Temperaturas Paulistanas/Reportagens

Reportagem Lajeado/JOB editar

Temperaturas Paulistanas/Planejamento/Lajeado/Turma B#Mat.C3.A9ria:

https://docs.google.com/document/d/1Y9jzoZwOKjvQzD6zUY6K0TgTxQt3LblTSfUxQTzg7L4/edit?usp=sharing

Reportagem Brasilândia - JOC editar

https://pt.m.wikiversity.org/wiki/Temperaturas_Paulistanas/Planejamento/Brasilândia/Turma_C#Moderniza.C3.A7.C3.A3o_na_Brasil.C3.A2ndia:_a_vida_das_fam.C3.ADlias_desapropriadas_com_as_obras_da_Linha_6_do_metr.C3.B4

Reportagem Lajeado/JOD editar

Temperaturas Paulistanas/Planejamento/Lajeado/Turma D#Reportagem

Reportagem Marsilac - JoC

Marsilac: os dois lados do distrito.

A primeira saída de campo ao distrito de Marsilac, o último ao sul do município de São Paulo, foi feita em uma manhã de sábado fria e chuvosa, no dia 23 de agosto de 2016. Um tanque de gasolina cheio, alguns sanduíches de presunto e queijo, bolachas e outras besteiras comestíveis quaisquer, foram o nosso suprimento para percorrer os mais de 70 quilômetros, partindo da estação de metrô Vila Madalena, localizada no nobre bairro da Zona Oeste, onde nos encontramos para seguir viagem.

Nosso destino de referência era Parelheiros, distrito periférico da Zona Sul da capital, pois Marsilac é mais distante, e os sinais de internet, GPS e celulares só pegam em alguns pontos específicos que apenas os moradores da região conhecem. A maior parte desses pontos é um tanto curiosa: em cima de vitrôs de banheiros, uma mesa específica de um bar ou no campo de futebol improvisado.

Até a chegada em Parelheiros, demoramos cerca de uma hora e meia. Já estávamos muito distantes do ponto de partida. O estresse pelo cansaço começou a tomar conta dos tripulantes do pequeno March preto. Quando nos demos conta, a vegetação de mata de várzea e ombrófilas densas nos cercavam em todas as direções. Estávamos em uma estrada esburacada, tortuosa e lamacenta, desafiadora para qualquer veículo que não fosse um 4x4.

Depois de alguns quilômetros sem avistar nenhum tipo de moradia, asfalto, ou postos de gasolina, chegamos até um local onde havia algumas casas e comércios. Pensávamos estar no bairro certo, mas não conseguimos avistar a Praça Nazaré Maria, nosso ponto de encontro com o jovem Andrey Clein, primeiro morador com quem fizemos contato, e apenas via redes sociais.

Apesar das construções presentes, não havia ninguém à vista, exceto um homem de meia idade e cabelos brancos, pedalando uma velha bicicleta vermelha, com um banco improvisado de madeira acima da roda traseira. Achamos melhor pedir informações.

- Moço, onde fica a praça Nazaré Maria, aqui em Marsilac?

Com a expressão confusa, ele nos respondeu:

- Aqui não é Marsilac, não.

Naquele momento concluímos que São Paulo é realmente uma cidade muito grande. Descobrimos que ainda estávamos, na verdade, em Cipó-Guaçu, há vinte quilômetros do bairro de Engenheiro Marsilac.

Depois de conhecer um pouco mais da vegetação paulistana, que depois de certo tempo parecia não valer mais a pena tentar identificar, uma vez que o cansaço turva a visão de forma que todos os tons de verde parecem os mesmo, nos deparamos com uma linha de trem, construída um patamar acima da estrada. Então encontramos uma dificuldade preocupante. Não conseguiríamos passar com o carro por sobre os trilhos de ferro. A chuva e as pedras medianas ao redor de toda extensão da linha eram problemas aparentes. Depois de pensarmos e tentar nos acalmar, recuamos o March e conseguimos, com cuidado, superar esse obstáculo.

Felizmente, alguns minutos depois, encontramos uma praça. Preocupados com nossa primeira falha, decidimos perguntar novamente se estávamos no lugar certo. Abordamos uma senhora de guarda-chuva e um moletom cor-de-rosa, indagando se o bairro se chamava “Marsilac”.

- Marsilac?

E tivemos um breve momento de medo e tensão.

- Aquela é a praça Nazaré Maria?

Ela confirmou que era logo ali. Sentimos alívio.

Bem em frente a ela estava a casa de Andrey, administrador da página de Facebook “Bairro Marsilac”. Neste espaço online, o morador do bairro publica postagens sobre eventos e acontecimentos do local onde mora desde que nasceu. Foi graças a ele que obtivemos as primeiras informações sobre o distrito e um guia para nossas visitas. Havíamos combinado de nos encontrar às onze horas. Entretanto, acabamos nos atrasando devido aos infortúnios que encontramos pelo caminho.

Em todas as nossas visitas nos deparamos com um clima fechado, o que nos fez questionar se era típico do local. Dona Maria Lúcia Cirillo, moradora há trinta e dois anos, nos explicou que se trata de região serrana, localizada ao Sul, fatores que contribuem para  temperaturas mais baixas e propensão ao clima fechado e chuvoso.

Curiosamente, descobrimos algumas semanas depois que era mais correto comparar o clima da região com o de Itanhaém, pois o município é mais próximo ao distrito do que o centro de São Paulo.

Naquela primeira visita, levamos nossos questionários. Neles, incluímos questões sobre educação, lazer, saneamento básico e transporte. De acordo com os resultados obtidos, 76% dos entrevistados tem acesso à internet, porém, não é possível classificar a qualidade da conexão, pois as antenas de rádio são instaladas em determinados pontos do distrito que, em dias chuvosos ou de ventania, oscilam de forma a prejudicial. Nossos entrevistados acessam a internet geralmente pelo celular, via conexão wi-fi.

A água encanada não existe nas residências, apesar de já haver promessas do Sistema de Saneamento Básico de São Paulo (SABESP) de reverter essa situação. Segundo Luan Ferreira, morador e professor de educação física da única escola de Engenheiro Marsilac, o fosso foi cavado no ano em que ele nasceu, 1994, e, até o dia de nossa última visita, 17 de setembro de 2016, nada mais foi feito. De acordo com dona Maria Lúcia Cirillo, ex-presidente da extinta associação de moradores do bairro, a dificuldade em efetuar obras dessa natureza na região se deve ao fato de ser uma área de preservação ambiental.

Outros aspectos que envolvem a questão da saúde no distrito também são precários. O hospital mais próximo localiza-se em Parelheiros, mas as pessoas demoraram para chegar até ele em casos de urgência, o que já ocasionou mortes, inclusive por motivos simples como um ataque de asma, segundo conta dona Maria Lúcia. Os moradores do distrito contam apenas com pequenas Unidades Básicas de Saúde (USB), que praticamente não possuem atendimento médico especializado.

Apenas uma linha de ônibus chega até o bairro, mas é de extrema importância para a locomoção dos cidadãos. Segundo apontaram nossas pesquisas, os jovens se utilizam do transporte público principalmente chegar até locais de lazer ou visitar amigos.

Além disso, muito moradores buscam empregos em bairros mais próximos do centro da cidade e, caso optem por transporte público, são submetidos a viagens que duram de duas a três horas. Os ônibus são pequenos e facilmente lotam. O trajeto é de tão sinuoso que os passageiros têm que segurar com força para não desequilibrar.

Visitamos a única escola do bairro, Escola Estadual Regina Miranda Brant de Carvalho, localizada poucas ruas acima de ondo estacionamos o carro na primeira chegada. A maior parte dos jovens que cursam o ensino médio e moram em Engenheiro Marsilac, estudam nessa escola.

A educação é precária na região. Sem faculdades ou cursos especializados que poderiam qualificar novos profissionais. Luan, sentado em uma mesa de bar, alojado na primeira casa construída no bairro, um monumento histórico da região, contou sobre sua formação na Universidade de Santo Amaro.

Com uma certa chateação na voz e olhos baixos, falou a respeito dos sonhos que tinha para o local onde mora. Já formado em educação física, gostaria de poder ajudar os moradores, “trazer novidades”, como ele mesmo disse, e tentar fazer o melhor pelas crianças da escola onde trabalha. “Mas muita gente aqui não quer isso, ainda tem rixas entre algumas famílias, gente que não gosta de mim ou do Andrey. Já tive alunos que me disseram que os pais mandam me xingar. Uma vez uma garotinha de disse ‘professor, minha mãe me disse pra falar mal de você, mas eu gosto muito de você’. Achei engraçado”, disse rindo.

Em compensação, as opções de lazer parecem agradar tanto os jovens moradores quanto os mais velhos. Apesar de parecem escassas, se comparadas às do centro paulistano, a mesa de pebolim e de tênis de mesa, somado a um velho som que toca sons da rádio rock (desde Black Sabbat a The Clash) tornam a escola, mesmo no final de semana, um dos programas mais atrativos.

Tem também a ONG, que pudemos ver apenas fechada. O campo de gramado, que já presenciou diversos campeonatos. “Ta vendo aquele troféu lá em cima”, aponta Luan, indicando um enorme troféu de ouro próximo à porta de entrada do bar. “Primeiro lugar do time daqui”, disse entusiasmado, enquanto me mostrava diversas fotos dispostas pela parede do local, que traçam a história de diversas rodadas de futebol jogadas pelo time. E não podemos esquecer da famosa cachoeira, que atrai turistas no verão.

Percebemos, ao final de nossas visitas, que encontramos muito mais alegrias e pontos positivos a respeito do local do que imaginávamos, e sempre, mesmo com a dificuldade da distância, voltávamos para casa com sorrisos no rosto. Fosse pela hospitalidade, ou pela própria percepção otimista dos moradores, que não desistem de tentar fazer do próprio distrito um lugar melhor.

Reportagem Marsilac Grupo JOD editar

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> Reportagem

Indiscreta Ambiguidade editar

Fernando é morador em situação de rua no distrito da Consolação

Ele chega discreto. Observa por alguns instantes até se aproximar, com a voz mansa e o olhar baixo. “Será que as moças podem me ajudar? Uma moedinha só” e estende a mão calejada em nossa direção. O pedido não assusta, torna-se familiar aos ouvidos quando se anda por tempo suficiente por ali. Foi então, na esquina da Rua da Consolação com a Avenida Paulista, que encontramos Fernando.

Respondemos ao seu pedido com outro, talvez menos convidativo a ele, uma conversa. Ele aceita, após perguntar se o gravador em nossas mãos não está trabalhando pela polícia. Responde nossas perguntas entre grossos goles do que sobra de um líquido em uma garrafa de refrigerante, apoiado em um poste na mesma esquina que o encontramos. Perguntamos sobre como é, para ele, ser um morador em situação rua e as palavras saem com um quê de resignação – mas o sorriso torto permanece no rosto. Conta que é barulhento, evidente no modo em como a poluição sonora incessante da Rua da Consolação o incomoda, pausando a fala algumas vezes para cobrir os ouvidos e olhar atravessado na direção dos carros. Diz que é inseguro, mas vai além. Na fala arrastada Fernando traz uma realidade distorcida primariamente em seu visual – o julgamento precoce, segundo ele, começa com os olhares indelicados:

– Muitas pessoas podem me julgar pela aparência, em cima da minha veste.

– Como você veio parar na Consolação?

– Eu comecei a morar na rua quando minha mãe faleceu. Era só eu e minha irmã e saímos de casa. Fui para a Febem Tatuapé, Franco da Rocha, Raposo Tavares, várias unidades. Depois, fiquei aqui na Consolação.

Por trás do concreto e das árvores, dos cliques de sapatos colidindo com as calçadas, o distrito não abriga apenas o luxo – a indiscreta ambiguidade mora nas esquinas requintadas; ele abriga também o lixo. Esse, no entanto, não existe apenas em seu sentido literal e andar pelas ruas agitadas do distrito de elite revela, se o olhar e a audição permanecerem aguçados, um aspecto que para Fernando é muito claro: o morador em situação de rua é invisível. Tão invisível que a pouca ou nenhuma vulnerabilidade que se apresenta no distrito não conta com as palavras em tom baixo de Fernando e tantos outros que, de olhos fixados no chão, pedem uma moeda ou outra.

A onomatopeia das buzinas, o farfalhar das folhas nas árvores e o constante fluxo de pessoas são alguns dos elementos que compõem a complexidade do cenário do distrito da Consolação, para além do próprio Fernando. O local possui uma elevada qualidade de vida e quase nenhuma vulnerabilidade social. Os mapas e gráficos produzidos parecem, mais uma vez, ignorar a vida de quem não dorme sob um teto e reproduzem os números que não contabilizam as mais de cem mortes de moradores em situação de rua ocorridas desde março (só na capital).

O distrito é bonito em suas construções, esbanja elegância, como no Edifício Bretagne, na avenida Higienópolis. Sua beleza também se espelha e reflete no brilho dos lustres das muitas lojas de luminárias encontradas descendo a Rua da Consolação, fato que nos distrai do nosso propósito jornalístico para admirar as luzes que não perdem sua intensidade até mesmo sob à luz do dia. Moradores e trabalhadores da região, entretanto, apontam diversos poréns dentre tantos elogios a serem feitos. O barulho, por exemplo, que Fernando percebe quando a sirene de um caminhão do corpo de bombeiros toca estridente e interrompe a sua fala ao atravessar a Avenida. Ele revira os olhos e nós observamos. A má iluminação pública que, por ironia, é tão frequente na rua das luzes. O lixo, que vez ou outra tropeçamos e encontramos no nosso caminho. Entretanto, acima de todos esses problemas do distrito da Consolação, existe algo que nos chamou mais a atenção. Há alguns de seus habitantes que não esbanjam graça e requinte diretamente proporcional aos outros aspectos do local: os moradores em situação de rua.

Fernando, morador em situação de rua, nos conta um pouco da sua história.

Ser o sexto maior distrito em número de moradores em situação de rua, dentre noventa e seis, parece não agradar tanto por ali. Foi conversando com Paulo Benedetti, estudante de direito e morador da Vila Buarque, que conseguimos perceber essa realidade. É entre os gestos exagerados com as mãos, alguns tiques nervosos, risadas e a voz casual que ele, de vez em quando, solta uma ou outra reclamação. “Na parte da noite, aí eu não posso dizer muito porque é como em todo o lugar mal iluminado, fica perigoso.”, ele começa. Fala também da região próxima a Biblioteca Monteiro Lobato. “É um pouco escuro, têm bastantes moradores de rua e quando você passa à noite dá medo, é um pouco escuro, mal frequentado, tem moradores de rua”. Logo se retrata: “Não que me incomode a presença deles, porque, realmente, eles não têm onde ficar” e dá de ombros, com um ar de conformação e retraimento.

Carlos Eduardo Safir, entretanto, tem uma visão um tanto diferente. O rosto continua com expressão calma, mas é com indignação que ele coloca: “Eles relacionam os moradores de rua com a falta de segurança? Acho que é preconceito, porque a maioria das pessoas vem pela necessidade e não para roubar celular, por exemplo”. Quando perguntado sobre o tratamento das pessoas com os moradores em situação de rua, ele adiciona:

– Já ouvi sobre maus tratos. Quando vêm moradores de rua pedir comida ou dinheiro, eles tratam com ignorância, mudam de calçada.

– O que você vê que mais te chama atenção por aqui?

– O que eu mais presencio é a ignorância das pessoas. Eles precisam de assistência e são tratados com preconceito, raiva, nojo e repúdio. Acho que a abordagem das pessoas é coisa super normal e precisamos tentar ao máximo ajudar.

Ainda assim, um fator que Cadu coloca como negativo é a questão da poluição visual, que poderia ser modificada. Sobre o projeto que o atual prefeito implementou em Janeiro para recolher objetos dos moradores em situação de rua, ele comenta: “Acho super eficaz. O que o Haddad quer com isso é evitar bagunça, sujeira e creio que funciona, que a cidade precisa de limpeza e o prefeito está fazendo isso para o bem. Se tiver um monte de lixo e de papelão em um canto da rua e não tem um morador de rua que está cuidando e, perto, uma pessoa que faz limpeza, acho super certo. Muito bom para a cidade, para diminuir poluição visual. Agora, se o mendigo está cuidando das coisas dele com seu carrinho, isso penso que eles não vão interferir”. E propõe uma solução: “Acredito que eles precisam criar algum projeto, continuar a limpeza na cidade. Deveriam começar pela região central porque é uma calamidade e um lugar pior para passar à noite. Depois vir para a Consolação, para a Avenida Paulista. Um projeto com ONGs, tirar eles da rua, levar para um lugar, procurar os familiares, dar assistência”.

Ainda assim, o distrito possui certa fama de ser agradável. É especializado na arte do lazer. São diversas as opções disponíveis na região para se passar tempo em qualquer horário do dia. Pontos como a Rua Augusta e a Caixa Belas Artes na Consolação, o Shopping Higienópolis e a Praça Vilaboim em Higienópolis, a Rua Canuto do Val e o Teatro Paiol na Vila Buarque, o Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho e o Museu do Futebol no Pacaembu são referências, segundo os moradores. São esses lugares responsáveis por oferecer entretenimento, enriquecendo ainda mais o distrito com uma variedade cultural.

Moradores em situação de rua perto do Feed Truck, iniciativa do projeto Satisfeito que distribuiu alimento no dia 20 de agosto, na Praça dos Arcos.

Paulo também procura retratar a sua vivência e opinião com detalhamento e imersão. Conta sobre a sua rotina. Acorda cedo, estuda, trabalha e volta à noite. Fala sobre o bairro. Diz que, de uma maneira geral, tudo está muito bom, a vizinhança, composta principalmente por idosos e famílias, é muito gentil e amigável, acolhendo-o muito bem nos últimos sete meses, tempo em que ele tem morado por lá. O estudante fala sobre a segurança de seu bairro, um bom policiamento na região e comenta de alguns pontos de lazer interessantes. “Para mim, pelo menos, está ótimo”. E para Fernando?

A experiência da localidade na visão de Cadu, estudante de jornalismo, não se difere muito da vivência de Paulo. Quando respondeu a nossa pesquisa em forma de questionário, foi um dos únicos participantes que ressaltou poucos ou nenhum aspectos negativos do distrito e sua visão foi de conformismo durante a nossa entrevista de quase uma hora no Parque Buenos Aires. Ele coloca a região como tranquila, segura e boa para realizar esportes, o que é visível em seu modo de vestir, com roupas confortáveis e frescas, apropriadas para o exercício. Assim como com Paulo, a vizinhança foi muito gentil com o novo morador, cumprimentara-no e ofereceram-lhe dicas e sugestões de lazer, como restaurantes, visto que Cadu é vegetariano. Apesar do custo elevado de vida, ele reafirma que é um distrito agradável para viver.

Carlos Eduardo é morador do distrito e nos concedeu uma entrevista.

Acolhimento, conforto, felicidade. Ouvir as opiniões apenas dos moradores de casas e de prédios, no entanto, não reflete diretamente na realidade do distrito. Para tanto, buscamos entender o outro lado da história e ouvir a versão de um morador da região que não dorme entre paredes e telhados, mas sim, entre o concreto das calçadas e as paredes de vento. Foi o caso de Fernando, cujo sobrenome não quis revelar. Ele chegou sem muito alarde, oferecendo “boa tarde” com um sorriso amarelado, grãos de arroz e salsinha presos entre os dentes à mostra quando fala. O andar é desajeitado, calça de um jeans sujo e desgastado, uma manta azul envolta sobre seus ombros por cima de uma blusa listrada, mesmo que no dia faça sol. Nas mãos, uma garrafa de refrigerante e uma sacola branca com um nó. Dentro, um recipiente que aparenta guardar uma refeição.

Apesar dos contras e da sequência de infortúnios que ocorreram em sua vida desde que presenciou o infarto da mãe, Fernando acredita em justiça. Pensa não nas leis. Por vezes, contraditórias. Uma justiça na qual dormir ao relento caracteriza sinônimo de esperteza sobre buscar o distorcido aconchego nas unidades prisionais. A justiça que pinta o imaginário de Fernando com uma chama de esperança está na lei divina. É com convicção que ele coloca: “No último dia do juízo final, Deus sabe o que faz” e acrescenta: “Quem sou eu pra falar?”.

Fernando encerra a pequena entrevista improvisada após compartilhar um pouco mais sobre sua trajetória de vida. Parece cansado de nos responder, os poucos quinze minutos de fama que lhe oferecemos já lhe parecem ter sido suficientes, mas se realmente foram ou não, fica o questionamento. Uma entrevista, para ele, inesperada, com câmera e gravador, não é o que vai fazer sumir o sentimento de invisibilidade para com ele e para com outros moradores em situação de rua. Não será também o punhado de moedas que agora estão com Fernando que vão mudar a sua realidade.

Ele se despede com um sorriso, enaltecendo a Deus ao mesmo tempo que comenta sobre nossa gentileza e beleza, agradecendo pela oportunidade de falar. Fernando vai, mistura-se entre os passos que movimentam a Rua da Consolação – não deixa de ser Fernando, mas passa a ser o morador em situação de rua, um entre os quase duzentos que compõem o número que torna a Consolação o sexto maior distrito em número desses moradores. Um entre os cento e noventa e seis que incomoda e que polui o visual. Entre a onomatopéia das buzinas, o farfalhar das folhas nas árvores e o constante fluxo de pessoas, está o distrito da Consolação, aquele que balanceia seu prestigiado status com seus problemas, aquele que abriga tanto os aventureiros, quanto os passantes do dia-a-dia sob a sombra dos prédios e aquele que se deixou ser um tanto desvendado por nós, mas que ainda guarda muitos segredos em seus becos e esquinas.

Sons da Consolação editar

Reportagem em áudio apresentada às professoras de Radiojornalismo do curso de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero.


Um distrito, muitas histórias editar

A consolação

Reportagem Moema JoA editar

Acompanhe nossa matéria no link: Temperaturas Paulistanas/Planejamento/Moema/Turma A

Reportagem Metrô em Moema editar

Link para a Reportagem do 2º JOC sobre o Metrô em Moema: Temperaturas Paulistanas/Planejamento/Moema/Turma C

Lá você encontra toda a preparação para a elaboração da reportagem e nosso projeto finalizado também. Bom proveito à todos!

Da periferia a bairro de classe média - Descubra o que a verticalização trouxe ao antigo bairro do Tatuapé editar

Reportagem sobre a verticalização do bairro Tatuapé do 2 JO C:

Temperaturas Paulistanas/Planejamento/Tatuapé/Turma C

Reportagem Lajeado/Turma C editar

Link reportagem: "Lajeado: um lugar esquecido"

Grupo Santana/Turma C editar

Reportagem: Os dois mundos do Hospital Mandaqui

Reportagem Brasilândia/ Turma D editar

Reportagem completa no link a seguir: Temperaturas Paulistanas/Planejamento/Brasilândia/Turma D

Reportagem Pinheiros/ Turma A editar

Reportagem completa no link: http://brandonvicente.wixsite.com/tppinheiros

Reportagem Anhanguera / Turma A editar

Reportagem completa no link: Temperaturas Paulistanas/Planejamento/Anhanguera/Turma A#O c.C3.A9u de Anhanguera

Reportagem Lajeado/ Turma A editar

Link para a reportagem: Temperaturas Paulistanas/Planejamento/Lajeado/Turma A

Reportagem Tatuapé JOD editar

Link para a reportagem: Temperaturas Paulistanas/Planejamento/Tatuapé/Turma D

Reportagem Tatuapé/Turma A editar

Link para a reportagem: Temperaturas Paulistanas/Planejamento/Tatuapé/Turma A

Reportagem Pinheiros/Turma D - Do alto de Pinheiros editar

Link para a reportagem: Temperaturas Paulistanas/Planejamento/Pinheiros/Turma D#Do alto de Pinheiros

Reportagem Pinheiros/Turma B editar

Link para a reportagem: Temperaturas Paulistanas/Planejamento/Pinheiros/Reportagem_B

Reportagem Tatuapé/Turma B editar

Link para a reportagem: Temperaturas Paulistanas/Planejamento/Tatuapé/Turma B

Reportagem Moema/Turma B editar

Link para a reportagem: Temperaturas Paulistanas/Planejamento/Moema/Turma B

Reportagem Santana/Turma B editar

Link para a reportagem: Temperaturas Paulistanas/Planejamento/Santana/Turma B

Reportagem Marsilac/Turma B editar

Link para a reportagem: Temperaturas Paulistanas/Planejamento/Marsilac/Turma B#Um retrato n.C3.A3o t.C3.A3o distante de Marsilac

Reportagem Santana / Turma A editar

Link da Reportagem:

 Temperaturas Paulistanas/Planejamento/Santana/Turma A editar

Reportagem Anhanguera - 2 JoB editar

Construindo a dignidade humana (Temperaturas Paulistanas/Planejamento/Anhanguera/Turma B#Construindo a dignidade humana) editar

O fenômeno dos loteamentos no distrito de Anhanguera que oferece melhores condições de vida à população

Época de chuvas em país tropical. Cenário perfeito que culminaria num desbarrancar de terras. O único problema é que a terra levou consigo as casas de seis famílias, “aquelas tragédias que você vê todo dia na televisão”, disse Cássia enquanto arrumava o guardanapo rosa na mesa plástica branca para festas de crianças. A ex-diretora da Associação dos Trabalhadores Sem Terra de São Paulo (ATST), uma mulher alta com uma simpatia que irradia de seus olhos escuros, estava arrumando a festa de aniversário de oito anos da sobrinha quando nos recebeu para uma conversa sobre ela e seu bairro.

Cássia conta como a Associação, junto com a pastoral de moradia da Igreja Católica compraram um terreno e construíram um novo lar para essas seis famílias, “se deu certo pra seis, dá certo pra mais” pensaram na época. E realmente deu certo para mais. Hoje conta-se um pouco mais de 20 mil famílias com o sonho da casa própria realizado: sem aluguéis, favores, ou trocas, e sim uma residência para chamar de sua. E o presidente da Associação completa: “Nós estamos na vigésima sexta área já. São 20 áreas já compradas, 18 com a infraestrutura e construindo, enquanto as outras estão abrindo o loteamento, tem a parte dos apartamentos também, então são 26 áreas compradas já. E tem até faculdade que o pessoal participa também.” Com mais de 40 anos de bairro, Roberto (conhecido como Beto),  menciona com orgulho os números. Cássia também fala sobre os apartamentos. Depois de quase acabarem as terras para se comprar, a saída foi crescer para cima, “nós não temos mais tanta terra assim. Os grandes espaços de terra que tínhamos na região, já compramos tudo. Ou a gente corre para outras áreas, ou a gente está verticalizando. Nós estamos construindo 808... 804 apartamentos.” A Associação comprou a terra, transferiu-a para a Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano (CDHU), que assumiu as obras, mas a planta é da Associação. Um desenho bem diferente das “caixinhas de fósforos” do CDHU, segundo ela. Apartamentos com varanda, entrada social e tudo.

Ele lembra que no começo era só mato. O passado é contado pela distância que um vizinho tinha do outro, “Estou aqui desde quando só tinha mato. Tinha uma casa, ela era a 30 km daqui, dava nem para ouvir nada quase. Só ia para Anhanguera, pegar ônibus lá. Então, estou aqui desde muito tempo já. ” Antes dos loteamentos da Associação, a cintura da estrada Anhanguera tinha apenas algumas chácaras, uma à quilômetros de distância da outra. Terrenos privados, muitas vezes desocupados esperando para que não só o tempo agisse sobre suas terras.

O que os advogados da Associação fizeram e até hoje fazem é identificar tais terrenos ociosos, que estejam nos padrões e tenham a permissão para serem loteados, verificar se a documentação está em dia, se podem receber toda a estrutura de moradias populares e checar se têm alguma pendência na prefeitura. Se estiver tudo certo, o terreno é mostrado aos novos moradores, uma vez aprovado por eles, a Associação toma frente às negociações e intermedeia as transações com o dono da área. Depois da mediação na compra, eles auxiliam as construções das moradias oferecendo um arquiteto e um engenheiro para planejar a casa e um mestre de obras para guiar a construção. O dinheiro é todo dos novos moradores, a Associação só tem o papel de moderar o processo de aquisição da área e levantamento das casas.

Apesar da ATST levar o nome de Trabalhadores Sem Terra de São Paulo, o movimento deles não tem em nada a ver com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Beto deixa claro, “O MST visa invadir terras, se apropriar de áreas para plantação, para o cultivo e tal. Mas a Associação não. A Associação dos Trabalhadores Sem Terra de SP visa comprar uma área toda, que o zoneamento permite, que permita a construção de casas”.

Porém tal trabalho de auxiliar todo o processo de realização de um sonho tem seus custos. Cássia já teve que responder na frente do Sr. de toga por formação de quadrilha, enriquecimento ilícito, crime ambiental e loteamento clandestino. Não bastassem os processos, o juiz ainda queria prender dois de uma vez, Cássia e seu bebê na barriga. “A gente incomoda muita gente. Ambientalistas da região, os grandes industriais, os grandes empresários que começaram a perder áreas para nós. ‘Quem é esse povo que se mete a comprar terra e paga?’” Mas logo seu tom de voz enche de orgulho e os olhos até brilham ao pensar que “esse povo que tira as pessoas da favela, do cortiço, do aluguel. Não é um trabalho imoral, imoral é deixar as pessoas pagando aluguel caro, deixar as pessoas nos cortiços, nas favelas, morando de favor, sendo humilhadas.” No final, parece que valeu a pena enfrentar o juíz por um trabalho sério como esse.

Essa Associação que oferece bases para famílias se edificarem, começou com Marcos Zebini, um advogado filho do direito São Franciscano, idealizador, romântico, “um cara que queria mudar o mundo. E acabou mudando, porque não dá pra mudar o mundo, mas dá para cada um fazer um pouquinho.” E Cássia continua, “quem éramos nós há 25 anos? Não éramos ninguém, uns loucos que queriam ajudar os outros a ter sua casa!” Beto conta que entrou  para o movimento com o mesmo intuito que todos: casa própria, pois na época morava de aluguel, “Eu como morador do bairro há muitos anos, acabei participando, porque eu conhecia já e também queria meu terreno, minha casa. Quando aconteceu o primeiro loteamento aqui, eu participei das reuniões, para conhecer como é que era... Apesar da gente morar há muito tempo já, a gente participava como se fosse a primeira vez, pra gente conhecer como que era, como que fazia pra liberar, como comprava a área, tudo certinho. Não entrei já com um terreno e já construí, não. Tanto que quando eu construí minha casa, pagava aluguel na época.”

E como os moradores entram nesse programa? A exigência máxima é que não tenham casa própria, “mas que não tem como a gente conferir. E se chegar aos nosso ouvidos, como chegou várias vezes, ‘ah, fulaninho ali, ele tem casa própria, tem casa de aluguel, tá querendo comprar terreno na Associação pra construir!’ Aí a gente chama a pessoa, pega a comissão, tem uma diretoria, a gente já coloca o B.O. na assembléia, e ela que decide se a pessoa vai ficar, ou não, e obviamente essa pessoa é convidada a se retirar da nossa Associação”, conta Cássia. Além de não poder ter casa própria, o que seria desrespeitoso, pois enquanto uns sofrem para juntar dinheiro para ter seu casa lar e se safar dos aluguéis abusivos, outros querem construir casas, para justamente aplicar esses aluguéis abusivos. A outra exigência que a Associação pede  que os moradores frequentem as reuniões, isso serve também para o programa de bolsas das faculdades  parceiras, “É o mesmo sistema da compra de área, o pessoal vem na reunião e tem um desconto de 30%, até 60% na bolsa de estudos. A única exigência que a Associação faz é que a pessoa vá na reunião, que participe pra não perder o desconto.” diz Beto.

Enquanto ele se integra na realidade do bairro desde sempre, Cássia veio de outras bandas para se inserir na dinâmica da comunidade. Morava no Alto da Lapa com o marido quando o casamento chegou ao fim, “eu era casada, tinha tudo, uma ótima vida. De repente o casamento acabou e eu fiquei sem eira nem beira. Aí aquelas coisas que você fica separando, aquelas migalhas, eu falei: ‘não quero nada’. Mas eu tinha que comprar um terreno e refazer a minha vida e eu conheci o movimento.” Já com outro tom do que ao referido ao fim de seu casamento, Cássia brilha os olhos e fala de sua nova paixão, “O movimento me rendeu. Eu me apaixonei. Fiquei encantada pela causa, porque a causa é muito bonita.Você ajudar uma pessoa a ter sua casa, isso é muito nobre. E hoje eu tenho dois filhos, não pago aluguel, porque se você paga o aluguel, ele te anula, te aniquila.”

E realmente, a causa de possibilitar que as pessoas tenham suas casas é nobre, pois na casa se encontra a estrutura de uma família, de uma vida, “depois que você tem sua casa, você quer outras coisas. Então a gente quer que essas pessoas vivam com dignidade. A gente quer que essas pessoas tenham condições de fazer uma faculdade. Não é uma USP, não é uma Cásper que é referência, mas é aquilo que muitos têm o sonho de ter, ter o filho estudando, sabe? Nós temos parcerias com escolas de inglês, com convênio médico, enfim… Não basta ter só sua casa, a casa é ponto de partida para você conseguir outras coisas. É a base, quem não tem casa… pô, não tem coisa melhor do que você chegar, abrir a porta da sua casa e falar ‘isso aqui é meu’”.

O dia em que Cássia se afastou do movimento foi o dia que seu filho nasceu, uma nova paixão. Mas não só pelo menino que ela se afastou, “minha mãe ficou doente. Minha mãe teve câncer, tive que cuidar dela. Mas assim como me encantei com o movimento, me encantei com a maternidade. E meu filho é uma graça…”, nessa hora, sua voz se estende e tranquiliza comprovando o que foi dito, “... depois de alguns anos peguei meu sobrinho para criar, fiquei com o Lucas e o Daniel.” De repente um ‘mas’ corta a divagação sobre os meninos, como se uma tesoura cortasse as lembranças deles e colocasse outra na frente para ser recordada… “e eu to aí… mas você sabe que quando eu to assim: perto do povo, do movimento sem terras (ATST), dos diretores… então é aquela magia, aquela coisa (sua fala sobe degraus de uma escada nostálgica e ganham intensidade)! Teve uma festa junina, há poucos dias, que deveria ter umas 10 mil pessoas! Eu nem consegui andar direito, todo mundo ‘oi, Cássia! Oi, Cássia’, e beija um, abraça outro e vai revivendo tudo aquilo, sabe?” os olhos falam mais alto do que as palavras da ex-diretora da Associação, como se pudessem ver numa tela tudo daquele tempo. Cássia só mudaria uma coisa, “eu uniria de novo as pessoas. Porque começou tudo lá mais de 20 anos atrás na Igreja. Hoje tem pessoas que construíram suas belas casas, fecharam suas portas e em muitos momentos nem lembram que a Associação existe. Então se a coisa é cada um fazer um pouquinho por um mundo melhor, existem pessoas que poderiam fazer um pouco melhor. Então se eu pudesse voltar no tempo e ter todo aquele povo reunido com a gente. Tem pessoas que vestiram a camisa e é só falar que vai ter reunião que isso aqui lota, mas são sempre os mesmos. Tem gente que nasceu aqui e nem sabe da nossa história, que é uma história bonita. Essa é a única coisa que eu faria. Fazer um forró aqui, não se reunir só em assembléia. Queria que cada morador fosse um agente duplicador desse trabalho, só que não é assim… Nem todo mundo tem perna e boa vontade”.

Já tínhamos acabado nossas perguntas quando ela disse: “mais alguma coisa? Porque eu tenho que fazer docinhos!” Não precisávamos de mais nada. Então deixamos que Cássia, uma mulher que lutou e pretende voltar a lutar por uma causa nobre, que diz respeito à estruturas e edificar vida, a conquista da casa própria, voltasse para os preparativos, pois aquele prometia ser um sábado agitado em Anhanguera.

Reportagem Brasilândia JOB editar

Reportagem Bom Retiro JOD editar

O que diz o silêncio do Bom Retiro?

As luzes - e, principalmente, a falta delas - em um bairro tradicional do imaginário de São Paulo

O passageiro que desembarcar na Estação da Luz poderá ter a impressão de que cruzou o espaço-tempo em direção ao passado. Diferente da maioria das estações que compõem a malha ferroviária de São Paulo, toda a estrutura e arquitetura interna da Luz é uma reminiscência concreta do final do século XIX. Um ambiente que nos transporta, de maneira sensorial, a uma época em que a capital paulista recolhia as bonanças trazidas pela exportação do café e o consequente início da industrialização. Todo o perímetro do edifício é uma ilustração de como a cidade vinha tomando ares europeus e abrigando uma elite econômica-cultural cada vez mais latente e empolgada. O próprio nome do bairro que abriga a estação – Bom Retiro – traz, em si, a ideia do que o lugar representava: um retiro repleto de chácaras e sítios onde as famílias mais abastadas faziam sua morada. Um cenário onde a paisagem bucólica – hoje tão rara – começava a cruzar com as modernidades do século.

Ao passar por um dos portões de saída, talvez o passageiro comece a perceber a transição do tempo, pois o que se encontra ao redor da estação é uma paisagem na qual os elementos do passado são impactados pela realidade social atual. E, com “elementos do passado”, nos referimos a algumas pequenas características do bairro que podem passar despercebidas pelos mais apressados.

O Parque da Luz, localizado na avenida Tiradentes, logo à frente do complexo ferroviário, parece concentrar várias particularidades que são demonstrações perfeitas desse contraste entre a realidade e o romantismo. A sua entrada, onde as barras de ferro delimitam o espaço do parque, percebe-se a presença de personagens que acabam sendo a personificação de toda a aura romântica do lugar: artistas, músicos, prostitutas e imigrantes. São personagens que sempre estiveram por lá, mas foram vividos por intérpretes diferentes ao passar dos anos. Cada intérprete com sua história pessoal, em sua própria realidade. São essas perspectivas pessoais que, ao serem colocadas em conjunto num mesmo cenário, entrelaçam-se e interagem em uma relação constantemente afetada por questões de ordem política, social e econômica.

No velho esqueleto de ruas do Bom Retiro, a complexa sinestesia personifica-se em um idoso romântico, recentemente deixado de lado num valoroso asilo, mas qualquer.  Dentro de si mora o encanto e a memória, mas também o descaso, à deriva, da região. De cabelos brancos, rosto sujo, enrugado, e pupilas desgastadas, o velho é retrato de um recanto de belos retalhos, como o manto multicultural de imigrantes que ali se estabeleceram após a inauguração das estradas de ferro, ou idêntico aos músicos de terceira idade que, aos sábados e domingos, afinam a viola, a voz e a memória na avenida principal de um parque cheio de Luz. Seu aroma antigo é mistura da gastronomia globalmente diversa com o suor das ruas movimentada (veja só!). Das vendas ruidosas à declaração da diversidade, a composição perfeita para uma região que assim adora se auto intitular - pois, de fato, costuma ser. Configurou-se, titubeante, como ponto convergente e pluralístico; comércio, transporte e dinâmica de centro. A energia vital para a saudabilidade de seu corpo é o movimento caótico de ambulantes e lojistas, imigrantes moradores e brasileiros trabalhadores ou trabalhadores brasileiros, que no decorrer de suas raízes são, como a pátria-mãe, rastros da imigração.

Michel Gomes carrega, em seu marco de 27 anos, o policial da classe média brasileira e recentemente teve o prazer de conhecer o Retiro. Junto a sua esposa, desfruta já há um ano os sabores de cantinas gregas e italianas, as descobrindo - e se descobrindo - aos poucos. É um assíduo cliente da “Ouro Branco”, localizada na famosa Rua dos Italianos. De careca reluzente e na companhia de “Petit”, a cadelinha que rosna por ciúmes, Michel é morador há pouco tempo, mas já entendeu um pouco da dinâmica sinestésica tão característica do local. À noite, o paladar descobre um pouco das delicias internacionais. Pelo rondar da madrugada, a audição, arguta, percebe o som de máquinas a trabalhar. Meia noite, uma hora da manhã.

“Um grupo de oito pessoas vindas da Bolívia, incluindo um adolescente de 17 anos, foi resgatado de condições análogas à escravidão pela fiscalização dedicada ao combate desse tipo de crime em áreas urbanas. A libertação ocorreu no último dia 19 de junho. Além dos indícios de tráfico de pessoas, as vítimas eram submetidas a jornadas exaustivas, à servidão por dívida, ao cerceamento de liberdade de ir e vir e a condições de trabalho degradantes. O grupo costurava para a marca coreana Talita Kume, cuja sede fica no bairro do Bom Retiro, na zona central da capital.” Fonte: http://justificando.com/2015/10/23/20-marcas-da-industria-textil-que-foram-flagradas-fazendo-uso-de-trabalho-escravo/

Quando questionado se alguma vez ouviu boatos sobre labutas análogas à escravidão, a percepção declara algo que a apuração já o fez: o Bom Retiro é uma faca de dois gumes. O policial de certo desconhece Noeli, mas já ouviu falar de sua personagem. A peruana, mãe de dois filhos, chegou a trabalhar em uma confecção coreana, onde exercia seu ofício como costureira de 10 à 12 horas por dia. Ganhava menos de um salário mínimo. Só entendeu a gravidade da situação quando dali saiu e foi contratada para vender havaianas, alpargatas e botas na loja “Chinellaria”, localizada no número 348 da rua Ribeiro de Lima.

Sem dúvidas, um idoso doente. Sua energia vital emerge, mas as articulações já não são mais as mesmas. Suas ruas falavam tão alto que até a própria voz era inaudível. Conversavam, eram pistas para um formigueiro de toda gente. Ele agora grita baixo, como o comércio o faz.

21 de dezembro de 2015: a chama alaranjada se espalhou pela parte interna do Museu da Língua Portuguesa e aventou ao céu uma espessa fumaça cinza, sinalizando o incidente à população local, que inalava impressionada o ardido cheiro de desastre. Demorou mais de sete meses para que a entrada principal fosse reaberta aos 250 mil passageiros, segundo a CPTM, que a utilizam diariamente para se deslocar.

Indiretamente, o fogo ardeu na José Paulino: segundo o marreteiro Renato Vitorino, 47 anos, as sacoleiras(os) acostumadas(os) a visitar a rua para comprar em atacado pararam de o fazer, diminuindo as vendas das confecções de janeiro a março. Fechado o acesso principal, só seria possível acessar a José Paulino passando pelos arredores da Cracolândia, o que afastou grande parte das(os) consumidoras(os), tanto pelo medo quanto pela praticidade, que deixou de existir.

De acordo com um levantamento de 2015 da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) do Bom Retiro, são 1600 lojas no bairro, sendo 1400 delas também fabricantes de roupa. O comércio da região chega a empregar diretamente 50 mil pessoas, movimentando cerca de R$ 3,5 bilhões. Em março de 2016, diversas confecções tiveram de enxugar seus custos enquanto outras não resistiram ao momento econômico e fecharam suas portas, segundo consulta do Diário do Comércio. Houve, com isso, uma queda de aproximadamente 30% na produção da coleção outono-inverno em relação a 2015, ainda segundo a pesquisa.

Quem também sente na pele a recessão econômica do bairro é Cássia Fernandes Silva, 18 anos, que há oito meses produz e distribui artesanatos a vendedores ambulantes do Bom Retiro. Cássia começou a trabalhar quando o acesso principal já estava interditado e desde então reclama do discreto movimento dos consumidores no bairro. Disseram a ela, contudo, que durante a Copa do Mundo de 2014, a questão foi diferente - mesmo com a situação econômica já abarcada pela crise.

A necessidade determina o esforço: repetindo o exemplo do crescimento de consumidores durante a Copa, aumentou-se o envio de policiais militares ao bairro recentemente, segundo percebeu Cássia, porque “as eleições estão chegando”. Mas a artista se engana ao insinuar a falta de ética da prefeitura em aumentar o contingente policial: compete ao governo do estado, e não à prefeitura, a atividade da polícia militar. A despeito de sua confusão, curiosa é a desconfiança da jovem com o poder público, misturada com a voz embargada com que reitera o perigo do local - sentimento compartilhado pelo casal Michel e Vanessa, ambos de 27 anos.

Dois dos 29 entrevistados que nos responderam um questionário sobre o bairro, reclamaram nele não haver uma oferta satisfatória de espaços culturais, mesmo com a presença no distrito da Pinacoteca do Estado, a Oficina Oswald de Andrade e o próprio Museu da Língua Portuguesa, fechado desde dezembro pelo governo estadual. Porém, por outro lado, faz sentido criticar a produção cultural do bairro: de 2014 a 2016, o valor despendido pelo estado para a área da cultura caiu de 929 para 823 milhões de reais; em contramão a prefeitura elevou de 337 para 501 milhões. A porcentagem destinada à cultura em relação ao orçamento total do estado é inferior a meio por cento.

Engordando a lista de descasos notáveis e notórios da região, a sujeira divide espaço com a ambientação do Bom Retiro. Saindo das vias de grande movimento e visibilidade, ao entrar um pouco mais a fundo, no coração do bairro, é possível encontrar verdadeiros lixões a céu aberto. A rica produção têxtil, que movimenta quase por totalidade o comércio do bairro, joga, impensavelmente, seus dejetos nas ruas. Retalhos de tecidos e lixos descartados pelos transeuntes fora dos locais adequados entopem os bueiros e mares de detritos tomam conta. Sem opções, os moradores de rua são obrigados a conceber a sujeira como seu habitat. São muitos os desabrigados que acolhem o Bom Retiro como seu lar, vindos, muitas vezes, sem rumo após a dispersão recente da cracolândia, projeto meramente sanitizante.

Dormem os desabrigados, em maioria, sob a profunda escuridão. Chega a ser irônico o fato de um dos grandes problemas do bairro que abriga a estação da Luz ser a penumbra que se espalha a noite, com a fraca iluminação do lugar. Com o clima soturno, a segurança se compromete, virando tema de reclamação de um terço dos entrevistados. No Parque da Luz, marco central do bairro, a fiscalização foi se deteriorando. Antes vigiado por uma empresa particular, o local agora fica aos olhos da guarda municipal, presente, segundo frequentadores assíduos das banquetas do Parque, apenas nos períodos “de pico” do dia.

A apontada e criticada falta de segurança, contudo, não impede a saudável reunião diversificada de pessoas nos entornos dos espelhos d’água, bancos, mesas e aparelhos de musculação. Se sentados na parte central do Parque podemos observar grupos de idosos a conceber rodas de um belíssimo sertanejo de raiz aos finais de semana, em pé - ou deitados sobre os bancos de malhação - fazem presença os joviais esportistas da academia ao ar livre presente no local, com seus pesos improvisados, feitos de concreto maciço em latas de tinta velhas. Prostitutas ariscas à exposição jornalística se acanham em falar de sua profissão - sobre o bairro, tudo bem -, assim como vendedores ambulantes trocam apenas meias palavras, com olhares alheios aos do entrevistador, sempre alerta à chegada do rapa. Uma senhora com seus filhos, inclusive, recusa a entrevista não por falta de disposição ou assunto, mas pelo receio de precisar correr às pressas da polícia, arrastando as crianças e as mercadorias, e deixar a prosa sem uma conclusão

REPORTAGEM PINHEIROS - JOC editar

OBS: Reportagem postada em Postagens no dia 23 de setembro de 2016. Última alteração feita às 23h38min.

Pinheiros de sentidos editar

Repleto de cheiros, cores e sabores, o bairro nobre é o coração de mãe da Zona Oeste de São Paulo

Por Amanda Reis, Isabela Barbosa, Maria Luiza Miserochi, Mariana Zonta e Tatiana Leonel

 
Feira Livre Mourato Coelho

Eram cinco da tarde quando nos convidou à sua casa. Primeiro andar, prédio baixo, o porteiro espiava pela fresta da guarita. Um cachorro começou a latir, achamos que ia nos morder.  “Ela só quer cheirar”, disse a senhora que atendeu à porta.

De cabelos curtos e louros, estatura mediana e corpo fino, Cleide Marin segurou a cadela no colo e nos abriu um sorriso: “É por aqui”, disse nos conduzindo à sala. Piso de madeira, ambiente espaçoso e uma pequena sacada com vista para o telhado da garagem caracterizavam o ambiente. A televisão, ligada no programa Mulheres, da TV Gazeta, debatia sobre os cuidados com a beleza e ela assistia atentamente, prestando atenção em todos os detalhes.

Cleide tem 74 anos e mora no bairro de Pinheiros desde 1963. Mãe de três filhos, perdeu o marido cedo e hoje, com todos adultos e casados, vive sozinha com a neta de Santos, que está fazendo faculdade em São Paulo. “Esse apartamento é tão grande, tem três quartos”, diz.

Alegre, disposta e com uma ótima memória para endereços, Cleide conta que já trabalhou muito e hoje, além de buscar sua neta na escola de inglês e passear no shopping, faz aula de pilates todas as terças e quintas-feiras. “Dirigir, eu dirijo desde os 28 anos. Falar que eu dirijo mal ninguém pode”, diz rindo.

Quando se mudou da Mooca para Pinheiros, há 53 anos, Cleide foi morar na Rua dos Pinheiros, em um sobrado. Para ficar mais próxima do trabalho do marido, mudou-se para a Rua Tabapuã, no Itaim Bibi, onde não se adaptou: “Aqui [Pinheiros] era tudo mais perto”. Decidiu então, voltar para o antigo bairro, e, por quatros anos, ficou na Rua Henrique Schaumann, por 29 na rua Mateus Grou e “aqui estou há uns 30 anos”, diz entre risos se referindo à Rua Mourato Coelho.

Entre histórias antigas do bairro, Cleide diz sentir falta da convivência que tinha com seus vizinhos, afirmando que, na época, conhecia todos da rua. Como excelente motorista, lembranças das ruas vêm à sua mente e representando na mesa os caminhos e a disposição das avenidas, diz: “Quando eu vim morar a aqui, a Av. Brasil era estreita, só cabia dois carros e a rua era de paralelepípedos”. Entre as conversas, ela cita também a história da criação da Avenida Sumaré que, segundo ela, foi criada por Paulo Maluf, para que ele chegasse mais rápido em sua empresa. “Eu adorei e todo mundo adorou que morava na Henrique Schaumann”, diz rindo.

Apesar de amar o bairro e de afirmar que não sai de lá por nada, reconhece que algumas melhorias são necessárias: “Tem muitas calçadas esburacadas. E a iluminação, que é escuro, sabe por quê? Eles não fazem poda de árvore, então as árvores – e tem muita árvore aqui em Pinheiros – as árvores estão escondendo a iluminação das lâmpadas”, aponta.

Além disso, quando questionada sobre as ciclofaixas, se mostra contra a iniciativa: “Não tem lógica essa ciclofaixa. A maior besteira que alguém pode fazer é isso aí. Meus pêsames para quem inventou. Acho que foi o Haddad né? Meus pêsames pra ele, viu”, diz. “É isso que eu acho”, conclui entre risos.

RUA MOURATO COELHO editar
 
Feira Livre Mourato Coelho 2

Havia muita cor por ali. Foi a primeira coisa que notamos ao nos aproximar daquela rua. Acontece que, uma vez por semana, a Mourato Coelho abre espaço para que 136 feirantes montam suas barracas e construam, todo sábado, religiosamente, a Feira Livre da Mourato. São 661 metros da via ocupados por tendas que guardam flores, temperos, frutas, legumes, vegetais de todos os tipos, pastel, e caldo de cana - muito caldo de cana. Os tons e odores que perfumam e decoram a Mourato servem de convite a moradores e curiosos que passeiam pela região e, como num quadro, parecem ornar perfeitamente com tudo aquilo que acontece por ali.

"Quem leva mais, paga menos", "moça bonita não paga, mas também não leva", "alô, alô, freguesa!", "aqui tá mais docinho, pode provar minha senhora". Foram apenas dois passos dados, mas os sons que ali moravam pareciam conduzir-nos pelas mãos, e por mais que tudo aquilo pudesse parecer conflitante, faziam sentido em ser. Não é possível imaginar aquele cenário sem a pulsante troca de sentidos que ele propõe. Em meio ao passeio, escutamos um apelo "Olha por onde anda!", diz exasperada uma senhora  que passava carregando sua sacola abarrotada de compras. O problema é que a quantidade de sensações vindas daquela rua não permitem vigilância absoluta.

A Mourato fica no coração de Pinheiros. Próxima da rua Fradique Coutinho, Simão Álvares e Cardeal Arcoverde, ela completa o ciclo de endereços mais procurados por jovens ansiosos pelo agito que promete. "Eu já estou acostumado. Por aqui tem de tudo: festas, baladas, bares, museus. À qualquer momento eu sei que vou encontrar um supermercado aberto. A cidade que não dorme, né?", afirma Mario Ikada, que mora na rua há cinco anos e trabalha como cartunista. Nasceu no sul do país. "A principal diferença que eu sinto é no trato com as pessoas. Eu vejo que por mais que não falte nada, - desde metrô até barzinho - as pessoas não tem muito tato". Todo final de semana vai à feira. É amigo de todos os feirantes e garante que pelo menos uma vez por mês costuma comprar uma flor e manda entregar para a vizinha do prédio, uma senhora de 80 anos que mora sozinha. "Eu gosto disso, sabe? De gente! Olha essa feira, repara bem! Quantas vidas!", diz maravilhado.

RUA DOS PINHEIROS editar

Bares, cantinas, botecos, restaurantes luxuosos, docerias. O movimentado ponto do bairro nobre da zona oeste de São Paulo carrega consigo um histórico cultural que moldou a cidade por anos, e vem cada vez mais sendo procurado por moradores das mais distintas regiões da cidade.

“A gente que mora aqui há um tempo tem reparado essa gourmetização do bairro”. Sem tom pejorativo, Amanda reconhece que, em seus jovens 20 anos vividos pelas calçadas do bairro, a Rua dos Pinheiros têm recebido cada vez mais empreendimentos modernos e refinados, que concentram um público bem jovem e descolado. “Gosto muito que temos por aqui vários restaurantes familiares, não filiais de redes americanas de fast food que vemos em qualquer esquina de São Paulo”. Ao considerar-se amante de viagens, a menina valoriza o que há de mais notório na Rua dos Pinheiros: a gastronomia.

Situado no final da rua, um pequeno estabelecimento se destaca por sua fachada de luzes fluorescentes, iguaizinhas às encontradas em Paris. Paulo Menezes trouxe de suas viagens a essência da culinária francesa diretamente à Rua dos Pinheiros. Sua kebaberia parece ter se adaptado perfeitamente ao público que movimenta a região. O ambiente típico do romantismo francês envolve o restaurante e faz o cliente, por um momento, esquecer da correria que a cidade de São Paulo carrega - ao som de um bom jazz europeu.

As refeições na Rua dos Pinheiros não necessariamente celebram uma data especial. Todo dia é dia por ali, onde um pouquinho se festeja a cada entardecer, e se vê serem celebradas as pequenas coisas da vida. Acompanhado de uma bela cerveja gelada ou uma refinada taça de vinho - a escolha é sempre do cliente!

RUA FRADIQUE COUTINHO editar

Daquelas que podemos chamar de "solução completa", a Rua Fradique Coutinho favorece a todos os tipos de gostos e preferências. Em cada esquina, uma nova emoção. Não é atoa que Iara Monteiro, 20, escolheu morar em Pinheiros quando decidiu se mudar para a cidade de São Paulo, em 2014. "Moro há dois anos na Rua Fradique Coutinho. O que eu mais gosto por aqui é de caminhar pelo bairro, observar a movimentação e andar de bicicleta. Acho um lugar tranquilo", diz.

Recentemente construída na região, a ciclovia tem sido alvo de grande debate entre moradores e frequentadores do local. A presença da estação de metrô Fradique Coutinho acentua o fluxo intenso de pessoas que passam diariamente pela região, sobretudo, moradores que voltam para suas casas após uma jornada exaustiva de trabalho.

Sendo assim, é possível intuir a essencialidade do transporte público na vida dos habitantes do bairro, visto que 50% dos 35 entrevistados utilizam transporte público, além de outros meios — como transporte privado, por exemplo. Iara encontra-se dentro dessa porcentagem, e pondera que o transporte público é uma excelente alternativa para quem deseja evitar os picos de trânsito fixados na sua rua e nas demais.

Ao contrário de outras ruas do bairro, na Fradique não se é possível notar a presença de muitos edifícios comerciais, destacando-se somente aos que buscam lazer e entretenimento. Seja no Doce Café, na Livraria da Vila ou no ClickSushi, a diversão por aqui é garantida e é possível desfrutar de ótimos momentos, tanto com amigos quanto familiares, para quebrar (um pouco) da rotina.

Para Iara "não tem o que melhorar nem na Fradique e nem em Pinheiros. Esse lugar é incrível". Assim como 31% dos entrevistados para a matéria, Iara mora em apartamento, é solteira e não tem filhos.

Com diversas cores, sabores e soluções, a Rua Fradique Coutinho é um local singular, pautado pela sutileza de moradores. Durante o dia, o único som possível é proveniente dos carros, motos e, com menos frequência durante a semana, das bicicletas.

No entanto, é importante destacar que a localidade possui uma vida noturna — bem — ativa, gerando ainda mais atrativos para aqueles que vivem distante do distrito e apenas desejam desfrutar de alguns momentos de curtição. O Bar Oca (Rua Fradique Coutinho, 1502) é o estabelecimento que mais atrai o público dos jovens e, por coincidência, o lugar preferido de Iara para sair com os amigos. Deste modo, não há motivo para não dar uma passadinha por uma das ruas pioneiras de um dos bairros mais queridinhos da Zona Oeste.

PINHEIROS PARA QUEM? editar

De classe média alta, uma exceção, Pinheiros certamente é um bairro para todos, ainda que feito por muitos. Custos mais salgados podem ser encontrados, assim como produtos diferenciados e baratos também. Sr. Nivaldo, por exemplo, de 42 anos, é zelador de um dos vários charmosos e antigos prédios de uma travessa da Rua dos Pinheiros há 21. “Nunca fui destratado. Nunca mesmo! Já vi gente nascer e morrer nesse prédio e fui até convidado para a ceia de Natal na casa da Dona Sônia”, conta.

No trajeto para casa leva 15 minutos. Nivaldo deixou de ser pedreiro ao ser convidado por um dos engenheiros da obra em que prestava serviço a trabalhar como porteiro. Hoje, seu salário é o único que sustenta a casa em que mora com mulher e dois filhos jovens. “Nos dias de folga, às vezes a gente até vem passear e comer bem”, diz sem deixar o sorriso escapar do rosto. Assim como 72% dos pesquisados, ele também julga Pinheiros um bairro bom para se morar, trabalhar e aproveitar o tempo livre. “Mas lá [na Vila Yara] eu tenho casa própria. Aqui é bem mais caro para realizar esse sonho”, explica Nivaldo.

Pinheiros é bom para quem? Além da sensação de liberdade capaz de proporcionar, não só as ruas esburacadas detalhadas por Cleide são defeitos, mas também o trânsito relatado por Iara ou a falta de tato que Mario diz sentir. O bairro que acalenta parece ser também capaz de expulsar e excluir. Nivaldo tem carinho que nem todos os que por ali passam tiveram oportunidade de sentir.  Há quem se apaixone, há quem apenas desgoste. Não encontramos ainda quem odeie.

Materiais brutos da reportagem editar

https://soundcloud.com/user-778052931/sets/pinheiros-de-sentidos

Reportagens Bom Retiro/Turma A editar

Link para as reportagens: Temperaturas Paulistanas/Planejamento/Bom Retiro/Turma A