Bombas
População total

68 pessoas

Regiões com população significativa
Val. e do Ribeira (ao sul do estado de São Paulo)
Línguas
Português
Religiões
Católicos (maioria) e evangélicos.

Bombas é uma comunidade quilombola do Vale do Ribeira, localizada em Iporanga, SP. É uma das comunidades mais isoladas do Vale, com muitos problemas sociais e territoriais, este último muito em função da fundação do Parque Estadual do Alto Ribeira – PETAR nos anos 1980.

A pesquisadora Walburga dos Santos, em 2010, registrou 16 famílias vivendo na região. A comunidade diz que esse número já esteve em torno de 80, e o site Quilombos do ribeira declarou que haviam 21 em 2006.

Localização

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Bombas localiza-se no município de Iporanga,SP,sendo que seu acesso fica no Km 6 da Rodovia Antonio Honório da Silva, mais conhecida como Estrada Iporanga/Apiaí.Tem as comunidades de Praia Grande, Porto Velho, Cangume e João Surrá como suas vizinhas distantes.É reconhecidamente o mais isolado do Vale do Ribeira. O quilombo possui 2 núcleos: Bombas de Baixo,que fica a 5Km da estrada,e bombas de cima,a 10Km do mesmo local.Para se chegar no quilombo,deve-se atravessar o rio Betari (de barco ou por uma ponte)e mais um longo trecho coberto pela Mata Atlântica,com tempo estimado de uma hora e meia para se chegar em Bombas de Baixo e,dalí,mais uma hora para se chegar a bombas de cima.Há outro acesso possível por trilha, mas pouco utilizado pelos moradores, que se inicia no Bairro da Serra, ainda na estrada Iporanga-Apiaí, passando pelo Lageado e seguindo para a região do Roncador. [1]

A comunidade é formada pelas seguintes "regiões": Cotia (mais conhecida como Bombas de Baixo), Cotia Grande, Lagoa, Mona, Paca, Roncador e Córrego Grande (mais conhecido como Bombas de Cima).Asim,as denominações "Bombas de Baixo" e "Bombas de Cima" visam facilitar a orientação de pessoas de fora quanto á localização das moradias,além de servir como referência para identificar os agrupamentos de casas existentes no quilombo.


História

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O quilombo de Bombas, cuja formação iniciou-se na segunda metade do século XIX, tem como referencial histórico o refúgio de escravos fugidos e famílias expulsas de suas terras de várias áreas próximas, como os Furquim, forçados a abandonar sua fazenda por uma empresa mineradora de chumbo. Vieram pessoas da Serra de Iporanga, de Baú (também em Iporanga), de Cangume, Porto Velho, João Sura (Paraná), Três Águas (próximo de Porto Velho), e talvez Minas Gerais. Entre os anos de 1920 e 1930 chegaram pessoas da família Teixeira, provavelmente da região de Itapeva, e a partir de 1935, outros vieram do quilombo João Surrá, descendentes dos Peniche e também de famílias do quilombo de Praia Grande. A rede de parentesco existente em Bombas é formada pelas famílias Dias Peniche, Peniche de Matos, Dias Marinho, Ursolino e Muniz.

Tanto os Furquim como a família de Gregório de Almeida, uns dos primeiros a ocupar a região,provavelmente não possuem parentesco com a geração atual. [2]

"As famílias sobreviviam da roça (milho, arroz, mandioca, batata-doce, horta, cana, cará de espinho), caça e coleta. Na cidade, buscavam apenas roupa e sal. A despesa com roupas era muito pequena. Mesmo os adultos utilizavam roupas simples, feitas na própria comunidade com tecidos comprados. Construíam monjolos para pilar o arroz e socar o milho para fazer uma tradicional farinha de milho e moendas para moer a cana e fazer rapadura, taiada (doce feito com melado de cana, gengibre e farinha de mandioca) e doces diversos adoçados com o melado.

Mais tarde, começaram a criação de galinha, porcos, cabritos para consumo da carne e cavalos para o trabalho e transporte. Viveram assim até a criação do PETAR (Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira), com decreto de 1958. Em 1983 o governo do Estado delimitou o parque com picadas, e implementou as restrições próprias de um parque: limitou a realização da roça impedindo o corte de capoeira grossa e de mata, inviabilizando a criação de animais, principalmente por não ter áreas para plantar alimentos para a criação. Poucos continuam com essa atividade, em pequena escala e correndo riscos; proibiram a retirada de qualquer matéria prima da mata, mesmo cipó e proibiram a caça. Não podiam cultivar palmito juçara ou pupunha, nem coletar sementes para repovoamento. As famílias ficaram sem os recursos fundamentais para a sua sobrevivência de acordo com a sua cultura. Perderam a posse da terra e passaram a viver com a incerteza de continuar na área. Com isso, várias famílias deixaram a comunidade e foram para as cidades, principalmente Apiaí, Iporanga, Guaeri e Sorocaba."[3]

Cosmologia e Religiosidade

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A religião predominante é o catolicismo, sendo que uma minoria de famílias se auto-denomina evangélica, da Igreja Cristã do Brasil.[1]

Aspectos Culturais

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Os aspectos culturais da comunidade de Bombas são, em sua maior parte, traduzidos em eventos especiais e festas tradicionais realizadas e executadas pelo próprio povo local,como demonstram:

Mesada dos Anjos

A Mesada dos Anjos é feita no mês de junho, no dia de Santo Antonio, na hora do almoço, época final da colheita. Quando iniciam a preparação do terreno para a roça as pessoas fazem a promessa de fazerem a mesada para os anjos protegerem o plantio e a colheita. Durante o período de cultivo e colheita engordam porcos, frangos e patos. No dia de Santo Antonio, final da colheita, em agradecimento preparam uma mesa com uma diversidade de pratos feitos com os animais, produtos da roça e de horta e oferecem para as crianças da comunidade, menores de 7 anos. Depois que as crianças estão satisfeitas e se serviram dos doces, bolos e balas que compõem a sobremesa os adultos são autorizados a se servirem.

Dança de São Gonçalo

Dança de São Gonçalo, padroeiro dos violeiros, também é feita como agradecimento por uma graça recebida. Qualquer pessoa que faça uma promessa e alcance o que pretendia, em agradecimento pede ao Mestre de Romaria que organize uma dança. A data é marcada, a comunidade e as comunidades vizinhas são convidadas e é organizada a dança em um sábado ou domingo. São tocados viola e violão e cantam músicas tradicionais da festa. A pessoa que pediu a festa oferece também comida e bebida. Começa na “boca da noite” podendo se estender à noite toda. Podem chegar até 8 ou 9 horas da manhã, quando então é oferecido também um almoço.

Festa de Nossa Senhora Aparecida

Nossa Senhora Aparecida é a padroeira da comunidade de Bombas. A festa é feita sempre no dia 12 de outubro. A comunidade se concentra em um local mais afastado, perto da mata fechada, chamado Lagoas, utilizado tradicionalmente para essa festa. São feitas “cantorias” sertanejas de cantores conhecidos e da própria autoria dos cantores, acompanhadas de viola. Rezam o terço cantado. Um festeiro, escolhido no final da festa do ano anterior, organiza toda a festa inclusive o necessário para o almoço e doces para as crianças. Alguns ficam até o final do dia cantando e contando estórias.

Fonte:Quilombos do Ribeira

Há também as festas do dia de São Sebastião e de Santa Luzia. Missas e cultos são realizados quase que mensalmente.

Organização social

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As atividades costumam ser distribuídas na comunidade da seguinte forma: Os homens encarregam-se da coleta de recursos naturais (como madeira utilizada em construção), trato de animais de grande porte e abertura de áreas para o plantio. As mulheres cuidam das atividades domésticas, mas não se restringem a isso, praticando a colheita e o plantio nas roças e quintais e colhendo lenha para cozinhar. [1]

Conhecimento tradicional

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Mutirão

É mantido até hoje o sistema de mutirão para abrir roça, carpir, e colheita de arroz, feijão, para limpar as trilhas e construir casas. A pessoa que organiza o mutirão (dono do mutirão) chama as pessoas. Cada um leva sua ferramenta. O dono do mutirão fornece a alimentação para o dia de serviço e ao final oferece um baile com sanfoneiro ou, na falta deste, com aparelho de som. Oferece comida e bebida durante a festa, que vai noite à dentro chegando até as 8 horas da manhã, quando é oferecido por vezes café da manhã ou almoço.

Artesanato


O artesanato é outra atividade tradicional e envolve a produção de vários utensílios de uso diário, principalmente da própria comunidade. Com os cipós timbopeva e gambé, fazem cestos e amarração para construção de casas. Com a taquara de lixa e taquara lisa fazem apá (espécie de peneira, mas com a malha fechada, utilizada para abanar e escolher o arroz) e peneiras (utilizadas para abanar e escolher café e feijão) e pequenos balaios para acondicionar pequenos objetos e enfeite de mesa. Com madeira são feitos banquinhos, colheres de pau e mesinhas. Com palha de milho das roças são feitos pequenos balaios, cestos, chapéu, aparador de panela, porta garrafa, etc. Com madeira mais resistente fazem pilões, utilizados para socar arroz e café.

Fonte:Quilombos do Ribeira

Conhecimento medicinal

Há, na comunidade, o cultivo de arruda, utilizada para ajudar em casos de dor de cabeça, além do consumo de tina ,para tratar de gripe.Cita-se também o cozimento de raiz de pariparoba e folha de abacate,dentre outras substâncias,para fins medicinais.[4]

Meios de subsistência

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A principal fonte de renda provém de benefícios e auxílios do governo, como bolsa família, bolsa-escola e bolsa-cidadã, presentes no orçamento de mais de metade das famílias. Porém, encontra-se outras formas de sobrevivência no quilombo, além de algumas movidas e estruturadas por ações sociais, como atividades voltadas a agricultura de subsistência (por meio do cultivo nas roças de coivara, em que o mato é queimado após ser derrubado), criação de animais e cultivo de frutas nos próprios quintais para consumo familiar (seus excedentes são comercializados, a exemplo da venda de frutas no comércio de Iporanga, " viabilizando a compra de outros produtos necessários à manutenção das famílias. ").

Escreve o site QuilombosDoRibeira: "O plantio nas roças e quintais é a principal fonte de subsistência das famílias. Nas roças são cultivados arroz, milho, feijão, mandioca, batata doce, cara de espinho, taiá (legume para ser consumido cozido, em sopa, etc.), inhame, amendoim, chuchu (na beira da roça, em bacias mais frias, com terra úmida, chamada de chuchuá). Ao redor das casas, nos quintais, produzem laranja, ata (fruta do conde), banana, mexerica, abacaxi, ameixa, limão, café, etc.".

Reforça-se também que a produção é mais voltada para o consumo das próprias famílias, sendo mais comuns trocas e empréstimos do que a venda de produtos da roça na comunidade. E cita a ocorrência de "venda e troca de produtos da comunidade no comércio da cidade por ferramentas, calçados (principalmente botas de borracha), sal, açúcar, óleo diesel (para lamparina), óleo para cozinhar, etc." .Ainda de acordo com o site, "São criados galinhas, patos, porcos, cavalos, burros. Esses também são principalmente para consumo próprio, mas ocorrem trocas e vendas entre as famílias".

Além da roça de coivara, também faz parte da cultura da comunidade a rotação de terras, em que áreas de aproximadamente 500 ha são "deixadas ao descanso" de 8 a 10 anos após o plantio. A criação do PETAR inicialmente proibiu a roça na comunidade, mas um acordo firmado entre ambos garantiu a procedência da atividade em áreas demarcadas para cada família.

A agenda socioambiental do ISA registrou que o arroz, a banana e a batata-doce são as variedades plantadas por um número maior de agricultores se comparado às demais. Segundo levantado pelos moradores, as dificuldades de acesso a crédito financeiro a á própria cidade são entraves á boa procedência da agricultura. Observou-se ainda que não há uso de produto químico nas roças.

É costume também aos moradores caçar e conservar palmito para alimentação, de forma que a coleta de recursos é feita tanto por homens quanto por mulheres.[1]


Atividades extras

Cita-se a venda de doces de fabricação caseira, como rapaduras, taiadas (doce feito com melado de cana, gengibre e farinha de mandioca) e outros doces adoçados com o melado,comercializados na cidade de Iporanga e com pessoas da própria comunidade. Há também famílias que realizam apicultura, por meio de assistência técnica do Itesp tanto na produção quanto na comercialização do mel. Sazonalmente, alguns moradores realizam trabalhos remunerados em fazendas próximas e na construção civil. [1]

Situação territorial

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O quilombo ainda luta para obter o reconhecimento deu seu território,processo complicado em decorrência da sobreposição do PETAR sobre o território Quilombola.A área reclamada pelos moradores é de 3.200 hectares, algo bem distante dos 1200 reconhecidos pelo Itesp em 2003.

Território

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A maior parte do território da comunidade é composto por mata nativa,sendo que as roças de coivara ocupam o maior percentual das áreas utilizadas.As casas - construídas de pau-a-pique-localizam-se ao longo dos principais córregos que cortam a comunidade,e são circundadas por terreiros e/ou quintais,onde cria-se animais de pequeno porte,frutíferas (como laranjeiras e goiabeiras) e plantas de pequeno porte,a exemplos de hortaliças (alface,couve) e plantas de uso medicinal (hortelã, o poejo e boldo).O terreiro e/ou quintal ocupam, em média, um espaço de 1700 m2. Vale destacar que na comunidade algumas pessoas consideram como quintal somente um espaço limitado, geralmente cercado dentro do terreiro, como por exemplo, o local da horta.[1]

A biodiversidade é extensa.Na mata, bem preservada, são vistos bugio, macaco, veado, paca, quati, jacutinga, jacu-guaçu, tucano do bico preto, gavião pacani, arapoga, tucaninho, saripoca, macuco, etc.A variedade na constituição das paisagens inclui diversas formações de cavernas, grutas e afloramentos de rochas calcárias.São diversos os córregos, todos tributários do Córrego Bombas, principal curso d´água da comunidade.Há "abismos", semidouros, que são poços com até 4 metros de diâmetro e profundidade de até 170 metros.São acessíveis apenas por rapel, e comumente encontradas nestas condições geológicas formadas por rochas calcáreas. Há também cachoeiras,como a do Rio da Cotia e a do Pinheirinho, que ajudam a compor a riqueza natural da região. [5].[1].Destaca-se também a presença de uma caverna, ainda inexplorada, conhecida como "Ressurgência de Bombas", de onde brota-se água (como um lago que enche e "estoura" de tempos e tempos). Além de ter dado nome á comunidade, foi nele que encontrou-se o Bagre Cego, símbolo figurado do PETAR, sendo uma das razões de criação do parque.[4]

Sempre vale lembrar que a preservação da mata e seus recursos é de interesse da comunidade, sendo, no entanto, de extrema importância buscar casar isso com o sustento das famílias.

Criado em 1958, o PETAR (Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira) foi o primeiro parque criado no Estado de São Paulo. Na época, os limites foram definidos levando-se em conta os aspectos naturais da região (acidentes geográficos, presença de cavernas e cobertura florestal), e não na ocupação humana, de forma que o território de Bombas acabou ficando dentro do parque. Em 1983, após a implementação do parque, as atividades dos moradores tornaram-se clandestinas (incluindo moradias, caça, extração de matéria prima da mata e o corte de capoeira grossa e de mata, limitando a roça e inviabilizando a criação de animais), visto que o PETAR é uma unidade de conservação de proteção integral, vedadas ás atividades humanas. Sem a certeza da posse da terra e tendo sido criminalizadas muito do que faziam para garantir sua sobrevivência os moradores passaram a temer a chegada de estranhos ao local que os pudessem denunciar á polícia federal.[1]

Em 1996, foi elaborada uma lista como o apoio da igreja católica e do Movimento dos Ameaçados por Barragens (Moab)que identificou a comunidade como possível candidato a ser reconhecido como quilombo. Mas foi apenas sem 2001 que Bombas solicitou formalmente seu reconhecimento (Processo Itesp nº 1886/2002).Em 2003, a elaboração do RTC (Relatório Técnico e Científico) da comunidade foi viabilizada pelo Itesp (Instituto de Terras do estado de São Paulo), primeiro passo para o reconhecimento da comunidade como remanescente de quilombo. Após isso, porém, o processo estagnou-se, deixando os moradores sem informações a respeito de quando iriam conseguir o desejado.

Com a finalidade de subsidiar o processo, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SMA), a partir da Resolução SMA nº 29/2010, instituiu como exigência a realização de estudos técnicos complementares sobre o local, incluindo o meio físico, biótico, situação fundiária e sustentabilidade ambiental." A resolução tem como finalidade criar procedimentos para solucionar a questão da sobreposição entre a Unidades de Conservação de Proteção Integral e territórios pleiteados por comunidades tradicionais em seu interior." [ISA,09/03/2011].

A desconfiança dos moradores em relação aos funcionários, no entanto, fez com que não aceitassem os pesquisadores do Plano de Manejo do PETAR, tampouco a realização dos estudos complementares.

Protocolo de intenção

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A situação só iria começar a mudar no início de 2010, quando a FF (Fundação Florestal) apresentou uma proposta de protocolo de intenção.A Equipe de Articulação e Assessoria as Comunidades Negras do Vale do Ribeira (Eaacone) e o Instituto Socioambiental, mediante pedido de assessoria pela Associação dos Remanescentes de Quilombo do Bairro Bombas, decidiram por oportuno celebrar o acordo a fim de dar prosseguimento ao processo de reconhecimento da comunidade.

Após diversas reuniões (entre órgãos públicos e privados,incluindo a associação que representa Bombas e a prefeitura de Iporanga), em 29 de setembro do mesmo ano, a comunidade concordou com a realização dos estudos técnicos. A proposta do Plano de Trabalho ficou a encargo da Fundação Florestal.Em novembro de 2010, em reunião ocorrida durante a inauguração do Centro Comunitário de Bombas, os moradores, em conjunto com a Eeacone e a ISA, se reuniram para tratar sobre o Plano de Trabalho."Além de acompanhar e auxiliar os trabalhos de campo, os moradores de Bombas querem acompanhar o levantamento de dados e avaliar os resultados dos relatórios." [1].As sugestões foram encaminhas á Fundação Florestal.

O acordo firmado entre a FF, o Itesp e Antoninho Ursulino (presidente da Associação dos Remanescentes de Quilombo de Bombas) representou um importante passo no processo de reconhecimento e titulação do quilombo de Bombas. Os estudos técnicos ficaram a encargo de 12 pesquisadores da Esalc/USP, que, em cinco viagens dentro de um prazo de 6 meses, emitiram diagnósticos físicos, biológicos e relativo á sustentabilidade ambiental no território. As justificativas técnicas seriam apresentadas á tomada de decisão do Grupo Gestor de Quilombos, responsável pelo reconhecimento e titulação de territórios quilombolas no âmbito do governo do Estado de São Paulo. [ISA/2011]

Sendo feito o reconhecimento da comunidade, haverá então de se entrar no processo de Regularização fundiária ("processo de intervenção governamental, nos aspectos urbanístico, ambiental e fundiário, com o objetivo de ordenar e legalizar a ocupação de áreas urbanas consolidadas, garantindo melhorias na qualidade de vida e fazendo com que a cidade cumpra a sua função social. Implica assessorias no ambiente urbano do assentamento, no resgate da cidadania e na qualidade de vida da população beneficiária." - Terracap).Segundo Carlos henrique,do Itesp: "O reconhecimento é modo pelo o qual identificamos o território. Nesse relatório, se descreve toda a história do Quilombo, além da geneanalogia e o mapa com a descrição das áreas utilizadas nessa área tradicional quilombola.O relatório técnico-científico autorizará a iniciativa do Estado em emitir o título de propriedade. O relatório,portanto, do reconhecimento vai inaugurar o processo de regularização [...].

Reconhecido o território, ai sim entra o processo de regularização fundiária, que é um processo demorado e complexo, porque vai depender da dominialidade da área. Se a terra for devoluta, o Estado pode expedir o título,mas estes são provenientes de uma sentença judicial em uma ação discriminatória. Se a terra for particular, remeteremos esse relatório técnico-científico ao Governo Federal. Então, depois da área ser reconhecida, resolvida essa questão com área do parque, a questão ambiental e das cavernas, aí sim vamos tomar a providência da regularização, que será talvez por parte do Governo Estadual ou do Governo Federal, se assim a configuração fundiária determinar." (Fonte : "Um lugar chamado Bombas" [4])

Associação dos Remanescentes de Quilombo do Bairro Bombas

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Fundada em 28 de janeiro de 2005 e reconhecida pela FCP – Fundação Cultural Palmares em 12 de fevereiro de 2007, a Associação dos Remanescentes de Quilombo do Bairro Bombas buscou, junto ao Conselho Consultivo do Parque (do qual ele faz parte) formas de coexistência entre o parque e a comunidade, propiciando, de forma ainda restritiva, a realização de algumas atividades.[3]

Infraestrutura

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O quilombo enfrenta situações precárias de infraestrutura,em diversas esferas.Não há saneamento básico, luz elétrica,acesso por estradas,e oferta precária de saúde,educação e comunicação, o que causou migrações para cidades vizinhas, agravadas após a fundação do PETAR (mais em situação territorial).Ainda hoje, muitos jovens buscam alternativas em cidades próximas.

Além de casas presentes nos e entre os dois agrupamentos (Bombas de Cima e Bombas de Baixo),há duas escolas municipais (do pré até a 4ªa série do ensino fundamental), uma em cada agrupamento, além de um pequeno campo de futebol, uma igreja católica em ruínas e um posto de saúde desativado em Bombas de Cima.

A coleta de lixo na comunidade é inexistente.Desta forma, enquanto lixos secos, como plástico e papéis, são queimados, lixos orgânicos são lançados nos terreiros como alimentos para os animais domésticos.A água utilizada na cozinha é arremessada no terreiro ou em cursos d'água próximos.

Apenas uma casa utiliza-se de poço, de maneira que quase toda a comunidade é abastecida por minas e riachos.Só há 3 fogões a gás, na escola e em duas casas, nos quais prepara-se comida para as crianças e para as professoras, que buscam instalar-se na comunidade de segunda a sexta-feira.Além disso, as famílias utilizam-se de lenha para o cozimento de alimentos.

Não há serviços de telefonia ou iluminação, de forma que as casas são iluminadas com velas, lampiões e lamparinas. As pilhas alimentam os poucos rádios existentes.

[1]


Estrada


Não há estradas que ligam a comunidade á estrada Iporanga-Apiaí.Para realizar o percurso, deve-se seguir pro trilhas em mau estado de conversação ( o que não se aplica á mata que a cerca), seja a pé ou no lombo de animais.As difíceis condições de acesso á comunidade estão entre os principais problemas enfrentados pelos moradores.Muitas famílias dispõem de mulas ou cavalos para o transporte de pessoas e cargas até a cidade, que dispõe de coisas como comércio e prestação de serviços (de saúde e bancários,por exemplo).

Saúde, educação e lazer

As duas escolas presentes na comunidade não oferecem educação fundamental a partir da 5ª série. Quem procura instrução escolar a partir daí deve deslocar-se até o Bairro da Serra ou a área urbana de Iporanga, o que se torna inviável se as crianças não foram abrigadas em casas de conhecidos, graças ás restrições de locomoção. Desta forma, poucos terminam o ensino fundamental, entretanto, muitos buscam o ensino disponível na comunidade. O site QuilombosdoRibeira só registrou pessoas analfabetas entre as pessoas com mais de 50 anos.Maria, professora que fica no local de segunda a sexta, diz: "O material que temos é muito rico, mas o espaço e o tempo são poucos. Tenho que fazer comida, limpar a escola, dentre outras coisas." [4]

A comunidade também sofre com a falta de atendimento médicos e agentes de saúde comunitários. O posto de saúde presente na região está desativado desde 1996 por falta de profissional. Um enfermeiro visita a comunidade 1 vez por mês. Médicos aparecem raramente. Não agendam a visita, por isso muitas pessoas ficam sem atendimento por não saber de sua presença. [6] Os moradores relatam que, em casos mais urgentes, chegam a levar as pessoas de maca caminhando de 2 a 3 horas pela trilha que leva á cidade, o que já chegou a ocorrer sob condições climáticas totalmente desfavoráveis. Houve inclusive uma mulher que deu á luz durante o percurso.

As crianças costumam utilizar-se do campo de futebol improvisado, localizado em frente da escola municipal de Bombas de Cima, para brincar e praticar o lazer. Jovens e adultos deslocam-se para Iporanga e o Bairro da Serra em dias de festas e comemorações. Este último conta com pousadas que funcionam como porta de entrada aos postos de visitação do PETAR. [1]

Projetos e atividades

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Quilombosdoribeira.org.br

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O site www.quilombosdoribeira.com.br foi fundado em dezembro de 2006 pelas comunidades quilombolas do Vale do Ribeira, com apoio e acessoria da ISA (instituto SocioAmbiental) e financiado pelo Programa de Promoção da Igualdade de Gênero, Raça e Etnia (PPIGRE) do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA),com ajuda da Igreja da Noruega/Campanha dos Estudantes (AIN/OD).[7]

Foram contatadas as comunidades que possuem parceria com ISA para verificar o interesse deles em ingressar no projeto. As que aceitaram elegeram um representante, encarregado de "criar a estrutura, aprovar o layout, elaborar e administrar o conteúdo". Comunidades que rejeitaram em primeira instância não perdem, no entanto, a possibilidade de posterior participação na atividade.

Cada comunidade empreendida no site possui aspectos como sua história, cultura, empreendimentos comunitários, produto, contatos, etc. publicadas no mesmo. O conteúdo é produzido e atualizado pelos representantes das comunidades, através de pesquisas de registros e documentos e o contato com "diretores da associação, lideranças e pessoas mais velhas", de forma que "Cada um é o repórter de sua comunidade". Além disso, reserva-se espaço para artigos informativos, notícias e uma agenda composta de eventos relacionados ás comunidades, como suas tradicionais festas e debates acadêmicos a respeito de quilombos no geral.

Em 2007, ministrada pela equipe de Comunicação do ISA, foi realizada uma oficina no telecentro da comunidade de Pedro Cubas, com o objetivo de atualizar o site e dar sequência ao processo de inclusão digital dos quilombolas. No evento, levantou-se "questões relacionadas aos possíveis usos do site pelas comunidades, como, por exemplo, a divulgação e valorização de suas culturas, veiculação de denúncias de crimes ambientais e conflitos fundiários, venda de produtos, contato com turistas e pesquisadores interessados em colaborar com as comunidades". Foi, ainda, a primeira oportunidade de muitos dos participantes terem contato com a tecnologia. [8]

Referências

  1. 1,00 1,01 1,02 1,03 1,04 1,05 1,06 1,07 1,08 1,09 1,10 Agenda Socioambiental de Comunidades Quilombolas do Vale do Ribeira - ISA, março de 2008
  2. Maria Walburga dos Santos - Saberes da terra: o lúdico em Bombas, uma comunidade quilombola (estudo de caso etnográfico) - São Paulo, 2010
  3. 3,0 3,1 http://www.quilombosdoribeira.org.br/bombas/historico
  4. 4,0 4,1 4,2 4,3 Um lugar chamado Bombas - Luis Carlos Terra Hungria - Gravado e filmado em 2009
  5. http://www.quilombosdoribeira.org.br/bombas/territorio
  6. http://www.quilombosdoribeira.org.br/bombas/inicio
  7. http://www.quilombosdoribeira.org.br/quem-somos
  8. http://site-antigo.socioambiental.org/nsa/detalhe?id=2537

Ligações externas

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