Wikinativa/Barbara Aguilar Hatala (vivencia Guarani 2019 - SMD - relato de experiência)

Reflexões causadas partindo de trocas culturais, a melhor maneira de transformar!

O atual relatório visa analisar a partir da observação participante a experiência de inserção do grupo de universitários, durante três dias, na Aldeia indígena Guarani, Rio Silveira localizada na divisa de São Sebastião e Bertioga, instituído como reserva ambiental. Imerso neste ambiente é facilmente perceptível a diferença entre os grupos, seu modo de se relacionar, falar e suas culturas. Alguns dos contrastes mais gritantes ficam por conta da altura em que se comunica, o modo em que se fala e como. Dentro de nossa sociedade o barulho é quase permanente numa cidade/metrópole, algo quase inexistente dentro da reserva indígena, a velocidade em que se fala é outra distinção entre os povos originários e homem branco, dentro desta cultura é perceptível que a comunicação não se faz apenas através da fala e que nossa construção utiliza disso quase como único modo de se comunicar. A liberdade presente ao observar as crianças indígenas brincando e interagindo também é outro tópico destoante entre as culturas, onde de um lado há uma visão de “perigo” presente no ambiente das cidades, pela parte dos responsáveis e de outro lado um ambiente que não necessite de represália da parte dos adultos para com as crianças. O olhar de seres que são independentes e capazes de se auto regular, para as crianças a partir dos indígenas é outro tópicos diferente das culturas, existe um autonomia vivida por este grupo que jamais seria possível observar dentro da cultura do homem branco. A hospitalidade e receptividade é muito presente no ambiente, a integração acontece naturalmente sem muito esforço pela parte de nosso grupo, a um entusiasmo nítido em nossa chegada principalmente quando se tratam das crianças da aldeia. A sensação de que há grupo dominante não se faz presente ,de minha perspectiva, quando se trata dos indígenas entre eles, mas essa foi uma sensação que me tomou ao observar a chegada de nosso grupo no espaço, quando após a montagem das barracas, equipamentos de som e tendas foram sendo montadas para as atividades programadas por nosso grupo, com som ligados, vídeos sendo passados e um espaço usado para a fogueira foi ocupado pelo grupo para prática dessas atividades. A sensação de invasão se fortificou ao analisar o conteúdo colocado no vídeo passado antes da casa de reza no primeiro dia, vídeo que retratava a chegada da cidade no território indígena. Ao meu ver um vídeo que traz uma reflexão profundamente relevante, a nós da cidade, capaz de sensibilizar mas pouco relevante para ser transmitido aos indígenas, dentro de seu ambiente, podendo causar uma sensação de invasão de terra, ainda mais neste momento, onde muitos territórios estão sendo usurpadas por fazendeiros, e principalmente pela falta de uma roda de conversa após esta amostra; o que poderia reforçar essa sensação. Para além das críticas, as oficinas propostas foram ótimas para interação entre os grupos e trouxeram a vivência uma experiência profundamente proveitosa e interativa com conteúdos lúdicos. A inserção dentro da casa de reza apesar de intensa e muitas vezes difíceis, pela quantidade de pessoas e fumaça ali presente, traz um contato com a ancestralidade da religião indígena e propicia a imersão ao desconhecido, mostrando a força dos cânticos e danças praticados por todo o grupo independente de gênero ou idade. A uma diferença do olhar indígena para a natureza, como ser pertencente deste meio e não como recurso a ser explorado, como temos hoje dentro de nossa sociedade. Uma reflexão que encaro profundamente necessária, para que a natureza se mantenha e se restabeleça e isso só se fará possível caso haja uma mudança de hábitos de uma grande parte das pessoas, passando esse legado de consciência e transformação para os demais. Vejo a experiência como algo profundamente positivo capaz de sensibilizar o olhar dos presentes para esta cultura, suas necessidades e demandas. Essa inserção pode quebrar estereótipos, preconceitos e possibilitar uma reflexão para quebra de padrões usados hoje dentro de nossa construção social e causar uma mudança de hábito e paradigmas para com o outro e a natureza. Observando de fora acredito que pautas que ainda podem ser melhoradas para próximas vivências, são incluir um grupo maior para o preparo da alimentação, para que não haja sobrecarga de funções, uma reavaliação e melhoria no cálculo médio na quantidade de comida consumida pelo grupo, considerando que existe uma variação de quantidade de consumo inerente a cada biotipo, hábito e necessidade individual que deva ser levado em conta. Trazer a reflexão ao grupo sobre o que é consumido, quem produz e o que isso causa, a partir de uma roda de conversa tornando isso uma pauta para além da vivência dos indivíduos, uma prática necessária para fora da sala de aula. Refletir sobre o que é consumido e levado por nosso grupo, e o que disso é de fato acessível aos indígenas ali da região e levar propostas que sejam inclusivas para mudanças de hábitos a longo prazo. Como é o caso do açúcar refinado, que precisa ser substituído mas as opções são mínimas e de alto custo limitando o acesso a outras opções mais saudáveis, como temos aqui através da zona cerealista. Creio que essas iniciativas tornariam o ambiente ainda mais democrático e participativo, usando de exemplo as oficinas propostas em sala que foram muito bem aceita e praticadas por todos. Concluo que a cada experiência dentro deste ambiente tão diferente acaba por sempre propiciar novas reflexões e ampliar os horizontes. A busca por melhorias sempre se faz necessário para nós como seres em constante evolução e a diversidade e a troca ocasionam naturalmente isso.