00 a R$ 7.880,00) – (6)

11 a 20 SM (R$ 8.668,00 a R$ 15.760,00) – (5)

Acima de 20 SM (R$ 15.760,01 ou mais) – (3)

Não quis informar – (2)

Mora ou trabalha em Moema? 

Moro - 15

Trabalho - 14

Moro e trabalho - 1

Nenhuma das anteriores - 0

Há quanto tempo mora/trabalha no bairro? 

Menos de 1 ano - 5

Entre 1 ano e 4 anos - 6

5 anos e 9 anos - 5

10 anos ou mais - 13

Não respondeu - 1

Você considera Moema um lugar seguro? 

Não considero - 8

Sim, considero - 14

Às vezes - 8

Em comparação com outros lugares de São Paulo você acha que o bairro de Moema é mais seguro? 

Sim - 20

Não - 6

Depende do aspecto analisado - 4

Utiliza serviços de saúde pública ou tem plano de saúde? 

Utilizo os serviços de saúde pública, apenas - 7

Utilizo os serviços do plano de saúde, apenas - 14

Utilizo serviço de ambos servidores - 6

Não utilizo nenhum dos dois - 3

Você acha que está bem servido(a) de hospitais e postos de saúde de qualidade na região? 

Sim, está servido(a) de vários postos, de boa qualidade - 16

Sim, está servido(a) de vários postos, porém de má qualidade - 1

Não está servido(a) de muitos postos, porém os existentes são de boa qualidade - 2

Não está servido(a) de postos, logo não há como julgar qualidade - 5

Não frequento , nem utilizo dos serviços da região - 6

Como você avalia o transporte da região? 

Ótimo - 2

Bom - 14

Regular - 11

Ruim - 0

Péssimo - 3

Não sei opinar - 0

Como você avalia o trânsito da região? 

Ótimo - 1

Bom - 3

Regular - 10

Ruim - 9

Péssimo - 7

Não sei opinar - 0

Qual é o principal meio de transporte utilizado? 

Carro - 12

Ônibus - 10

Metrô/Trem - 5

Bicicleta - 0

Outros - 3

Moema oferece boas opções de lazer? 

Sim – 26 / Não – 4

Como você avalia as escolas da região? 

Ótimo - 6

Bom - 11

Regular - 6

Ruim - 3

Péssimo - 0

Não sei opinar - 4

Você tem conhecimento de locais onde ocorra prostituição em Moema? 

Sim – 18 / Não - 12

Caso conheça, considera um problema?

Sim – 7 / Não - 11

Já sofreu com enchentes em Moema? 

Sim – 4 / Não - 26

Conhece alguém que tenha sofrido com enchentes em Moema? 

Sim – 14/ Não - 16

  • REPORTAGEM DE RADIOJORNALISMO

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Reportagem_de_radiojornalismo_-_Moema_-_2%C2%BA_JoD.ogg#filelinks

  • ENTREVISTA EM PROFUNDIDADE

Entrevista em profundidade - Albert, 22 anos: https://commons.wikimedia.org/wiki/File%3AEntrevista_em_profundidade_-_Moema.ogg

Entrevista em profundidade com Thayla e Jaqueline (prostitutas de Moema): https://commons.wikimedia.org/wiki/File%3AEntrevista_em_profundidade_-_Prostitutas_-_Moema.ogg / https://commons.wikimedia.org/wiki/File%3AEntrevista_em_profundidade_2-_Prostitutas_-_Moema.ogg

  • GRANDE REPORTAGEM

“ELA É FEITA PRA APANHAR,

ELA É BOA DE CUSPIR”

Por Estevam Augusto, Gabriel Moreno, João Petrini, Louise Demetrio, Rafael Burgos, Cris Albano e Wagner Lauria.

Já eram quase quatro horas da tarde enquanto Thayla aguardava ansiosamente a amiga Jaqueline que, naquele dia, estava demorando mais do que o costume para chegar.  A Alameda dos Ubiatans, travessa com a Avenida Indianópolis, era o lugar onde ela normalmente aguardava pela nova colega de trabalho. Desde o começo, as duas criaram uma relação de cumplicidade, e, em pouco tempo passaram a se encontrar todos os dias, como melhores amigas.

A cada minuto que passava, Thayla batia o pé freneticamente no pneu do carro em que estava encostada. Atitude esta, corriqueira em situações nas quais as pessoas faziam-na esperar mais do que o tempo combinado. Quanto ao carro, era grande e imponente, como quase todas as  BMWs que preenchiam as alamedas de Moema. A cor azul escuro do automóvel combinava com o shorts usado pela garota para o tão esperado encontro. Entretanto, a demora da amiga fazia com que ela se sentisse cada vez mais nervosa. Tal sensação tinha motivo; era a primeira vez que sua amiga havia se encontrado com o rapaz.

Extremamente aflita com a ausência dela, Thayla começa a se concentrar em outras coisas, como nas tarefas de casa ainda por fazer. Talvez assim, o tempo passasse mais rápido. Ela sabia que os garotos de Moema tinham fama de serem ricos, mas pelo fato de morar no extremo leste de São Paulo, era a primeira vez que a menina se encontrava com alguém da região. Durante o caminho para o novo bairro, teve de aguentar os comentários e olhares tortos, não só dos homens, como também das mulheres que por ela passavam. A garota ainda se perguntava porque ia tão longe por causa de um homem, mas no fim das contas, não adiantava de nada aquele questionário. A ideia era levantar a cabeça e aceitar que, momentaneamente, aquele era seu trabalho.

“Não deixem eles filmarem vocês, mandem logo eles embora...” foi a frase em alto e bom som da mulher sentada na rua, a nos observar... estávamos atrapalhando o trabalho das meninas delas. Enquanto as mulheres mais velhas e experientes seguiam à risca o que a cafetina dizia, pensando que nossa matéria poderia expô-las de alguma forma, Jaqueline acabara de chegar, e explicava para Thayla que o cliente não quis deixá-la no ponto de encontro, tendo que caminhar boa parte da avenida para encontrar a amiga. As duas tinham marcado um encontro duplo, e a demora tinha atrapalhado seus planos.

Thayla e Jaqueline escolheram o bairro de Moema devido ao fato de muitas colegas de profissão afirmaram ser um dos locais mais movimentados da cidade de São Paulo. A primeira jovem explica que, ao contrário do pensamento de muitos, não é uma questão de opção se prostituir, é questão de necessidade. As duas encontraram na prostituição uma forma de se manterem financeiramente: “ganhamos muito bem para isso, o que uma pessoa ganha em um mês, nós podemos ganhar em dois dias, e não é só uma questão de querer dinheiro, e sim de precisar dele” - referem-se ambas à questão da necessidade, principalmente porque agora elas têm filhos para cuidar.

Havia naqueles olhares, 18 e 19 anos de muita ingenuidade e inexperiência, que mesmo a vida difícil não fora capaz de arrancar. Esse excesso de inocência era demonstrado enquanto elas respondiam nossas perguntas, olhos no olhos, falando, ora tímidas, ora brincando à vontade. Tal característica delas se estendia até o momento do ato sexual, mas como elas mesmas diziam “não tem problema não ser experiente em sexo, o único jeito de aprender é na prática mesmo”.

Entrando em contato com o IBGE, pudemos descobrir que não há estatísticas de  quantas mulheres como Thayla e Jaqueline de fato se prostituem no Brasil. É tão grande, a desumanização da profissão e de quem as exerce que, não há sequer uma pesquisa quantitativa sobre essas mulheres e sua classe social, por exemplo. Outro problema delicado pertencente ao coletivo brasileiro mas, felizmente, quantificável a partir de pesquisas na internet, é o da prostituição infantil no país; tal contraste nos faz gerar um sentimento frente à essas informações e dados, similar à propagação da ideia que as mulheres maiores de 18 anos, são capazes de discernir e optar sobre o que fazer com seus corpos e se prostituir ou não.

Albert, trabalhador da região de Moema há dez anos, pensa, assim como muitas outras pessoas entrevistadas, que a prostituição está para além de classe social ou cor: é questão de opção!

O jovem moreno, demonstrou inicialmente certa cautela ao falar do tema, associando a prática da prostituição à uma alternativa de renda para mulheres que necessitam suprir suas necessidades. E embora soubesse que a crise sempre existiu para famílias humildes como as dele, de Thayla e Jaqueline, apontou o alto desemprego como a justificativa para que as moças escolhessem esse trabalho.

Interrompia-nos apenas para cumprir seu trabalho, manobrava os carros, para em seguida seus os olhos verdes, voltarem a nos encarar passando mais segurança do que anteriormente, assim suas opiniões foram se transformando e tomando mais forma.

“Não é que eu seja contra ou a favor, mas a prática da profissão traz vários problemas como brigas, violência, tráfico de drogas”. A verdade é que o garoto de 22 anos, carregava consigo aqueles preconceitos que todos nós carregamos, e sua voz entoava o discurso de uma vida sofrida, sem muitas oportunidades. Por isso, achava injusto uma mulher ganhar tanto dinheiro em um só dia, só para “mostrar seu corpo”: É um trabalho legítimo, mas não é tão honesto quanto os outros. Em um trabalho convencional nós temos que fazer entrevista, se qualificar. Essas moças não. Tudo bem que ninguém faz porque quer, mas elas só mostram o corpo e ganham dinheiro.

As prostitutas, para ele, seriam antagonistas de um mundo que valoriza o esforço individual, causa determinante para a difamação do bairro. Ele crê, como muitos outros entrevistados, que não há como melhorar o convívio entre as mulheres e os moradores, a não ser que elas saiam do bairro. Afirma que não desrespeitaria nenhuma delas “mas, ficar amigo de uma pessoa que....Não dá, né?!”

Em meio a um sorriso, Thayla confessa que entende o lado das pessoas preconceituosas ao seu trabalho, pois a própria garota tinha certo receio com as profissionais do sexo antes de precisar se tornar uma delas. Jaqueline completa a ideia da amiga,  dizendo saber que nunca haverá uma amizade entre os moradores e elas: “ não existe a questão de amizade! Por conta do preconceito, nunca alguém vai sair da própria casa para vir falar ou fazer amizade com a gente, então tendo o mínimo, que é respeito, já basta! “ - e dessa vez sua frase não termina em riso, mas sim em um rosto jovem, retesado a ponto de exibir na testa, por apertar as sobrancelhas uma única ruga de preocupação.

Elas têm medo!

As prostitutas mais experientes comentam com as garotas novinhas sobre o que acontece quando não se toma cuidado nessa área… Desde doenças sexualmente transmissíveis até homicídios. Esse último é o que elas mais temem, por isso não trabalham à noite; por isso também que, quando qualquer carro estacionava na alameda elas seguravam a respiração já acelerada, ainda não acostumada a aceitar a estranheza de confiar sua vida a um desconhecido, entrar em seu carro e ir para um lugar qualquer. E muito embora elas nunca tenham sofrido agressão alguma, elas tem a certeza de que nunca sabem se vão voltar.

Ítala, jovem jornalista e moradora de Moema desde os 4 anos de idade, disse, com as bochechas rosadas e certa relutância, que se constrange com a presença em grande escala de homens desconhecidos ao seu redor. Além disso, confia que se a prostituição vir a ser um meio legal de profissão, regulamentada por lei, facilitaria a vida das profissionais; concederia mais segurança para realizarem seu ofício; além disso, enxerga como uma forma de fomentar a economia.

De acordo com a matéria sobre os direitos das profissionais do sexo, escrita por Marie Declercq, para a Agência Vice, “A prostituição não é crime, mas muita gente utiliza o espaço de trabalho delas para criminalizar a atividade. Muitas eram vítimas de tentativas de expulsão, ameaças, violência policial…”. Justamente por elas serem vítimas desse tipo de comportamento é que coletivos como o “Mulheres Guerreiras”, por exemplo, se unem para lutar por uma regulamentação que permita que essas mulheres não precisem andar pelas ruas temendo por suas vidas.

Outros respondentes do questionário aplicado, também comungam do mesmo pensamento de Ítala, a respeito de que o aumento da violência não se relaciona com a prostituição no local. As profissionais do sexo defendem-se ao dizer, que são elas as afligidas pela violência, gerada pelos seus trabalhos, os quais não têm correlação com os assaltos e  seus pontos de drogas. Elas são tão vítimas de tais problemas urbanos, quanto os moradores locais. Jaqueline diz que os moradores não podem se esquecer de que vivem em uma região rica, e que justamente por essa característica, acabam atraindo tanto coisas boas, como ruins.

Por fim, Ítala afirma, de maneira incisiva e indubitável, mesmo que ainda não tenha questionado nenhum de seus familiares, que todos eles são passíveis a uma visão conservadora sobre o trabalho. Os moradores do bairro, incomodados com o curso da profissão, por sua óptica, à grosso modo, acreditam que a rua é invadida pelas prostitutas; há visivelmente, um desalinho na noção de limite espacial entre público e privado.

Familiarizadas com o sexo, simplesmente, movidas por porquês. Categorizadas, à grosso modo, como aquelas que atentam; destoantes a um bando de transeuntes convencionais, usando saias curtas demais para uma moça de família. Família? Um almoço de domingo prosaico é escasso para aquelas aspirantes a, sobretudo, expandir. Jogar pedra? Thayla quer ser bióloga marinha, se lançar pelos mares. Jaqueline quer ser arquiteta, contornar belezas. Elas dão pra qualquer um, malditas genis.