Wikinativa/Douglas Henrique Santos da Silva (vivencia Guarani 2018 - relato de experiência)
"Quero estar com pessoas
Que abraçam causas
Que abraçam pessoas"
Victor Rodrigues
VIDA
Essa tônica é onde começo o relato sobre a Vivência Indígena na Aldeia Rio Silveiras, com as irmãs e os irmãos Guarani; a experiência é algo transformador, seja positiva ou negativa, ao longo da trajetória de vida de cada um.
Nesse sentido, acredito que a oportunização do encontro com com nossa ancestralidade, enquanto povo brasileiro, é o que faz sentido para continuar na busca por melhorias sociais em nosso país, cuja desigualdade supera, em muito, as percepções de transformação social almejadas.
Encontrar com as crianças e com os adultos guaranis foram ressignificativos na trajetória enquanto estudante de Gestão de Políticas Públicas, com um contexto de retrocesso de políticas sociais e desenvolvimentistas - um momento que revela quem de fato está ao lado das minorias e quem encontra-se somente em busca de realizações pessoais.
No dia em que chegamos à Aldeia Guarani, fomos recepcionados pela chuva e pelo frio, o que segundo um irmão guarani, contêm o significado de testar o ânimo e a disposição daqueles que estão dispostos a enfrentar dificuldades na realização de um objetivo comum ou, de fato, trocar experiências com outras culturas, notadamente a cultura indígena.
Há diversidade basilar em relação ao que estamos acostumados no meio urbano, sobretudo no meio de uma megalópole como São Paulo. A busca pela compreensão da forma de encarar a existência, permeada pelas tradições indígenas, é o que motivou a participação nessa vivência. O encontro com as pessoas, o contato pleno com a natureza e o estreitamento de amizades, bem assim, a descoberta de novos amigos, tornou a experiência ainda mais rica e, possivelmente, única.
As atividades desenvolvidas estiveram entre jogos com às crianças, rodas de conversa, diálogos com colegas, passeio na praia, visita às cachoeiras, fogueira e a participação nos rituais da Casa de Reza.
FÉ
Especialmente a Casa de Reza, tocou-me profundamente, e isso porque a relação dos membros da comunidade com esse local de trocas e interações humanas, e ao mesmo tempo espirituais, expande a visão da existência de um deus, de deuses ou de entidades espirituais que auxiliam os seres humanos em sua jornada pela existência rara e finita a que estamos submetidos. Não encontramo-nos em uma relação de dependência, mas sim de escolha quanto ao melhor caminho, adequando ao nosso íntimo, na escolha de uma religião ou de uma fé.
Professar a fé, em outras palavras, conforme apreendi na vivência, é antes de tudo, entender que o outro pode estabelecer contatos diferentes dos nosso, com deuses e ritos alheios aqueles que vivenciamos no cotidiano. E isso não significa que somos melhores ou menores, ao contrário, significa, em minha visão, que somos todos inerentes ao Universo, e nossas manifestações atendem ao contexto em que estamos inseridos, sem, no entanto, anular-mos uns aos outros.
É nesse sentido, que encontrar pessoas, olhar o céu infinito na noite estrelada em volta de uma fogueira ou, ainda, o ato de compartilhar alimentos. sentimentos, medos e virtudes - é o que torna nossa existência naquele tempo e espaço, extremamente significativa - em meu entendimento.
GRATIDÃO
Dividir esse momento com cada um integrante da viagem é o que tornou minha experiência extraordinária. E uma vez mais, fortaleceu o sentido da luta em prol dos irmãos e irmãs indígenas. de todas as etnias, que estão em sintonia com nossa batalha pela resistência em tempos de ódio, preconceito e recrudescimento da violência.
Por fim, como dito por Carl Sagan, “diante da vastidão e imensidão do universo, é um imenso prazer para mim, dividir um planeta e uma época com vocês.”
Universidade de São Paulo - Seminários de Políticas Setoriais II
Prof. Dr. Jorge Machado
Douglas Henrique Santos da Silva - USP n. 102592-37