Aparai é um povo indígena que habita a fronteira entre o Brasil, Suriname e Guiana Francesa. No Brasil, mantém há pelo menos 100 anos relações estreitas de convivência, coabitando a mesma aldeia e casando-se entre si. Por conseguinte, é muito comum encontrar referências a essa população como um único grupo, embora sua diferenciação seja reivindicada com base em trajetórias históricas e traços culturais distintos.

Aparai
População total

504

Regiões com população significativa
BRA, Amapá/Pará 454 (Siasi/Sesai, 2012)[1]
GUF 40 (Eliane Camargo, 2011)[1]
SUR 10 (Eliane Camargo, 2011)[1]
Línguas
português e aparaí
Religiões

Introdução editar

Os Aparai e os Wayana são povos de língua karib que habitam a região de fronteira entre o Brasil (rio Paru de Leste, Pará), o Suriname (rios Tapanahoni e Paloemeu) e a Guiana Francesa (alto rio Maroni e seus afluentes Tampok e Marouini). No Brasil, eles mantêm há pelo menos cem anos relações estreitas de convivência, coabitando as mesmas aldeias e casando-se entre si. Por conseguinte, é muito comum encontrar referências a essa população como um único grupo, embora sua diferenciação seja reivindicada com base em trajetórias históricas e traços culturais distintos.

Nome editar

Os Aparai são mencionados na literatura como: Appirois, Aparathy, Apareilles e Apalaii, pelos viajantes; Aparis e Apalaís, mais recentemente, por representantes do governo; por fim, Aparai, forma como o grupo se auto-denomina hoje em dia.

Por sua vez, os Wayana são conhecidos na literarura por: Ojana, Ajana, Aiana, Ouyana, Uajana, Upurui, Oepoeroei, Roucouyen, Oreocoyana, Orkokoyana, Urucuiana, Urukuyana, Alucuyana e Wayana. Os termos Roucouyennes ou Roucouyen (de rocou, "urucum", em francês), assim como as corruptelas Urucuiana ou Rucuiana em português, empregados nos séculos XVIII e XIX, se originaram do uso freqüente da pintura corporal de urucum por essa população. Desconhece-se a etimologia do vocábulo Wayana, atual auto-designação dessa população. Sabe-se apenas que se trata de uma palavra Caribe, como mostra o sufixo yana, que designa "povo", "gente", em muitas línguas dessa família.

Tanto as designações mais gerais Aparai e Wayana, como os nomes dos vários outros grupos primordiais (Pirixiyana, Kumakai, Ahpamano, Arakaju, Upurui, Kukuyana e Kumarawana, por exemplo) são empregados com base em referências genealógicas, características físicas e comportamentais, além da origem geográfica. Desse modo, os Upurui seriam mais corpulentos e de pele mais escura, provenientes do alto rio Jari; os Apama, mais claros e baixos, seriam originários do baixo rio Jari; os Pirixiyana, do rio Maicuru, falariam muito rápido, assim por diante.

Lingua editar

Como em toda a região, a situação no rio Paru de Leste é de multilingüismo. Cada indivíduo adulto fala de duas a três línguas pelo menos, entre aparai, wayana, português, tiriyó e, em alguns casos, wajãpi, aluku e crioulo. No entanto, a distribuição de falantes e o uso de cada uma das línguas são desiguais. No Brasil, a língua aparai é preferencialmente empregada nos diálogos entre indivíduos pertencentes a grupos distintos, o que se deve, em grande parte, à atividade missionária de 1968 a 1992.

A alfabetização dessa população é feita nas línguas portuguesa e aparai, tornando esta última a língua dos livros e cultos. Não obstante, apesar do predomínio da língua aparai, a língua wayana passou a gozar na última década de enorme prestígio entre os mais jovens, por permitir a comunicação com grupos wayana e tiriyó residentes no Suriname e na Guiana Francesa.

História e Localização editar

De acordo com as fontes históricas e seus próprios relatos, os Aparai e Wayana têm origens distintas. Os primeiros são provenientes da margem sul do rio Amazonas, tendo migrado até a região dos baixos e médios cursos dos rios Curuá, Maicuru, Jari e Paru de Leste, e de lá até a sua área de ocupação atual. Os Wayana, por sua vez, ocuparam por muito tempo a região do alto e médio curso do rio Paru de Leste, seu afluente Citaré, o alto rio Jari, além dos rios Litani, Paloemeu e afluentes.

No século XVI, os Aparai ocupavam a margem direita do rio Amazonas, ao sul, e, à sudoeste, pela região onde hoje estão as cidades de Macapá e Belém. Outros grupos, posteriormente assimilados, viviam não muito longe do rio Amazonas, na região dos baixos rios Paru de Leste e Jari.

No final do século XVII, os Aparai teriam mantido relações com os grupos Apama e Aracaju, possivelmente de língua tupi e habitantes das proximidades de Almerim, reduzidos à Missão do Paru, pouco a pouco integrados à população local. Um pequeno grupo Apama teria conseguido isolar-se na região do Maicuru até a década de 1960, mantendo relações estreitas de troca e intercasamento com os Aparai.

Em meados do século XVIII, são mencionados pelas fontes históricas assentamentos Wayana no médio rio Maroni, embora a maior parte da população se encontrasse ainda em território português, delimitado ao sul e a oeste, pelo rio Citaré, ao norte, pelo igarapé Matawaré (no alto rio Paru de Leste) e a leste pelo alto rio Jari e tributários. O território dos Aparai, por sua vez, ocupava a região contígua ao sul, abaixo do rio Citaré, nos cursos médios e baixos dos rios Paru, Curuá, Cuminá, Maicuru e Jari. Este período foi marcado pelo acirramento das relações de intercâmbios, guerras e intercasamentos entre os povos indígenas da região. Destacam-se os conflitos entre os Aparai e Wayana, nos médios cursos dos rios Paru e Jari; entre os Wayana e Tiriyó, ao norte destes rios; e entre os Wayana e Wajãpi, a leste, nas regiões limítrofes dos territórios destes dois grupos.

Na década de 1950, os Aparai encontravam-se ainda distribuídos pelos rios Paru de Leste, Jari, Maicuru e alto Curuá do Alenquer; ao passo que os Wayana ocupavam os médios e altos cursos dos rios Paru de Leste e Jari, além dos rios Litani (Guiana Francesa) e Paloemeu (Suriname). Até 1960, havia alguns assentamentos próximos à região de Anatum, na confluência do igarapé Mopecu com o baixo Paru de Leste. Em 1984, apenas uma aldeia Aparai situava-se próxima à confluência dos rios Jari e Ipitinga.

Hoje, os Aparai e Wayana estão distribuídos em três grupos territoriais definidos pelos eixos fluviais do rio Paru de Leste, no Brasil, do rio Marouni, na Guiana Francesa e do rio Tapanahoni no Suriname. Enquanto a grande maioria dos Aparai se encontra em território brasileiro, os Wayana também se distribuem pela Guiana Francesa e Suriname. Essa configuração em três conjuntos territoriais distintos é resultado de sua longa história de contato com não-índios, marcada por migrações, processos de fissão e fusão com outros povos indígenas. De qualquer modo, a distância espacial não representa um obstáculo para a interação entre esses conjuntos territoriais, que se dá, fundamentalmente, com base em laços de parentesco e de parcerias formais de troca.

No Brasil, os Wayana e Aparai distribuem-se por cerca de dezesseis aldeias, todas elas situadas no alto e médio curso do rio Paru de Leste, dentro do Parque Indígena do Tumucumaque e da Terra Indígena Rio Paru D'Este. Essas duas áreas indígenas contíguas abrangem cerca de 4.266.852 ha no norte do Pará, abrigando também grupos tiriyó, kaxuyana, akuriyó e wajãpi, entre outros.

Referências

  1. 1,0 1,1 1,2 Quadro Geral dos Povos. Enciclopédia dos Povos Indígenas no Brasil. Página visitada em 21 de janeiro de 2012.

Ligações externas editar