Os Camaiurás (também kamaiurás ou kamayurás) são um povo indígena de língua da família tupi-guarani, do tronco tupi.

Em 2011, os camaiurás totalizavam 467 indivíduos (Ipeax, 2011). Vivem em sua maioria na Terra Indígena Parque Indígena do Xingu, ao norte do estado de Mato Grosso, numa zona de transição florística entre o Planalto Central e a Floresta Amazônica. Seu território abrange uma área de 2800000 hectares.

Camaiurás
População total

467 (auto-identificados)

Regiões com população significativa
Parque Indígena do Xingu
Línguas
Camaiurá
Religiões
Xamanismo Camaiurá.
Grupos étnicos relacionados
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Localização editar

À altura do primeiro contato não indígena, liderado pelo etnólogo alemão Karl von den Steinen, em 1886, os camaiurás encontravam-se em estágio final de sedentarização, assentados nas proximidades da lagoa de Ipavu, onde permanecem até hoje. Segundo relatos tradicionais, amplamente aceitos entre os indígenas, o povo viria do Wawitsa, localizado na zona mais setentrional do parque. A região, onde desembocam os principais afluentes da bacia do Xingu, possui espaço de destaque na cosmologia do grupo étnico.

Coordenadas -11.743681, -53.618345

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11.743681° ' S 53.618345º ' W

História editar

Segundo os Kamaiurá, seus antepassados vieram de Wawitsa, região situada no extremo norte do Parque (precisamente onde desembocam os principais formadores do Rio Xingu para constitui-lo) e ao lado de Morená, palco central das ações míticas e “centro do mundo” para eles. É possível que essa ainda seja a principal referência para se definirem enquanto grupo no espaço e no tempo. A história do contato dos Kamaiurá com a sociedade não indígena remonta a 1884, com a expedição de Karl Von den Stein. Daí por diante, várias expedições percorreram a região em visitas intermitentes e de curtas. Em 1942, com a criação do órgão federal Fundação Brasil Central, inicia-se a abertura de estradas e o estabelecimento de acampamentos na área. Em 1946, são os Kamaiurá atingidos por essa penetração e passam a ter contatos regulares com os membros da expedição Roncador-Xingu, liderada pelos irmãos Villas-Bôas. Finalmente, em 1961, o território que habitam converte-se em Parque Nacional, hoje subordinado à Funai (Fundação Nacional do Índio).

língua editar

A língua original dos camaiurás, o camaiurá, faz parte da família linguística tupi-guarani, apresentando grandes similaridades com o guarani, o nheengatu e o tupi. Seu sistema vocálico, marcado pela diversidade e riqueza fonética, compõe-se seis vogais orais e correspondentes nasalizadas. Tais fonemas descreve-se a partir dos traços de nasalidade, posição, altura e arredondamento.

O idioma, é bastante caracterizado pela nasalização frequente, pelo uso de consoantes não sonoras e formação de palavras polissilábicas, é predominantemente aglutinante e, embora tenha uma origem ágrafa, um sistema de escrita semelhante ao português foi desenvolvido, possibilitando o registro escrito do camaiurá.

Cosmologia e Religiosidade editar

Nos relatos Kamaiurá é possível distinguir três marcos de sua história: o tempo mítico, ocasião em que se deu a criação do homem; o tempo dos avós, no qual o índio ainda não tivera contato com o branco; o tempo presente, que compreende os primeiros encontros com o branco até a época atual. Entretanto, o tempo presente traz em si a essência da visão de mundo tal como concebida no tempo mítico.

Presente em todas as versões do ato de criação está a concepção de que Kamaiurá e branco foram concebidos de forma semelhante. Por vezes, os dois são apresentados como gêmeos. Em outra versão, o herói criador Mavutsinin escarifica o Kamaiurá e põe o sangue vertido no branco. Mavutsinin criou a ambos com a intenção de formar uma grande aldeia no Morená. Quando os dois se tornaram adultos, Mavutsinin fez um arco preto e uma arma de fogo. Chamou os rapazes e colocou-os diante dos objetos. Mandou que o Kamaiurá pegasse a arma de fogo, mas ele encantou-se pelo arco preto e o apanhou. Mavutsinin insistiu para que mudasse sua escolha, mas o índio a manteve. O branco pegou então a arma de fogo para si. Irado com o desfecho dos acontecimentos, Mavutsinin ordenou que o branco fosse para longe e que o Kamaiurá ficasse por ali mesmo. O criador deu ao índio o peixe e o beiju, dando ao branco o porco, o arroz, a gordura, o tijolo, o machado e uma lista interminável de bens. Outros povos alto-xinguanos também foram criados por Mavutsinin. Já os Txucahamãe, os Yudjá e os Suyá são filhos de cobra e por isso são agressivos.

Segundo a mitologia Kamaiurá, o herói cultural Mavutsinin trabalhou a madeira Kwarup e modelou cinco postes. Depois de cantar e tocar maracás um dia e uma noite, os postes começaram a mover-se, de início com dificuldade, até ganharem maior liberdade de movimentos. A esses homens, Mavutsinin ensinou a tomar banho ao amanhecer, a assobiar e ter relações sexuais pela manhã bem cedo, antes de nascer o sol. Em seguida, deu-lhes instrumentos: arcos de madeira preta aos Kamaiurá, panelas aos Wauja, colares aos Kuikuro e Kalapalo.

Para os Kamaiurá, quando o índio morre, sua alma vai para uma aldeia celeste, réplica da aldeia terrena. Mas lá a vida não é como em Ipavu: as almas andam sempre enfeitadas, não trabalham, só dançam e jogam bola; não se come peixe ou beiju, mas grilo e batata. Assim, quando alguém morre, deve-se enterrá-lo enfeitado para que sua alma assim permaneça. Acompanham o corpo flechas, se for homem, e fuso, se for mulher – pois as almas precisam se defender dos ataques dos passarinhos que, em encontros periódicos, tentam arrancar-lhes pedaços para levar ao gavião. Alma sem defesa é morta, acaba de uma vez.

(Instituto Socioambiental - ISA)

Aspectos Culturais editar

A admissão do jovem indígena na atmosfera adulta exige um período de clausura assistida, que, geralmente, inicia-se em virtude dos primeiros caracteres da puberdade. Durante o ciclo, os adolescentes são isolados numa estrutura habitacional específica, onde têm o contato social restrito à presença do pais e avós. Os que guardam tal parentesco, responsabilizam-se pela instrução produtiva do indígena, dando ênfase especial às atividades referentes ao sexo do adolescente e o modo de realizá-las. À ocasião, os garotos são educados sobre a prática do huka-huka, uma arte marcial ritualística frequentemente associada às festividades cosmológicas do povo.

Embora, para as adolescentes, o início da reclusão esteja rigidamente relacionado à menstruação, para os entes masculinos requer o consenso mútuo entre seus pais. O processo de instrução prolonga-se por tempo indeterminado, e, não obstante a permanência feminina raramente se estenda por muito mais de um ano, os garotos podem espaçarem-se enclausurados por períodos até cinco vezes maiores, intercalados por breves acessos de liberdade. Durante a ocasião, as garotas têm seus joelhos amarrados por cordas fibrosas, de forma que a panturrilha se torne mais robusta pelo acúmulo de líquidos. De igual modo, são privadas de cortar o cabelo, fazendo com que, ao fim do rito, as longas madeixas da franja encubram parte de suas faces. Assim que a extensão capilar das adolescentes atinge a altura do queixo, estas são liberadas da clausura.

A duração média do rito se relaciona ao status hereditário que acompanha o jovem, de forma que um maior espaço recluso implica, proporcionalmente, um maior poder e importância entre os indígenas da aldeia. Ao fim da clausura, é dado um nome definitivo ao jovem, que vem a substituir o nome que recebeu em virtude do seu nascimento. O período marca, de mesmo modo, a aptidão aos ritos matrimoniais. Preenchendo um espaço cultural notável, o infanticídio é, frequentemente, associado ao sistema cultural do povo, embora não possuam exclusividade na realização da prática. Os filhos de mãe solteira, possuidores de malformação congênita e gêmeos, são os principais alvos deste ritual, que, embora seja bastante enraizado no contexto de tradições do povo, gera divergências entre os próprios membros da aldeia. Os indígenas recém-nascidos, ao enquadrarem-se em qualquer dos motivos supracitados, são, geralmente, soterrados ainda vivos, embora também possam serem executados por afogamento. Atualmente, algo em torno de trinta crianças indígenas são mortas pelos camaiurás todos os anos, não obstante a FUNAI ofereça serviços de adoção das crianças rejeitadas.

Situação territorial editar

Os Kamaiurá jamais se afastaram de sua área de ocupação, na região de confluência dos rios Kuluene e Kuliseu, próxima à grande lagoa de Ipavu, que significa, na língua deste povo, “água grande”. Hoje em dia, a aldeia dos Kamaiurá se localiza cerca de dez quilômetros a norte do Posto Leonardo Villas-Bôas, a aproximadamente 500 metros da margem sul da Lagoa Ipavu e seis quilômetros do rio Kuluene, à sua direita. Constituem o território Kamaiurá imediato a aldeia, formada pelas casas e pelo pátio cerimonial, a mata vizinha, a lagoa de Ipavu e os riachos que nela deságuam.

Sua população, somava 355 indivíduos, em 2002, deflagrando um significativo crescimento demográfico em relação ao início da década de 70, quando eram 131. Em 1954, quando houve uma forte epidemia de sarampo na região, se viram reduzidos a 94, em contraste com 1938, quando eram cerca de 240, e no período em que foram visitados por Von den Stein, 1887, em que somavam 264 pessoas.

(Instituto Socioambiental - ISA)

Referências externas editar

Povos Indígenas no Brasil

Página kamayura.org

Wikipedia

Referências