Utilizador:Helena Franco Cardoso/Redação hipertextual

Tarefa 1: Análise da hipertextualidade da reportagem “A obsessão de Olavo de Carvalho pelo furico alheio

O primeiro link é pertinente, uma vez que se refere à entrevista da Carta Capital que motivou a reportagem. É um vídeo postado no canal do YouTube de Olavo, em que, ao criticar a adjetivação do presidente Bolsonaro como “fascista”, o jornalista utiliza o termo chulo que norteia a matéria. Foi aquele momento que instigou Mário Magalhães, o autor do texto, a investigar o assunto: daí sua importância.

Este link transporta o leitor a uma notícia do Estadão, que apresenta Olavo de Carvalho como “mentor intelectual” de Bolsonaro. Segundo o link, nos anos 1980, Olavo realizava um curso de orientação profissional com o auxílio da astrologia. A escolha deste hyperlink, em específico, contribui à - nem tanto - sutil crítica de Mário Magalhães aos escolhidos para gestão da presidência, reiterando o escárnio desejado para a reportagem.

Este link direciona o leitor da reportagem para a fanpage de Olavo de Carvalho, no Facebook, permitindo ao leitor conhecer melhor a figura pública por meio de suas postagens. Não é um link que acrescenta diretamente informações-chave à reportagem, mas que pode interessar o internauta que deseje encontrar o filósofo nas redes sociais.

  • Vituperou”, “embrenhou”, “variante”, “pontificou”

Todos são links para um site que funciona como um banco de dados, reunindo as postagens e notas das redes sociais de Olavo de Carvalho. Neste endereço, o leitor pode conferir o post completo no qual Olavo questionou a forma como a Folha de S. Paulo o descreveu: “Ideólogo é o cu da sua mãe”, ou quando utilizou a metáfora do ânus para explicar, a seu ver, o comportamento da esquerda. A estratégia aqui é permitir ao leitor, ler na íntegra os comentários que são citados na reportagem. Estratégia que também contribui à credibilidade do texto e do autor.

Ao apresentar a definição da palavra-chave da reportagem, o autor acrescenta um link que encaminha o leitor ao site do dicionário Houaiss, onde os verbetes estão reunidos. Outra estratégia para conquistar a confiança do leitor no conteúdo do texto: ao conceder ao internauta a possibilidade de verificar a autenticidade do que está afirmando, o autor vai ganhando confiabilidade.

  • “Gracejou”

Mais uma vez, o leitor é direcionado à postagem de onde o autor retirou as citações utilizadas na reportagem. Nesse caso, o link é de um post no Twitter de Olavo. Novamente, é apresentada ao internauta a possibilidade de checagem do conteúdo.

O link diz respeito a um vídeo publicado em um canal do YouTube dedicado à divulgação do trabalho de Olavo. O vídeo é uma breve interpretação do Brasil feita pelo professor, em que ele compara o país ao termo vulgar que norteia o texto. A ideia do link é levar o leitor para a íntegra das citações de Olavo e permitir que ele entre em contato com as declarações completas do filósofo.

Neste link, é retomada a entrevista de Olavo à “Carta Capetal” (como ele a intitula) no momento em que ele opina, sobretudo, acerca da ditadura e seus métodos de tortura. Neste caso, a escolha do momento específico da entrevista a que o leitor é levado quando acessa o hyperlink é determinante para a construção da linha de raciocínio objetivada com a reportagem: a de análise - e, até, confronto - do posicionamento do filósofo.

No endereço para o qual o link encaminha o internauta, encontra-se um vídeo do YouTube postado pelo próprio Olavo, no qual ele opina sobre o tema “combustíveis fósseis”: “não existem!”. Neste caso, mais que o vídeo em si, a palavra em que o link foi incorporado no texto merece destaque, por evidenciar a ironia do autor: o suposto argumento “sofisticado” de Olavo, completo no vídeo, resume-se ao uso de um termo nada refinado.

O vídeo para o qual o link leva o internauta é um compilado de momentos em que Olavo de Carvalho fez uso indiscriminado da palavra “cu”. A escolha deste hyperlink é justificável, por desempenhar praticamente os mesmos papéis que a própria reportagem: hipertextual e compilatório.

Este link leva o internauta a uma entrevista de Olavo ao Estadão, na qual ele (jornalista) afirma ser um “escritor do envergadura universal”, e não um desses “jornalistinhas”. Olavo também amaldiçoa a mídia: “o meu prestígio vai crescer e o deles vai sumir”. Ali, os argumentos de Olavo resumem-se ao ataque à mídia e opositores ao governo Bolsonaro. A escolha deste link demonstra como outros veículos também têm enxergado e vivenciado situações desagradáveis com Olavo.

Um link que também direciona o leitor à entrevista do filósofo ao Estadão, agora com foco na declaração de Olavo sobre a mídia durante a ditadura militar: segundo ele, dominada pela esquerda. Dotado de ironia, o autor da reportagem põe à prova o contentamento de Olavo em “ensinar” história às avessas e de forma arbitrária, uma vez que é sabido que a grande safra de “barões da mídia”, já no governo João Goulart, era conservadora e foi essencial ponto de apoio ao golpe e seus anos subsequentes.

Mais um link que leva o leitor ao “banco de dados” de postagens do filósofo, dessa vez para uma de 2015, em que ele defende o uso de palavrões e termos indiscretos quando “uma resposta delicada seria cumplicidade com o intolerável”. Uma ligação interessante entre posts, na medida em que se apresenta o porquê de a reportagem ter sido viabilizada: a desfachatez de Olavo deu origem a “pérolas” como as recolhidas pelo autor-investigador.

A palavra escolhida para inserir o hyperlink é justificada em si mesma. Olavo, além de discursos polêmicos, dispara armas de caça a ursos. A matéria publicada pela Catraca Livre reúne tweets em que Olavo comemora ter ganhado a licença para caçar ursos nos Estados Unidos, onde reside. Ele também afirma apreciar o churrasco do animal, e fazer isso para “manter o equilíbrio ecológico”. Com essa escolha, o autor da reportagem mostra perceber o perfil dos opositores a Olavo: a oposição à caça é um dos princípios que reúne uma parte deles.

Mais uma palavra escolhida para reiterar o humor da reportagem, cujo link transporta o leitor a mais um vídeo do YouTube do filósofo, no qual, segundo o autor, estampa, mais que combate, temor às atitudes de seus opositores, correlacionáveis (para Olavo) a órgãos fálicos indomáveis.

  • “Expressa” e “tuíte”

Links para tweets de Olavo que contêm as citações pontuadas no texto. Do novo, o leitor tem a oportunidade de conferir na íntegra os dados que são levantados pela reportagem, trabalhando ao lado do autor, como construtor e ativo assistente da checagem.

O link leva o leitor a um blog com posts relacionados ao governo Bolsonaro e seus representantes. A informação deste link é pertinente, por expôr que Olavo tem plena consciência de seu uso excessivo de palavrões, o que ele afirma ser um ato libertário que não pretende abandonar.

Neste link, encontramos uma postagem na página do Facebook de Olavo, na qual ele pretende explicar didaticamente o uso da palavra “cu”. A definição dada pelo filósofo legitima mais uma vez o emprego do tal palavrão em seus discursos.

Aqui, o leitor é direcionado a um vídeo do YouTube em que Olavo explica porque, militante comunista durante a ditadura, converteu-se ao (como enunciado pelo autor da reportagem) “ultradireitismo”. Este hyperlink oferece ao leitor informações mais aprofundadas sobre a história de Olavo e enriquece a interpretação do filósofo, seus atos e discursos.

O link leva o leitor de volta ao vídeo da entrevista de Olavo à Carta Capital, neste momento comentando sobre a polêmica da exposição Queermuseu (2017). O objetivo do autor com essa referência é expor como Olavo “recorre a pressupostos ilusórios” para formular seus argumentos, utilizando em seu discurso situações que não aconteceram. A menininha não “mexeu no pinto do homem”, como apontado pelo filósofo.

Novamente, a escolha da palavra que contém o hyperlink é ainda mais essencial que o site: Olavo de Carvalho é conhecido por pontuar “chutes” e “achismos” em seus discursos e, consequentemente, apresentando informações improcedentes. A ideia aqui é evidenciar as "barrigadas" de Olavo e colocar à prova suas afirmações à imprensa.

Este link retoma novamente a entrevista de Olavo à Carta Capital, desta vez fazendo referência a sua declaração sobre o envolvimento das FARC (Forças Armadas da Colômbia) com o tráfico de cocaína para o Brasil. Novamente, é apresentada uma falácia de Olavo e vídeo que comprova a situação citada no texto.

  • “Concluiu”

O link finaliza a reportagem e é o ápice do escárnio do autor. Nele, vê-se um tweet de Olavo em que afirma crer que Obama é um agente russo infiltrado no governo americano. Logo em seguida, o texto apresenta Olavo como autor do livro “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”. Ainda que indiretamente, a estrutura do parágrafo escancara a opinião de Mário Magalhães: a excêntrica opinião do filósofo, bem como as citações anteriores o põem como opositor às lições de seu próprio livro.


Tarefa 2: Reportagem hipertextual


De mensageiro pessoal a mobilizador político: os novos voos do Twitter.


Aristóteles riria ao analisar seu animal político em tempos de internet. Pesquisas apontam que muitos americanos usaram o Twitter em fevereiro para informar que não assistiriam à cerimônia do Oscar, devido ao caráter politizado dos filmes escolhidos pela Academia. Mas a fuga da premiação não afastou internautas de temas cívicos: segundo o site Scup, durante a entrega das estatuetas, mais de 16 mil tuítes chamavam a atenção para o racismo ou utilizavam a hashtag #OscarSoWhite.

Criado em 2006, o Twitter tem extrapolado suas pretensões originais, de ser um microblog para envio de mensagens curtas e pessoais. Lucas Calil e Marco Aurélio Ruediger, em artigo à Folha de S. Paulo, inclusive apostam na emergência do site como quinta esfera de poder, a julgar pela importância que a rede social assumiu durante as eleições presidenciais do ano passado.

Afastado dos debates televisionados após sofrer um atentado durante campanha em Minas Gerais, Jair Bolsonaro transformou o Twitter em palco de discussões. Desde então, a rede social tem sido a fiel escudeira do atual presidente, onde divulga comunicados oficiais e “extraoficiais”, como o polêmico “Caso Golden Shower”, que levou o carnaval brasileiro à imprensa internacional.

Além de assuntos governamentais, o engajamento em causas sociais também move timelines. Pesquisadores paulistas estudaram como utilizar o Twitter para monitorar enchentes. Celebridades brasileiras tuitaram sobre feminismo no dia internacional da mulher. Em 2017, a hashtag #MeToo denunciou a extensão global do assédio sexual (e continua ativa até hoje). Com 105 milhões de seguidores e posts de ativismo, o perfil de Barack Obama é o terceiro mais acompanhado do mundo.

O alcance global rendeu ao site um lugar no dicionário de Cambridge. Nele, o termo “twitter” pode ser empregado como verbo para definir o “canto de uma ave” ou a “propagação histérica de mensagens desimportantes”. Como substantivo, a rede está mais para uma praça pública, ocupada por opinião, pássaros e polêmicas.