Thamara Coelho
A disciplina ACH3707 - Seminários de Políticas Públicas Setoriais 2 - Multiculturalismo e Direitos, propõe uma perspectiva inovadora de ensino e aprendizagem, utilizando-se de uma metodologia ativa promove uma imersão dos discentes de 3 (três) dias na Aldeia Rio Silveira. Ao longo do semestre tivemos 6 (encontros) com expectativa de abordar questões como o etnocentrismo, relativismo cultural e politica indigenista brasileira. Também compreenderam os encontros uma visita à Aldeia Tekoá Pyau, localizada no Pico do Jaraguá. Tal visita trouxe a tona uma realidade perplexa às condições físicas da comunidade, que possuem moradias consideradas subnormais e condições de higiene precárias. Há diversas questões que tangem o interesse coletivo e colocam a aldeia em um centro de interesses conflituosos, tais como demarcação das terras indígenas, sinalização e abandono de animais na entrada da mesma. A liderança da reserva - cabe aqui destacar a figura feminina neste papel - compartilhou com os discentes a história das demarcações de São Paulo a partir da ótica indígena. A pajé compartilhou os significados dos nomes das rodovias, como Bandeirantes e Anhanguera, e questionou a idolatria existente através dos monumentos como o Monumento dos Bandeirantes e do Borba Gato. Além disso, tivemos a oportunidade de conhecer o Ceci – Centro de Educação e Cultura Indígena (Escola Pública Municipal), o qual possui o ensino bilíngue a fim de manter uma das tradições indígenas. --- No dia 28 de Outubro de 2016 iniciou-se a imersão na Aldeia Rio Silveira, localizada na Mata Atlântica e faz divisa com Bertioga e São Sebastião.
Primeiro dia – 28.10 Ao chegarmos a Aldeia tivemos uma recepção positiva, principalmente por parte das crianças que com um senso de coletividade intrínseco a elas, nos ajudaram a montar barracas e nos acomodarmos no núcleo que nos recebia. Ficamos no Núcleo Porteira ;;; No primeiro dia tivemos mais contato com as crianças que nos auxiliaram com as acomodações e com a montagem das barracas. Neste momento inicial seria oportuno fazermos uma roda de interações e diálogo, no entanto a mesma não ocorreu. No mesmo dia fomos convidados para participar do agradecimento do dia na casa de reza. A casa de reza, em minha concepção, foi o local mais emblemático e de maior contato com a cultura indígena em si. Durante o canto os homens e as mulheres ficam em lados opostos e tocam instrumentos diferentes. Não há distinção de idade para agregar à roda e a participação dos visitantes entre as indígenas foi bem vinda. Ao final do ritual instaurou-se um bate papo entre um importante ator, muito político por sinal, Mariano e os estudantes. Não houveram perguntas que não houvesse uma resposta previamente preparada, além de histórias encantadoras como a da religião deste povo. No dia seguinte houve uma tentativa de aplicar o cronograma que havíamos estabelecido em São Paulo. Quando pensamos no cronograma pensamos em diversas atividades como Agroecologia e Bioconstrução; Arte; Brincadeiras e Gincanas; Cultura e História Guarani; Compreender a mulher indígena; Esporte e Lazer ; Intervenções Culturais e Infraestrutura,mas acredito que os debates promovidos nos encontros não foram suficientes para nos preparar com uma relação tempo. Ao estabelecermos um cronograma de atividades levamos em conta apenas a relação com o horário, o que não faz parte da rotina da tribo. Há uma relação de sequencia de ações determinadas pelo impulso individual e senso coletivo de agir, o que não faz parte da rotina dos juras - estes regidos pelo "time".
Segundo dia - 29.10
A proposta de interação no segundo dia foi guiada por uma trilha na qual nos levaria à uma cacheira e ao contato direto com a natureza durante o caminho. A primeira etapa da trilha foi proveitosa para abrir diálogo com as crianças indígenas e constatar uma divisão entre os núcleos. A ideia de comunhão também permeava as relações. Uma parcela do grupo acabou se distanciando dos demais, o que provocou uma instabilidade e causou angustia no Pajé.
Este também foi o dia da atividade proposta pela meu grupo: Intervenções Culturais. Havíamos idealizado uma situação na qual proporíamos a atividade e fomos surpreendidos pela autonomia e independência das crianças na utilização dos matérias e apropriação dos mesmos. Também foi notável a semelhança das pinturas desenvolvidas pelas crianças e as referencias que as cercam. Ainda em relação as crianças, foi admirável observar como as mesmas eram de responsabilidade da comunidade e não de 'responsáveis' pré estabelecidos.
Terceiro dia - 30.10
O terceiro dia amanheceu sem muitas consensos e planejamento pré estabelecido. Aproveitamos a tranquilidade do dia para iniciarmos a pesca e após a mesma a viagem encerrou-se com meu retorno à São Paulo.